Desastre monstro no Atlântico Sul

A determinação do perfil químico de amostras do petróleo que tem chegado às praias do nordeste consiste em atividade simples e corriqueira para vários funcionários da Petrobrás, que certamente não tiveram dificuldade em determinar a origem da poluição que agora emporcalha as praias. É provável que várias determinações desse tipo tenham sido efetuadas durante o mês e meio em que as manchas de petróleo vêm poluindo as praias.

O presidente da república, no entanto, decretou sigilo sobre o relatório da Petrobrás que apresenta tais resultados, ao mesmo tempo em que insinuou haver um país no radar… . O presidente da Petrobrás também fez insinuações de que a Venezuela estaria por trás do vazamento, assim como o ministro do meio ambiente. Em outros tempos, esperava-se que procedimentos desse tipo ficassem restritos a mexeriqueiras de janela, exigindo-se que autoridades de governo demonstrassem o que era chamado honradez, especialmente quando no trato com países vizinhos. O miliciano vê-se agora compelido a evitar encontro cara a cara com Maduro, o presidente da Venezuela, capaz de cobrar-lhe a hombridade de apresentar a acusação com todas as letras, ou se calar. Um mínimo de dignidade, naturalmente, é esperado de qualquer governante.

A futriquinha governamental serviu de repasto a uns urubus presentes nos meios de comunicação que se apressaram em repassar a insinuação das autoridades em forma assertiva, afirmando assim o que não havia sido dito, fermentando um boato, afinal, insinuado pelo presidente.

Ontem, pagos para defender boatos do gênero, uns gaiatos que se autointitulam agência de checagem de fatos e se arrogam a autoridade final no estabelecimento das verdades receberam forte destaque do google, empresa que recebe dos mesmos pagadores.

A notícia em destaque nos informa que

“No dia 25 de setembro, a Petrobras já havia analisado as amostras de óleo e afirmado que ele não foi produzido pela estatal. Em relatório sigiloso feito para o Ibama, conforme informado pela Folha de S.Paulo, porém, a Petrobras enviou resultado de análise comparativa com o petróleo venezuelano, que tem características diferentes das encontradas no brasileiro. A conclusão reforça a suspeita de que o óleo que chegou às praias do Nordeste tenha vazado de algum navio.”

Não tendo entendido essa parte da notícia, fui procurá-los no facebook e perguntei:

Não entendi esse trecho. Que conclusão? Segundo a Petrobrás, a amostra é, ou não, de petróleo venezuelano?

Responderam tão evasivamente quanto haviam se pronunciado antes, endossando o estilo desonroso ora em voga.

Por que o google terá atribuído destaque a tal bravata?

Cumpre-me salientar, por outro lado, a honradez de uma professora da UFBa que dignamente declarou com todas as letras a conclusão de que o petróleo analisado tem origem venezuelana. Assim, embora continue duvidando desse resultado, reconheço-lhe a dignidade que falta nas outras alegações.

Não tendo acesso a seu relatório, não tenho meios de avaliar a afirmação da professora, que ganhará crédito se corroborada por análises efetuadas por outros grupos, caso em que atenção especial deva ser dada à obtenção dos parâmetros de comparação – e à idoneidade dos dados consultados.

Reitero o que já escrevi em artigo anterior: se o petróleo for mesmo venezuelano minhas especulações estão equivocadas. Continuo acreditando, no entanto, que existe um crime ambiental em andamento, e que autoridades governamentais estão mancomunadas com os criminosos, tentando ocultar o fato de que o petróleo tem origem em poço brasileiro, conforme já expliquei.

Ao que parece, o governo brasileiro pretende se emaranhar por completo na farsa, mantendo a mentira de que o petróleo é venezuelano (qual terá sido a razão para instituir sigilo sobre o relatório que esclareceria esse fato?). Como a acusação de derrame de óleo na Venezuela seria negada pelos venezuelanos, restará atribuir o vazamento a um navio inexistente que nunca será encontrado.

A mentira poupará dezenas de bilhões de dólares em multas aos lambões responsáveis pela maior catástrofe ambiental marinha já ocorrida no Atlântico Sul, será uma farra.

Comentário sobre a mancha mãe

Uma mancha de 21,6 quilômetros quadrados, e outra de 3,3 foram detectadas em águas baianas.

Estimando-se conservadoramente que a mancha tenha 1 cm de espessura um cálculo simples revela que as duas contenham, somadas, 250 mil metros cúbicos de óleo, aproximadamente o dobro da capacidade dos navios da Petrobrás. Inúmeras manchas menores certamente acompanham a mãe das manchas.

Considerando-se que o óleo vem se dispersando pelo oceano há mais de um mês e meio,

que inúmeras manchas menores acompanham a mancha mãe

que a maior parte do petróleo encontra-se no fundo do mar,

pode-se, muito conservadoramente, estimar que a quantidade total de óleo jorrado seja 100 vezes maior que essa.

O crime em andamento é colossal.

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Redação

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