O aprendizado com os tombos da OGX

Do Valor 

As lições de OGX

Por Sérgio Tauhata

A venda recente de 40% de um de seus mais promissores campos de exploração de petróleo e gás, o Tubarão Martelo, para a companhia Petronas, da Malásia, somada à expectativa de uma eventual negociação com outras empresas não foram suficientes para afastar os temores sobre a capacidade da OGX de superar seus complexos problemas.

Há um ano, talvez poucos pudessem imaginar – ou prever – a que ponto chegaria o pessimismo em relação à companhia. Muito menos que o papel acumularia perdas de 85,26% nos 12 meses encerrados em 30 de abril. A trajetória errática da empresa tem trazido tombos do tamanho das decepções em relação às expectativas iniciais, mas também deixa um legado de lições importantes.

“Do ponto de vista dos investidores, o aprendizado mais relevante é reconhecer que o otimismo nunca deveria ter obscurecido os riscos”, diz o analista Marcus Sequeira, do Deutsche Bank. E, no caso de OGX, muitos riscos podiam ter sido considerados. Além de ter sido pré-operacional até metade de 2012, ou seja, sem histórico produtivo, o setor de petróleo e gás é um dos mais desafiadores: exige capital intensivo e as chances de fracasso nas explorações não são desprezíveis. A Petrobras, por exemplo, registrou no ano passado despesa de R$ 7,8 bilhões por conta de poços secos.

Na opinião de Sequeira, uma lição para a própria petrolífera é entender a importância da estratégia de comunicação e saber lidar com as más notícias. “Uma coisa que a OGX não aprendeu foi como dar notícias negativas. Foi sempre mais fácil para a empresa falar bem de suas operações e descobertas. Isso ajuda a criar incerteza e desconfiança”, afirma.

Para compreender os percalços e assimilar o aprendizado da ascensão e queda de OGX é preciso voltar aos idos de 2008. Em 13 de junho daquele ano, a companhia de petróleo e gás de Eike Batista estreou na bolsa à frente de gigantes como Eletrobras, Cemig e Aracruz em valor de mercado.

Mesmo com o preço da oferta inicial de ações (IPO, na sigla em inglês) estabelecido no topo, a ordinária (ON, com direito a voto) da empresa registrou valorização de 8,31% no primeiro dia de negócios. No melhor momento da sessão, chegou a subir 18%. Um fenômeno.

Foi uma espécie de “tempestade perfeita” – termos que descrevem evento climático que surge devido a uma rara coincidência de fatores – de otimismo. Alguns dias antes o assunto era um só: o maior IPO da história do Brasil (depois superado pelo lançamento das “units” do Santander Brasil). O preço do petróleo, por sua vez, batia no teto histórico aos US$ 145 por barril WTI.

“Em 2008, havia todo um otimismo em relação ao tema petróleo, com a badalação do pré-sal e descobertas como a do campo de Tupi [da Petrobras]. A empresa e o mercado estavam muitíssimos propensos a acreditar nos números divulgados”, afirma Luiz Caetano, da Planner Corretora.

Na visão da analista do BB Investimentos Carolina Flesch, esse cenário inebriante levou a um efeito manada de investidores que não queriam ficar de fora da “próxima Petrobras”.

Após o desdobramento ocorrido em dezembro de 2009, na proporção de uma ação para 100, o papel se tornou acessível para as pessoas físicas. Na prática, a operação diminuiu o valor de negociação, na época, de R$ 1,5 mil para R$ 15. Dados da BM&FBovespa mostram a atração da ON aos pequenos investidores: do total de ações em circulação, em abril deste ano, havia entre os detentores 51,9 mil pessoas físicas e 2 mil pessoas jurídicas.

Depois de uma festa que durou quatro anos, a ressaca veio forte. E pegou de surpresa a maior parte dos aplicadores, que não vão esquecer tão cedo o fatídico 27 de junho de 2012. Na noite anterior, a empresa havia divulgado um dado que surpreendeu até mesmo os mais pessimistas do mercado. Um de seus poços em funcionamento na época, o Tubarão Azul, teve vazão definida em 5 mil barris de óleo equivalente (boe) por dia, ou seja, 57% menos que o pico da fase de testes e três vezes menor que o volume mínimo da meta anunciada dez meses antes.

O resultado foi explosivo. Apenas nos dois pregões seguintes ao anúncio, OGX ON despencou, primeiro, 25% e, depois, 19%. Em meio a uma série de rebaixamentos posteriores de recomendações por parte de bancos e corretoras, o papel continuou em queda ao longo do ano. De 2012 para cá, OGX ON vivenciou emoções fortes. A cotação saiu de R$ 18,21, máxima de 2012, para R$ 1,25, mínima histórica até a última sexta-feira, registrada em 17 de abril de 2013.

Mas quais são, agora, as soluções para o estrago já feito? Segundo Rodrigo Alves, presidente do MZ Group, consultoria especializada em mercado de capitais, após uma quebra de expectativa não existe atalho. “A confiança só vai ser resgatada quando o mercado enxergar execução e entrega de resultados”, afirma.

A primeira providência, na visão de alguns analistas, já foi tomada. “Já assistimos a uma mudança completa de discurso, agora mais contido”, afirma Caetano, da Planner. Questionada sobre mudanças na estratégia de comunicação, a própria OGX admitiu em e-mail enviado ao Valor que “não tem passado “guidance” de longo prazo”.

Nos últimos meses, questões financeiras e operacionais deram o tom do “inferno astral” da companhia. Houve falhas no sistema elétrico da plataforma OSX1 e nas bombas de extração de dois dos três poços de Tubarão Azul. Os eventos derrubaram a produção de 11,3 mil barris de óleo equivalente (boe) por dia, em fevereiro, para 8,3 mil em março. Os dados de produção de abril trouxeram mais pessimismo. Houve queda de 78,31% na extração de óleo em Tubarão Azul, com média de 1,8 mil boe por dia.

Mesmo com certo alento da venda de 40% do campo de Tubarão Martelo para a petrolífera malaia por US$ 850 milhões, sendo US$ 250 milhões à vista, US$ 500 milhões após a extração do primeiro óleo e US$ 100 milhões pagos de acordo com a produção, o mercado ainda não comprou uma nova onda de otimismo. Em relatório de 8 de maio, os analistas Pedro Medeiros e Fernando Valle, da Citi Corretora, mantiveram o preço-alvo de R$ 0,90 para os papéis da OGX e reiteraram a recomendação de venda. De acordo com os especialistas, o valor da transação foi considerado baixo. “O acordo implica em “valuation” de US$ 1,8 bilhão a US$ 2 bilhões, abaixo de nossas estimativas e do consenso [de mercado] de US$ 2,5 bilhões.”

Segundo informações da companhia, dois poços ainda não produziram no mês passado devido aos problemas ocorridos em março. E o terceiro ficou 14 dias inativo por conta de “paradas periódicas preventivas”. No boletim, a OGX informa que o reparo do primeiro poço deve ser concluído em meados deste mês e a manutenção do segundo será feita “em seguida”.

Analistas do Citi alertam para uma piora na avaliação dos riscos. Para eles, a expectativa era de a plataforma OSX1 gerar Ebitda (sigla em inglês para lucro antes de juros, impostos, depreciações e amortizações) de R$ 120 milhões no segundo semestre. Mas a baixa produtividade lança dúvidas sobre a projeção em OSX2, com início de operação previsto para este trimestre, que enfrentará “os mesmos obstáculos geológicos”.

A batalha maior, no entanto, será de remontagem da confiança. O consenso no mercado indica que a companhia terá um caminho árduo pela frente. Para os analistas, não há perspectiva de resultados convincentes no curto e médio prazos. “Os fundamentos da empresa não são bons. O balanço é fraco. A dívida líquida está alta e a projeção de caixa é ruim. A história da OGX está bem complicada”, diz Sequeira, do Deutsche. O especialista destaca que a baixa produtividade compromete a geração de caixa. E esse fator deve demorar para ser equalizado, porque “há um problema evidente com a geologia de Tubarão Azul que dificulta a extração”. (Colaborou Téo Takar)

Luis Nassif

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