Trump reeleito. Bolsonaro também. A não ser que…, por Zegomes

No atual momento, porém, a verdade não importa. O que importa é a inteligência artificial capaz de detectar os medos mais intestinos do coração humano e explorar isso em fake News nas redes.

Foto Star Tribune

Trump reeleito. Bolsonaro também. A não ser que…, por Zegomes

QAnon, a inteligência artificial a serviço do mal

As redes de fake news estão espalhando nos Estados Unidos que há uma poderosa organização secreta de pessoas riquíssimas, corruptas, pedófilas, que querem escravizar toda a população mundial, querem acabar com a família, com a bíblia, apoiam os criminosos e assassinos contra o povo humilde, etc. Essas fake News dizem que Trump é o grande líder do povo na luta contra essa organização secreta, portanto todos devem apoiar Trump. Ele é o líder dos “QAnon” que lutam contra a terrível organização secreta do mal.

Exatamente o contrário do que sabemos existir no mundo contemporâneo, onde há organizações secretas poderosíssimas de bilionários e países imperialistas com obsessão pela chamada Nova Ordem Mundial, com think tanks liberais muito bem financiados para tramar continuamente contra a Esquerda Mundial, contra qualquer resquício de “socialismo”, contra qualquer solidariedade às legiões de pessoas pobres e extorquidas do mundo.

No atual momento, porém, a verdade não importa. O que importa é a inteligência artificial capaz de detectar os medos mais intestinos do coração humano e explorar isso em fake News nas redes. E “eles” (o império, seus órgãos de inteligência e de polícia, os think tanks financiados pelos bilionários, etc.) estão usando essa arma atômica contra o mundo especialmente contra os políticos de Esquerda.

Por isso dá um sentimento de piedade e desânimo quando Jilmar Tatto, um líder de Esquerda, diz, a respeito de sua má posição nas pesquisas, o velho chavão que usávamos nas eleições de 1989, anos Noventa e Dois Mil: “O PT é um partido de chegada, nos dias finais da campanha é que ele dispara”. Jilmar não percebe o que mudou. Aparenta não ter percebido o efeito das bombas atômicas que soltaram e estão soltando sobre nós.

 Para o Vulgo ou para os Doutos?

Recentemente Maria Rita Kehl, psicanalista, publicou um importante texto chamado “Ressentimento”. Lindo, mas, infelizmente, para os Doutos. Para o Vulgo aquele belo e corretíssimo texto é apenas grego. Gostaria, a partir daquele texto da Profª Maria Rita, de dar algumas sugestões práticas, na língua e no espírito do Vulgo, aos políticos de Esquerda.

Spinoza, que logicamente só escreveu para os Doutos, reconheceu, no Tratado Teológico-Político, que se deve “mastigar” e adaptar as explicações das coisas e ideias para o Vulgo: “De outra maneira, escreve-se para os Doutos, o que significa dizer que não se poderá ser entendido senão por um número relativamente pequeno de homens.”

Como ainda temos um sistema que nos permite votar para um parlamento e para um Presidente, e os votos do Vulgo são a imensa maioria, resta evidente que só se consegue um projeto político vitorioso e hegemônico com o apoio do Vulgo.

Não falar a língua do Vulgo é a ruína para um segmento político. Falar com o Vulgo pode levar ao sucesso de um projeto político orientado pela justiça.

Reforma ou Revolução

Há uma Esquerda que é contra tudo que outra parte da Esquerda faz porque acha que é “reforma do capitalismo”. “Estão apenas querendo reformar o capitalismo” costumam dizer e “nós queremos revolucionar e destruir o modo de produção capitalista, ou seja, o Mais-Valor, o Mehrwert”.

Se o Presidente Lula ganha a eleição, dizem: não vai dar em nada, é um reformista.

Para essa gente, o fato de os trabalhadores terem uma carga horária de 8 horas diárias hoje em dia, quando trabalhavam 16 horas há 200 anos, não representa nada, pois foi apenas UMA REFORMA.

Por isso, em qualquer discussão sobre caminhos da Esquerda é inevitável que se fale antes alguma coisa de Reforma e Revolução. É um clássico. Faz parte. Senão você é apenas um… “Reacionário” defendendo “Reformas”.

Na luta contra o fascismo existe:    1) O momento de apenas sobreviver ou fugir. 2) O momento Menchevique e 3) O momento Bolchevique.

Estamos agora, com Bolsonaro, num momento de apenas sobreviver. Com 80 deputados de Esquerda, com a maior parte da população com ódio da Esquerda e do “comunismo”, o que pode ser feito?  Temos de lutar para passarmos a um momento Menchevique, ou seja, a um momento em que a Esquerda tenha força para aprovar leis que realmente ajudem os mais vulneráveis a viver. O momento Menchevique é o momento das REFORMAS. Quase chegamos lá com Lula. Tivéssemos agora 250 deputados aguerridos do PT, PSOL e PCO no parlamento e elegido Haddad, talvez teríamos conseguido um momento Menchevique.

Não temos forças de criar agora nem mesmo um momento Menchevique, mas ainda existem doidos resmungando que “se não for Bolchevique, ou seja, uma Revolução, não serve”.

O grande momento Bolchevique que a humanidade produziu foi a Revolução Russa. Com enorme trabalho, com muita dor e morte, a Rússia chegou àquele momento em outubro (novembro) de 1917.

Depois disso os ricos e poderosos do mundo ficaram mais espertos. Investiram muito em armas, em espionagem e inteligência, em militares, e principalmente em Think Tanks, ou seja, esses institutos, regados profusamente por dinheiro dos grandes bilionários, que se dedicam a estudar secretamente estratégias de como impedir a Esquerda de produzir novamente um momento Bolchevique (e até mesmo Menchevique, como vivemos agora). Querem a submissão total. Um exemplo diante de nós é a perseguição cruel que vimos acontecer ao nosso grande líder Menchevique (que deseja reformas) Luís Inácio Lula da Silva.

O capitalismo e o Império têm essa grande vantagem: eles podem traçar estratégias e planos contra a Esquerda secretamente, em ambientes herméticos. A Esquerda não. Não há Institutos de Esquerda, de âmbito internacional para coordenar estratégias mundiais. O Foro de São Paulo é apenas um fantasma da Direita.

Vocês sabem por que aconteceu a Revolução Russa?

Na época em que Lênin lutava pelo momento Bolchevique na Rússia, o grande meio de comunicação era a imprensa escrita: o jornal e os livros. Não existia ainda rádio e Televisão, muito menos Whatsapp, Facebook e Google.

Pois nessa época, segundo Lênin, teve um momento em que os trabalhadores possuíam 30 jornais em toda a Rússia (no momento, no Brasil, algum partido de Esquerda tem rádios, TVs, ou um substituto do WhatsApp para se defender? Por aí começa a diferença).

Havia um operariado nas fábricas das cidades, trabalhando 12 horas por dia. Nós temos “operariado”?  Hoje, no Brasil, temos um operariado em São Paulo, onde toda a indústria do país foi concentrada.

Esse “operariado”, esses operários estão satisfeitíssimos por terem um trabalho, orgulhosos por serem paulistas ou por viverem em São Paulo, “único lugar do país onde se trabalha e paga imposto”. Esse “operariado” é revoltado, não contra os capitalistas e patrões, mas contra o povo simples do país, de outros estados especialmente, porque acham que São Paulo sustenta o resto “preguiçoso” do país. Esse “operariado” vai produzir um Momento Bolchevique?

Camponeses (gente da roça). Eram fortes e numerosos na Rússia. Aqui temos um Agronegócio que conseguiu destruir os pequenos agricultores e expulsá-los do campo para as favelas das grandes cidades. A massa do nosso campesinato vive hoje nas cidades, são trabalhadores de rua, domésticas, etc.  Apenas o pobre MST subsistiu. Muito querido e abençoado, mas frágil, diante da avalanche assassina do Agronegócio. Se o Agronegócio é uma das caras do fascismo no Brasil, poderá vir algum momento Bolchevique do campo brasileiro?

E AGORA O GRANDE SEGREDO DA REVOLUÇÃO RUSSA:  Os militares. A Primeira Guerra Mundial devastando os soldados russos. Morriam aos milhares, eram mutilados aos milhares, o estado russo (o Czar) não conseguia nem prover adequadamente alimentação e armas para as tropas. Esses soldados desertavam com suas armas e se juntavam aos revolucionários. Homens armados e colocados diante de um dilema sinistro: Continuando na guerra morreriam, desertando seriam executados sumariamente. Única saída: Revolução. Momento Bolchevique. Como se pode imaginar uma revolução, hoje em dia, onde um dos principais navios da frota da marinha –o encouraçado Aurora- atua a favor dos revolucionários, bombardeando o palácio do Governo?        Aqui nós temos militares que são uma elite bem tratada: altos salários, carreira segura, não há guerra, se aposentam com 25 anos de carreira, passam a vida sem fazer nada, apenas matutando como incrementar a carreira ou tomar o poder do Estado, almoço grátis, grande parte tem moradia grátis fazem cursos e são doutrinados pelos contrarrevolucionários do império, se acham um corpo à parte do Estado, só com muito custo prestam obediência às leis civis do Estado, veem qualquer cidadão que se interessa por um momento Menchevique para a nação como comunistas e terroristas perigosos.

Ninguém menos que Trotsky afirmou que “a Revolução Russa surgiu diretamente da guerra”.

Há um fragmento de Heráclito de Éfeso, o Obscuro, que diz: Πόλεµος πάντων µὲν πατήρ ἐστι, πάντων δὲ βασιλεύς, καὶ τοὺς µὲν θεοὺς ἔδειξε τοὺς δὲ ἀνθρώπους, τοὺς µὲν δούλους ἐποίησε τοὺς δὲ ἐλευθέρους.

Literalmente seria: A guerra é o pai e o rei de todos… Mas os tradutores costumam fazer a mudança de gênero, o que torna mais condizente com nossa gramática e mais agradável para nós: A guerra é mãe e rainha de todas as coisas, de alguns faz deuses, de outros homens, a alguns torna escravos, a outros libertos

Não que a guerra seja boa em si. Mas, como dizem, a guerra é a continuação da política, com outras armas. A guerra no sentido dialético, aquilo que os filósofos contam que emocionou Hegel quando ele, em Iena, ouviu, bem de perto, os sons da guerra de Napoleão.

Acho que não se precisa mais dizer nada. A Revolução Russa, esse grande momento Bolchevique produzido pela humanidade, foi fruto da guerra.

As pessoas dilaceradas, morrendo aos milhões, tiveram, no desespero, de dar esse passo no desconhecido e mudar o país, a vida, as instituições de poder. Acrescente-se a isso uma Esquerda que se dedicava e tinha meios para instruir o povo. Isso é a Revolução. Não é fácil chegar até ela.

Um momento Bolchevique, uma Revolução, necessita de uma grande crise (do capitalismo, que os marxistas dizem que ocorre ciclicamente) de um povo instruído, de uma Esquerda atuante (que instrua o povo) e uma pitada de acaso feliz. De quantos em quantos séculos acontecem juntas essas conjunturas?

Por isso é de se admirar ver uma parte da Esquerda xingar os outros de “Reformista”, dizer que ganhar eleição não é importante, etc..  Ora, se nós estamos ainda no estágio de sobrevivência, lutando para o Fascismo não nos matar ou desterrar, que saída nós temos a não ser desejar entrar num momento Menchevique, montar uma grande base no parlamento, eleger um presidente que coloque em pauta reformas importantes (que não sejam apenas benefícios para servidores públicos)?

No Brasil, no momento, nos resta a via eleitoral. E para ganhar eleição temos de ter o apoio do Vulgo. Para termos esse apoio devemos entender o que o Vulgo diz, falar a sua linguagem e conhecer suas aspirações.

O que o Vulgo pensa da Reforma Administrativa?

O povo geralmente é desinformado, mas também tem seus formadores de opinião. E esses, na periferia de Brasília –e deve ser semelhante no resto do país-  estão dizendo o seguinte:

O governo terceirizando cargos do serviço público vai gerar muitos empregos para nós. Vão acabar os altos salários dos marajás (motivo de inveja, ódio e RESSENTIMENTO de quem nunca conseguiu passar em concurso).

Ouvi isso de várias pessoas da periferia. Pasmem, portanto. O povão vai apoiar em massa a reforma administrativa que mudará o serviço público. Ela vai ser entendida como uma “caçada aos marajás”. E a popularidade do fascismo vai disparar a mil. Já tem gente na periferia de Brasília fazendo os cálculos: cada “marajá” que ganha 25.000 reais que Bolsonaro eliminar vai criar 8 empregos de 3.000 reais terceirizados para nós. Juro que o povão está raciocinando assim. E um emprego de 3.000 reais é tudo que eles desejam para si.

Em Brasília todos os órgãos contratam menores carentes para serviços internos tipo office-boy. Então eles passam uma temporada observando o modo de vida dos “marajás”, convivendo com eles. Nós fazemos festinhas de aniversário para eles, fazemos vaquinha para dar um presente de despedida. Depois vão embora, voltam para suas realidades nuas e cruas, alguns às vezes voltam, vendendo uma rifa, oferecendo Natura ou Avon, mas ninguém já dá muita bola para eles. Muitos sonham de passarem em um concurso e serem também servidor um dia. Alguns até conseguem, mas a maioria não. Não há base escolar, não há como pagar cursinho preparatório. É difícil competir com os maurícios, preparados desde pequenos para conquistarem.

Esses milhares de jovens pobres que passam uma temporada nas repartições em Brasília e outras partes do país, são formadores de opinião, eles já viram como é a “boa vida” dos “marajás” e eles estão formando opinião na periferia. E nas periferias, lembrem-se, estão os milhões de votos.

Nessa treta o PT e a Esquerda, como sempre, vão defender indiscriminadamente os “trabalhadores” do serviço público. Os que ganham 6.000 reais e os que ganham 40.000 são todos “trabalhadores” a serem defendidos. O fascismo vai empunhar a bandeira da caça aos marajás e vai bombar com os eleitores. Vão dizer aos quatro cantos que o PT apoia os marajás. E nós vamos nos aprofundar nas trevas, porque o fascismo com força eleitoral dá nisso que estamos vivendo. Estamos sempre ameaçados de um pogrom. Colocar a Esquerda como corrupta e defensora de marajás é armadilha muito bem planejada, bomba muito bem armada.

Há como escapar dessas bombas? Alguns vão responder bem convictos: Fazer a Revolução.   Mas como Revolução, se o povo está em outra?   Todos vocês que amam a Revolução querem uma dica? Leiam https://jornalggn.com.br/blog/zegomes/a-revolucao-se-fara-de-grao-em-grao/

E o aumento para os servidores?

O jovem estudou vários anos no desespero para passar em um concurso público e não deu. Quando lê em algum lugar que tal servidor público ganha 30.000 reais ou que foi glosado porque ultrapassou o teto de 39.000 reais ele fica amargurado (é normal, é humano, é RESSENTIMENTO). Em sua cabeça vem pensamentos como: esses filhos da puta estão na vida boa às custas de nossos impostos que nós pagamos ralando.   Milhões de brasileiros têm essa percepção.

Aí ele vê na televisão que Bolsonaro vetou um AUMENTO PARA SERVIDORES. Ele pensa: O Presidente está certo. Depois ele vê que os 140 votos de deputados de Esquerda foram a favor do aumento. Ele pensa: essa Esquerda é mesmo corrupta, só apoia marajás.

Carlos Zarattini, deputado do PT, lança um vídeo no WhatsApp revoltadíssimo, como se aumento para servidores fosse a causa da vida dele ou do PT.

O Vulgo brasileiro todo revoltado, com RESSENTIMENTO, com inveja dos alegados salários dos servidores e o PT se levanta contra o Vulgo que vota nas eleições. Para defender uma classe que é majoritária anti-PT.

Eu sou servidor público, trabalho e moro junto aos servidores públicos federais. Conheço o pensamento anti-esquerda dessa gente. Não preciso falar mais nada a não ser lembrar que aqueles que queriam linchar Zé Dirceu, no seu retorno para casa vindo da cadeia de Curitiba para onde foi arrastado injustamente, ERAM QUASE TODOS SERVIDORES.

Meu bairro é habitado por uma maioria de servidores. Estou nele há 21 anos. No início havia uma área verde pública, onde trabalhadores da região, caseiros, etc. fizeram um pequeno campo de futebol e usavam como área de lazer. Tempos atrás os moradores “servidores”, através de discussões em um grupo de whatsapp, decidiram “proibir” os cidadãos trabalhadores de se utilizarem da área pública para o seu lazer. Por “questões de segurança”, “estava atraindo muitos elementos estranhos”: os próprios caseiros deles, cidadãos cearenses, piauienses, mineiros e as empregadas domésticas deles que iam assistir às peladas e namorar. Combinaram um mutirão e plantaram todo o campinho com árvores.

Pelo mesmo grupo de whatsapp eles vigiam todas as ruas. Se aparece algum pobre andarilho na região, logo comunicam à polícia que se relaciona com o grupo através de um tal de CONSEG (que parece ser alguma coisa institucional, há eleições para participar disso). A polícia é acionada. Certamente não é para levar alguns bombons ao pobre miserável que está andando na via pública. Ou será?

São meritocráticos. “Eu estudei muito para chegar onde cheguei.” Ora, todo o povo brasileiro tem seu mérito, também merece ser bem cuidado.

Algumas pessoas dizem: atacando os servidores públicos estão atacando os professores, os serviços de saúde, os médicos que cuidam da população. Ah, os professores são lembrados nessa hora, como servidores públicos, para salvar os marajás do judiciário, do legislativo e do executivo!

Os médicos têm uma profissão de risco. Estamos sempre expostos aos riscos de doenças, em nossos contatos com os doentes com doenças transmissíveis. Por isso a lei nos permite aposentar após 25 anos de trabalho (como os militares. Uma grande regalia, podem crer).    Mas como se explica que os médicos peritos do INSS se recusem a voltar ao trabalho por medo de se exporem a riscos? Milhões de trabalhadores dependendo do auxílio da Segurança Social, afastamentos por doenças, acidentes ou gravidez, que dependem da perícia desses servidores médicos e eles se recusam. Os trabalhadores que passem fome.   Dá para imaginar o desgaste dos partidos de Esquerda junto ao Vulgo (os eleitores) quando se atrevem a defender “os servidores públicos” acaloradamente, como se isso fosse a principal luta da Esquerda?

Tudo isso é captado pela inteligência artificial do fascismo, transformado em mensagens de WhatsApp, textos no Facebook e o PT não conseguirá mais ser o “partido de chegada”. Ele já foi nocauteado no dia a dia, por assumir posições que são incompreensíveis para os potenciais eleitores: o Vulgo RESSENTIDO.

Políticos de Esquerda deveriam silenciar sobre esse assunto. Não se expor à fúria do Vulgo (a grande maioria dos eleitores). Deixem Bolsonaro fazer suas mudanças que só valerão para o futuro. No futuro, quando a Esquerda voltar ao poder, tudo isso poderá ser desfeito, se for necessário, pois aprovar bondades é muito fácil.

O Buraco do Rato, em Brasília

No centro de Brasília há um local, uma espécie de subterrâneo entre edifícios, coisas da arquitetura moderna, chamado Buraco do Rato.

Há dois dias vi na televisão que a fiscalização do Governo do Distrito Federal “descobriu” que os ambulantes guardavam carrinhos no local (que grande crime!). Então os objetos de trabalho dessa grande parte da população que trabalha nas ruas, humilhada, agredida, foram apreendidos e colocados em caminhões com grande estardalhaço, mostrados nos noticiários de TV como grande vitória contra esses meliantes que ficam nas ruas lutando pelo pão. Esses meliantes são o grande exército industrial de reserva brasileiro, que não encontra emprego nas empresas, são os roceiros (os acadêmicos chiques gostam de chamar de camponeses ou campesinos, para terem a ilusão de que são similares aos camponeses russos, agentes da Revolução) que foram expulsos de suas posses rurais há vinte, trinta anos atrás pelo agronegócio.

Alguém pensou como as famílias desses trabalhadores vão comer hoje? Algum político de Esquerda fez um vídeo para defende-los, assim como Carlos Zarattini fez um vídeo cheio de revolta e calor porque Bolsonaro vetou aumento para servidores públicos?

Toda a Esquerda, Políticos de Esquerda, devem colocar urgente como bandeira importantíssima a proteção do trabalho na rua. Devem defender a construção de galpões nas ruas das cidades para que esses trabalhadores guardem seus utensílios, serviços de higiene, banheiros, fontes de água e eletricidade, regularização tributária que vá além do Microempreendedor Individual.

No Brasil do momento a classe mais numerosa está aí: trabalhando na rua, autônomos, ambulantes, perseguidos diariamente, cruelmente.     Chega mais, Esquerda. Aí está a Revolução ou a força para as mudanças. Não é nos servidores públicos marajás. Os trabalhadores de rua estão indefesos, na penúria, sem apoio, mas VOTAM. E vão votar em quem lhes der apoio.

Mais sobre isso em: https://jornalggn.com.br/artigos/como-vencer-os-draculas-ii-ou-a-reconquista-da-agora-2/

 

A bomba atômica da segurança pública que elegeu o fascismo e pode reelege-lo

A inteligência artificial do fascismo conseguiu colocar na cabeça do Vulgo que a Esquerda, além de corrupta (Mensalão, Lava jato), também é conivente com criminosos, defende os bandidos, etc. e todas aquelas acusações que conhecemos.

A Esquerda só desarmará essa bomba se apresentar à sociedade brasileira, com muita publicidade, no programa eleitoral, através de todos os candidatos, de norte a sul do Brasil, alguma proposta mais ou menos assim:

A – Redução da maioridade penal para 14 anos para os crimes de homicídio e lesão corporal grave;   Pena de 30 anos para esses crimes com obrigação de cumprimento da pena total em regime fechado;  Pena de 40 anos, em regime fechado, para a reincidência;

B – Extinção dos crimes de desacato, resistência e desobediência em relação a policiais (arts. 329 a 331 do Código Penal); a profissão já embute a necessidade de lidar com pessoas fora de si, bêbadas, loucas, enfurecidas, etc.; punição severa à violência policial;

Se tivesse a coragem de fazer isso; se conseguisse quebrar o tabu tolo que lhe paralisa em relação à redução da idade penal e aumento de penas para bandidos, a Esquerda voltaria a recuperar parte da credibilidade junto ao Vulgo.

Essas mudanças seriam apenas para os dois crimes: homicídio e lesão corporal grave.

Uma pena grande para assassinos, em regime fechado, reduziria os homicídios. O fascista que deseja matar um militante de Esquerda pensaria melhor, o marido que quisesse matar a mulher também, o homofóbico, o racista, aqueles que matam moradores de rua covardemente, o policial que se acha o dono do pedaço, o bandido e o miliciano que aterrorizam os vizinhos no bairro.

Não existe dor maior para o parente de um assassinado que ver o assassino solto, passeando por aí, debochando. Por isso que o Governador da Bahia, Rui Costa, disse que a mãe de um filho assassinado por um bandido vota em Bolsonaro e nos bolsonaristas. Eles lhe prometem (enganosamente) a justiça.

Nesse caso não é punitivismo. É justiça. A Primeira Ministra da Nova Zelândia disse recentemente: “É nosso dever pensarmos mais nas vítimas dos criminosos que nos criminosos.”

Platão, na República, diz: “Excesso de liberdade termina em excesso de escravidão” ou “Da extrema liberdade nasce a maior e mais rude servidão”.  Uma esquerda que não quer discutir segurança pública com a população, que deixa passar a idéia de ser condescendente com criminosos cruéis (não estou dizendo que é, mas deixa passar a idéia), não apresenta planos rigorosos de punição da criminalidade (da violência policial e dos bandidos comuns), perde apoios importantes para chegar aos 50% + 1 nas eleições e entrega o poder aos fascistas. Mais sobre isso em:  https://jornalggn.com.br/noticia/por-que-haddad-se-recusou-e-a-esquerda-se-recusa-a-falar-sobre-seguranca-publica/

 

Um grande jabuti    

No texto da reforma administrativa foi colocado um jabuti mal-intencionado: Afirmar que juízes e militares não são servidores públicos, mas componentes do Estado.

Militar agora vai ser cada vez mais “Família Militar” e não mais um servidor público que deve obedecer à legislação que os eleitos pelo povo decidirem.

Como o judiciário, que o constituinte de 1988, querendo proteger dos ataques das ditaduras, transformou em monstro. Cheio de regalias, praticamente inimputável, que comete absurdos, persegue desafetos, age politicamente no exercício do cargo. Uma “Família” também, isenta de qualquer punição. Quando os legisladores pensam em mexer em seus estatutos, eles reagem dizendo que estão interferindo em outro poder, e que a independência entre poderes é cláusula pétrea. Mas a independência entre poderes não se limita às ações típicas de cada poder? Ação típica do judiciário é julgar e aplicar as leis aprovadas pelo poder legislativo. NÃO É AÇÃO TÍPICA DO PODER JUDICIÁRIO, POR EXEMPLO, SE AUTOCONCEDER AUMENTOS DE SALÁRIOS E OUTRAS REGALIAS, ISSO É AÇÃO DO PODER EXECUTIVO, QUE RECOLHE OS IMPOSTOS E ADMINISTRA O ERÁRIO, DISTRIBUINDO OS RECURSOS A TODOS OS SETORES DO ESTADO, CONFORME A POSSIBILIDADE.

Quando se diz que os juízes não são servidores públicos, está se procurando, através de uma falácia, dizer que os juízes podem definir os próprios salários e outras regalias, sem dar satisfação a ninguém.

Com esse jabuti, tentam subordinar para sempre a sociedade brasileira a esses dois estamentos, já tão cheios de poder e de regalias. ESQUERDA QUE É ESQUERDA DEVERIA FOCAR A LUTA EM DESNUDAR ESSA ABERRAÇÃO E NÃO EM DEFENDER MARAJÁ DO SERVIÇO PÚBLICO EM GERAL.

Mas como ela reúne sua força para defender “os trabalhadores do serviço público” por atacado, que odeiam Esquerda, chamam Lula de Nine ou Presidiário, querem linchar Zé Dirceu, não vai ter força suficiente para combater os estamentos militar e judiciário.

Gays e Mamadeiras de Pirocas

Avançamos dois passos à frente nos direitos dos gays nos últimos anos. Agora é hora de repousar um pouco, para amadurecer na sociedade a aceitação dessas conquistas.

Não necessitamos de uma lei específica para criminalizar o assassinato de homossexuais por ódio homofóbico. A aprovação de uma lei rígida contra qualquer assassínio (APRESENTADA E DEFENDIDA PELA ESQUERDA PARA QUE BRILHE E APAREÇA AOS OLHOS DO VULGO) já será mais que suficiente para nós. Não precisa inventar o crime de gaycidio.

Nós gays, especialmente as últimas gerações, às vezes somos muito espevitados e gostamos de ostentar (sexy appeal). Não precisamos de beijos sufocantes e apaixonados em público nem de amassos comprometedores em público. Isso é feio e constrangedor até quando heteros o fazem. Nesse caso, discrição é sinal de educação e elegância, para gays e heteros.

Sócrates, no Hípias Maior de Platão, já dizia que a relação sexual deve ser feita em ambientes reclusos e escondidos: “E quanto ao amor, todos concordarão que é muito agradável, mas é muito feio, e que, por esta razão, os que se entregam a ele, devem ocultar-se para fazê-lo. ”

As pessoas não se constrangem apenas por pudor. Elas se constrangem também por RESSENTIMENTO (todo mundo faz amor, todo mundo beija, todo mundo tem um par, até esses viados, só eu que não. Todo mundo é feliz, só eu que sou sozinho, infeliz e abandonado…).

Uma vez conquistada a aprovação de uma lei geral severa contra assassinato e lesão corporal, que proteja todos os cidadãos –os gays incluídos-, é melhor os políticos de Esquerda silenciarem um pouco sobre o assunto e aguardar o tempo.

Dois passos à frente, um passo atrás.

Os políticos da Esquerda, quando confrontados com o assunto, devem apenas dizer: Todas as criaturas são criaturas de Deus. Jesus Cristo disse: Não julgueis para não serdes julgados. Portanto não vou julgar nenhuma criatura.   O Vulgo respeita e adora citações bíblicas (Conhecereis a verdade e a verdade vos libertará).

                Conclusão

A Esquerda é Dez quando o assunto é benefício social, defesa da escola pública e do SUS, proteção aos trabalhadores, etc.

Creio sinceramente que, se ela der um pouco mais de atenção aos assuntos sobre os quais é criticada pela direita e bombardeada pela Inteligência Artificial do Fascismo, e tentar desarmar as bombas com as devidas medidas táticas, ela voltará a vencer.

Fazer um movimento tático (baixar a idade penal nos crimes de assassinato e lesão corporal grave) pode engendrar um grande apoio do Vulgo que se manifestará em poder para a Esquerda no parlamento e no governo e que possibilitará proteger muito mais as crianças e os vulneráveis, que é nosso objetivo estratégico. Deixando o poder continuar na mão do Fascismo, por não saber entender as aspirações do Vulgo, aí sim, a Esquerda, impotente, continuará a ver o que não desejava: polícia matando jovens negros e brancos pobres e jogando no riacho mais próximo; agentes penitenciários tocando fogo em alojamento de menores e deixando eles assarem lá dentro no forno. Impunemente.

“Viver é muito perigoso”, Esquerda, já dizia Guimarães Rosa.

Redação

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