Morre Mussa José Assis, primeiro e único

Mussa José de Assis, jornalista

O jornalista Mussa José Assis, ex-diretor de Redação dos jornais O Estado do Paraná, Tribuna e do portal Paraná Online, faleceu nesta quinta-feira (21), em Curitiba, aos 69 anos de idade, em decorrência de complicações pulmonares. Ele estava internado na UTI do Hospital Cruz Vermelha desde a terça-feira de carnaval, dia 12 de fevereiro.

Generoso e profundo conhecedor dos bastidores da política paranaense, Mussa era considerado um grande pai para todos os que trabalharam com ele. E representa, talvez, o último expoente do bom jornalismo que se fazia no século passado. 

Antes de marcar época no comando de O Estado do Paraná, Mussa foi, ainda adolescente, nos anos 60, Secretário de Redação do Última Hora, jornal que chegou a dirigir, em São Paulo, trabalhando ao lado de Samuel Wainer. Foi ainda diretor de Redação de Correio de Notícias, em Curitiba, nos anos 80 e Secretário de Comunicação do Paraná no governo de Álvaro Dias (PMDB).

“O amor pelo jornalismo ficava claro em todas as conversas com Mussa. Ele entendia como poucos todas as etapas de elaboração de um jornal impresso, tinha um conhecimento profundo da história política do Paraná e deixou marcas na formação de dezenas de jornalistas. Fica como um ícone para o jornalismo paranaense”, disse Fruet, que lembrou ainda que Mussa trabalhou com o pai dele, Maurício Fruet, na redação do jornal Última Hora.

Última entrevista

Em uma de suas últimas aparições públicas, o jornalista foi entrevistado no programa “Conversa com a Fonte”, da ÓTV, em 16 de janeiro deste ano.

O programa, apresentado por Herivelto Oliveira, teve a participação dos também jornalistas Luiz Augusto Xavier e Jorge Narozniak.

Mussa era casado com a Sra. Guiomar, com quem teve seis filhos. Um deles, Francisco Zerbeto de Assis, seguiu a carreira do pai e chefiou a redação de O Estado do Paraná por quase uma década, até o início de 2011. Os demais filhos são Marcelo (engenheiro cartógrafo), Rodrigo (engenheiro civil), Érika (veterinária), Fernanda (juíza) e Claudio (advogado).

Paulista de Pompéia, ainda jovem Mussa fez de Curitiba o seu lar, onde se casou e onde nasceram os seus seis filhos. Na capital paranaense, recebeu títulos de Cidadão Honorário de Curitiba e do Paraná. Sempre alvo de honrarias e reconhecimento, no último dia 16 de dezembro foi homenageado em sua casa por jornalistas com quem trabalhou nas redações em que comandou e também por seus alunos na Pontifícia Universidade Católica e na Universidade Federal do Paraná.

 

 

“Ele foi tudo para mim”

O jornalista Francisco Zerbeto de Assis declarou que “passei a vida inteira perto de meu pai, tanto que segui a mesma profissão. Ele foi tudo para mim. Como homem, exemplo de caráter de profissional”. A jornalista Sâmar Razzak, que trabalhou com Mussa, declarou em uma rede social: “Um dos profissionais mais íntegros do jornalismo. Num episódio de injustiça profissional inimaginável que eu vivi, o Mussa foi o primeiro a me ajudar. Jogou meu currículo de lado e disse que não precisava daquilo. Que me conhecia e sabia da minha competência. E ele nunca tinha me visto na vida”.

O jornalista Aroldo Murá G. Haygert é autor de uma breve biografia de Mussa José de Assis, na qual reúne depoimentos de vários profissionais, como o chargista Dante Mendonça, que conviveu com Mussa por mais de 30 anos e a quem considerava “uma espécie de pai”. Sobre ele, Mendonça disse: “Ele não te surpreenderá, não te trairá”. Mendonça também destacou a “incomparável capacidade de trabalho”, que o levava a fumar “um cigarro atrás do outro”, hábito que com os anos acabou provocando os problemas pulmonares que o vitimaram.

Luiz Augusto Xavier, jornalista especializado em esportes e que conviveu diariamente com Mussa desde 1976 em O Estado do Paraná, observa outra das inúmeras virtudes: “O que me impressionava nele era a acuidade com que aferia se alguém tinha talento ou não para o jornalismo”. Para Xavier, Mussa era um verdadeiro “fabricante de talentos”. A essa qualidade, ele acrescenta outra para explicar o tipo humano e profissional de Mussa: “Ele tudo observava numa redação, nada lhe passava despercebido” e “tinha um texto esplendidamente objetivo”.

O jornalista e escritor Aroldo Murá G. haygert, professor de jornalismo da PUC, escreveu um dos mais belos perfis biográficos de Mussa, do qual a Gazeta do Povo publicou um pequeno trecho hoje: 

Mussa José Assis, primeiro e único

Quando todos nós tivermos partido e se escrever uma correta história do jornalismo impresso do Paraná, o nome de Mussa José Assis terá de ser tomado como o mais seguro ponto de referência. Ninguém conheceu tanto o jornal, no seu todo – oficinas gráficas, as imensas usinas que eram as linotipos, a clicheria de onde se gravavam as ilustrações, as rotativas, a circulação, o mundo das redações e os bastidores da notícia – quanto o bom “Turco”.

 

Eu posso falar como testemunha privilegiada da vida e obra de Mussa. Começamos juntos na vida de jornal, chegamos a morar na mesma pensão, em 1960, do seu Kid Galliano, avô de Guaraci Andrade, ali na Comendador Araújo, esquina com a Desembargador Motta.Fizemos um concurso para admissão no Última Hora do Paraná: ele levou a melhor, era mais preparado, vinha de uma boa formação que então os seminários católicos davam (foi secundarista capuchinho).

Era quase um guri ainda quando, no começo dos 1960, pré-gol­­pe militar, foi secretariar a edição nacional do UH, então o mais importante jornal brasileiro em circulação, em São Paulo. Daqueles tempos difíceis ficaram lembranças de “sustos” dados pelo Dops paulistano, que não o entendeu trabalhando para Samuel Wainer e os janguistas.

O vigor, o talento e a paixão de Mussa pela notícia e a necessidade que tinha de vê-la circulando no papel garantiram à vida paranaense capítulos de nossa história só registrados por sua paixão por jornal.

Mussa partiu ontem e, de certa forma, não foi um “furo”: sabíamos que estava doente. Ficamos tristes. Mas nos consola a certeza de que boa parte do dia a dia do século 20 vivido no Paraná só foi documentado porque o Mussa existiu.

Redação

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador