A esquerda brasileira produziu mais Nerudas que Guevaras

O Brasil é o país latino-americano onde as contradições são mais explícitas e consentidas. O maior Partido de esquerda da região, o Partido dos Trabalhadores, sofre de rejeição crônica mesmo tendo realizado os maiores governos que esse país já teve.

 

É um contrassenso que uma família, tendo formado o primeiro filho depois de várias gerações, não tenha consciência de que o Projeto que permitiu essa realização foi idealizado e executado no governo Petista.

 

O antipetismo não foi combatido pelo pró-petismo com a mesma intensidade. O Jornal Nacional destruiu tudo o que a esquerda construiu, e ainda semeou o ódio ideológico em todas as classes, principalmente entre os trabalhadores e periféricos, alvos atingidos pelo PT, mas não conquistados.

 

Dentro desse combate frio mal avaliado pela esquerda, é comum o crescimento do discurso revolucionário e o enfraquecimento da ação de rua, o privilégio da palavra em detrimento dos punhos, a prevalência da caneta sobre as bandeiras.

 

A estrada está desbloqueada para a caminhada fascista que vem avançando a passos largos sobre o território retirando comida e oferecendo esmola, cultuando vírus e negando vacina, sem comprometimento social e soberania econômica, mas com subserviência e servilismo aos interesses externos.

 

Assim, sem reação e com divergências juvenis, a esquerda assiste o desfile do retrocesso avançando sem nenhuma obstrução, demonstrando sua força diante de uma minoria incrédula que quer resistir, mas esbarra na cerca das vaidades.

 

A duas semanas das eleições municipais é temerário que nas capitais, a esquerda não esteja consolidada nas pesquisas para participar do segundo turno e, pior, em algumas, Bolsonaro consegue dar fôlego a seus candidatos, algo que Lula não consegue.

 

Se em 2020 o quadro é esse, em 2022 será muito pior. Uma derrota agora pode asfixiar a esquerda a um ponto em que não restarão nem palavras, nem ações, apenas uma frase: “Puedo escribir los versos más tristes esta noche. Pensar que no la tengo. Sentir que la he perdido”.

 

Ricardo Mezavila, escritor, pós-graduado em ciência política, com atuação nos movimentos sociais no Rio de Janeiro.

 

 

 

 

 

 

 

Redação

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