Notas sobre um possível assassinato, por Rogério Mattos
Reflexão sobre o post “Há três hipóteses para a morte de Marielle“, por Luis Nassif Frente a uma possível queda do governo Bolsonaro, duas teses têm sido bastante comentadas. Não se trata de um possível impeachment ou da renúncia do presidente. São as teses do “auto-golpe” e a da aproximação das elites a favor de um governo Mourão. Segundo esta, sem o desprestígio do ex-capitão, o caminho para a aprovação da agenda genocida ficaria mais fácil, da Reforma das Previdência às privatizações. Antes dessa segunda possibilidade se concretizar, Bolsonaro se direciona para o “auto-golpe”. Este seria o único meio de se livrar autonomamente das inúmeras conspirações que o cercam. Mas o que é esse “auto-golpe”? Luis Nassif foi um dos primeiros a levar essa hipótese, em tons um tanto quanto apocalípticos. Bolsonaro tentaria se unir ao redor das milícias cariocas, dos sub-oficiais do Exército, de setores ruralistas e simplesmente deslancharia um processo de guerra civil. Sem o apoio popular e das instituições, ele usaria sua base de apoio mais fiel para tomar o poder. No meu modo de entender, isso é um tanto quanto improvável. O aspecto da comunicação, iniciado em 2013 com a parceria CIA/NSA e em 2018 com Bannon e o Facebook, não parece ter o mesmo efeito devido aos graves e constantes questionamentos que o presidente está sofrendo. Se mesmo como deputado ele quis se colocar como “fora da política”, agora somente por meios tortuosos consegue usar o mesmo argumento. Fora a questão da comunicação, existe a parte financeira. Uma parceria que poderia impulsionar um auto-golpe poderia ser firmada com o sub-mundo da Lava-Jato e dos fundos de auto-financiamento que buscaram criar, como o de 2,5 bilhões de dólares de dinheiro desviado da Petrobras via Departamento de Estado dos EUA. Essa fonte de recursos está congelada por enquanto. Ela seria, caso atuante, um dos principais canais de auxílio financeiro de capitais estrangeiros. O curioso é que Luis Nassif, ao adjetivar a tese do “auto-golpe”, diz se tratar de uma tentativa de “venezuelização” da política brasileira. Isso é uma figura retórica para a classe-média “bem pensante” não ter o trabalho de usar um pouco mais os neurônios. Não é uma “venezuelização”, porque o que se criaria no Brasil seria um governo paramilitar no estilo Colômbia. A elite colombiana, para esmagar os grupos armados anti-Estado e a oposição de um modo geral, assassinou inúmeros de seus líderes enquanto planejava cinicamente uma inserção das Farcs e outros grupos cno sistema partidário. Isso ocorreu nos anos 1980-90 e abriu caminho para sucessivos governos com laços estreitos com paramilitares, os responsáveis pela aniquilação (ou tentativa de aniquilação) dos grupos opositores no país. Caso houvesse de fato uma “venezuelização” do Brasil, talvez estivéssemos assistindo agora a um governo sitiado, porém mantendo os marcos institucionais firmes, enquanto uma série de figuras grotescas tentariam se alçar ao poder. Retoricamente falando, Leopoldo Lopez estaria para Aécio Neves, como Juan Guaidó para Jair Bolsonaro. O que não se deve perder de vista, porém, é que a realidade dos dois países são muito diferentes… Se os canais de comunicação do bolsonarismo não tem a mesma força de antes e os meios de financiamento são em sua maioria autóctones (milícias, tráfico de drogas e armas, financiamento de empresários inescrupulosos e de latifundiários), dificilmente um grande levante poderia ocorrer. Mesmo com a reunião de todos esses grupos, o aporte de 10 bilhões de reais do fundo da Lava-Jato seria fundamental para dar uma dinâmica verdadeiramente nacional ao projeto macabro.0 Comentário
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