Putin e a busca por um novo Bretton Woods

Deu em todos os portais da internet, em todos os jornais impressos ou televisionados, a notícia da dissolução do parlamento russo, da renúncia do primeiro-ministro Dmitri Medvedev . Em uníssono, a imprensa aponta para a tentativa do presidente da Russia de consolidar institucionalmente suas aspirações autocráticas enquanto “personalidade autoritária”, ou seja, do mesmo viés de Trump, Bolsonaro, o presidente da Coreia do Norte e até a de Xi Jinping… A revista porta-voz da City londrina, The Economist, apareceu com uma capa de título sugestivo: “Como Vladimir Putin está se preparando para governar para sempre“. Segundo a publicação, a Rússia é uma ditadura de aparência democrática e Putin um novo czar que baseia seu poder no crescimento econômico e na admiração por um líder forte por parte da população, resultado dos anos do regime soviético. É uma maneira particular de se referir a um líder “populista”, para usar um vocábulo mais afeito à America do Sul. O artigo dos banqueiros ressalta, ao fim, que a esperança não está perdida, porque ditadores um dia morrem… Partindo da The Economist, não se sabe se eles querem dizer com isso se Putin morrerá de morte morrida ou matada, como se diz… As escaladas da OTAN nas fronteiras da Rússia e o precipício que o mundo parece beirar, vira e mexe, de uma guerra total de características termonucleares, também podem servir de ânimo às esperanças do sistema parasitário financeiro baseado no Atlântico norte. Em meio a toda essa histeria provocada pelas elites dirigentes, histeria que precede tomadas de poder, golpes de Estado e a ascensão de todo e qualquer regime fascista – seja com “cara democrática” com o neoliberalismo, a violência em estado bruto ou a combinação dos dois fatores como o caso chileno e agora no brasileiro – é o estratagema preferido para toda e qualquer política de “mudança de regime”. E Putin teme que algo como uma “primavera árabe” chegue ao seu país, apesar dos esforços bem-sucedidos até agora para evitar esse tipo de conflito. Explico: a Rússia passa por problemas econômicos graves não só decorrentes dos embargos econômicos, mas principalmente pela classe dominante neoliberal que continua a governar o país através do Banco Central e do Parlamento. Na Rússia também houve recentemente uma “reforma da previdência”, exclusão de programas sociais, como os de auxílio a juventude mais pobre e com necessidade de proteção para não cair às margens da sociedade, fora o fato de que todo o sistema bancário-financeiro do país é governado por pessoas totalmente fora do alcance do governo formal, isto é, presidência e parlamento. Qual a questão de um perigo de uma “primavera árabe”? Caso Putin não consiga resolver os problemas sociais e econômicos urgentes do país, nada garante que sua popularidade continuará em alta e ele conseguirá se manter no poder. Poderá ser alvo de uma campanha avançada de assassinato de sua reputação e mesmo o cargo de primeiro-ministro depois do fim de seu mandato como presidente corre risco de não ocorrer. Ao dissolver o Parlamento e mudar a legislação para dar maiores poderes ao Primeiro-Ministro, ele procura resolver no curto e no médio prazo os problemas mais graves do país. Dmitri Medvedev é um elemento neoliberal, associado ao partido da guerra do país, com ramificações, contatos diretos com o partido da guerra estadunidense, de Hillay a Bolton. A situação institucional russa é singular. Se for comparada com a brasileira o desenho seria próximo ao seguinte: Lula iria se reversar nos mandatos (ora presidente, ora primeiro-ministro) com uma figura do tipo de José Serra. Este, todos sabem a quais interesses defendem, porém, ao contrário do brasileiro, Medvedev mantém uma aparência de político moderado apesar de seus laços políticos inconfessáveis. Trata-se de uma “política de alianças” harcore, bastante heterodoxa se comparamos com nosso caso doméstico durante os governos do PT. Por fora de qualquer discussão de caráter meramente ideológico, Putin tenta consolidar um novo modelo monetário internacional – no plano mais amplo significa levar adiante o que se planejava quando ainda havia os BRICS e, em escala regional, as alianças econômicas atuais entre russos e chineses. Esclarecedor sobre o assunto é um artigo recente publicado no site dos BRICS, InfoBRICS, tendo em vista a próxima presidência da entidade, russa. Clique aqui para ler. Se fortalecer contra um possível crescimento da oposição interna e consolidar uma ordem econômica internacional diferente da atual, um novo Bretton Woods, atualizado, são os objetivos dos atuais movimentos de Vladimir Putin, bem longe dos “arroubos autoritários” que a imprensa oligárquica internacional procura pintar. Não é por outro motivo que a oposição a Trump nos EUA não é tanto por ser outra “personalidade autoritária”, mas por procurar o diálogo com os russos, em especial, e uma política mais pragmática com a China. O atual processo de impeachment é uma derivação da fraude do chamado “Russiangate”. Fora isso, a oposição não tem bandeira no campo econômico além do tosco “Green New Deal” [aqui] e a efeméride da Nova Teoria Monetária [aqui].
Uma das imensas possibilidades de um novo sistema monetário baseado em infraestrutura e ciência e tecnologia.
Redação

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