Bolsonaro e Front National, dois atores para o mesmo papel.

Bolsonaro e Front National, dois atores para o mesmo papel.

Parece que a cada dia fica mais clara a política da direita para as próximas eleições, ou seja, vão utilizar a mesma estratégia que utilizaram há mais de 15 anos na França, a velha e conhecida tática de colocar o Bode na Sala! Como é feito isto? Pois bem, vamos relatar o caso francês e verão a semelhança do que vão fazer no Brasil.

Em 1972 cria-se na França um partido político de extrema-direita e de caráter protecionista, conservador e nacionalista denominado Front National, este partido foi criado por um paraquedista da brigada estrangeira que atuou na guerra colonial da Indochina (atual Vietnam, Laos e Camboja) e na guerra da Argélia, onde os franceses foram batidos nas duas frontes, que via na figura do General Charles de Gaulle um traidor por ter se retirado das colônias. Os sentimentos de parte dos militares eram semelhantes dos alemães durante as duas guerras mundiais, e com a insatisfação Jean-Marie Le Pen ganhou seus adeptos.

Até as eleições de 2002 a presença do Front Nacional (FN) na França era marginal, porém por motivos imagináveis neste ano o FN passa ao segundo turno das eleições presidenciais francesas ganhando no primeiro turno por uma margem de 0,7% sobre o candidato socialista Leonel Jospin que era a esquerda do partido Socialista Francês.

No segundo turno, unem-se todos os franceses para fazer barragem a Le Pen e o candidato conservador da direita francesa com apoio da imensa parte da esquerda, atingindo a imensa votação de 82,21% contra os 17,79% de Le Pen e com uma participação maciça dos eleitores franceses 79,7% (o voto na França não é obrigatório).

Depois deste evento, se passa a demonizar nos meios de comunicação o FN, sempre se lançando o espectro de um provável segundo turno com a presença ou de Jean-Marie Le Pen e posteriormente com sua filha Marine Le Pen, nas últimas eleições também é utilizado a figura do voto útil contra o FN, mas mesmo assim o partido de extrema direita chega em segundo lugar. Da mesma forma do que em 2002 se faz uma campanha de voto em Emmanuel Macron em 2017, porém apesar de um aumento significativo do primeiro ao segundo turno de Macron, passando de 8.656.346 de votos para 20.743.128 a abstenção aumentou em muito e o percentual de votos de Macron atinge 66,10% dos votantes contra 33,90% da Marine Le Pen.

O que se vê claramente é que a direita centrista francesa se favoreceu, e se favorece com a existência do Front National, pois este é um verdadeiro bicho-papão da política francesa, ou seja, com a ameaça do FN chegar ao poder há uma formação de uma barragem a esta agremiação de extrema direita.

Quais são as semelhanças e quais as diferenças do processo Francês e do Brasil? Podemos analisar por dois pontos, pelo lado pessoal e pelo lado da grande política. Pelo lado pessoal na aparência Bolsonaro e Jean-Marie Le Pen tem semelhanças incríveis e diferenças notáveis. Como semelhança temos duas pessoas que foram militares paraquedistas e tem a mesma noção política em termos de tudo o que é desagradável para o grande público. Jean-Marie Le Pen é direitista, racista, claramente fascista, xenofóbico, conservador e além de apoiar a tortura ele mesmo declarou em 1962, sobre as ações dos franceses na guerra da Argélia, com suas próprias palavras que: “Je n’ai rien à cacher. Nous avons torturé parce qu’il fallait le faire…..”(tradução livre: Eu não tenho nada a esconder. “Nós torturamos porque era necessário se fazer….”). Porém as semelhanças pessoais param por aí, Jean-Marie Le Pen lutou em duas guerras, e não ficou fazendo flexões em quartéis, e ele tem uma capacidade de oratória muitíssimo superior a Bolsonaro, enquanto o francês faz discursos sobre a extrema-direita Bolsonaro se desnuda frente a programas humorístico de TV declarando que era um estuprador de galinhas (a ave doméstica) na sua adolescência e ainda ri sobre isto. Por outro lado enquanto Bolsonaro fica pipocando de partido em partido, Jean-Marie organizou um partido de extrema direita que é uma das cinco maiores forças dos partidos franceses.

Quanto a organização partidária, as diferenças do FN e de Bolsonaro são notáveis, o primeiro se trata de uma organização política que independente da figura de Jean-Marie mantém algo entre 15% a 20% do eleitorado francês, já Bolsonaro nem consegue se manter num partido.

Apesar das diferenças políticas do Front National e de Bolsonaro, parece que o esquema que a direita brasileira está montando é o mesmo que a direita francesa sempre utilizou, ou seja, se promove Bolsonaro acima de suas reais capacidades, assusta-se a esquerda e evita-se que Lula se candidate para num primeiro turno um qualquer possa chegar junto a Bolsonaro no segundo turno, assustando todas as pessoas, partidos dos o PSOL e outros de centro esquerda apoiarão o “qualquer pessoa” num segundo turno, dando legitimidade a este.

Poderíamos até criar um esquema para as próximas eleições:

(1) – Aumentam artificialmente a popularidade de Bolsonaro.

(2) – Ameaçam com a possibilidade de Lula não concorrer.

(3) – Grandes partes das pessoas ficam apavoradas com a eleição de Bolsonaro.

(4) – Se promove “qualquer um” para candidato contra Bolsonaro.

(5) – No primeiro turno dá o “qualquer um” e Bolsonaro.

(6) – Se convoca todos para votar no “qualquer um” contra Bolsonaro.

(7) – Elege-se o “qualquer um” e todos ficam felizes.

(8) – O “qualquer um” se mostra até pior do que Bolsonaro.

(9) – Pode-se repetir o mesmo esquema mais duas eleições.

Tudo isto tem problemas pela frente, porém fica claro que a política encabeçada pela grande mídia conservadora está no ponto (1) do cronograma.

Redação

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