O que Joseph Campbell pode nos ensinar sobre o mito Bolsonaro?


Os mitos desafiam a lógica, existem fora do tempo histórico e além do espaço geográfico. Seu valor é sempre simbólico nunca científico. Eles podem fundar, destruir e, paradoxalmente, restaurar a vitalidade do indivíduo e da sociedade. Através dos mitos os seres humanos expressam coisas que só podem ser intuídas; e compartilham verdades que não pode ser racionalmente ensinadas. O perigo “…é que para a mente estreita ou mal orientada os mitos tendem a se tornar história.” (As Máscaras de Deus – Mitologia Ocidental, Joseph Campbell, editora Palas Athena, São Paulo, 2004, p. 416)

Chamado de mito por seus seguidores, depois que foi eleito e empossado Jair Bolsonaro passou a se comportar como se fosse um ser mitológico. Ele é a corporificação da verdade, da justiça e da vida. Bolsonaro acredita que se tornou capaz de criar a realidade e de transformar a ignorância em ciência, as execuções policiais em segurança pública, a destruição da natureza em ecologia, o comércio de armas em democracia, o neo-escravagismo em redução do desemprego, a guerra em diplomacia e a mentira em verdade.

Segundo o mito corporificado por Bolsonaro, durante os governos petistas o Brasil estava doente. Os números, entretanto, contradizem a ideologia bolsonariana. Foi justamente na era Lula e Dilma Rousseff que o PIB brasileiro saltou de 508 bilhões de dólares (2002) para 2,616 trilhões de dólares (2011), recuando para 1,802 trilhões de dólares (2015) por causa do aprofundamento da crise econômica em razão da crise política iniciada por Aécio Neves e amplificada pela imprensa.

A verdade nua e crua é evidente. Quando Jair Bolsonaro pertencia ao baixo clero e se limitava a falar merda na Câmara dos Deputados o Brasil estava saudável. Nosso país ficou doente depois que Dilma Rousseff foi derrubada com o voto de Bolsonaro. A vitória dele na eleição de 2018 não foi um remédio, pois os indicadores econômicos estão piorando e tendem a declinar ainda mais à medida que a política externa bolsonariana começar a produzir efeitos negativos nas exportações brasileiras.

Os principais produtores de exportadores de grãos já deram os primeiros sinais de alerta. Ao que parece, o mito pretende matar o país acreditando que poderá, assim, reeditar o milagre econômico que ocorreu durante a Ditadura Militar. Para compreender melhor o que está ocorrendo no Brasil podemos mergulhar na mitologia ocidental.

Quando o Rei Arthur é golpeado, a terra fica doente. A cura do rei equivale à salvação do reino. E isso só pode ser feito através do Graal, à “…lenda que refere-se à recuperação de um país assolado por um Doloroso Golpe dado em seu rei por uma mão ignóbil, que se apossou de uma lança sagrada…” (As Máscaras de Deus – Mitologia Ocidental, Joseph Campbell, editora Palas Athena, São Paulo, 2004, p. 411). O golpe de estado dado em Dilma Rousseff com ajuda de Jair Bolsonaro sugere que ele não pode ser identificado ao Rei Arthur ou ao Graal.

Se levarmos em conta o Ciclo Arturiano, o presidente miliciano eleito em 2018 se parece mais com Mordred https://pt.wikipedia.org/wiki/Mordred. Como o antagonista do Rei Arthur, Bolsonaro também entrou em cena quando o país estava devastado para expandir a devastação. Mordred significa “mau conselho”. Todos os ministros nomeados em 2019 são incapazes de dar bons conselhos ao presidente. Aliás, alguns deles preferem orgulhosamente demonstrar que continuarão fazendo o oposto disso.

Os deputados, senadores e governadores que fazem oposição à barbárie programática de Jair Bolsonaro estão no caminho certo. Eles confrontam a fera mitológica com propostas civilizadas e programas políticos realizáveis. O mais importante nesse momento delicado é, sobretudo, não aceitar as provocações belicosas feitas pelo Mordred que assaltou a presidência com ajuda de Sérgio Moro. A paciência é uma virtude. Em algum momento, Bolsonaro será obrigado a começar a colher os frutos podres da política externa que ele mesmo escolheu.

O Consórcio do Nordeste aposta no futuro do Brasil e na rápida superação da bestialidade bolsonarista. Liderada por Flávio Dino, a oposição age com firmeza jurídica e delicadeza social. Para superar um mito destrutivo transformado em fenômeno histórico por uma maioria eleitoral ocasional mal orientada pela mídia, os brasileiros podem e devem seguir o conselho de um especialista em mitologia: “A aventura do Graal – a busca interior dos valores criativos pelos quais a Terra Devastada é redimida – tornou-se hoje a tarefa inevitável para cada um de nós.” (As Máscaras de Deus – Mitologia Ocidental, Joseph Campbell, editora Palas Athena, São Paulo, 2004, p. 421).

A era Bolsonaro será breve. De fato, esse mito já está chegando ao fim. Como Mordred, o capitão moto-serra tem um encontro marcado com a derrota por causa da neblina espessa que o impede de ver o tamanho e a força de seu verdadeiro inimigo. O campo de batalha escolhido pelos Ministros da Economia, da Educação e das Relações Exteriores é totalmente favorável aos verdadeiros amigos do Brasil.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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