Temer não é o presidente esperado por Gilberto Freyre, por Mário Lima Jr.

Foto: Lula Marques

Por Mário Lima Jr

Em 1926 Gilberto Freyre escreveu o poema chamado “O outro Brasil que vem aí”. No poema o jovem Freyre diz que ouve os passos do Brasil que será governado por qualquer brasileiro – lenhador, pescador, carpinteiro – desde que seja digno. Advogado, Michel Temer é o primeiro Presidente da República gravado em um ato descarado de corrupção, o oposto do que Freyre desejou.

O autor de Casa-grande & senzala, maior dos livros brasileiros na opinião de Darcy Ribeiro, esperava que o governante nacional tivesse a alma do povo. Um presidente de alma brasileira não assinaria o parecer chamado de Marco Temporal, que considera que índios têm direito à terra desde que a área pretendida estivesse ocupada por eles na data da promulgação da Constituição Federal, em outubro de 1988. Data insuficiente para qualquer conclusão a respeito dos primeiros povos que ocuparam esta terra.

Nenhuma outra nação conseguiu combinar tantas raças, tendo uma natureza exuberante compartilhando o território, e ser a sétima maior economia do mundo. Ainda assim, segundo o presidente, o Brasil é um país menor. Em tom comemorativo, após o término da votação na Câmara que adiou a investigação pelo crime que cometeu, Temer disse que o destino do Brasil é ser um grande país. Que “é preciso acabar com muros que nos separam e nos tornam menores”. Embora não tenha um governante à sua altura, o Brasil já é um grande país. A desigualdade social profunda, Temer não ajuda a resolver, mas a estimula.

Dilma Rousseff não sabia usar as palavras, esbanjava insegurança, mas conhecia o significado do Brasil. Temer é frio, escolhe as palavras com precisão, e expressa exatamente aquilo que pensa. Ao falar revela que não houve as vozes, não vê as cores e não sente os passos brasileiros, como Freyre fez.

Temer quer continuar a recuperação da economia, defende que seu governo é democrático e que precisamos dele para manter a ordem social. Para garantir sua vitória na Câmara, o presidente recebeu no Planalto e nas residências oficiais a visita de aproximadamente 130 deputados nos dias que antecederam a votação, alcançando uma média incrível de quatro visitas por dia, considerando os fins de semana. Ao invés de diálogos sobre como tornar o Brasil “um grande país”, os homens mais sujos que caminham entre nós puseram em discussão acordos de distribuição de cargos e de bilhões de reais em emendas parlamentares.

A falta de espontaneidade em Temer, adquirida em décadas de treinamento, sugere correção e estabilidade. Antes o Brasil precisa de honestidade. Temer não conta com tal qualidade, nenhum movimento com ele na Presidência será para frente.

Freyre ouviu a aproximação de um Brasil mais fraterno. No outro Brasil que vem aí, de acordo com o gênio pernambucano, todo cidadão poderá dizer como quer o seu país, diferente daquele visto no mês de maio, quando armas de fogo foram usadas contra pessoas exercendo o direito supremo de se manifestar contra o governo.

Redação

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