Wilson Ferreira
Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.
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Transmissão ao vivo e o declínio da vida pública

Acerca do post “As transmissões ao vivo do STF, por Dalmo Dallari”

As críticas do jurista Dalmo Dallari de que a experiência da transmissão ao vivo das sessões do Supremo Tribunal Federal foram nefastas por gerar “vedetismo e deslumbramento” entre os ministros, retirando a sobriedade das decisões, vão de encontro a um fantasma que assombra as ciências sociais: o declínio da vida pública, ameaçada pelas supostas “experiências imediatas” que as imagens transmitidas ao vivo ou em tempo real poderiam proporcionar. A ideologia de uma suposta “transparência” das decisões do Estado por meio das imagens televisivas seria a ponta do iceberg de um processo mais geral de crise esfera pública: se a vida pública foi o auge de um processo civilizatório onde graças as mediações (papéis sociais e a cultura do escrito e do impresso) não sobrecarregaríamos o outro com o eu de alguém, agora numa suposta sociedade onde as imagens se confundem com informação seríamos sufocados pela tirania da intimidade alheia.

Certa vez o comentarista político Robert Lincoln O’Brien fez uma curiosa observação em 1904 na revista “Atlantic Monthly”: “Não é raro nas cabines de datilografia do Capitólio, em Washington, ver congressistas ditando cartas e gesticulando vigorosamente, como se os métodos retóricos de persuasão  pudessem ser transmitidos para a página impressa”. Atento observador da vida política norte-americana, O’Brien testemunhou nessa insólita passagem o choque de dois imaginários ligados a duas mídias distintas: a tradição da escrita e do impresso de um lado e a obsessão pela impressão cênica que a fotografia e o cinema reforçaram na vida pública.

As críticas do jurista Dalmo Dallari (clique aqui para ler), aproximando a experiência da transmissão ao vivo televisiva das sessões do Supremo Tribunal Federal com o “vedetismo e deslumbramento” dos seus integrantes que prejudicariam a “impessoalidade e serenidade das decisões”, foram na jugular dessa questão que assombra muitos estudiosos das ciências sociais: a vida pública, estrutura de sociabilidade onde a escrita e o impresso ajudaram a solidificá-la, estaria ameaçada com as experiências imediatas (o “ao vivo” ou “em tempo real”) proporcionadas pelas imagens audiovisuais e eletrônicas.

Pesquisadores como Daniel Boorstin, Richard Sennett, Christopher Lasch, Umberto Eco e, mais recentemente, Neal Gabler e Jean Baudrillard já descreveram um cenário muito semelhante às críticas de Dallari de como as transmissões ao vivo (mais precisamente, a consciência dos personagens de um evento sobre a presença de meios técnicos de captação e transmissão de imagens) alteram o comportamento dos ministros com “rompantes de destempero emocionais e verbais”.

Dallari fala em “interferência nefasta” e “desvios emocionais”, mas perde de vista um aspecto mais profundo que os pesquisadores acima observaram: a presença de meios técnicos de transmissão não apenas afeta psicologicamente, mas cria uma espécie de autoconsciência, como se os personagens vissem a si próprios como atores onde cada gesto, esgar de olhos, levantamento de sobrancelhas e tom de voz devessem ser calculados visando determinado efeito. Os efeitos não são meramente comportamentais ou inconscientes, mas principalmente cognitivos e de autopercepção.

Essa judicialização da política em andamento no Brasil (o País é o único do mundo em que sessões do Tribunal Superior são transmitidas ao vivo) apenas amplia um fenômeno mais amplo que seria o próprio declínio geral da vida pública pela hegemonia da sociedade do espetáculo baseada num modelo de sociabilidade que Christopher Lasch denominava como “narcisista” onde se substituiria a experiência mediada da informação pela “experiência imediata” da imagem – leia LASCH, Christopher. A Cultura do Narcisismo. R. de Janeiro: Imago, 1983.

Os diálogos ásperos e exaltados entre os ministros do STF que fizeram Dallari falar em “transmissões ao vivo degradantes e desmoralizantes para o STF”, são a ponta do iceberg de um processo social mais amplo de mudança estrutural da esfera pública – a passagem de uma sociabilidade baseada na cultura escrita e impressa para a sociedade do espetáculo atual baseada na experiência imediata da transmissão ao vivo e das redes de comunicação em tempo real.

Para entendermos esse movimento que está colocando em xeque as tradicionais instituições da vida pública, é necessário entender a diferença entre informação e comunicação cuja confusão que fazemos parece ser a base da ilusão da “experiência imediata” criada pela sociedade do espetáculo.

O “êxtase da comunicação”

A imagem não é a realidade, 
é o signo da realidade

Muitos argumentos que são mobilizados a favor das transmissões ao vivo do Supremo se apegam na questão da transparência: sem a transmissão não saberíamos como funciona o STF; como saberíamos das chicanas jurídicas que marcaram o julgamento do processo 470?; ou ainda a necessidade de transparência das ações do Estado. A consequência dessa lógica é que o problema então não estaria na transmissão em si, mas a falha de caráter de alguns ministros.

Nesse argumento há um mal entendido sobre a natureza das imagens e, principalmente, das transmissões ao vivo:

(a) a imagem não é a realidade, é o signo da realidade;

(b) de todos os signos, a imagem, principalmente eletrônica e digital, possui uma natureza peculiar: a de ser a simulação de uma presença. Embora o objeto esteja distante e mediado tecnologicamente (câmera, switcherdelay etc.) a imagem simula a sua presença criando a sensação de experiência imediata – técnicas como teleprompter, multimídia, imersões em 3D e realidade virtual acabam reforçando essa ilusão;

(c) a transmissão ainda produziria o chamado “efeito Heisenberg”, como denomina Neal Glaber: efeito secundário onde s mídias não estão na verdade relatando o que as pessoas fazem, ou seja, estão relatando o que as pessoas fazem para obter a atenção da mídia. Em outras palavras, à medida que a vida está sendo vivida cada vez mais para a mídia, esta está cada vez mais cobrindo a si mesma e o seu impacto sobre a vida (sobre esse tema clique aqui).

A sociedade do espetáculo e o seu fascínio pelas imagens viria desse equívoco em ver nelas decalques da realidade, experiências imediatas e “autênticas” porque aparentemente sem mediações e, por isso, transparentes. Desde as imagens dos paparazzis às transmissões dos tribunais, é como que, de repente, nos tornássemos testemunhas oculares da História. É aquilo que o pensador francês Jean Baudrillard chamava de “êxtase da comunicação”.

O declínio da vida pública

Porém, a imagem não é informação e muito menos transparência. A sociedade do espetáculo estaria fazendo profundas alterações na vida pública e suas instituições que historicamente se basearam na cultura do escrito e do impresso. A base de julgamento da chamada opinião pública estaria substituindo a informação simbolicamente mediada pela imagem que supostamente tornaria o mundo transparente, superando a aparente opacidade das letras, palavras e conceitos.

As mídias escritas e impressas trouxeram um importante elemento civilizatório no qual se fundamentou a esfera pública: o texto separou o enunciado da enunciação, o emissor do receptor, tornando o texto autônomo como uma mediação através da qual as ideias seriam discutidas sem a presença persuasiva e sedutora do emissor e sem a identificação apaixonada do receptor.

A vida pública como uma sociabilidade mediada baseou-se numa necessidade simples, como declara Richard Sennett: não sobrecarregar o outro com o eu de alguém. Evitar a sobrecarga da personalidade através de papéis sociais, normas, mídias simbólicas e outros diversos dispositivos de mediação para poupar cada um do inferno pessoal do outro. Evitar a “tirania da intimidade”, nas palavras de Sennett – leia SENNETT, Richard. O Declínio do Homem Público, São Paulo: Companhia das Letras, 1988.

O funcionamento rotineiro de papéis sociais e normas jurídicas garantiria uma sociabilidade possível, resguardando as idiossincrasias de cada um na esfera privada. Todos esses dispositivos transcritos em textos, livros e outras mediações simbólicas, garantiram em certo período (sécs. XVII e XVIII, segundo Sennett) o auge do funcionamento da esfera pública.

O primeiro duro golpe contra a esfera de mediações públicas foi em 1855 quando, na Exposition Universelle de Paris (a primeira exposição industrial com exposição de fotos), um fotógrafo alemão espantou a multidão ao apresentar duas versões de um mesmo retrato – uma retocada e outra não. Estava inventada a simulação e a autoconsciência por meio das imagens. Foi a base do chamado “efeito Heisenberg”: as imagens deixaram de ser informações, registros objetivos da realidade, para se inserirem  no campo da encenação do eu para os outros.

 

Wilson Ferreira

Wilson Roberto Vieira Ferreira - Mestre em Comunição Contemporânea (Análises em Imagem e Som) pela Universidade Anhembi Morumbi.Doutorando em Meios e Processos Audiovisuais na ECA/USP. Jornalista e professor na Universidade Anhembi Morumbi nas áreas de Estudos da Semiótica e Comunicação Visual. Pesquisador e escritor, autor de verbetes no "Dicionário de Comunicação" pela editora Paulus, e dos livros "O Caos Semiótico" e "Cinegnose" pela Editora Livrus.

21 Comentários

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  1. O autor fala muito de

    O autor fala muito de comunicação, mas de um jeito que parece querer complicar o que é fácil de entender. Todo mundo é capaz de entender que transmissões ao vivo interferem no comportamento das pessoas que protagonizam as transmissões. Acho que não precisa desse linguajar todo para explicar algo simples de entender. Li mais um texto dele (o texto acima; já li sobre as tais “bombas semióticas”), mas é sempre o mesmo problema. Exibe ênfase numa linguagem que dificulta a apreensão do “fenômeno”. Acho insuportavelmente chato o estilo de textos assim. É o tipo de material que eu deixei de ler há muito tempo. Nenhuma análise técnica sobre o direito em si, sobre o julgamento. O que importa é a “linguagem”, a “comunicação”, a “informação”, “a imagem”. Tédio.

    De resto, discordo veementemente de que imagem não é informação ou deixou de ser informação (supostamente em 1855, com a exposição de uma foto retocada, feita por um alemão).

    Se isso fosse verdade, o texto estaria assentado em bases falsas. Toda a análise acima, por exemplo, seria impossível de ser feita.

    A afirmação é falsa, completamente.

    Para piorar, a ideia de que imagem não é informação é alheia ao ponto central do texto, de que as transmissões ao vivo terminaram abrindo espaço para o pessoal, para a intimidade, justamente o contrário do que seria pretendido, que seria dar mais transparência à Política e ao Estado. A transmissão da imagem influencia decisivamente o processo e, de certa forma, não deixa de passar uma informação sobre as pessoas que atuam na Política e no Estado, que não estão desgarradas dos atores humanos.

    Como interpretar que os julgadores dão vazão a aspectos privados de suas personalidades, estranhos à “sociabilidade mediada” pretendida, sem justamente servir-se das imagens transmitidas? Não há como. Considerei inclusive contraditória, no contesto das conclusões, a afirmação de que imagem não é informação. Se é um signo da realidade, evidentemente que transmite alguma informação.

     

     

    1. Sobre tédio e álgebra

      Caro Alessandro

      Não sei o sr. ainda lembra daqueles exercícios de álgebra em matemática na escola onde bastava olhar o enunciado e já eramos intuitivamente capazes de determinar o valor do X. X é igual a tal número,repondíamos à professora… Mas ela não considerava a resposta… falava que tinha que demonstrar o resultado, e seguir toda a linha de raciocínio para comprovar o número que tinha intuido.

      Pois é, é mais ou menos assim também seja em Comunicação, ciências sociais etc. É fácil entender a tese que a transmissão ao vivo altera o próprio objeto que está sendo observado. Mas, comprove isso. Fenômenos de comunicação são intuitivamente fáceis de entender, assim como quando falamos sobre um filme depois que saimos de um cinema: gosto ou não gosto… Mas, demonstre a linha de raciocínio que o levou a gostar ou não gostar.

      É igualmente tedioso ouvir a crítica recorrente sobre “linguajar”, “conceitos difícieis” que apenas serviriam para complicar a compreensão de um fato supostamente óbvio e fácil de compreender. Talvez esse seja o limite entre a opinião e a interpretação, entre achismo e demonstração. 

      Quanto à questão de que a imagem não seria innformação como algo distante ao ponto central do texto (a transmissão ao vivo), sugiro uma releitura. Aí talvez perceba o seguinte: se a transmissão de imagens muitas vezes cria situações de simulação, dissimulação, alteração de comportamento, criação de eventos etc, sob o álibi de que a imagem é o real (por que, afinal, vemos com os nossos olhos) ela seria distinta da informação.

      Pode parecer uma discussão bizantina ou “entediante” discutir as diferenças entre informação e comunicação, mas é decisiva para compreender consequências políticas de fenômenos como os apontados pelo jurista Dalmo Dallari 

      1. Mas você realmente acha que

        Mas você realmente acha que imagem não é informação, de nenhuma forma possível?

        Seria a imagem comunicação? E o que ela comunica? Ok, você fala em simulação/dissimulação da realidade. Eu entendo isso, perfeitamente. Mas nada é informado nessa simulação/dissimulação da realidade?

        Quando vemos um quadro, não há informação sendo absorvida?

        Se imagem não é informação, o que é informação? Esse é o problema dessas questões linguísticas. Tudo ganha uma conotação que se afasta do real e a ênfase fica na linguagem. Tudo é linguagem, dizem.

        Orson Welles, o cineasta americano, certa feita disse algo como “um filme não é realmente bom senão quando a câmera é um olho na cabeça do poeta”. Eu entendo essa afirmação como a mais completa justaposição entre imagem e informação. A imagem traduz (comunica) o que há na mente do cineasta e tudo isso é absorvido como informação.

    2. Informação x encenação

      A imagem não é a informação sobre o julgamento em sentido estrito, é isso o que ele quer dizer, de que a informação transmitida é contamidada pelo overacting dos juízes. Em outras palavras, pela encenação. Portanto a televisão não está cumprindo o papel de informar o público sobre o andamento dos processos, atendendo a um anseio de transparência, mas criando um espetáculo. Se não me engano nos EUA é proibido até fotografar julgamentos, que são desenhados. O Wilson concorda com o Dallari, só vai mais além no texto: o efeito da transmissão não é apenas de revelar idiossincrasias pessoais dos juízes, mas de criar uma plataforma para a espetacularização do julgamento. O que eu tenho a dizer é que com esse texto do Wilson eu fechei posição CONTRA essas trasmissões do STF. Só acho que o Dallari deveria ter se manifestado antes.

      1. Eu também concordo com o

        Eu também concordo com o Dallari, frise-se. Venho dizendo isso há muito tempo neste blog, sempre que o assunto foi suscitado.

        Mas eu quero entender exatamente por que imagem não é informação, mas, ao que parece, comunicação.

        PS: Eu tentei corrigir o meu comentário acima, no qual misteriosamente apareceu um erro de digitação, “contesto” ao invés de “contexto” (jamais cometeria um erro crasso desses), e, curiosamente, a opção “editar” não aparece para mim, somente a de “apagar”. Isso quase gerou o apagamento do meu comentário agora há pouco. Pergunta-se: Por que diabos a opção “editar” sumiu dentre as opções disponíveis? Para impedir a correção? Estranho…

        PS: Acabei de editar este comentário. Mas a opção “editar” continua sem aparecer no outro comentário…

        1. Opções!

          Faz assim, ó:

          a) digite o texto em um processador que tenha correção automática; depois, cole o texto naquela janelinha que tem um “dabliuzinho” como ícone; em seguida, vá para “pré-vizualizar”, confira e, depois, para o item “salvar”; ou

          b) volte para o Mobral!

           

          P.S.: Brincadeirinha! 

        2. Emissor, Receptor, Mensagem, Meio

          Alessandre, um processo de comunicação segue basicamente o esquema Emissor -> Mensagem -> Receptor, onde a mensagem é transmitida ao receptor através de um “Meio”. “Informação” é a mensagem transmitida. Só que com a comunicação de massa, esse processo fica mais complexo, pois o próprio meio incide sobre a mensagem / informação, daí a necessidade de ferramentas de análise mais sofisticadas. O que o pessoal precisa entender é que uma transmissão ao vivo para milhões de pessoas tem uma dimensão completamente diferente de estar presente a um julgamento numa vara de cidadezinha do interior. O papel do meio, no caso a televisão, e por extensão toda a cobertura jornalística, se amplifica, influenciando o julgamento. A gente já viu que na prática é o que acontece nos julgamentos de grande comoção pública, não é verdade?

          O Wilson se dedica a estudar a influência da mídia e faz um trabalho muito bacana. Ele é especialista em Comunicação, se eu falei alguma besteira ele pode corrigir.

          E sobre a sua questão com a edição: não é uma anomalia, é que o software do blog impede que se edite um comentário que tenha sido respondido. 

          1. Certo, mas é justamente esse

            Certo, mas é justamente esse o problema quando se fala de imagem. Eu conheço esse conceito de comunicação. Já estudei esses conceitos, inclusive eles são muito usados em hermenêutica jurídica. Uma área do direito que lida muito com isso é o direito tributário, especialmente uma certa abordagem (a doutrina que trata da regra matriz de incidência tributária e afins usa esse arcabouço teórico).

            Muitos juristas lidam com essas ideiais linguísticas, que são muito estudadas em Direito (signos, interpretação, linguagem, norma, etc). Lênio Streck é um dos juristas brasileiros contemporâneos que mais usam essa abordagem linguística em seus textos de filosofia do direito. Ele entende dessa área. Eros Grau foi um dos que se consagraram nessa área no Brasil. Ele também entende muito de linguística. Aliás, os juristas, de uma forma geral, são muito bons nisso.

            Só que existe uma peculiaridade quando tratamos de imagem. Acredito que imagem comunica informação e é informação, ao mesmo tempo.

            Abstraia o meio de comunicação (televisão, cinema, câmera de um celular, uma pintura num quadro etc). Prenda-se à imagem capturada pela visão humana. Uma imagem é um tanto diferente de um signo linguístico como os caracteres da escrita. Creio que ninguém poderá discordar disso (apesar de Ezra Pound ter escrito um ensaio brilhante sobre literatura, chamado “ABC Of Reading”, que foi traduzido no Brasil pelos irmãos Campos e Décio PIgnatari, e ter falado que o ideograma chinês consegue ser um tipo de escrita amplamente carregada de significado, porque a língua escrita é formada por imagens – “logo vemos que se trata de um cavalo”).

            A imagem em sentido estrito seria um signo (símbolo línguístico que transmite informação). Só que ela é a própria informação. Nós damos um nome a ela, eventualmente, porque é assim que comunicamos informações, nomeando as coisas por meio da língua que falamos e escrevemos. Você vê a imagem, o símbolo, e interpreta. Mas por mais que você extraia informações da imagem, no fundo, é a imagem o que você absorve. Se você andar no meio da rua e se deparar com um buraco, é certo que você vai desviar, porque, ao vê o buraco, você já entendeu que não pode seguir andando normalmente na mesma direção, a não ser que queira levar uma queda hehehe. Ou seja, você entendeu a informação apenas ao ver a imagem do buraco. Qualquer um entende o que é um buraco no meio da rua apenas ao vê-lo e entende quais as implicações disso a partir da imagem.

            Placas de trânsito são um bom exemplo de signos linguísticos que podem ou não ser classificados como imagem, no sentido do termo que eu estou usando. Uso “imagem” enquanto uma tentativa de representação da realidade ou de percepção visual direta da realidade (o autor do post fala em simulação/dissimulação da realidade ao se referir à imagem, mas isso se deve, pelo que eu entendi, ao fato dele já fazer certas interpretações sobre o que vê, diferenciando o que seria realidade – informação – e simulação/dissimulação da realidade – imagem)

            Um desenho de um objeto qualquer é automaticamente apreendido pela mente enquanto tal.

            PS: Vou deixar o meu fã me dar uma estrelinha, mas só depois dele aprender alguma coisa com o meu comentário rsrsrs. Antes é coisa de mané rsrsrs.

      2. Flávio

        “”Se não me engano nos EUA é proibido até fotografar julgamentos, que são desenhados”.

        Depende. Existem julgamentos que são transmitidos ao vivo,  vide por exemplo, OJ Simpson.Obviamente que não são todos os casos.

          1. Não sei ao certo.

            ACHO que depende do juíz. Por exemplo, OJ Simpson foi extensivamente documentado no tribunal com cobertura ao vivo. Michael Jackson foi documentado fora do tribunal apenas desenhistas poderiam “narrar” o julgamento.

    3. O que a lei diz

      E sobre um processo em andamento, o juiz só deveria se manifestar estritamente dentro dos autos. Nada de ficar dando entrevista para dar opinião sobre o mérito do processo que está julgando.

  2. Igual a cor de ronco de avião!

    Eu que vivi no interior grande parte do meu processo de formação para a vida, aliado ao fato de lá ter trabalho muito tempo como servidor do Judiciário, enraizei um costume provinciano, que era o ritual de se assistir às sessões do tribunal do júri ao vivo e em cores (faltava lugar para a plateia se sentar) ou, na linguagem atual, “em tempo real”, de modos que sou favorável às transmissões ao vivo das sessões do STF. As idiossincrasias ou mesmo a idiotia de certos personagens públicos dizem respeito à própria formação cultural e moral de cada um – ou a falta de – e, assim, como diz a garotada, “nada a ver” com transmissão ao vivo. Aliás, pode-se até dizer que essas transmissões ao vivo tem, como o Sol, um importante papel asséptico, revelando o lado podre de alguns pobres diabos!  

  3. Tb não sei dessa estória de

    Tb não sei dessa estória de declínio da vida pública, não. Esse papo de espetáculo é muita filosofia pra pouca realidade. Vê se alguém quer fazer o papel do probre, do preso ou do trabalhador… E, se as ciências socias estão confusas com essa situação tá na hora do pessoal mudar de ramo. Mostrar-se confuso ante a obviedade é legitimar a farsa. Espetáculo é o caramba!

    1. Circo

      Filosofia é o caramba, você não viu todo o circo que montaram para esse julgamento? Uma farsa midiatizada do início ao fim está pouco pra você? Eu sei que você quer ir à forra com o mensalão do PSDB, compartilho o seu sentimento, mas a justiça de um país não pode ser pensada nesses termos. O problema é que esses juristas foram covardes ao só deixarem para se manifestar agora, inclusive o senhor Dallari.

      1. Vc tá enganado, eu não quero

        Vc tá enganado, eu não quero forra nenhuma; nunca mais quero ver um julgamento desses; ocorre que essa coisa de tudo agora ser por conta de sociedade de espetáculo não me impressiona nem um pouco. A mídia armasse o circo que quisesse que os ministros tinham que manter-se na real. Agoraos réus estão presos e o espetáculo para eles? Não funciona? Uma notícia de jornal fez com que o juiz da VEP suspendesse o processo que possibilitaria JD começar a trabalhar; isso tem a ver com espetáculo? Vc acha que o juiz não sabe o que está fazendo e está sendo conduzido pela sociedade? Não, não está! Como os ministros do STF tb nunca estiveram. Agiram por interesses próprios.Atendendo ao comando de quem investe pesado, inclsive, academicamente, nessa baboseira de espetáculo. Criar uma tese em cima de uma farsa ( qq uma que seja) e tentar fazer disso um grande tratado na área de ciências sociais é criar a farsa da farsa e colocar a Acadêmia integrando a própria farsa.  Esse julgamento não foi uma farsa por conta do circo montado, foi uma farsa pq a maioria dos magistrados tiveram MEDO de serem expostos pela mídia. Então, não existe sociedade de espetáculo, existe opressão midiática. Tá mais que na hora da patuleia levar um pouco de realidade para dentro das Universidades mesmo. 

        1. A farsa da AP 470 será exposta

          Cristiana, a farsa que foi esse julgamento vai ser exposta, de uma maneira ou de outra. E acredito que é conveniente ao PSDB que os holofotes se apaguem agora para se preservarem em futuros julgamentos, é o que eu acho. O Dallari é um conservador e sempre há viés político nos posicionamentos das pessoas, é inevitável. Mas isso não significa que a substância do que ele coloca esteja errada. A essa altura do campeonato acho que os conservadores estão pensando em como virar a página desse julgamento que eles sabem que é “fora da curva”. Por mim, que se jogue tudo no ventilador, que se destrinche AMPLAMENTE o que foi esse julgamento de exceção, o que implica inevitavelmente em posicionar o papel da MÍDIA. Vamos pensar pra frente: é isso o que a gente quer, juiz julgando para a mídia? A página da AP 470 será virada, e o futuro, a instituição Justiça, como fica? No mais, eu detesto masturbação acadêmica, mas o Wilson não está nessa, não, o cara é sério.

          1. Ok, Flávio, era esse o meu

            Ok, Flávio, era esse o meu ponto. obrigada e, desculpe Wilson, então. Sim, eu tb me preocpupo com a imagem da instituição e, por incrível que possa parecer, os condenados estão mais preocupados com isso que os próprios ministros. Valeu, obrigada, mais uma vez..

  4. A transmissão ao vivo das

    A transmissão ao vivo das sessões do STF é uma coisa inacreditável de tão boa. Justiça precisa de caráter, não de majestosa falsidade recatada, própria das instituições hipócritas e muito honradas, sepulcros caiados do século dezenove. A transmissão ao vivo é uma jabuticaba fantástica, uma contribuição imensurável do Brasil ao mundo. Passada esta primeira fase de deslumbramentos e vedetismo, que considero perfeitamente natural, se verá o quanto é bom deixar tudo a descoberto. Deveriam transmitir ao vivo também os conchavos de corredor e cafezinho do Congresso Nacional.

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