Rui Daher
Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor
[email protected]

O Brasil e o mapa global da fome, por Rui Daher, em CartaCapital

Fome

O Brasil e o mapa global da fome

por Rui Daher

em CartaCapital

Por onde Lula passa, multidões o acolhem com alegria, exceção os ruralistas. Curioso. Em seus mandatos, agropecuária e agronegócio tiveram o maior impulso e foi quando o setor ganhou mais dinheiro. Mas, como sabemos, dinheiro é o que menos importa aos ruralistas, em sua faina diária para aumentar produção, produtividade, exportações e a fartura nas mesas brasileiras, a baixos preços, além de cada vez mais lutarem pela preservação ambiental.

Comecei a ocupar este espaço em 13 de maio de 2013, 125 anos depois da Lei Áurea abolir a escravidão. Mais alguns dias e a coluna assoprará cinco velinhas e a Lei 130 delas.

Na estreia, Um espaço para o agronegócio, escrevia: “Nunca foi alta a densidade de notícias sobre agropecuária nas folhas diárias. Mesmo jornais dedicados à economia mostravam ser difícil arrumar matéria para aquela única página convencional. Secas e geadas eram vistas com alívio nas Redações (…) E por que não haveria de ser assim? A persistirem circulando publicações dedicadas aos armamentos de guerra e halterofilismo, entendia que alfaces, caprinos, ovos de codorna e sementes oleaginosas deveriam merecer a mesma proeminência”. Recolhi 83 compartilhamentos.

Durante esse período, se procurarem, encontrarão recordes de quase 10 mil daqueles “efezinhos”. Hoje em dia, não mais. Mesmo mostrando alguns sinais de vitalidade, a repercussão do tema e, consequentemente, da coluna já não é a mesma. Por quê?

Primeiro que as folhas e telas cotidianas passaram a se ocupar mais da agropecuária, embora apenas quando “vista assim do alto”, nada de lupa. Depois de 2015, as crises econômica e política dominaram completamente o noticiário.

Sinto isso quando dou à coluna uma pegada política ou fortemente crítica. Aumentam os acessos.

Na verdade, e aí o interesse seria ainda menor, proliferam aspectos técnicos do “como produzir”, mas de forma tão específica que somente interessaria aos produtores de cada cultura, já informados pelas revistas especializadas, boletins técnicos de Embrapa, Emater, faculdades de agronomia, empresas de insumos, e assim por diante.

Daí o fato de eu insistir com a lupa e a necessidade do extinto Ministério do Desenvolvimento Agrário, hoje emaranhado pelo atual governo ilegítimo junto a outras repartições. Mais do que os ruralistas bancados, quem precisa desses conhecimentos está na agricultura familiar, aí incluídos assentados e pequenos produtores agrícolas, pecuaristas e pescadores.

Não tenho dúvida de que a política econômica brasileira, levada em modelo neoliberal, na contramão do planeta, é a causa de sucessivas perdas entre os produtores familiares de pequeno porte.

Assim como venho alertando sobre as restrições que o protecionismo norte-americano e europeu fará difícil a vida dos exportadores brasileiros de alimentos, fibras, biocombustíveis e derivados de madeira.

concentração de renda e os oligopólios que se formam entre os fabricantes mundiais de insumos para a produção agropecuária, característicos do século XXI, tornam o comércio exterior mais restrito para países pobres ou emergentes.

Segundo a FAO, por seu diretor-geral, o brasileiro José Graziano da Silva, “em 2016, depois de mais de uma década de sucessivos recuos que reduziram a população subalimentada do planeta, constatou-se uma inflexão ascendente”.

Anotem aí. O Brasil, que recentemente deixou o mapa da fome planetária, a continuar com um modelo econômico, político e social a favor do rentismo em detrimento de produção, comércio e serviços, também restringindo o acesso ao consumo cortando programas de caráter assistencial para os mais pobres, logo voltará a constar do nefasto mapa.

 
Rui Daher

Rui Daher - administrador, consultor em desenvolvimento agrícola e escritor

4 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Já de volta, Rui. A situação
    Já de volta, Rui. A situação é alarmante. Caminhar pelas ruas se tornou um exercício bilioso e deprimente. As cidades exalam o abandono e a desassistência dos dias que correm.

    Ao menos as vozes como a tua também ecoam. Ando rouca, silenciosa, sem tesão para sequer comentar. Leio e me pergunto: que sentido há em tudo isso? Que lição é essa que, passados 200 anos (ou seriam 500?), nós, agrupados neste território, ainda não aprendemos? Porque nunca uma Nação daquelas descritas nos compêndios?

    Triste.

    Um abraço.

    1. Anna,

      essencial tê-la de volta. O blog ganha ares mais equilibrados. Claro que há tristeza e muita preocupação, mas leu e ouvir apenas o grupo “Carpideiras do Brasil”, cansa. Abração

  2. O Brasil….

    A Agropecuária não tem a relevância midiática na Imprensa da mesma forma que o Brasileiro não conhece o Brasil. Importante na mídia é o lançamento do último modelo de celular ou as tendências da melhoria da qualidade de vida dos ‘pets’. E vocês pensaram que quando o Brasileiro e o Estado tivessem mais dinheiro, teriam a Infância Brasileira como prioridade? Primeira Infância, Pobres? Aqueles “Parasitas” de Bolsa Família? Não é que petista arrependido que virou classe média coxinha, pensa assim depois de 25 anos? Vejam a Internet. A Agropecuária e Brasileiros Agropecuaristas sobrevivem apesar destes gênios ideologizados. Academicismos e Ilusões. Pergunte em Piedade / SP, o que é ter Polícia Ambiental todo dia na sua porta? Se lhe roubavam uma máquina, um arado, um porco ou boi, a desculpa estava na boca do Delegado: “Não dá pra mandar Polícia lá longe na zona rural !!” Para tomar 1/3 do sitio em App’s, 1/3 em área de reflorestamento obrigatório, cercar rios, riachos, lagos para que a água seja usada apenas com Licença Ambiental (e vem aí privatização da água), então arranjaram Policia para Area Rural. E o Agricultor ainda reclama? E os Mineiros tentando fazer e vender queijos em pequenos Laticínios Familiares? Não entenderam a mensagem !! E continuam cagando no buraco ou em rios e riachos nos 5.500 municipios desta Pindorama !! Mas eles não tem do que reclamar. Foram muito ajudados. É que não entenderam a mensagem. abs. (P.S. Ambientalista morto em Barcarena / PA reclamava de Mineradora Norueguesa. Levou bala. Onde está o espetáculo e revolta das Ong’s Estrangeiras? Me engana que eu gosto)

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador