Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Guerra antimídia no sambódromo, zumbis no Carnaval e Grau Zero na política… mas não conte pra esquerda!

por Wilson Ferreira

Enquanto a escola Paraíso do Tuiuti no Rio de Janeiro deixava Fátima Bernardes e Alex Escobar constrangidos ao vivo, quebrando o silêncio com cacos de falas desconexas enquanto alas de passistas mostravam Temer como “o vampiro neoliberatista”, “manifestoches” com patos amarelos da Fiesp e operários bradando carteiras de trabalho, em Curitiba o Carnaval era assombrado por uma Zombie Walk em plena cidade-sede da Lava Jato. Ao mesmo tempo a esquerda pensa em “frentes suprapartidárias” para ganhar tempo na eminente prisão de Lula e simplesmente se exime em ocupar o campo semiótico da sociedade. E a grande mídia ganha a guerrilha semiótica por W.O.. Com raras exceções como mostrou a Paraíso do Tuiuti… mas não conte para a esquerda, sempre muito ocupada com o jogo parlamentar no qual cada um tenta salvar a própria biografia com narrativas de “luta” e “resistência”. Será que alcançamos o “grau zero da política” como anteviu o pensador Jean Baudrillard, a Matrix política que simula escândalos e golpes para colocar em movimento signos vazios? Teoria da Conspiração? E se descobrirmos que essa expressão foi criada pela CIA em 1967 para tentar desacreditar todas as narrativas não-oficiais?

Até aqui, depois de quatro anos de bombas semióticas detonadas pela grande mídia (pelo menos desde 2013, quando então passaram a ser orientadas pela logística de Guerra Híbrida do Departamento de Estado dos EUA) que culminou com o impeachment e golpe político de 2016, todas as iniciativas de contra-ataque no mesmo campo semiótico midiático partiram ou de iniciativas isoladas, ou de ações espontâneas que visaram o varejo mas acertaram no atacado.

… Enquanto a esquerda vive sua luta parlamentar de “resistência”. E que, agora, há poucos dias, deu mais um estoico passo: lançou uma “frente suprapartidária contra as reformas de Temer  e pelo direito de Lula ser candidato” pelas mãos de dirigentes do PDT, PCdoB, PSOL e PSB. Como sempre, passando ao largo da questão da guerrilha semiótica. E acreditando no jogo parlamentar e no exército brancaleone de advogados na luta hercúlea e solitária em busca de novos recursos para adiar a prisão de Lula. 

Sabem que a missão é ingrata… mas, afinal, também sabem que o mundo está de olho neles. E todos parecem querer salvar suas próprias biografias.

Guerrilhas anti-mídia espontâneas e nem tanto

Em 2009 o jornalista Ricardo Kauffman criou o personagem Ary Itnem Whitaker, um suposto executivo de relações humanas que estaria no Brasil representando uma confraria britânica que defendia a chamada “terapia do abraço” para humanizar as metrópoles e as organizações. 

A grande mídia mordeu a isca e o personagem concedeu entrevistas a rádios, TVs e jornais, como fosse um fato noticioso. Sequer os repórteres pensaram em checar a procedência da tal confraria. Revelada a pegadinha, rendeu um documentário (clique aqui) desmoralizando o jornalismo corporativo. 

“Pegadinha” do Haddad: um momentâneo lapso da esquerda

Em 2013 um estudante da USP simulou ser um candidato atrasado do Enem, cujas fotos ocuparam primeiras páginas de jornais e portais de Internet. Ele sabia que naquele momento a grande mídia fazia uma campanha de desmoralização contra o Enem. E a recorrência das imagens de candidatos atrasados nos locais dos exames chorando, desesperados tentando escalar grades, acendeu a imaginação de uma “pegadinha” estudantil: “foi apenas uma brincadeira com alunos de uma faculdade rival. Pretendia divulgar o vídeo na Internet”, disse o aluno da faculdade de Ciências Contábeis.

A grande mídia teve que engolir a foto de uma “pegadinha” nas primeiras páginas de jornais e portais de notícias (clique aqui).

E em 2016, um breve (mas, muito breve) momento de iluminação na esquerda: sem mais paciência para aguentar os escândalos que o historiador Marco Antônio Villa queria arrancar na leitura diária da agenda do Prefeito Fernando Haddad nos últimos três anos, o prefeito de São Paulo aprontou uma pegadinha: disponibilizou uma agenda trocada (na verdade, do governador Geraldo Alckmin), cheia de espaços em branco. “Está em branco! Em Branco! É a incapacidade de alguém pouco afeito ao trabalho!”, gritou no microfone da Rádio Jovem Pan. Enquanto, certamente, o prefeito se rachava de rir.

Que tal a esquerda lutar no mesmo campo semiótico no qual a direita nada de braçadas? A iniciativa de Haddad (mais por uma rivalidade intelectual com Villa do que por um vislumbre estratégico) pouco inspirou os dirigentes das esquerdas, mais preocupadas com o wishful think da contagem de votos no Congresso que supostamente livrariam Dilma Roussef do golpe final.

 

Guerrilha semiótica ao vivo no sambódromo

Fora do radar das esquerdas, no Carnaval que supostamente aliena as massas, eis que a escola de samba Paraíso do Tuiuti passou pelo sambódromo do Rio de Janeiro nesse domingo com críticas diretas ao atual governo desinterino do “vampiro neoliberalista” como também àqueles que ajudaram a tomar o poder exibido na ala “Manifestoches” da escola: passistas de patos amarelos da Fiesp, paneleiros e jogadores da seleção brasileira sob o comando de enormes mãos, como fossem fantoches – alusão às chamadas “teorias conspiratórias” do 7X1 da Alemanha? – sobre isso clique aqui. Ou aos manifestantes que ironicamente vestiram camisas amarelas da corrupta CBF para protestar contra a corrupção?

Transmissão ao vivo exclusiva da Globo, diante dos constrangidos narradores e comentaristas Fátima Bernardes, Alex Escobar e Milton Cunha – longos silêncios na locução e falas, até então fluentes e animadas, de repente ficaram fragmentadas e desconexas: “o vampirão”… “tá com faixa de presidente esse vampiro”… “É o regime de exploração nos mais diversos níveis”… “Manipulados”… “os manifestoches”, numa sequência de cacos que faria inveja ao Caco Antibes do antigo “Sai de Baixo”.

Passistas, com capacetes de operário, brandindo carteiras de trabalho e uma ala inteira acusando a reforma trabalhista do “vampiro neoliberalista” como mais uma modalidade de escravidão na história brasileira. Enquanto o imenso carro alegórico apresentando o livro aberto com a Lei Áurea mostrava que ela não foi o suficiente para impedir a reprodução das relações de exploração.

As entrevistas posteriores com os membros da escola e as matérias nos telejornais ou evitaram tocar em “vampiros” e “manifestoches” ou foram inseridos na edição dos desfiles em imagens de poucos segundos.

 

O rendimento midiático de uma ação anti-mídia

Os carnavalescos da escola Paraíso do Tuiuti deram para as esquerdas mais uma simples lição do que é lutar no mesmo campo das bombas semióticas. Uma estratégia que não rende apenas o divertimento de ver uma Fátima Bernardes em silêncio constrangido entremeado por cacofonia – mas tanto a crítica da escola quanto o constrangimento global ao vivo repercutirem ao longo de dias como tema de conversas interpessoais ou postagens e pitacos nas redes sociais.

Lutar no mesmo campo semiótico das bombas simbólicas da grande mídia, não significa apenas fazer “pegadinhas” ou “trolar” uma transmissão ao vivo. Mas a importância do seu efeito de “agendamento” posterior: virar pauta de discussões nas conversas interpessoais e nas diferentes mídias.

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Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

5 Comentários

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  1. A falta de uma Inteligência na esquerda

    Parabéns pela visão caro Wilson. A esquerda brasileira nunca se pautou por um setor de inteligência tão necessário para contrapor aos grupos do mercado nacional e internacional que patrocinam nosso subdesenvolvimento junto aos grupos de mídia.

  2. O ataque midiático atingiu a grande mídia

    O ataque midiático da Paraiso do Tuituti, atingiu a grande mídia que dois dias depois teve que se render.  Não entendo o meu semiótico articulista, pois afinal me parece que os acadêmicos do Tuiuti, estão no campo da esquerda. Sem dúvida não são partidos , não são políticos de carteirinha, mas sim  abraçam as bandeiras da população, que sao sem duvida defendida pelo campo da esquerda.  Afinal existe pensamento político para além dos partidos e academia.

    Se posso compreender o estimulo ao uso maior da mídia como arma de luta , me parece que a manchete do artigo e muito do seu teor é contraditório com este objetivo, afinal parece capitalizar tudo isto contra a esquerda.

    Ao final de dois dias a grande mídia  se curvou e descobriu que nem com toda a força semiótica utilizada conseguiu fazer a cabeça de todos.

    Para além do discurso  existe a realidade.

  3. o tiro semiótico no pé da Grobo

    Uma análise mais sóbria do evento da Neubarth. 

    .

    Vendo o vídeo inteiro (o que rola por aí tem 30 e poucos segundos e o integral tem 1 1/2 minuto) percebemos algumas coisas que nos escapam quando estamos no círculo de afeto. 

    .

    1) os funkeiros não estão ali trollando a Grobo ou a Neubarth, estão ali por convite,

    ,

    2) o hit de Leo Santana não se refere ao Partido dos trabalhadores, PT é Perda Total, situação em que se encontrará a heroína desse périplo após beber todas, e misturar de tudo pra ir ao baile a fim de arranjar um cacho,

    ,

    3) a Neubarth não estava nem aí (a princípio) para a letra da música, sua ira é despertada contra si mesma pela incapacidade dela de lidar com situações ao vivo, ela só é boa com teleprompter, e mesmo assim quando operado em câmera lenta, quando ela consegue ler o que o patrão manda,

    ,

    4) quando rola o “pobrema” de conexão, ela, sem o menor traquejo ou cacoete de repórter começa a se enfurecer com o pobre Victor, que a essa altura já deve ter levado um pé no tamborim e abraçado o passaralho. Aí ela percebe o mico que está pagando e a trilha sonora começa a fazer sentido, vai dar PT, e ela ali enfurecida!!! 

     

    .

    Foi salva pelo diretor que mandou cortar pro estúdio, pra outra fofa (Maria Beltrão, filha de Helio Beltrão ex ministro Figueiredo) mais uma vez salvar a cara da ruiva descerebrada. 

    .

    Enfim, fomos presenteados com um tiro semiótico no próprio pé, disparado pela própria Grobo, que insiste em ter em seu escroto escrete de jornazistas, dondocas sem aptidão para o sério trabalho de narrar carnaval!!!

    .

    Apesar do PT, vai dar PT!! 

    .

    A letra:

    :

    Foi pro baile muito louca

    Afim de se envolver

    Só tem 18 anos

    O que vai acontecer?

     

    Foi pro baile muito louca

    Afim de se envolver

    Ela só tem 18 anos

    O que vai acontecer?

    Cer, cer, o que vai acontecer?

     

    Vai dar PT, vai dar

    Vai dar PT, vai dar

     

    Misturou tequila, whisky, vodka

    E a mina vai embrazar

     

    Vai dar PT, vai dar

    Vai dar PT, vai dar

    Ela vai dar PT, vai dar

     

    Leo Santana, o autor do hit não é petista, é aecista, gravou essa musica pra trollar o PT, o “vai dar PT” culatrou geral lacrando o mico semiótico da Grobo.

     

     

     

     

     

     

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