Raio X da Notícia: Segurança Pública

Na recente crise da segurança pública em São Paulo, sobrou mais para o Secretário de Administração Penitenciária, Nagashi Furukawa, menos para o Secretário de Segurança, Saulo de Castro Abreu.

Nagashi tem biografia. No início dos anos 80 cumpriu um trabalho exemplar de juiz em Bragança Paulista, regularizando os processos de adoção, e investindo corajosamente contra o poder político de Nabi Abi Chedid – cuja família controlava uma creche que vivia de verbas públicas, e tratava mal as crianças. Depois, notabilizou-se por seu trabalho de ressocialização dos presos. Em Bragança juntou-se à sociedade civil e criou uma delegacia modelo, na qual ficavam presos de menor periculosidade aprendendo profissões e a se relacionar com o mundo.

Mais tarde, tornou-se Secretário do ainda governador Mário Covas. No Prêmio Mário Covas de Inovação na Gestão Pública de 2004 – do qual fui jurado – foi, de longe, o Secretário com melhores iniciativas, práticas, criativas, humanas.

Nagashi representava o lado humano da segurança pública, Saulo o linha dura. Mas quem era o mais eficiente ou o menos ineficiente? É importante se deter menos sobre o estilo de ambos, e mais sobre a eficácia de cada um.

Há duas frentes de combate ao crime. No plano penitenciário, duas ações conjuntas. De um lado, descompressão das tensões do sistema carcerário com um trabalho de promoção social que permita a recuperação dos presos de baixa periculosidade, algo que Nagashi executou brilhantemente. De outro, um trabalho sistemático de isolamento das lideranças mais perigosas, o que, obviamente, não foi feito.

A segunda linha de ação é o trabalho de inteligência e de policiamento intensivo, o primeiro atuando sobre o crime organizado ou sobre crimes continuados, o segundo na repressão ao crime não previsto. O primeiro trabalho compete à Polícia Civil, o segundo à Polícia Militar. Para que o conjunto funcione, há a necessidade de cooperação, troca de informações, ação conjunta e sinérgica.

A partir daí, uma avaliação integral do episódio precisaria responder às seguintes questões:

1. A quem competia acompanhar o crime organizado e a atuação dos líderes presos: a Secretaria de Nagashi ou a de Saulo? A inteligência policial estava nas mãos de Saulo, não nas de Nagashi. O poder de quebra do sigilo telefônico é da Segurança, não da Administração Penitenciária. O Secretário demissionário alegou ter solicitado várias vezes a Saulo que mandasse policiais para um trabalho conjunto nos presídios, e os pedidos não foram atendidos.

2. Como era a integração entre ambas as Secretarias? Segundo Nagashi, em quase sete anos de atuação conjunta, não conseguiu mais do que dez reuniões com Saulo. Essa mesma dificuldade de trabalho conjunto com Saulo foi relatada por fontes do Ministério da Justiça. Notícias recentes davam conta de que não existe integração e trabalho sinérgico sequer entre as Polícias Militar e Civil. Aliás, o surpreendente é que, em sete anos de governo, o ex-governador Geraldo Alckmin manteve apenas uma reunião conjunta com os três secretários.

3. Não ter avisado a tropa sobre a transferência das lideranças do PCC para presídio de alta segurança foi uma imprudência que custou a morte de vários policiais. De quem era a responsabilidade, de Nagashi, que dirigia presídios, ou de Saulo, que tem contato direto com a tropa?

4. O governo foi derrotado nos dias em que o PCC tomou conta da cidade. O governador Cláudio Lembo foi imprudente em manter no posto os generais derrotados. Mordidos com as ações do PCC, a Secretaria de Segurança e o Comando Geral da PM liberaram geral. São Paulo foi derrotado duas vezes, com os policiais chacinados, e com todos os que foram vítimas das represálias policiais, em um campeonato macabro sobre quem executava mais.

Luis Nassif

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