O amor próprio em excesso é um vício, o da vaidade.

O amor próprio em excesso é um vício, o da vaidade.

O amor próprio é da natureza humana, se é que podemos falar em natureza humana. É difícil definir até onde vai a natureza humana, talvez, seria mais apropriado utilizarmos o termo condição humana. Sabemos o que determina o nosso jeito de ser, pensar, agir, etc. é o meio e as circunstancias em que vivemos – a cultura.

O amor próprio, na medida certa, é um requisito básico para o nosso processo vital. Precisamos nos cuidar, isso é básico.  A exemplo de uma planta que precisa de cuidados: adubo, água, luz para que cresça bonita e viçosa, nós, seres humanos, também precisamos cuidar do corpo, mente e alma para uma existência saudável e feliz.

O problema são os excessos, aliás, parece-me que o excesso é sempre negativo, geralmente, uma virtude em excesso deixa de ser uma virtude e se torna um vício. Ora, já vimos que o amor próprio é bom, quando na medida certa, em excesso se torna um vício, o da vaidade. A vaidade é um vicio que produz angústia ao outro e, principalmente, a nós mesmos.

No século XVII, o filósofo Blaise Pascal, escreve sobre a natureza do amor próprio, ele disse: “A natureza do amor-próprio, desse eu humano, de amar apenas a si e não considerar a não ser a si. Mas ele não vai conseguir impedir que esse objeto que ele ama seja cheio de defeitos e de miséria. Ele quer ser grande, ele se vê pequeno; ele quer ser feliz, ele se vê miserável; ele quer ser perfeito; ele se vê cheio de imperfeições; ele quer ser objeto de amor e de estima dos homens, e ele vê que seus defeitos não merecem senão a aversão e o desprezo deles. Esse embaraço em que ele se encontra produz nele a paixão a mais injusta e criminosa que se possa imaginar, porque ele concebe um ódio mortal contra essa verdade que o repreende e que o convence de seus defeitos. Ele desejaria aniquilá-la, e não podendo destruí-la nela própria, ele a destrói, tanto quanto ele pode, no seu conhecimento dela… Isto é, ele toma todo o cuidado em cobrir os seus defeitos aos olhos dos outros, e aos seus próprios olhos”.

Essa descrição que o autor faz do amor-próprio é a descrição de algo que está arraigado na condição humana e não “escapa” ninguém em diferentes proporções. Pascal continua: “Há diferentes graus dessa aversão pela verdade, mas pode-se dizer que ela está em todos os homens em algum grau, porque ela é inseparável do amor-próprio”. Pascal também inclui a todos nós, inclusive a ele próprio, entre as vítimas desse vicio insidioso que é a vaidade: “A vaidade está tão arraigada no coração do homem, que um soldado, um criado, um cozinheiro, um carregador, se vangloria e quer ter seus admiradores, e os filósofos também querem ter. E aqueles que escrevem contra também querem ter a glória de terem escrito bem, e aqueles que os lêem querem ter a glória de tê-los lido. E eu que escrevo isso talvez tenha essa vontade também”.

Nessa linha de raciocínio eu e todos que leêm as palavras de Pascal, e que a reescrevo neste ensaio, talvez, também o tenha.

Hoje, a nossa cultura favorece o desenvolvimento da vaidade, principalmente, a da beleza física. São tantos excessos que até parece patológico. Talvez seja. Tudo favorece esse tipo de obsessão estética, a mídia dissemina essa ideia. Os pais, também, produzem isso nas crianças quando dizem: meu filho como você é lindo e dificilmente dizem: meu filho como você é bom, inteligente, etc. O “preço” desse tipo de comportamento é revelado na angústia.

Luiz Claudio Tonchis

Filósofo, Professor e Especialista em Educação – Penápolis-SP.

Redação

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