“Novo normal”: a nova expressão da reengenharia social do coronavírus, por Wilson Ferreira

Personagens canastrões, promovidos por programas de entretenimento, viram personagens políticos na crise COVID-19. Mecanismo psicológico de amnésia social.

“Novo normal”: a nova expressão da reengenharia social do coronavírus

por Wilson Ferreira

Marcinho é despertado pelos amigos. Ainda zonzo ouve péssimas notícias: João Doria é governador, Luciano Huck será candidato a presidente e o atual é Bolsonaro… “Como assim! Aquele do CQC e Super Pop?”. Não! Não estamos na atualidade. Estamos em 2014, e tudo não passou de uma pegadinha para assustar o amigo de ressaca. No dia do fatídico 7×1 da Alemanha… Esse vídeo impagável da trupe de humor “Porta dos Fundos” provoca uma discussão sobre a expressão que cada vez mais aparece na mídia: o chamado “novo normal” – coisas que anteriormente seriam consideradas anormais que depois tornam-se normais, aceitas pelas condições adversas. Expressão de reengenharia social, plantada na mídia como forma de criar resignação numa situação totalmente bizarra: personagens canastrões, promovidos por programas de entretenimento, viram personagens políticos na crise COVID-19. Mecanismo psicológico de amnésia social. E o sincrônico 7X1 da Alemanha foi o gatilho que desencadeou a sucessão de eventos que nos levou ao “novo normal”. 

 

“Novo normal” é a expressão que mais se ouve nos meios de comunicação, tanto em analistas políticos de telejornais, matérias jornalísticas e até vídeos publicitários. Parece que a expressão “vamos sair dessa” (esperançosa e motivadora) pouco a pouco é substituída pela resignada “novo normal” como consequência principal da pandemia COVID-19.

Mesas de restaurantes que terão que rever disposição de mesas e ambientes, a descoberta de que o futuro pode ser antecipado com a integração digital total entre empresas/ consumidores, empresas/empregados por delivery e home office; redução de viagens; reorganização de escolas e faculdades com a fusão do EAD com ensino presencial; e reinvenção total do cotidiano: transporte público, aglomerações etc.

É derivado da expressão “new normal” que se referia às condições posteriores ao crash financeiro 2007-2008 – termo que passou a ser usado em variados contextos para designar uma coisa que anteriormente era considerada anormal para tornar-se uma normalidade forçosamente aceita pelas condições adversas.  

É curioso que essa expressão, surgida após o “day after” do crash de 2008, ressurja com força midiática na atual crise do COVID-19: como será o mundo após a pandemia? 

Esse Cinegnose já discutiu bastante as conexões ocultas entre o crash de 2008 e a atual pandemia – ela surge num ano que inevitavelmente ocorreria um novo crash de proporções mais catastróficas do que há 12 anos – clique aqui e aqui.

Talvez não seja mera coincidência: essa expressão “novo normal” tem um sabor amargo de reengenharia social – como fazer grande massas e países inteiros aceitarem uma nova reorganização econômica, política e social.

O Vídeo

O vídeo da trupe de humor Porta dos Fundos provoca essa discussão: como aquilo que há poucos anos era uma anormalidade risível, bizarra e impensável, em pouco tempo passou a ser “normal”. E esquecemos o quanto achávamos tudo absurdo e impossível de acontecer – veja o vídeo abaixo.

Um homem chamado Marcinho é despertado pelos seus amigos que invadem o seu quarto para lhes dar notícias nada boas. O pobre homem que foi acordado está de ressaca e ainda zonzo. 

 

 

Parece que despertou em alguma realidade alternativa ou acordou anos à frente no futuro – um futuro que tem João Doria Jr como governador de São Paulo – “Quem? Aquele da TV? Aquele Amaury Jr com sérias restrições orçamentárias? Caralho! Vocês estão de sacanagem!!!!”.

“E o deputado é o Alexandre Frota!”… “Quem, o ator pornô????”, pergunta bestificado. “Acho que ele vai apoiar o Huck nas próximas eleições… ele deve vir presidente nas próximas eleições…”.

“Contra quem? O Aécio, Lula?”. “Não, Bolsonaro, ele é o nosso atual presidente…” respondem os amigos acabrunhados.

“Bolsonaro!!! Aquele do CQC, do Super Pop?”, pergunta cada vez atônito.

“A Regina Duarte é até ministra dele…”, ouve incrédulo o pobre homem que pensa ter acordado num futuro distópico.

Seus amigos se entreolham e explodem em risadas… era tudo brincadeira… Eles estão na verdade em 2014. Uma pegadinha para acordar o amigo de ressaca para irem logo assistir ao jogo Brasil e Alemanha.

“Qual vai ser o placar?… 7 a 1 Brasil, porra!… É Brasil, porra!”, explodem em gargalhadas, diante do aliviado amigo em saber que está tudo NORMAL.

A canastrice do “Novo Normal”

  A grande ironia desse pequeno esquete é relembrar o “normal” de 2014: ninguém sequer poderia imaginar uma goleada da Alemanha sobre o Brasil, uma seleção pentacampeã que jogava a Copa do Mundo em casa. 

                    Assim como, qualquer um que dissesse que personagens do mundo das subcelebridades midiáticas como o “rei do camarote” Doria Jr., um ator pornô de bate-bocas em programas de auditório da TV como Alexandre Frota, o “doidão polêmico” da TV Jair Bolsonaro, a “namoradinha do Brasil” Regina Duarte ou o “fazendeiro de bundas” (como chamava Arnaldo Jabor) Luciano Huck se transformariam em governador, deputado, presidente secretária de Estado ou aspirante a presidente, seria olhado com desdém e um sorriso de deboche.

 

 

Hoje, integram o novo normal. Numa espécie de processo coletivo de amnésia social, foram esquecidas as sensações de anomalia e estranhamento de um passado recente. 

Todos eles são caricaturas de caricaturas, overacting – personagens vazios, esteticamente bregas e levados por um tatibitate cognitivo. Em síntese: canastrões. A canastrice na política como fator de mobilização política, liderança e sedução de corações e mentes e ainda pouco considerado na Ciência Política.

Por exemplo, acompanhar Bolsonaro em programas como “Super Pop” da Vera Gimenez ou no programa Raul Gil, polemizando com alguma subcelebridade gay de plantão e respondendo a perguntas “polêmicas” de luminares como Sonia Abrão, arrancava risos de indiferença das cabeças bem pensantes e risos de entretenimento do povão.

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Redação

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