Golpistas? Ou uma voz que precisa ser ouvida?

Quando olhamos para movimentos como o “fora Collor” ou as “diretas já” ficamos estupidificados com aquilo que as pessoas não entendiam deles à época de seus acontecimentos. O mesmo acontece agora ao acompanharmos as manifestações que se espalharam pelo país. Como entender que a estas manifestações não possuam liderança? Que eles não tenham uma pauta clara de reivindicações além dos preços do transporte? Que sejam contras os partidos, inclusive de esquerda? Que esquerdistas, direitistas, conservadores, reacionários e os sem lado político possam estar todos marchando na mesma manifestação, ainda que por coisas diferentes?

75% dos manifestantes nasceram no início da década de noventa, portanto, desconhecem um Brasil com inflação, desconhecem as crises políticas que levaram a impeachment de Collor, desconhecem o mundo sem internet, desconhecem a necessidade de partidos e sindicatos como canais de representação por se representarem a si mesmo nas redes sociais.

Não, a manifestação não é golpe da direita, ainda que possa sê-lo no futuro, não se trata de palavras de ordem contra a esquerda, uma vez que esta garotada nasceu após a queda do muro, desconhecem essa divisão. Conhecem apenas partidos políticos de todas as cores e matizes que se somam como abutres sobre o dinheiro público. Conhecem sim representantes políticos eleitos sob a mágica do marketing eleitoral e das campanhas milionárias.

Como podem ser eles conservadores golpistas, ainda que entre eles estejam alguns, se passaram toda a sua vida sob plena democracia? No mais, ainda que num primeiro momento as manifestações tenham brotado de uma juventude classe media tradicional profundamente insatisfeita, agora a maioria esmagadora dos jovens nestas manifestações foi recentemente incorporada no mercado de trabalho formal, mas muito precário, ganham pouco e vivem em intensa instabilidade. São os filhos dessa nova classe média pobre. São frutos das políticas sociais e econômicas do governo petista nestes últimos dez anos.

Como podem ser golpistas se acompanharam nestes últimos cinco anos uma crise econômica estratosférica e que pôs na rua no mundo todo a juventude que protesta e luta contra toda esta ordem de coisas?

Ou, o que estamos vendo é uma juventude que não consegue conviver com a dissonância entre um mundo digital e comunicacional e cidades, especialmente as capitais, onde tudo é lento, moroso, analógico, onde se deslocar é quase proibitivo? É golpe ou apenas uma juventude que reinvidica uma metrópole que seja plugada e digital, fácil de andar e que propicie que a juventude dela se aproprie? É golpe ou apenas o sucesso das políticas governamentais que deu voz a quem antes não possuía nenhuma?

É golpe contra a democracia ou apenas a voz rouca das ruas lembrando a todos que uma democracia que não avança para a modernidade, que não ouve as demandas destas novas gerações de nada adianta? Sindicatos, partidos e ONGs que representam a si mesmos e desconectados da maioria da sociedade é democracia ou, apenas uma forma de fazer tudo andar tão lentamente que nada seja possível às novas gerações e suas demandas?

Uma juventude que possui milhares de seguidores nas redes sociais, que fala por si mesma, está em contato com todos e com todo mundo como ela pelo mundo inteiro, que diz o pensa e pressiona quando considera importante está dizendo que dispensa representação política. Pelo menos essa representação mambembe e falsificada. Quem tem o poder de falar e alcançar milhões se representa a si mesmo. Isso é ótimo, por que quem se representa tem mais responsabilidade ainda.

 

O que está na rua é uma nova geração, um novo tempo com novos atores. A república no Brasil virou mais uma página. Se for ouvida, avançaremos, mas se for calada, rechaçada e rotulada inauguraremos tempos obscuros. Luciano Alvarenga

O que estou entendendo dos protestos até agora. 
http://lucianoalvarenga.com.br/camadeprego/?p=7557
http://lucianoalvarenga.com.br/camadeprego/?p=7566
http://lucianoalvarenga.com.br/camadeprego/?p=7575

Luis Nassif

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