O 3º Fórum de Debates Brasilianas.org

Do Brasilianas.org

03º Fórum de Debates Brasilianas.org 

Por Bruno de Pierro

De acordo com o relatório The Economics of Ecosystems and Biodiversity (TEEB) for Business, divulgado este ano, os consumidores se mostram mais preocupados com a perda da biodiversidade no mundo, o que explica o fato de mais de 50% dos executivos na América Latina, e 45% na África, demonstrarem apreensão diante desta situação. Alinhado com este quadro, o 03º Fórum de Debates Brasilianas.org sobre Sustentabilidade reuniu representantes do governo federal e outros setores da sociedade para debater o desenvolvimento sustentável e os desafios enfrentados pelo mercado, ontem (18), em São Paulo.

Durante a abertura do evento, o pesquisador da Secretaria de Biodiversidade e Florestas do Ministério do Meio Ambiente (MMA), João de Deus Medeiros, contextualizou os conceitos de sustentabilidade utilizando concepções biológicas e históricas. Segundo ele, a evolução humana estabelece um conflito com o paradigma da sustentabilidade, uma vez que houve, ao longo da história, um conflito da aquisição de meios para se obter a sobrevivência.

MedeMedeiros disse que a perseguição de um modelo de conforto ocasionou a “insustentabilidade” e o quadro de insegurança atual, que só pode ser efetivamente transformado caso sejam mudados os padrões de produção e de percepção do consumo. “A extração crescente de recursos não renováveis, tais como minérios e petróleo, para atender 6,8 bilhões de pessoas, é a crônica de um desastre anunciado”, afirmou.

Como estratégia de ação do MMA, Medeiros citou o Plano de Ação para Produção e Consumos Sustentáveis (PPCS), estruturado em seis eixos: aumento da reciclagem; educação para o consumo sustentável; agenda ambiental na administração pública; compras públicas sustentáveis; construções sustentáveis e varejo sustentável. O plano está sob consulta pública até o dia 05 de novembro no site do ministério.

Em seguida, foi a vez do presidente do Instituto Ethos, Oded Grajew, que abriu o primeiro bloco de apresentações afirmando que relacionar o conceito de sustentabilidade apenas com a questão ambiental é um erro fatal. Para Grajew, a sustentabilidade não é possível sem a erradicação da pobreza e a desaceleração da desigualdade social. “O que está visível é os benefícios dos avanços econômicos, mas não se fala dos custos dos modelos de desenvolvimento econômico”, alertou.

Outro ponto levantado foi o poder político conferido ao setor empresarial. Grajew acredita que o fato de muitos governos ficarem a serviço de setores industriais que financiam as campanhas impede o avanço de transformações sociais. “Os interesses para manter os atuais modelos são muito poderosos, pois as mudanças implicam em custos e transformações impactantes”, explicou.

O fator energético

No mesmo painel, o gerente de Desempenho em SMS e Eficiência Energética da Petrobras, Luis César Stano, concordou com Grajew, mas salientou que, com o aumento da demanda por energia, a transição para um novo modelo ainda é muito complicada. Nesse sentido, a indústria petrolífera ainda encontrará grandes desafios pela frente, uma vez que as matrizes energéticas não renováveis continuarão maioria até pelo menos 2030.

E o crescimento da demanda é, portanto, diretamente proporcional a outro tipo de demanda, sustentada pelo olhar crítico da sociedade. Segundo Stano, nas últimas décadas foram muitos os esforços para reduzir vazamentos de petróleo e aumentar a qualidade dos produtos. Ainda assim, as limitações tecnológicas representam obstáculos para o aprimoramento de técnicas capazes reduzir emissões de CO2 e outros gases tóxicos, como é o caso da captura, ou seqüestro, de carbono. “Tudo isso precisa de um enorme suporte tecnológico, o que, daqui pra frente, exigirá muito de profissionais especializados e pesquisadores”, completou. 

Por fim, Stano afirmou que a Petrobras já investiu US$ 8 bilhões até 2014 nas refinarias, para oferecer combustível de maior qualidade, com índices menores de enxofre. Entretanto, explicou que a tecnologia utilizada no processo – a hidrogenação – acaba aumentando a emissão de CO2, que, ao contrário do enxofre, que tem um impacto local, os efeitos são globais.

A Usina Santo Antônio também teve participação no seminário. Deofino Luiz Gabetti, gerente de Energia, e Renato Ortega, assessor de Sustentabilidade, afirmaram que os investimentos em projetos de sustentabilidades somam R$ 939 milhões, sendo 40% desse valor (R$ 378 milhões) destinados a programas ambientais.

Segundo Ortega, a usina destina, às comunidades ribeirinhas, programas que amenizam os impactos ambientais causados pela usina. De acordo com eles, as iniciativas também trouxeram melhoras nas áreas de educação e saúde, com a construção de duas escolas e revitalização de hospitais e postos de saúde. Mesmo assim, são cerca de 1.600 processos indenizatórios contra a empresa, que oferece casas às famílias que perdem seus lares em distritos que serão imundados. Ortega frisou que, em relação às comunidades indígenas, elas não sofrerão impactos com a usina, que deve ser ativada no próximo ano.

Sobre a participação da população no processo de licenciamento, os representantes da usina mencionaram o Projeto de Comunicação Social, cuja equipe vai diariamente às comunidades apresentar e informar sobre novas situações, processos e construções.

O seminário trouxe para o encerramento a gerente de sustentabilidade da Natura, Fernanda Ferraz, e o assessor de Sustentabilidade da Elektro Eletricidade, Alcino Vilela, que expuseram algumas estratégias sustentáveis adotadas pelas duas empresas.

Ferraz destacou a importância de se estabelecer bons relacionamentos com comunidades locais, das áreas de extrativismo. Além disso, a empresa realizou mudanças, num processo de vegetalização, como a substituiu a gordura animal por óleos vegetais em sabonetes.

Vilela demonstrou como que a adoção de alta tecnologia pode contribuir para uma política sustentável dentro da empresa, e como a atividade de poda das árvores requer cuidados especiais.

Luis Nassif

0 Comentário

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador