O debate sobre a capitalização da Petrobras

Transcrição de um debate que aconteceu aqui no Nassif num post sobre a queda das ações da Petrobras.

Uma visão mais liberal e outra mais desenvolvimentista sobre o contexto da estatal.

http://www.advivo.com.br/node/222983

André Araujo

Nos ultimos noventa dias fiz aqui no blog cinco comentarios sobre o equivocado modela de capitalização da Petrobrás que levaria à desvalorização da empresa como player mundial, situação que brilhantemente tinha atingido antes dessa malfadada e desnecessaria “”capitalização””;

O modelo foi ruim porque a PETROBRAS era até então vista como um grande player global com governança corporativa de alto nivel, no mesmo nivel igual às majors como Exxon, Chevron, Toral, Repsol e Shell, muitos nem lembravam que era uma empresa controlada pelo Estado brasileiro.

A chamada “capitalizaçã” não serviu a nenhum proposito estrategico, os objetivos foram ideologicos, de certa visão estatizante do nucleo planaltino. Era desnecessaria porque:

1-Uma grande empresa de petroleo tem espaço de captação continuo no mercado mundial. Quando a Shell precisa de recursos ela não faz uma “capitalização” espetaculosa, não precisa disso, ela simplesmente emite ações na quantidade necessaria, sem ruidos, se a empresa vai bem sempre encontrará compradores. Quem ja ouviu falar dessa fanfarra com capitalização da Exxon ou da Chevron?

2-Uma empresa de petroleo não precisa de todo dinheiro de uma só vez, os desembolsos em investimentos são escalonados, há abundancia de oferta de financiamentos para plataformas, navios e refinarias.

3-O aumento da participação estatal na Petrobrás foi um desastre. Queimou a ficha da empresa até então vista como um player privado, o controle do estado brasileiro passava despercebido porque a governança da empresa era vista como profissional.

4-Quem tomou essa decisão para esse modelo de capitalização provavelmente não  entende nada de mercado global de capitais porque o modelo caminha na direção contraria ao mercado global.

5-Quem caminha contra o mercado sai dele, esta ai a PDVSA que em circunstancias normais poderia captar o que quisesse e hoje está sem acesso a qualquer fonte de recursos, a não ser ao capital chines, o mais extorsivo do mundo.

Quase todos os analistas independentes chamaram a atenção para  esses fatores, a imprensa brasileira fez um mediocre trabalho de analise dessa capitalização, saudada ridiculamente como “” a maior da historia do capitalismo””, confundindo o que era captação real dos minoritarios com a mera operação contabil de incorporação de barris teoricos da União ao capital da empresa, isso nunca poderia ser considerado um processo verdadeiro de tomada de recursos do mercado, se a PDVSA incorporasse  as reservas do Orinoco poderia aumentar seu capital 200 vezes, não é real, é um mero jogo de papel.

Mas a pa de cal foi usar a “capitalização” como palanque, ai queimou mesmo.

———————————————————————————————————————————

———————————————————————————————————————————

———————————————————————————————————————————

Paulo Cezar

Sr. Araújo,

Mais uma vez o senhor esta equivocado. A Capitalização era necessária para alavancar a capacidade de endividamente da empresa e evitar que ela perdesse o grau de investimento, além de captar recursos para o ambicioso plano de investimentos, que diga-se de passagem é superior aos planos de Exxon ou Shell.

Exxon e Shel são empresas privadas e emitem ações quando querem realmente. A Petrobras é uma empresa de economia mista e o governo brasileiro tem interesse estratégico em manter seu controle acionário, deste modo não pode emitir ações como Exxon ou Shell.

Apesar de serem privadas Exxon e Shell executam estratégias de ação em consonância incrivel com as politicas e estratégias de seus países de origem, o que sugere que há sim uma ligação entre as empresas e os governos de seus paises sede, apesar de essa ligação não estar relacionada ao controle acionário. Pelo menos não de maneira explicita.

O Brasil não pode se dar a esse luxo. O caso da Vale é emblemático , hoje a estratégia de desenvolvimento do país esta totalmente descolada da estratégia de negócios da Vale e o governo pouco pode fazer para alterar a situação.

Não podemos nos dar ao luxo de separar a Petrobras de nossas politicas de desenvolvimento, os investimentos da Petrobras estão intrinsicamente ligados ao projeto de desenvolvimento do país ( de maneira semelhante as empresas chinesas com o projeto desenvolvimentista da China ), projeto esse coordenado pelo estado e pensado para desenvolver o país, e não apenas gerar lucro máximo no curto prazo. E num contexto de exploração maciça de uma “commodittie” isso é extremamente delicado, pelo risco de desindustrialização envolvido.

Deste modo concluo reafirmando a importância da capitalização, importância essa que vai além de dogmas liberais que denigrem o controle estatal. Importante porque possibilitará o levantamento de recursos sem perda de controle estratégico do estado e além disso permitirá que o estado angarie uma parte maior dos dividendos gerados pelos lucros da empresa.

Além disso a queda das ações não esta de maneira nenhuma ligada a desconfianças sobre a governança, que lhe garanto continua a mesma, e não haveria porque mudar  ja que é benchmarking para outras estatais , esta ligada sim ao aumento da quantidade de ações e as mesmas dúvidas de sempre sobre o preço do barril futuro e o custo do petróleo nas profundezas do pré sal.

———————————————————————————————————————————

Andre Araujo

Meu caro Paulo Cezar, parabens pela acuidade de sua analise. Minhas observações>

1.A União não manteve apenas o controle que ja detinha mas aumentou sua participação.

Qual a estartegia desse movimento? Se não há, ela gerou a sinalização de que a Petrobrás fica mais estatal do que antes e esse não é um bom sinal para o mercado.

2.O Estado brasileiro tem todo o direito de transformar a Petrobras em totalmente estatal, como a PDVSA, a PEMEX, a PetroPeru, a Ecopetrol da Colombia, a Aramco da Arabia Saudita, a Sonangol, de Angola, a NIOC do Irã, a Kuwait Oil, a Sratoil da Noruega. Mas se a opção e para ter uma empresa com acesso ao mercado global de capitais, a estrategia é outra. Nesse caminho estão a Sinopec chinesa e a Gazprom russa. Para acessar o mercado os movimentos precisam levar em conta os modelos mais premiados por esse mercado. E o modelo que foi usado não gera esse premio, foi uma operação ruim, mal desenhada, mal explicada e com um tom palanqueiro incompativel com uma empresa que pretende crescer conectada ao mercado global de capitais.

3.Exxon e Shell não seguem politicas nacionais hoje em dia. São empresas realmente globais,

operam sob a logica global, detem poucas reservas, são mais operadoras upstream, petroquimicas. Mesmo no passado, por exemplo, a Shell não era uma empresa que operava para os interesses do estado inglês. Na decada de 30 a Shell ligou-se muito à Alemanha do terceiro Reich, a tal ponto que seu CEO, Sir Henry Deterding ficou muito mal visto pelo governo britanico, passou inclusive a residir na Alemanha. A Exxon, sucessora do grupo Standard Oil teve uma longa historia de embates com o Governo dos EUA, a começar pelo desmembramento do grupo em 1905, em seis companhais. Não é uma comapnhia identificada com o governo dos EUA. Já a Total, sucessora da Cie.Française des Petroles e a Repsol são empresas-bandeiras de seus paises. Cada caso é um caso.

4.Considero o modelo dessa capitalização errado. Seria melhor um programa de quatro ou cinco tranches de US$5 a 7 bilhões cada de captação liquida, a União manteria sua paridade com a incorporação de barris em escala proporcional.

5.Finalmente, não acho de forma alguma apropriado o uso politico, que foi feito em larga escala, do processo de capitalização, com Lula indo à bolsa, vestindo jaleco, não cabe ao Presidente da Republica misturar Estado com bolsa, vc não verá dirigentes chineses fazerem isso, no mercado ser discreto ganha premio, quanto menos fanfarra melhor, é preciso convencer os analistas e os operadores e não o palanque, que não cabe nesse cenario.

6.Finalmente, no caso Vale, a atual gestão multiplicou por 25 vezes seu valor de mercado, os impostos pagos são dezenas de vezes maiores do que antes da privatização, a companhia opera sob a logica de mercado e há fortes boatos de troca da atual gestão porque o CEO Roger Agnelli demitiu 2.00 empregados no começo da crise. A obrigação de um CEO é zelar pela companhia, ele fez o que a logica do mercado então exigia. A troca por um CEO mais submisso ao  Palacio vai fazer a companhia perder valor de mercado.  Quem perde? O BNDES, grande acionista, a Previ, acionista maior ainda, no fim o Brasil.

As companhias chinesas que vc mencionou operam rigorosamente sob a logica de mercado,

até de forma exagerada. Elas estão sim a serviço do Estado chines mas DENTRO dos mecanismos do mercado e não contra ele. Os chineses consideram que quanto mais bem sucedidas essas empresas mais a China ganhará com esse sucesso.

———————————————————————————————————————————

Paulo Cezar

Ola André,

Meus comentários a suas observações :

Meu caro Paulo Cezar, parabens pela acuidade de sua analise. Minhas observações>

1.Qual a estartegia desse movimento?

A estratégia ao meu ver é aumentar os dividendos a que a união terá direito.

2.O Estado e  mercado global de capitais.

A Petrobras tem uma governança premiada apesar de ser estatal.  O fato da participação do estado ter aumentado esta totalmente desconectado da governança, que continuará a mesma.

Antes o sócio majoritário ja nomeava o presidente e diretores e continuará fazendo. Sem mudança alguma.

O fato é que os quadros da Petrobras são profissionais é há um limite que aceitamos para ingerências politicas.

A avaliação majoritária na empresa é que o desenvolvimento do país é positivo para os objetivos da empresa, pois se trata do nosso principal mercado. Assim os planos estatais estão alinhados aos empresariais.

Como não há perspectiva de mudança na governança, não vejo perspectiva de mudança dos planos de financiamento no mercado de capitais.

A capitalização foi realmente divulgada com viés politico, porém acredito que isto seja legitimo, uma vez que os louros devem ir para quem os merece.

3.Exxon e Shell não seguem politicas nacionais hoje em dia.

Pelo contrário.

http://www.ionline.pt/conteudo/31379-shell-e-exxon-mobil-vao-explorar-um-dos-melhores-campos-petroliferos-do-iraque

http://www.businessinsider.com/exxon-and-shell-bag-iraq-deal-to-produce-more-oil-than-nigeria-out-of-a-single-reserve-2010-1

Alias, pensar que Exxon Shell e outras são apenas empresas comuns é um  erro recorrente na história do petróleo… Um erro que muitas vezes não acabou bem para os paises envolvidos….

4.Considero o modelo dessa capitalização errado.

Como disse anteriormente, avaliou-se que a participação do estado na empresa era pequena dado o horizonte projetado, e a perspectiva de dividendos.

5.Finalmente, não acho de forma alguma apropriado o uso politico…

A Cesar o que é de Cesar….

O presidente deve sim capitalizar politicamente seu apoio a Petrobras, até para contrabalancear com a posição de seus adversários, que nunca adotaram politica de valorização da empresa.

6.Finalmente, no caso Vale, a atual gestão multiplicou por 25 vezes seu valor de mercado, os impostos pagos são dezenas de vezes maiores do que antes da privatização, a companhia opera sob a logica de mercado e há fortes boatos de troca da atual gestão porque o CEO Roger Agnelli demitiu 2.00 empregados no começo da crise. A obrigação de um CEO é zelar pela companhia, ele fez o que a logica do mercado então exigia. A troca por um CEO mais submisso ao  Palacio vai fazer a companhia perder valor de mercado.  Quem perde? O BNDES, grande acionista, a Previ, acionista maior ainda, no fim o Brasil.

A Vale aumentou seu valor de mercado e Petrobras também.

A Vale no entanto ajuda muito pouco na politica de desenvolvimento brasileira. Ela efetivamente exporta empregos e criação de valor para a China.

A perda de valor acionário não se reflete em prejuizo direto. Mantendo-se a governança e os bons resultados o valor das ações voltaram a um patamar elevado. O mercado acionário é altamente especulativo , porém raramente se nega a adimitir realidades.

As companhias chinesas que vc mencionou operam rigorosamente sob a logica de mercado,até de forma exagerada. Elas estão sim a serviço do Estado chines mas DENTRO dos mecanismos do mercado e não contra ele. Os chineses consideram que quanto mais bem sucedidas essas empresas mais a China ganhará com esse sucesso.

Elas operam sob a lógica do mercado, porém sempre com o viés do desenvolvimento nacional. Por isso estamos vendo cada vez menos exportações de produtos primários pela China. Eles estão efetivamente agregando valor lá, e gerendo emprego , renda e PODER lá…..

A Petrobras por exemplo operou sob a lógica de mercado sob FHC e hoje também opera. Isso não mudou. O que mudou foi o viés de suas ações, agora alinhados com a politica de desenvolvimento governamental.

Luis Nassif

1 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Capitalização da Petrobras

    Paulo Cezar como vc mesmo disse o mercado vai dizer quem estava certo, e vc errou redondamente na sua avaliação. O mercado detesta a intervenção govenamental. E como sempre ele é sábio, só serve para aparelhar , fazer uso político e desvios. Quanto a ” a Cesar o que é de Cesar”, sim a cadeia é a única saída para Cesar.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador