A opinião pública exige mudanças

Por Evandro Rezende

Comentário ao post “O caos que precede a nova ordem

É incrível como algumas pessoas pelo Brasil insistem em continuar olhando apenas para o próprio umbigo e fazem de tudo para desmoralizar as manifestações que estão ocorrendo. A “nova classe média” ou “ os novos pobres metidos a rico” contentam-se em manter as conquistas que tiverem nos últimos anos e aceitam pacificamente continuar na mesmice da exploração que sofrem diariamente sem ter nada em troca, apenas pelo medo de mudar. Não sou contra o sucesso individual, apenas acredito que ele pode ser conciliado com questões maiores, nacionais.

Alguns chegam a defender que no lugar de manifestações devemos votar certo em 2014, votar melhor, com qualidade, elegendo os melhores representantes. Confesso que hoje, dado a estrutura política que temos, vejo isso como uma utopia. Além do mais, vivemos num país funcionalmente analfabeto, para cada cidadão consciente, temos tantos outros que não entendem, não querem entender ou simplesmente jamais entenderiam o que está ocorrendo. Não causa espanto ouvir até Ministros de Estado dizendo que não entender o porquê das manifestações? Os problemas do Brasil são tão difíceis de serem identificados?? Os cartazes estão escritos em Latim? Eles vivem na Dinamarca?

Outros insistem em polarizar as discussões em PSDB x PT ou FHC x Lula (e vice-versa), continuam discutindo política como se fosse futebol, uns vestem a camisa azul e outros a camisa vermelha e saem defendendo seus times de forma totalmente irracional. Para tais pessoas não fica claro que estamos falando de mudanças estruturais que vão desde os alicerces da República. Independentemente de quem estiver hoje no poder, por mais que se tenha alguma boa intenção, o preço de implementar algo para o país é muito caro vide aos dotes políticos exigidos para governar e os conflitos de interesses que sempre deixam a nação para segundo plano. Devemos cobrar quem está no poder, independentemente de partido, afinal, quem governa deve governar para todos, e se você votou em quem está no poder, ao invés de defender o indefensável, você deve cobrar ainda mais.

Limitando-se à esfera federal, é inegável os avanços que tivemos nos últimos anos, alguns avanços em decorrência de politicas acertadas do governo, outros em função de uma conjuntura internacional que durante um bom tempo favoreceu o nosso crescimento, porém, é evidente que algumas políticas que pareciam acertadas não deram tão certo, não são sustentáveis e muito ainda precisa ser melhorado. E não venham com aquela “Mas no governo FHC era pior”, sim, era, mas passou e devemos olhar pra frente.

Não temos um plano nacional de médio/longo prazo, infelizmente não temos nem de curto prazo. O governo não sabe dizer o que será (ou espera que seja) do Brasil nos próximos 5, 10, 50 ou 100 anos. Atualmente medidas são tomadas de forma totalmente reativas, com foco quase que sempre em indicadores que serão apresentados no horário eleitoral ou no próximo pronunciamento oficial.

Não sejamos contra a distribuição de renda, afinal, temos uma das maiores desigualdades sociais do mundo. Porém, apoiar o crescimento da sétima maior economia do mundo em bolsa família, aumento do salário mínimo, liberação de crédito desordenado e desoneração fiscal de eletrodoméstico não é suficiente enquanto tivermos uma política cambial equivocada, parque industrial em decadência, infraestrutura logística caótica, sistema tributário sufocante, ausência de desenvolvimento tecnológico e educação precária. Se continuarmos assim, seremos eternos vendedores de commodities e teremos de cruzar os dedos para a China continuar crescendo e comprando nossos grãos e minérios.

Segundo as pesquisas, temos um governo que gozou de recordes de aprovação popular e ainda goza de uma boa popularidade apesar da mesma aparecer em decadência nas últimas pesquisas. Esse mesmo governo esbraveja que a economia vai bem, que a inflação está sob controle e que o gigante acordou, somos a potência do sul do equador, o país do presente, dos grandes eventos internacionais e aspirante ao CS da ONU. Esse mesmo governo desfruta da “maioria” no Congresso (diga-se de passagem, custa muito caro ter essa maioria) e o poder executivo até legisla. Dado esse contexto, não dá para entender ou aceitar a ausência de reformas significativas no país, como pode o governo com todo esse cenário favorável, talvez por vaidade não dar a cara a tapa e promover as mudanças que precisam serem feitas?

Dado a expectativa depositada na Dilma por sua merecida fama de boa gestora, a falta de reformas no país e uma posição cada vez menos gestora e cada vez mais política da nossa presidenta, o que teríamos de fazer? Eis que o povo está na rua e dela não deve sair até que o país mude. Se o governo tem algo de bom para fazer que faça agora, pois a opinião pública exige mudanças!

O desfecho dessa história é imprevisível, alguns dizem que o gigante acordou, pode ser que ele esteja apenas sonambulando. Independente do que aconteça, fazendo uma analogia com o boxe, a população encontrou a distância correta para atacar, venceu o primeiro round apenas com jabs e assim ganhou confiança para o segundo. Quem sabe não veremos um forte direto e quiça até um knowout nos próximos round dessa luta. Façamos nossas apostas. Eis o legado da Copa!

Luis Nassif

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