Os 110 anos de Alcyr Pires Vermelho, um descobridor de melodias

Alcyr Pires Vermelho (8 de janeiro de 1906, Muriaé, MG – 24 de maio de 1994, Rio de Janeiro, RJ)

Alcyr nasceu na Rua Gusman e foi o primogênito de uma família de quatro irmãos: Alcyr, Selva, Laura e Acácio Vermelho Junior (Maninho). Era filho do comerciante Acácio Vermelho e da pianista amadora Laura Pires Vermelho, com quem aprendeu o instrumento. Mais tarde, foi aluno de Amadeu Pacífico, que lhe conseguiu emprego de pianista no cinema de Muriaé. Começou a tocar em festas, mas apesar da dedicação à música, fez um concurso e foi transferido para Carangola para trabalhar no Banco Hipotecário e Agrícola do Estado de Minas Gerais. Ali organizou uma orquestra. Trabalhou também em Ubá, onde conheceu Ary Barroso e sua tia Ritinha, com quem teve aulas de música. Alcyr e Ary atuavam nos meios artísticos de Ubá, Alcyr como pianista dos clubes carnavalescos das Opalas e nos dos Plutões, frequentado pela classe média local, e Ary era a atração do Clube dos Ubaenses, da classe mais abastada.

Em 1929, mudou-se para o Rio de Janeiro para trabalhar no Banco Comércio e Indústria de Minas Gerais. Aproxima-se do meio artístico carioca, em 1933, conhecendo Lamartine Babo, a quem muito admirava. Com ele fez sua primeira música, a marchinha Dá cá o pé, loura para o carnaval de 1934, gravada pelo próprio Lamartine.

https://www.youtube.com/watch?v=kqFLODHoslc]

Estreou em rádio como primeiro pianista da Rádio Clube do Brasil. Seu primeiro grande sucesso foi o samba Tic-tac do meu coração, gravado por Carmen Miranda em 1935.

https://www.youtube.com/watch?v=pHmF65luS10]

Compôs Paris, marcha dedicada à seleção brasileira de futebol que partia para a Copa do Mundo de 1938, na França. A música foi regravada por Elba Ramalho em 1998, por ocasião da segunda Copa realizada na França.

https://www.youtube.com/watch?v=I0SNdQKbFIM]

A música Dama das Camélias, com João de Barro (Braguinha), em 1939, foi gravada por Francisco Alves, em referência ao filme, baseado no livro de Alexandre Dumas Fº. Alcyr ficou emocionado com o romance e ao assistir ao filme ficou com ideia de fazer essa homenagem. Curiosamente, Greta Garbo teve acesso à música brasileira, comparecendo de forma inédita a um espetáculo de Carmen Miranda em Nova Iorque. Em 1940, a marcha ganhou o concurso carnavalesco da Prefeitura do Rio. O concurso foi realizado no América Futebol Clube, na Tijuca, e contou com um júri ilustre composto por Villa-Lobos e Pixinguinha. Dama das Camélias foi incluída no filme Laranja da China, roteiro do próprio Braguinha e direção de Ruy Costa.  

[video:https://www.youtube.com/watch?v=9BF1Y24fz38

A dupla Alcyr Pires Vermelho – David Nasser fez um grande sucesso com o samba-exaltação Canta Brasil, gravado em 1941 por Francisco Alves. Ary Barroso o acusou de plágio de Aquarela do Brasil e, pelo seu temperamento irritado, Ary afastou-se definitivamente de Alcyr a partir deste incidente.

Alcyr teve um papel importantíssimo na história da música brasileira tendo participado ativamente da luta pela defesa do direito de autor. Em 1942 fundou a União Brasileira de Compositores – UBC junto com outros companheiros, como Ary Barroso, Braguinha, Ataulpho Alves, Lamartine Babo, entre outros. A UBC possui em seu acervo de obras de arte uma caricatura retratando este compositor feita pelo artista Lan.

A marchinha Duas Polegadas, com Pedro Caetano e Carlos Renato, remete a um episódio marcante no concurso Miss Universo de 1954. A brasileira Martha Rocha perdeu a disputa para a americana Miriam Stevenson por causa de duas polegadas!

[video:https://www.youtube.com/watch?v=Mr2MD4uxRL8

Outro grande sucesso e uma de suas composições mais marcantes, é a valsa Alma de violinos, parceria com Lamartine Babo. Gravada por Francisco Carlos que aponta, orgulhosamente, a gravação dessa canção como o momento mais expressivo de sua carreira de cantor. 

Em 1957, fez uma inédita parceria com o jornalista e colunista social Ibrahim Sued na marcha Maria Shangai, gravada por Agostinho dos Santos. A música fez parte do filme É de Chuá, de Victor Lima

[video:https://www.youtube.com/watch?v=iQJfEgLZg_0

Ocasionalmente, usou o pseudônimo de A. Romero. Nas décadas de 1960, 1970, 1980 e 1990 tocava seu piano com alguma frequência em bares e casas noturnas cariocas. Foi parceiro de Lamartine Babo, Braguinha, Nazareno de Brito, Pedro Caetano, David Nasser, Ary Barroso, Jair Amorim, Tito Madi, Dorival Caymmi, Walfrido Silva, Gilvan Chaves, Luiz Peixoto, Alberto Ribeiro, Saint Clair Sena, Roberto Roberti, entre outros.

Considerado um dos grandes melodistas da música popular brasileira, pela facilidade em escrever, o compositor e pianista era visto no meio artístico de sua época como um apadrinhado dos deuses, ou, segundo Heitor Villa-Lobos, um descobridor de melodias. Compositor eclético fez marchinhas, sambas, sambas-exaltação, valsas, boleros e toadas. Talentoso, dedicou-se à pintura, tendo feito exposição de seus quadros no saguão do Hotel Nacional do Rio em 1977.

Aposentou-se como funcionário do antigo Instituto de Aposentadoria e Previdência dos Bancários (IAPB), permanecendo neste emprego durante 33 anos.

Faleceu no Rio de Janeiro em 24 de maio de 1994, aos 88 anos. Foi casado com Maria José Hastenreiter com quem teve 4 filhos, Alcir, Ivan, Alane e Rubens.

Em seu centenário de nascimento, a Fundação de Cultura e Artes de Muriaé (Fundarte) realizou, na Praça João Pinheiro, uma homenagem ao artista.

Fontes:

Alcyr Pires Vermelho no Dicionário Cravo Albin 

Alcyr Pires Vermelho

Alcyr Pires Vermelho na Fundação de Cultura e Artes de Muriaé 

Alcyr Pires Vermelho na Rádio Batuta, por Carla Paes Leme 

Discografia de Alcyr Pires Vermelho

Entrevista com Alcyr Pires Vermelho, por Renato Vivacqua 

“Nosso Patrimônio” homenageia Alcyr Pires Vermelho 

 

Redação

5 Comentários

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  1. Cara Mara Baraúna!

    Tendo em vista que a amiga deu-me a honra de colaborar com vários vídeos do canal luciano hortencio, junto-me a você nessa excelente homenagem, trazendo uma foto de Alcyr Pires Vermelho, oferecida à cantora Odete Amaral!

    Abraço do luciano

    1. Obrigada!!

      Luciano

      Eu usei essa mesma foto no post, mas agradeço pela sua gentileza. Seu canal no youtube é muito bom para minhas pesquisas, ajuda muito!

      Abraços

  2. Alcyr Pires Vermelho
    Meu conterrâneo Alcyr Pires Vermelho. Tenho orgulho de dizer disso. Um compositor que ainda não obteve o reconhecimento merecido dentro da música popular brasileira, embora seja autor de vários clássicos de nosso cancioneiro, como “Canta Brasil”; “Laura”; “Onde O Céu Azul É Mais Azul”; “Bronzes E Cristais”; “O Tic-Tac do Meu Coração”; “Esmagando Rosas”; “Dama das Camélias”, “Dama de Vermelho”; “Barqueiro do São Francisco”; “Bronzes e Cristais”; “Prece ao Vento”; “E Eu Sem Maria”; “Sandália de Prata” e tantos outros, além de muitas pérolas menos conhecidas, como “Delírio”; “Fantasia Carioca”, “O Meu Rio É Assim”, “Meu Lampião”; “E A Noite Continua”; “Sei Lá Si Tá”, “Tudo É Bossa”, “Montanha-Russa”; “Mundo Diferente”, “Palavras Cruéis”, “Rio dos Meus Amores”, entre outras composições que ainda aguardam a oportunidade de serem redescobertas. Compôs, com rara facilidade, melodias inesquecíveis, fazendo canções em parceria com diversos nomes importantes da música popular brasileira, como Lamartine Babo, Ary Barroso, João de Barro, David Nasser, Mário Lago, Jair Amorim, Jota Júnior, Miguel Gustavo, Pedro Caetano, entre outros, tratando-se, provavelmente, do compositor da música popular brasileira – e talvez mundial – com maior número de parceiros. Foi gravado pelos mais consagrados intérpretes de todos os tempos da música popular de nosso país, gente como Francisco Alves, Carmen Miranda, Ciro Monteiro, Elizete Cardozo, Ângela Maria, Cauby Peixoto, Carlos Galhardo, Carlos José, Mário Reis, Dick Farney, Gal Costa, Caetano Veloso, Nana Caymmi, Johnny Alf, Nora Ney, Vicente Celestino, Ney Matogrosso, Paula Morelenbaum, Elba Ramalho, Maysa, Guilherme de Brito, Miúcha, Inezita Barroso, Nara Leão, Germano Mathias, Os Cariocas … enfim, a lista é extensa, abrangendo gravações que abarcam um período de mais de 80 anos, que vai de meados da década de 30 até a presente década de 10 dos anos 2000, o que prova a atemporalidade de suas melodias. Chegou a se aventurar pela música erudita, compondo pequenas e brilhantes peças para piano, que denominou “Alcyrianas”. Foi elogiado até por Villa-Lobos, que o chamou de “descobridor de melodias”. Já Lamartine Babo o considerava o maior melodista do Brasil.  Em seu centenário, tive a oportunidade e a honra de assinar dois artigos em uma revista em sua homenagem, lançada em nossa cidade natal, Muriaé. Parabéns por ajudar a divulgar a obra desse artista!

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