Iniciativa do Governo, a Comissão Nacional da Verdade deve ter compromisso com a memória e com as pessoas, mas um de seus integrantes, Cláudio Fonteles, demonstra despreparo para desempenhar tamanha missão |
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O senhor Claudio Fonteles, escolhido para fazer parte da Comissão Nacional da Verdade, que tem como missão a busca da verdade dos fatos, ou de chegar o mais próximo possível dela, tem o primeiro compromisso com a memória e com as pessoas. Com a memória para trazer à luz aquilo que está velado ou mesmo escondido, e esse escondido não por acaso, e sim como uma política deliberada de restringir ou mesmo negar o acesso aos registros documentais de onde se podem extrair fatos e acontecimentos reveladores e, principalmente, comprometedores, que possam ser do conhecimento da sociedade do que ocorreu no período da ditadura, com ênfase na mais recente, iniciada em 1964. Já o compromisso com as pessoas vai além da abertura dos arquivos, pois o que está lá e o que não está não foi apagado da memória dos sobreviventes e de muitos de seus parentes e amigos. Mas fiquei a me perguntar como seria possível alguém com responsabilidade tamanha utilizar práticas semelhantes àquelas utilizadas pelos governantes que implementaram a ditadura e promoveram a tortura, o assassinato de pessoas e o estímulo aos colaboradores (informantes do SNI), já que a sua escolha se deu justamente por ter sido alguém que, em tese, seria isento nas suas análises e posicionamento. Entretanto, na primeira oportunidade, não foi bem assim que se comportou.
Durante a greve dos servidores do Arquivo Nacional, que lutam por um plano de carreira e pela substituição do diretor-geral, Sr. Jaime Antunes da Silva, há 20 anos no cargo, nomeado pelo ex-presidente Fernando Collor, ocorreu uma discussão entre os servidores que faziam o convencimento para que servidores e usuários da instituição apoiassem sua luta, como forma de pressionar o governo a negociar, já que nem isso eles fazem, o que motivou a deflagração da greve. Nesse ambiente, o Sr. Fonteles “pinçou” uma frase com certa malícia e dela levantou hipóteses das mais retrógradas e injustas. A frase foi: “…estão mortos, estão sossegados…”, e se disse perturbado com o que ouviu, sugerindo que houve falta de respeito com aqueles que lutaram e sofreram com as barbaridades de torturadores e colaboradores da ditadura.
Priscila Frisone1 em resposta ao artigo que o Sr. Fonteles postou em seu blog, fez uma breve mas significante análise do seu artigo, da qual reproduzo aqui alguns trechos:
“Compreendo que a frase dita pelo servidor, assim fora de contexto, é realmente perturbadora. Mas não podemos ceder à tentação de sermos ingênuos e simplistas. Há uma outra frase que gostaria de trazer à tona: “Há que endurecer mas sem perder a ternura”, do tão conhecido Che Guevara. Trago esta frase para podermos ampliar o olhar em relação à frase dita pelo servidor: “Estão mortos, estão sossegados”. Há dureza na frase. Dureza do pragmatismo…
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