8818-2144

Vou compartilhar com vocês um texto que escrevi para o meu blog e fala um pouco de como é perder a mãe (ela faleceu ano passado, muito jovem).

8818-2144

        À primeira vista, apenas mais um chip de telefonia celular. Mas, como tudo mais, não era apenas isso para quem vos fala. Em minha adolescência, “Oi” significou muito mais que uma das piores operadoras do mundo. Mais do que preços caríssimos. E nem vou entrar na questão do atendimento deplorável. Aqui, importa apenas a memória do número “oito, oito, dezoito, vinte e um, quatro, quatro”, o número telefônico da minha mãe.

E maldita foi a hora que a Oi criou uma promoção em que a ligação de Oi para Oi era gratuita nos fins de semana e feriados (chips limitadíssimos, mas pra variar ela conseguiu). Por esse lado, o número de fácil recordação era como um artefato de dominação do poder matriarcal sobre um jovem cheio de hormônios e amor para dar.

Não tinha dia da promoção que minha mãe deixava de ligar. Onze, quinze vezes. “Onde você está? Quando vem pra casa? O que está fazendo?” Me sentia um perseguido pela inquisição. Até que resolvi trocar de celular. Comprei um número Vivo e as ligações cessaram (pois não era prioridade gastar com ligações, ela gostava mesmo porque era de graça). E sempre quando nos encontrávamos era aquela cobrança para voltar pra Oi – sem dúvidas a operadora perdeu uma grande garota propaganda, eram milhares de motivos pra ir pra Oi sem mencionar o tal fim de semana. Mas sempre fui teimoso. Nunca voltei para Oi. Agora, como todo bom idiota, eu estava no poder. Ligava quando queria (e raramente queria).

Passados alguns anos, estou em outra cidade e tudo mudou. O Rio de Janeiro virou Brasília. O calor com praia virou secura com terra vermelha. E quando vou arrumar meu armário, sozinho como estou me acostumando a ser, acho o maldito chip dentro de uma carteira que não uso mais.

Não há mais 8818-2144. Não há mais mãe.  E não tem um dia que eu não pense que o tempo voltará, meu Nokia azul tocará e será ela com as mesmas perguntas de sempre, aquelas que nenhuma outra pessoa perguntou tão bem.

 

Luis Nassif

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