A elegante Rádio Verde-Oliva, por Sergio Saraiva

O que espanta é que não cause espanto que algo da força de uma intervenção do governo central em um Estado da Federação se dê sem que nenhum analista entenda qual o real motivo dessa ação de força.

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(Foto Agência Senado)

Por Sérgio Saraiva 

 

Porque é essa a conclusão a que chego lendo as várias análises feitas de blogues de política às páginas dos grandes jornais sobre a intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro decretada por Temer.

Ninguém parece saber para que real fim se deu a intervenção.

Dos que dizem que para disfarçar a derrota na votação da reforma da previdência aos que veem como o primeiro passo da implantação de uma nova ditadura, passando pelos que consideram apenas uma jogada de marketing para melhorar a imagem do governo, há especulações de todos os tipos.

Em relação a uma questão, no entanto, todos parecem concordar: são céticos quanto ao sucesso em atingir o principal objetivo dessa ação: a intervenção não resolverá a questão da segurança pública.

Vivemos tempos muito estranhos.

Talvez, então, devêssemos ouvir os militares. Que missão eles acreditam que estão cumprindo no Rio de Janeiro?

O general Eduardo Villas Bôas – o comandante do Exército – é um homem que cultiva a elegância no desempenho de suas funções. Tratou elegantemente do princípio de crise dada a intempestividade e incontinência verbal do general Mourão e elegantemente o enviou para a reserva. Manteve o comando, a disciplina, a discrição e a elegância.

Como se posicionou o general Villas Bôas, em relação à ação temerária?

Elegantemente deixou claro que a intervenção é de responsabilidade da presidência da República. E delimitou não se tratar de assunto afeito ao comando do Exército. Por analogia, não é assunto das Forças Armadas.

General Villas Bôas2

Mas para se percebe tal é necessário um exercício de elegância ao ler seu elegante texto em uma rede social:

“acabei de reunir-me com o General Braga Netto, nomeado interventor federal na segurança pública do RJ. Da análise, concluímos que a missão enlaça o General diretamente ao Sr. Presidente. Ele terá todo o apoio do Exército. As FA continuarão cumprindo as suas missões de garantidora da lei e da ordem no Rio de Janeiro”.

Reparemos:

1- “Concluímos que a missão enlaça o General diretamente ao Sr. Presidente”.

2 – “Ele terá todo o apoio do Exército”.

3 – “As FA continuarão cumprindo as suas missões de garantidora da lei e da ordem”.

Não me parece declarações de quem está prestes a deflagrar uma típica quartelada latino-americana.

O Exército é disciplinado e não se insubordinará a uma ordem vinda do “Comandante em Chefe”, mas se manterá dentro dos limites constitucionais de sua função.

General Villas Bôas3

Tampouco me parece que o Exército, na figura de seu comandante, nutra ilusões de que cabe às Forças Armadas assumirem para si qualquer obrigação salvacionista em relação à administração do Estado. Em outro texto elegante, o general Villas Bôas pondera:

“Os desafios enfrentados pelo estado do RJ ultrapassam o escopo de segurança pública, alcançando aspectos financeiros, psicossociais, de gestão e comportamentais. ​Verifica-se, pois, a necessidade de uma honesta e efetiva ação integrada dos poderes federais, estaduais e municipais”.

Neste momento, há que se aguardar. Não há como saber em que dará a intervenção federal no Rio de Janeiro. Se ela tinha algum objetivo inconfessado a movê-la, ou se é apenas uma aventura irresponsável.

Vivemos tempos muito estranhos.

Agora, sem dúvida, o comandante do Exército, em relação ao que se espera ser o papel das Forças Armadas nessa intervenção, deixou alguns elegantes recados às “vivandeiras alvoroçadas que aos bivaques buscam bulir com os granadeiros e causar extravagâncias ao poder militar”.

As Forças Armadas continuarão cumprindo as suas missões de garantidora da lei e da ordem”.

PS1: para “preservar” sua imagem, Temer pediu ajuda aos bicheiros cariocas que controlam a Liga das Escolas de Samba para impedir o desfile do Vampirão Neoliberalista da Paraíso do Tuiuti. Em seu túmulo, o “doutor” Castor de Andrade deve ter aberto um sorriso – até por uma questão de etiqueta, favores feitos devem ser retribuídos – o Rio de Janeiro continua lindo. E Temer – o pequeno asno – conseguiu criar um fato novo para um acontecimento cujo impacto já havia sido assimilado. Passou recibo e carimbou mais um ato de truculência no seu passaporte para o lixo da história. Censor de carro-alegórico.

PS2: não é de se esperar que alguém da elegância do general Villas Bôas fosse associar a Arma que comanda a esse tipo de gente – o presidente incluso e companhia bela.

PS3: a Oficina de Concertos Gerais e Poesia mantém sempre uma vela acesa que para a bruxa não voltar.

Redação

11 Comentários

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  1. “Porque é essa a conclusão a

    “Porque é essa a conclusão a que chego lendo as várias análises feitas de blogues de política às páginas dos grandes jornais sobre a intervenção federal no Estado do Rio de Janeiro decretada por Temer.

    Ninguém parece saber para que real fim se deu a intervenção.”

     

    Posso te garantir uma coisa; eles sabem exatamente o real fim da intervenção.

    O autor do post é que parece não ter entendido nada.

     

    “As Forças Armadas continuarão cumprindo as suas missões de garantidora da lei e da ordem”.

    O STfezinho também é o suposto guardião da Constituição(eles gostam ser vistos desta maneira). O que eles(stfezinho) têm feito?

     

    1. Ninguém sabe ao certo

      Mas o tempo …. Talvez, também não revelará. “No Brasil até o passado é incerto” – P. Malan (?)

      Pode ser também uma jogada pra tentar atrair a bancada do RJ pra aprovar a reforma da previdencia.

      Se for essa estratégia, foi muito ruim. Parlamentar não se move gratuitamente. Tendo êxito no RJ,a vitória seria do Temer. Nenhum deputado iria usufruir os louros da vitória.

      Acho fraco como teoria de conspiração. E voces ?

  2. Serão os militares manipuláveis?

    Ao  condicionar a intervenção no estado do Rio à aprovação do Congresso, o exército dá uma chance aos políticos  de provarem que tem ainda um mínimo de comprometimento com a constituição e suas atribuições enquanto parlamentares. Portanto, o comando do Leste age de forma democrática respeitando a constituição, e não poderia ser de outra forma. Agora, o que esperar de um Congresso corrompido que protege uma quadrilha que deu recentemente um golpe, e está instalada no planalto e que quer usar criminosamente o exército como tábua de salvação? Esperemos pois o que nos reservará o destino.

  3. GLO não é lei e ordem, é abreviação de Globo!…

    Hehe.

    Lei, ordem e progresso neste país só pros 1%

    O resto, depende se ajuda ou atrapalha…

    Ivamukivamu!

  4. Verdes, maduros e podres

    Desde que este deletério acampou na presidência da república afirmei aqui, que agora tínhamos nossa Isabelita. O arremedo de estadista está a me fazer um oráculo da sua desgraçada existência.

    Quanto ao nosso General, vejo um homem honrado e de caráter. Arrisco a dizer que as coisas ainda não degringolaram por sua causa e de outros militares nacionalistas e profissionais que não deixam as Forças Armadas entrar de cabeça na política. Lembro que um tal de Etchegoien ainda não ter passado o rodo com toda esta máfia político-judicial-econômico-midiático-colonialista já passou da hora. As eleições estão se aproximando e esta turma não consegue inventar um nome, ao mesmo tempo que o ideário neoliberal se faz perceptivelmente maior – enquanto mentira – neste curto tempo. 

    A cada dia o General Villas Boas fica maior e, mantido o ritmo pode se tornar “o último homem” da república. Assim não vão faltar aqueles a lhe propor o comando da república em função da baixa estatura dos golpistas, o que de certo modo foi o destino de Deodoro e Castelo Branco.

  5. Enlaçado pelo pescoço ?

    Triste fim do General Braga Netto.

    No topo da carreira militar ficar ENLAÇADO ao criminoso Michel Temer deve ser uma baita humilhação.

    O General Braga Netto deveria agradecer ao seu “amigo”, o entreguista general Sergio Etchgoyen.

  6. órdis é órdis

    Tchegoia recebeu a ordem da globo. Que preparou o terreno e hipnotizou os mesmos patos amarelos de sempre.

    Já a globo recebeu a ordem por cabograma (do phundo do baú!). Do mesmo patrão de sempre.

    Vampirão assinou a bagaça porque está se agarrando até em arame farpado. Está tão louco que pensa que é ele quem manda!

    A tropa fará a propaganda gratuita para a globo. E manterá a patuléia em seu lugar. O Brasil continua na hora da xepa, baratin.

  7. Não entendeu nada

    Novamente setores da imprensa têm dificuldade em entender os militares.

    1º – segundo as declarações do atual líder do “governo” no Senado, senador Romero Jucá, registradas nas gravações de Sérgio Machado, militares teriam sido consultados sobre o “acordão” que derrubou a Presidenta legitimamente eleita Dilma Russeff. Esta é uma questão que os comandantes militares ainda devem explicações. Que militares foram esses? Estavam na ativa? Os comandantes foram consultados? Caso afirmativo, que resposta deram? Sobre isso, total silêncio, um silêncio “elegante”.

    2º – esse mesmo “elegante” comandante do Exército é o mesmo que foi ao programa da Globo, em rede nacional, dizer que as Forças Armadas poderiam sim intervir em caso de caos – seja lá o que caos signifique na cabeça do general, pois no artigo 142 da Constituição isso não consta.

    3º – o gen. Mourão é um general de 4 estrelas, último posto do Exército, passou por todos os processos de seleção da carreira, institucionalmente é um modelo a ser seguido no Exército. Quando fez sua famosa palestra na Maçonaria, estava fardado e com suas medalhas, utilizou o brasão de sua organização militar nos slides que apresentou, levou outro general para auxiliá-lo na apresentação. Não é um tipo de declaração descompromissada, como quem fala sobre o clima ou de uma partida de futebol. Não ter sido punido foi a maior evidência de qual é a posição do alto comando sobre o que foi dito.

    4º – caro articulista, lamento informar, militares golpistas não avisam que vão dar o golpe. Cito apenas dois exemplos, tanto Castello Branco como Pinochet eram considerados legalistas e de confiança por seus presidentes, mas ambos conspiraram e derrubaram os poderes legitimamente eleitos, impondo ditaduras militares.

    5º – sobre GLO, cabe nos fazermos a seguinte pergunta: o Exército acha que a atuação das Forças Armadas durante a Ditadura Militar foi uma ação de GLO?

    Deu para entender ou precisa desenhar?

     

  8. Comandante do Exército? Isso não te pertence mais, Villas Boas

    Comandante do Exército? Isso não te pertence mais, Villas Boas

    Como Villas Boas é contra o Exército-Polícia, e Temer fez do II Exército Polícia, seguindo o comando do general Etchegoyen, é a este último que o general-interventor Valter Braga deve as bençãos. Com isso, Etchegoyen, de fato, passa a comandar tropas. Como ele vai também comandar, diretamente ou através de um seu pau mandado, o Ministério da Segurança Pública, com PF, Força Nacional e outras tropas, o general Villas Boas não comanda muita coisa e, em breve, vai pedir para vestir o pijama e sair de mansinho, alegando doença.

  9. ………………………… TEMER ANÃO.

    Meu Deus, a resposta é simples, foi para tirar a faixa do destaque da Tuiuti . . . Temer é sim pequeno a este ponto.

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