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O clima no Mundo da Lua

*Luiz Eduardo Cheida

Você tem acompanhado que as erosões de regiões costeiras em quase todos os continentes, a salinização dos lençóis freáticos próximos aos oceanos, a inversão do curso de alguns rios que deságuam em mares, o acelerado derretimento das calotas polares e outros cenários improváveis. O que resvalava na ficção, hoje atropela a realidade. 

Por isso, a ONU tem realizados inúmeras conferências sobre o clima. Cancún (México), chamada de COP-16, e que terminou neste último dia 11, foi uma delas. 

Até agora, só há um consenso sobre o clima: ou o aquecimento global não ultrapassa 2ºC acima das temperaturas médias da Terra, ou a vida tal qual a conhecemos entrará em uma espiral descendente, como a água que desce por um ralo de pia, cujo fim é o colapso. 

Apesar desta alucinante previsão, o mundo pós Cancún amanheceu emitindo os mesmos 9 bilhões de toneladas de gás carbônico a mais do que deveria. E assim vai continuar, já que esta Conferência só estabeleceu que, apenas entre os anos 2013 e 2015 é que serão realizadas as revisões das metas de longo prazo na redução das emissões de gases de efeito estufa no mundo. 

E, talvez para não ter um ocaso cômico, a Cúpula anunciou duas medidas, que não chegam a riscar a epiderme do problema: compensar países tropicais que reduzirem seu desmatamento, e um Fundo Verde do Clima, que irá financiar países em desenvolvimento em suas ações de combate às mudanças climáticas (então, elas existem!) e ações de adaptação a elas. Este fundo, que dificilmente chegará ao Brasil, poderá aportar 100 bilhões de dólares, até o ano de 2020. 

Contudo, é necessário perguntar: 

1 – Houve propostas concretas de novas metas de redução de gases estufa? Não! 

2 – Houve encaminhamentos adequados para que se mantenha o aquecimento global abaixo dos seguros 2º C? Não! 

3 – Os Estados Unidos, país que emite o maior quinhão destes gases que aquecem a Terra, estabeleceram alguma meta para reduzir suas próprias emissões? Não! 

4 – Foi acordado a sequência ao já combalido Protocolo de Kyoto? Não! 

Era apenas isso o que Cancún deveria ter decidido e não o fez. Por isso, a COP-16, a exemplo do que já havia sido a COP-15 em Copenhague não foi, nem de longe, o que poderíamos chamar de sucesso. Não é a toa que o Resort Moon Palace (Palácio da Lua), local da Conferência, foi logo apelidado de Mundo da Lua. 

E ninguém contestou.

 

*Luiz Eduardo Cheida é médico, deputado estadual e presidente da Comissão de Ecologia e Meio Ambiente da Assembléia Legislativa do Paraná. Premiado pela ONU por seus projetos ambientais, foi prefeito de Londrina, secretário de Estado do Meio Ambiente, membro titular do CONAMA (Conselho Nacional do Meio Ambiente) e do Conselho Nacional de Recursos Hídricos.

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