Um vice-presidente poderoso e dois caipiras fracassados

O filme Vice (2018) https://pt.wikipedia.org/wiki/Vice_(filme) tem duas cenas memoráveis envolvendo do aprendizado de Dick Cheney com Donald Rumsfeld.

Numa delas o assessor Rumsfeld pergunta ao patrão qual é a ideologia deles. O futuro Secretário de Defesa de George W. Bush responde com uma gargalhada espalhafatosa. Na outra, Rumsfeld explica a Dick Cheney que existe um vácuo de poder em Washington DC. Esta seria a oportunidade que eles precisam para controlar tudo.

Sempre que o The Intercept publica os chats entre Deltan Dellagnol e Sérgio Moro penso nessas duas cenas. Ao que parece, em algum momento ambos perceberam o vácuo de poder que estavam criando e resolveram controlar tudo. O plano deles estava dando certo até que o STF impediu a criação de uma fundação com dinheiro expropriado da Petrobras nos EUA https://jornalggn.com.br/justica/moraes-impede-forca-tarefa-da-lava-jato-de-usar-fundo-bilionario-da-petrobras/.

Após o ataque ao WTC em 11/09/2011, segundo o filme, Dick Cheney passou a ocupar um papel central na estrutura política norte-americana. Apesar de exercer um cargo constitucionalmente irrelevante, o vice adjudicou para si mesmo o poder de controlar a política externa norte-americana. Na prática Dick Cheney se tornou mais poderoso do que George W. Bush Jr. e do que Donald Rumsfeld.

A narrativa do filme parece ser consistente. Cheney realmente pode ter usado Rumsfeld para chegar sorrateiramente onde seu patrão jamais conseguiria. Quando o cenário político se tornou perigoso, o vice simplesmente descartou o ex-patrão que havia se tornado subalterno.

A cena do filme em que Cheney demonstra falsa indecisão e humildade diante de George W. Bush Jr. ao ser convidado para ser vice-presidente é ontológica. Não sabemos exatamente o que ocorreu naquele momento. Mas o que ocorreu após o 11 de setembro de 2001 já pode ser considerado História. Dentro e fora dos EUA os melhores analistas consideram verdade factual que o homem forte do governo Bush Jr. foi o vice e não o presidente.

Deltan Dellagnol e Sérgio Moro tentaram repetir no Brasil a grande jogada da energética dupla de falcões republicados? A resposta dos chats publicados pelo The Intercept a essa pergunta é SIM. Eles falharam porque subestimaram seus adversários. O vácuo político criado pela prisão injusta de Lula não foi capaz de sugar totalmente o poder do STF. O problema maior dos falcões canarinhos talvez tenha sido outro.

O procurador e o juiz lavajateiros não se esforçaram nenhum pouco para manter um low profile. Eles foram vítimas do irresistível poder de sedução dos holofotes da imprensa televisada. A grandiosidade dos personagens criados para eles pela mídia começou a ruir no momento em que o Ministro Alexandre de Moraes proferiu a decisão acima mencionada. Agora ela chega ao seu ponto mais baixo.

Deltan Dellagnol se apresentava como herói do combate à corrupção e foi publicamente desautorizado por sua professora. Não bastasse isso ele é ridicularizado porque escreveu a frase “Foi o tom do meu último peido.” num chat. Sérgio Moro, por outro lado, tem sido publicamente humilhado por Jair Bolsonaro. Eles queriam controlar tudo e perderam o controle das próprias carreiras. O procurador pode acabar sendo suspenso ou expulso do MPF. O juiz se tornou um palhaço carrancudo cujo destino parece ser o descarte um troca-troca no Ministério da Justiça.

Dick Cheney e Donald Rumsfeld escreveram os roteiros de suas próprias vidas. Deltan Dellagonl e Sérgio Moro tentaram se espelhar em ambos, mas protagonizaram apenas uma pantomima farsesca dos trópicos. A única coisa que podemos dizer em favor dos falcões canarinhos é o seguinte: eles não foram os primeiros e não serão os únicos caipiras elevados e soterrados pelo serpentário de Brasília.

Fábio de Oliveira Ribeiro

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