Luciano Hortencio
Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.
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A pesquisa, a voz e o bom gosto de Zé do Bêlo

Zé do Bêlo

por Cristiano Bastos

A Moda Chegando eu Vou Ver Como É, novo álbum do cantor e compositor gaúcho Zé do Bêlo, sem qualquer exagero, trata-se de um dos maiores esforços feitos, nos últimos tempos, no sentido de reabilitar esquecidas joias do rico cancioneiro brasileiro. E, também, de reavivar alguns dos tantos lendários compositores pátrios “de antigamente”. Como bem disse o mestre Mario Lago, esquecidos na “rolança do tempo”. Dentre os quais, gênios – esses realmente populares! – de fina estirpe: Manezinho Araújo, Almirante, Getúlio Marinho, João da Baiana, Jararaca, entre tantos outros bambas.

As doze canções reunidas neste disco, foram com a excelência do prestigiado músico, compositor e arranjador Marco Pereira (cujos préstimos encontram-se presentes em álbuns de Edu Lobo, Cássia Eller, Gilberto Gil, Gal Costa, Wagner Tiso, Tom Jobim, Milton Nascimento e Roberto Carlos). Pereira também é autor de Ritmos Brasileiros. “Quem leu esse livro vai entender – e concordar – as razões pelas quais ele é o arranjador certo para o meu projeto”, diz Zé do Bêlo.

King Jim, prestigiado músico e saxofonista, mais conhecido por ser o vocalista da clássica banda de rock gaúcho Garotos da Rua (dos hits “Tô de Saco Cheio” e “Sabe o que Acontece Comigo”), faz especial participação no disco. Ele atua produzindo e fazendo os vocais auxiliares presentes em todas as músicas do álbum, exceto “Casinha da Marambaia”.

Radicado atualmente em João Pessoa, na Paraíba, Zé (há 15 anos ele labuta como cantor, compositor e violonista e tem dois discos lançados) teve, coisa rara nesses dias, a sensibilidade de perceber quanto a música brasileira de outrora não resume-se, apenas, aos gêneros, autores, estilo e músicas vindas após, é discutível, a revolucionária bossa nova. Discutível porque, inegavelmente, a “sete palmos” de terra jaz sepultada verdadeira miríade – uma valiosa mina de ouro – de canções que, até a primeira metade do século 20, no Brasil, foram monumentais sucessos de cunho extremamente popular.

Músicas que eram assobiadas nas ruas, cantadas nos bares e, prova maior de popularidade, eram executadas nas rádios. Cada uma da canções selecionadas para o disco por Zé do Bêlo (que adquiriu legalmente o direito de relê-las liberando-as diretamente com as editoras as quais os fonogramas pertenciam), mais do que ritmicamente entreter, conta uma história de vida. E que histórias! E, fora as histórias, falam sobre bem-humoradas narrativas, descrevem hábitos e vocabulário da época. Ou seja, além disso são verdadeiras “aulas” sobre idos tempos.

Toda essa aventura teve início, há dois anos, quando Zé resolveu incluir em seu repertório “Pelo Telefone”, de 1916, cuja autoria está registrada no nomes de Donga e Mauro de Almeida, tido como o primeiro samba gravado Brasil. “Pesquisei a respeito da música e, nos shows, contava um pouco de sua história. Percebi, então, que o público aprovou a escolha, aplaudindo-me efusivamente”.

De fato, impossível não querer ovacionar, e arrebatar-se, pela surpreendente beleza e criatividade – evidenciada tanto nas suas letras como nas suas melodias – de vultos da estatura de, entre outros, Manezinho Araújo, Jararaca, Bando de Tangaras, Canuto e João da Baiana. “Fiquei assombrado com a perfeição contidas nas composições selecionadas para o álbum”, diz Zé do Bêlo.

Da mesma safra, Zé do Bêlo tem em seu poder uma lista contendo mais de 50 canções que, futuramente, pretende lançar. Tal como o álbum A Moda Chegando eu Vou Ver Como é, o próximo também será um projeto independente. Embora independente, o disco caiu nas graças do prestigiado musicólogo Ricardo Cravo Albin, que preside um instituto que leva seu nome. Albin ouviu o repertório do disco em primeira mão – e ficou completamente embevecido. Para o encarte do álbum, em texto assinado por ele, Albin dá seu testemunho pessoal:

“Tenho em mãos o terceiro álbum individual do cantor e violonista Zé do Bêlo. Este disco é a flecha certeira que atinge em cheio um fragmento memorial bastante original. O que prova que Zé do Bêlo é um competente arremessador de certeiros dardos. Ele mergulhou no baú menos conhecido, nada óbvio, colhendo um buquê de músicas que medeiam os quarenta primeiros anos do século 20. Algumas delas, eu diria quase a totalidade, de conhecimento nulo hoje em dia, até mesmo para pesquisadores atentos.”

Zé do Bêlo, no entanto, é mais humilde consigo mesmo. “Não sei se tenho o talento necessário para liderar alguma coisa. Se apenas eu seguir fazendo minha parte, já estará de bom tamanho. Mas uma coisa é é certa: estou me divertindo”.

Que, oxalá, frutifique!

 

https://www.youtube.com/watch?v=ACGtzsl49mg]

[video:https://www.youtube.com/watch?v=TVbGzgs1ioY

Luciano Hortencio

Música e literatura fazem parte do meu dia a dia.

14 Comentários

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    1. Os dois teimosos

      viviam teimando por tudo e por nada. Dom JNS, o mais chato dos dois, ao atravessar um riacho, só pra encher o saco do Veim do Ceará disse estar atravessando um areal. Obviamente, o Veim retrucou que não era um areal e sim um córrego de água translúcida. O Mineirim dos vídeos legais disse que absolutamente não era água e sim areia grossa. O já aporrinhado Veim pegou um punhado de água e tacou nas ventas do Guru das Minas Gerais. Esse, sem perder a fleugma, limpou as faces embotoxadas com um lenço e reclamou: Porra, luciano, dessa vez tu me estragaste o botox com essa areia…

      FUI!

      [video:https://www.youtube.com/watch?v=AdurJS6VIPA%5D

      1. Lulu Sangue de Tatu

        Exames laboratoriais indicaram que você não apela com ninguém, por ter sangue de barata.

        Resultado de imagem para blood old man

        Por duvidar das análise clínicas da terra de José de Alencar e do honorável Tenor do Ceará,

        anuncio, em alto e bom som, sem medo de cometer uma injúria, que diagnostiquei o Tipo 0

        por aí. 

         

  1. Resgates…

    O Nosso Domingo Musical, programa executado pela Agência Nacional e produzido no MEC me era audiência indiscutível e imperdível aos domingos pela manhã. Meia hora, salvo engano, repartida entre 15 minutos dedicados ao folclore e o restante, ao cancioneiro de puro ouro, finas pérolas, prospectados e prospectadas do riquíssimo cancioneiro popular brasileiro, mui bem catalogadas, em sua maioria, pelo primoroso Instituto Cravo Albin, e exibidas para mim, entre os milhares de boquiabertos, acredito, de gerações mais novas, mas amantes das nossas raízes, através da cadeia de rádio formada pela Radiobrás.

    Nos úlitmos dois ou três anos tenho tido o prazer de reviver aquele tempo de descobertas ou redescobertas através do infatigável trabalho do Luciano Hortêncio. A última dele que mais me impactou é justamente a modinha, também em outras versões, mas que mais me amarrei nesse estilo, pescada com maestria pelo Zé de Bêlo, presente na obra supra apresentada pelo Cristiano Bastos e aqui replicada pelo grande Luciano. CASINHA DA MARAMBAIA é daquelas músicas que a gente sente-se frustrado por tanto tempo ter deixado de conhecê-la. E o lirismo imposto nesta versão em modinha feita pelo Zé, leva-me, claro, a pô-la no mesmo altar que Luar do Sertão, do Catulo da Paixão Cearense; de Lá no pé da Serra do Elpídio dos Santos, Prece ao Vento do Dorival Caymmi, e tantos outros hinos da nossa alma popular interiorana. Linda!

    De parabéns o Zé de Bêlo pelo resgate em gravação, excelente, por sinal; e pessoalmente agradeço ao Luciano pelo compartilhar deste primor.

  2. Meu caro, Luciano.

    Tenho observado os novos e experientes musicos/intérpretes que de certo tempo para ca estão voltando às raizes da musica brasileira. Nomes esquecidos e que de repente voltaram à ribalta. Musicas que ouviamos com chiadinhos ao fundo, voltam em novas interpretações e arranjos.

    O que houve? Primeiro, que passamos dos anos 80 para ca por uma massificação nas radios dos hits do momento. Em certas regiões, então, o que aconteceu foi como uma lavagem cerebral de que a musica era pop, rock e americana do norte. 

    E nesse momento critico para a musica, onde apenas poucas radios saiam do estabelecido e ousavam tocar a musica brasileira sob todas as formas, surgiram sites como o Youtube e pessoas como você, a Laura Macedo, Senhor da voz etc, que mostraram o quanto é bonita, poética, engraçada, engajada e diversa a musica brasileira! O quanto fala sobre nos, brasileiros. Eh a nossa expressão maior!

    Eis que gravadoras e musicos se dão conta de que ‘Essa Musica’ tem publico e estamos sendo contemplados de um tempo para ca por cantores jovens que estão regravando sucessos de outrora e falando em nomes que ha muito andavam empoeirados nas radios.

    Eis então que surgem discos belos como esse. E Molha o pano!

    [video:https://youtu.be/fVidhHZfbrw%5D

  3. Eh Luciano, conheci uma fase mais escrachada, do Zé do Belo!

    mas mesmo que as músicas pudessem ser de qualidade duvidosa(HEHEHE), era notável a qualidade artistica dele. 

    fui num show na casa de cultura mario quintana lá pelos idos de 2000. ele enche o palco com o banquinho e violão!

    uma das minhas favoritas é reprise, mas tinham outros clássicos, como jason, e bolinhas. esta última ele discorre sobre os prazeres de caçar la no fundo um tatuzão, para enrolar bolinha, hehehe

    [video:https://youtu.be/_15l_xEDY6Q align:center]

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