NUAS PAIXÕES Prazeres da fotógrafa baiana Carol Bandeira

 

“Acredito que existe muito hipocrisia na sociedade brasileira. Não acredito que seja uma deturpação, mas existe um desejo de camuflar uma realidade para reforçar o status quo. Vemos todos os dias muita sensualidade: nas músicas, nas danças, sobretudo o pagode baiano e o funk carioca, na maneira do brasileiro se vestir…”.

 

Carol Bandeira – Fotógrafa

 

 

  

Auto-retrato

 

 

Por Antonio Nelson*

 


Ardores. Sensualidade e erotismo. A paixão pela imagem e em fotografar o Nu! Para a fotógrafa baiana Carol Bandeira romper paradigmas é característica marcante do signo de aquário, como declara com orgulho. Com o novo projeto, Mulheres Tatuadas, numa descontraída conversa, Carol revela quem são seus ícones da fotografia e também da literatura. Além disso, a fotógrafa destaca seu apreço pela natureza como fonte de inspiração. Carol está há mais de 10 anos na labuta. Melodias… Books com mulheres grávidas e modelos estão entre as principais produções. Em defesa dos Direitos da Mulher, confira entrevista exclusiva!

 

  

Antonio Nelson – Conta um pouco da tua infância. Onde nasceu?

 

Carol Bandeira – Nasci em Salvador e sempre estive muito ligada a diversas expressões de arte, música, teatro, dança. Sempre gostei muito de desenho e nunca tive muita vocação… Encontrei na fotografia uma forma de expressão das minhas idéias.

 

Antonio Nelson – Como surgiu a paixão pela fotografia?

 

Carol Bandeira – Eu sempre fui apaixonada por imagens, pelas revistas… Sou constante observadora dos gestos humanos, não tenho uma data precisa, mas quando recordo da minha infância, recordo-me do desejo de fotografar pessoas.

 

 

 

  

 

Antonio Nelson – Como nasceu a paixão em fotografar o nu?

 

Carol Bandeira – Partiu justamente desta observação. Sempre notei que as formas da natureza são redondas: o sol, a lua, o planeta, as árvores, flores e o corpo humano também, isso me despertava interesse, a plasticidade do corpo. Outro fator importantíssimo é que durante minha adolescência fui uma garota rebelde, achava que minha mãe me podava, queria me preservar demais, e, no entanto, sempre me senti livre internamente, mas não podia expressar isso. Então, veio o desejo de posar nua, que imediatamente foi reprimido pelos valores tradicionais da minha família. Fiquei com aquele sentimento guardado, de que posar nua seria uma atitude libertadora. Quando decidi ser fotógrafa logo veio na memória, e encontrei na fotografia de nu uma possibilidade de auto-expressão dessa liberdade…

 

Antonio Nelson – Sensualidade e erotismo são características marcantes em seu trabalho. Qual o seu conceito através da imagem?

 

Carol Bandeira – Acredito que a sensualidade é uma característica própria do brasileiro, procuro somente deixar subir a superfície essa expressão mais profunda, que está presente em todos, sobretudo na mulher.

 

Antonio Nelson – No mundo contemporâneo, especialmente no Brasil, existe uma deturpação da sensualidade e do erotismo? 

 

Carol Bandeira – Acredito que existe muito hipocrisia na sociedade brasileira. Não acredito que seja uma deturpação, mas existe um desejo de camuflar uma realidade para reforçar o status quo. Vemos todos os dias muita sensualidade: nas músicas, nas danças, sobretudo o pagode baiano e o funk carioca, na maneira do brasileiro se vestir. Mas quando falamos em fotos de nu as pessoas costumam expressar algum tipo de surpresa, como se fosse amoral ou algo relacionado à perversão. Quando eu enxergo apenas uma expressão simples da natureza humana.

 

  

 

Antonio Nelson – É preciso reeducar o olhar?

 

Carol Bandeira – Costumo dizer que é necessário reeducar o pensar, pois o olhar será a conseqüência do repertório de valores que cada um trás dentro de si. É preciso assistir menos TV e ler mais. É preciso sentir mais a vida de forma integral sem tantos rótulos sociais, livrando-se um pouco das personas propostas no dia-a-dia e experimentar mais liberdade interna. Isso irá revolucionar o seu olhar… Rs.

 

Antonio Nelson – Books sensuais, de modelo, mulheres tatuadas etc. O que lhe surpreende em mais de 10 anos de trabalho?

 

Carol Bandeira – O que me deixa muito feliz é perceber que as mulheres acima de 35/40 anos estão se permitindo mais, fotografando para simplesmente se realizar, ao passo que, me impressiona perceber como as mulheres estão cada vez mais “contaminadas” com a idéia de tornarem-se perfeitas e muitas jovens estão fazendo cirurgias plásticas. Já fotografei modelos de 18 anos que colocaram silicone, fizeram lipo ou algum tipo de intervenção cirúrgica.

 

Antonio Nelson – Como surgiu a ideia de fotografar mulheres tatuadas?

 

Carol Bandeira – Desejo que o meu trabalho fotográfico seja um veículo para ventilar ideias, sobretudo um instrumento para defesa dos Direitos da Mulher, e a tatuagem é um fator de muita descriminação ainda, apesar de ser cada vez mais comum encontrar mulheres tatuadas.

 

Tenho sete tatuagens (por enquanto) e levei 5 anos para tatuar minha marca na parte interna do braço, porque várias pessoas diziam que neste local ficaria vulgar, “machão”, ou passaria a ideia de eu ser usuária de drogas. Eu pensei: “Quero muito essa tatuagem, mas não gostaria de passar uma imagem tão diferente do que eu sou.” Então, percebi que até eu própria estava sendo preconceituosa comigo mesmo, aceitando um julgamento social.

 

Comecei a entrevistar mulheres tatuadas para saber como elas se sentiam e se elas já haviam sofrido preconceito. Descobri que esse estereótipo da “tatuada doidona” está em declínio, o que mais tenho visto são as chamadas “patricinhas” com tatuagens enormes… Decidi mostrar isso através de uma exposição fotográfica. 

 

  

 

Antonio Nelson – No seu processo de produção, além da técnica, é preciso ter habilidade para deixar a pessoa à vontade?

 

Carol Bandeira – Sem dúvida! Esse é o grande segredo em fotografar pessoas, o relacionamento humano. A pessoa precisa confiar no trabalho do profissional e se sentir poderosa, segura, entusiasmada, se isso não acontecer, o melhor equipamento e a melhor técnica não poderão captar a leveza, a espontaneidade da pessoa ou um sorriso verdadeiro.  

 

Antonio Nelson – Quais são seus ícones da fotografia?

 

Carol Bandeira – Dos antigos Man Ray, Paco, Manassé, dos modernos Spencer Tunik, Guido Argentini, Greg Gorman, Gabriele Rigon.  

 

Antonio Nelson – Quais seus escritores preferidos?

 

Carol Bandeira – Khalil Gibran, Michael Foucault, Domenico De Masi…

 

 

 

  

 

Antonio Nelson – O que têm de “especial” a aquariana?

 

Carol Bandeira – Acho que a minha capacidade de recomeçar… Persistência. Não desisto de um sonho jamais!!!




*Antonio Nelson é jornalista.

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