Quando o jornalismo não entende o próprio tempo, por Gustavo Conde

Quando o jornalismo não entende o próprio tempo

por Gustavo Conde

A Folha destaca na sua home, hoje, que não vai mais compartilhar conteúdo no Facebook. Ai, que drama!

Porque chamar no topo da página e reclamar explicitamente assim da rede social Facebook (que ela critica tanto, todos os dias, através de seus “especialistas” – qua qua qua – em mídias sociais) é coisa de criança. Parece uma confissão daquelas infantis, do tipo: “não brinco mais”.

É de rir, a dona Folha. Como ela não tem a menor chance de influenciar absolutamente nada em uma mídia gigantesca como o Facebook, ela chora e faz beicinho.

Deixa claro que gostaria de avançar no compartilhamento, mas “não pode” porque a política do Facebook privilegia a “interação pessoal” e não a hierarquia da informação. Parece aqueles usuários que não sabem escrever nem interagir e saem da rede com uma carta de despedida. Só não é comovente porque é constrangedor.

A Folha hoje passou o recibo de sua desintegração e de sua falta de criatividade e inovação. Certamente, queria “bombar” nas redes com a pauta do judiciário, mas como não tem gente competente em suas fileiras para conduzir a “desova”, ela reclama. Parece o PSDB fazendo oposição.

Portanto, eu errei quando disse que, dos três grandes jornais, a Folha era a menos “velha” e “obsoleta”. Com essa exposição clara de suas limitações – até em compreender o que é uma rede social – ela se junta a Estadão e ‘O Globo’, na defesa do velho jornalismo do século 20.

Não bastasse toda essa dicção ressentida (deve ser coisa daquele diretor editorial cujo nome nunca me lembro; parece que é alguma coisa ‘Ávila’), eles cometem, no texto bizarro de despedida das redes, uma falácia antológica. Transcrevo, numerando, para facilitar. Ela diz:

1. “O algoritmo da rede passou a privilegiar conteúdos de interação pessoal, em detrimento dos distribuídos por empresas, como as que produzem jornalismo profissional.”

Para concluir que:

2. “Isso reforça a tendência do usuário a consumir cada vez mais conteúdo com o qual tem afinidade, favorecendo a criação de bolhas de opiniões e convicções, e a propagação das ‘fake news'”.

Vejam vocês, caros leitores, que a conclusão para ‘maior interação pessoal’ é ‘bolhas de opiniões e convicções’. Assim, do nada, sem tese, sem argumento, sem raciocínio, sem ponderação. É mágica. É a arte do pressuposto manco. É a ‘fake opinion’. É a filosofia de boteco. É o papo de família na mesa do natal.

Entendem agora porque a Folha de S Paulo não consegue produzir jornalismo de qualidade?

 

Redação

6 Comentários

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  1. A falha de são paulo (A

    A falha de são paulo (A Gazeta do Tucanistão) é do tempo em que a informação era quase exclusivamente uma via de mão única. Publicava o que bem entendia e os leitores que quisessem opinar ou reclamar é que tinham que se dar ao trabalho de escrever umas “mal traçadas linhas” e enviar pelo correio ou telefonar. Até ao tempo do email, a Gazeta do Tucanistão chegou. Agora, como ela constatou que a realidade pode ser diferente da ficção, faz beicinho. E cara de bunda.

  2. A falha de são paulo (A

    A falha de são paulo (A Gazeta do Tucanistão) é do tempo em que a informação era quase exclusivamente uma via de mão única. Publicava o que bem entendia e os leitores que quisessem opinar ou reclamar é que tinham que se dar ao trabalho de escrever umas “mal traçadas linhas” e enviar pelo correio ou telefonar. Até ao tempo do email, a Gazeta do Tucanistão chegou. Agora, como ela constatou que a realidade pode ser diferente da ficção, faz beicinho. E cara de bunda.

  3. Oh,  Oráculo Divino, tira-me

    Oh,  Oráculo Divino, tira-me de crueis dúvidas !: Quem morrerá primeiro, a FSP,  deixando os sete velhinhos que ainda a leem sem jornal, ou os sete velhinhos, deixando a FSP sem leitor ? E como não sei a  idade de Gustavo Conde, seria ele um dos sete velhinhos ? E se não for, o que o leva a tal desatino de ler esse jornal ?

  4. Um problema de escolha de qual jornalismo oferecer

    O problema dos jornais brasileiros é que eles perderam totalmente a realidade do jornalismo como uma ferramenta para se discutir com os cidadãos – leitores ou telespectadores – os rumos do Pais. Eles impõem uma pauta de cima para baixo, ja pronta, com suas ideias fechadas e dando ao leitor, praticamente em 90% dos casos, apenas uma visão; isso quando não manipulam descaradamente os fatos. 

    Uma imprensa assim não sabe lidar com o pluralismo dos acontecimentos e com o fato de que ela, de fato, tem uma pequena influência no todo da sociedade brasileira. A Folha quer parecer mais importante do que ela realmente é. E não vai ter maior importância enquanto a figura de Otavio Frias Filho continuar pairando acima do jornal e se mostrando tão conservador e oportunista na politica e economicamente quantos os outros dois concorrentes. 

    A velha imprensa, incluindo a Folha, é tão autoritaria quanto os outros componentes dessa sociedade.

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