Do Terra Magazine / Blog de Rui Daher
Pesquisa Datafolha aponta: um só responsável
Há três semanas, quando o Movimento Passe Livre (MPL) iniciou as manifestações objetivando brecar o aumento das tarifas dos transportes públicos, em São Paulo, imaginei os protestos, que se iniciaram de forma autóctone, como logo passando a ter donos.
Folhas, telas cotidianas e os interesses que elas representam perceberiam nos protestos a oportunidade para afetar as aprovação e popularidade dos mais de 10 anos do Partido dos Trabalhadores no governo federal.
O aturdimento inicial não durou mais do que 72 horas. Logo a cobertura passou a ser total, ainda que obrigatoriamente mantido um pé no barco da Copa das Confederações.
Deu certo. Até mais do que esperavam. 80% de pesquisados aprovavam o fato de serem incomodados em seus bovinos cotidianos.
O Datafolha divulga hoje impressionante queda na aprovação do governo de Dilma Rousseff. De 57% para 30%. Em apenas três semanas. Onde se ouvia “Divino Maravilhoso”, ouça-se “Ilusão à toa”. Sai Gal entra Johnny Alf, em significantes momentos: 1968 e 1969.
Uma única vez “antes neste país”, o Instituto havia aferido queda semelhante. Com Fernando Collor, em 1990.
A comparação da Folha de São Paulo faz soar, e outros certamente repicarão os mesmos sinos, quase uma destituição da Presidente. Sem a trabalheira e a afronta à Constituição que seria um processo de impeachment.
Com isso, deixa-se o fogo centrado em somente uma instância do Poder. Saem de cena: o Legislativo, que fisiologicamente vem travando qualquer iniciativa de reformar o Estado; o Judiciário, incapaz de usar seus imensos e confusos artefatos jurídicos para fazer valer a lei para corruptos e corruptores; governadores de Estados e prefeitos, distribuídos em miríades de partidos.
Enfim, todos os que colaboraram nas décadas perdidas, sem apostar no mercado interno e favorecendo o ganho rentista em detrimento de avançar na inserção social.
Entendo o deslumbramento de tantos com esses “Acorda Brasil Digital”, “Voz das Ruas”, “Pacifistas bonzinhos x Depredadores malévolos”.
Só espero que não estejam todos incapacitados de notar o bom, velho e secular “Acordo Brasil de Elites” tirando do fundo de suas entranhas a força para persistir em mais um século.
Lembro-me de um termo fora de moda: coisificação.
Não creio que entre a maioria dos manifestantes atuais seu significado vá além do de proliferação de lojas 1,99 reais.
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