O lado B do twitter

Durante esta semana, o twitter viu-se assolado de mensagens com a tag #Serranic, em alusão a um alegado naufrágio do candidato presidencial tucano, impotente ante o “iceberg de políticas sociais de Dilma”, como alega uma das mensagens mais retuitadas (reproduzidas na rede social).

Mesmo retrabalhada pela exuberante criatividade que de ordinário caracteriza os brasileiros, trata-se de uma piada que pode ter graça durante uma, duas horas, mas que logo se esgota em si mesma. Perpetuá-la durante mais de dois dias significa transformar o que deveria ser engraçado e mordaz em algo exaustivo e tedioso. Semanas antes, o crítico musical e blogueiro Pedro Alexandre Sanches – que não pode ser rotulado de tucano – protestara na mesma rede social, dizendo não aguentar mais o excesso de piadas sobre esgotamento de calmantes em Higienópolis causado pelas crises nervosas que o sucesso internacional de Lula provocaria em FHC.

É da natureza das redes sociais – e, de forma particular, do twitter – a formação de grupos virtuais reunidos por afinidades e, em decorrência, opostos uns dos outros por discordâncias marcadas. Pode-se observar tal fenômeno mais facilmente em relação ao futebol, com a guerra verbal de torcedores aos domingos à tarde, mas ele vem também à tona tanto em questões comezinhas – como gostar, detestar ou ser indiferente ao Big Brother Brasil – como em relação a assuntos que demandam um debate sério e urgente – como o direito dos homossexuais, tema que provoca não “apenas” paixões, ódios e indiferença, mas uma série de posicionamentos intermediários e específicos (como o da candidata do PV Marina Silva, que apoia a união civil, mas é contra a união religiosa, como se a preferência sexual determinasse o acesso ou não ao sagrado).

A questão é que tais embates virtuais de quando em quando – e aparentemente de forma cada vez mais frequente – assumem uma conformação por demais dicotômica, criando um clima mais propício aos ataques de lado a lado e aos embates de baixo nível do que a ponderação e troca de argumentos. Estes tempos pré-eleitorais têm se mostrado prenhes de tal dinâmica – e, embora muitos se limitem a fazer queixas, há os que rareiam suas visitas à rede ou mesmo deixam de frequentá-la se dizendo saturados de tanta agressividade e sectarismo.

Embora não se possa querer atentar contra a dinâmica do twitter – nem, para o bem da plena liberdade, se deva pensar em mecanismos de regulação, tais como limitadores de retuitadas/hora, como alguns já aventaram -, não deixa de ser lícito apontar para elementos de desgaste de tal rede social, seja na repetição ad inifinitum de um mesmo chiste, seja atmosfera de turba dos fla-flus político-partidários.

É uma pena e um desperdício. Como já tive a oportunidade de comentar em outra ocasião, o twitter, a despeito das limitações aparentemente impostas por seus 140 caracteres – e para além de suas potencialidades interativas como rede social -, é uma ferramenta poderosa para o jornalismo, a troca de informações e o incremento de referências culturais. Reduzi-lo a arena onde, ante os berros das torcidas, se digladiam forças rivais é algo reducionista, emporbrecedor.

Redação

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