Sobre a violência contra os indígenas no Mato Grosso do Sul

Por Maurício Gil

Comentário ao post “Relatório Figueiredo revela expulsão da tribo Kadweu

Manezinho da Ilha, nascido e criado em Floripa, em meados dos anos 80 parti para o interiorzão do recém criado estado do Mato Grosso do Sul para assumir meu cargo de escriturário no Banco do Brasil.

Residi em Maracaju, a 130 km de Dourados, e estabeleci, por conta de minha profissão de bancário, contatos estreitos e amizade com vários fazendeiros daquela região, grandes proprietários de vastíssimas áreas que chegavam facilmente aos 40/50 mil ha. – quando não mais. E lá tomei conhecimento dos fatos relatados no post e de muitos outros, perpretados pelos “meus” clientes. Em conversas privadas, em rodas de tereré, ao redor de fogueiras nas noites pantaneiras, os “causos” eram contados com a tranquilidade com que se conta uma piada em roda de amigos, para gáudio de todos. Eu, assustado e incrédulo diante das narrativas, quedava calado.

A utilização de metralhadoras, escopetas, rifles, fuzis e até armadilhas para pegar onça, na caça aos índios daquela região durante as décadas de 40/50/60 e 70 principalmente, era corriqueiro. Falava-se inclusive sobre “um tal de Figueiredo” que teria elaborado um relatório para o governo, mas que tinham “tacado fogo” na papelada toda.

Hoje, ao ler esta notícia, me vieram à mente todos aqueles rostos, todas aquelas vozes, todos os risos e gargalhadas que ouvi de parte daquela “gente boa”, daqueles velhinhos de cabelinhos brancos, gentis senhores, bondosos pais e “avozinhos queridos”. Gente desbravadora daquele sertão, mas com o sangue nas mãos dos muitos bravos que assassinaram impiedosa e covardemente.

O Brasil não conhece o Brasil.

Luis Nassif

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