O modelo pernambucano de desenvolvimento

Do Brasilianas.org

O modelo de desenvolvimento de Pernambuco 

Por Dayana Aquino

Na busca pela redução das desigualdades regionais, estados e municípios afastados dos tradicionais pólos produtivos começam a ver sua realidade alterada, embora ainda exista um logo caminho para mudar a realidade social e econômica do País. Neste quadro, o estado de Pernambuco se encaixa como um dos exemplos de descentralização do desenvolvimento, formando pólos produtivos e buscando forças nas culturas tradicionais alternativas para o desenvolvimento sustentado, que começa a ultrapassar suas próprias fronteiras.

Os números positivos do estado estimulam imaginar um cenário promissor, em uma onda inversa de migração e desenvolvimento fora do eixo Sul/Sudeste. O PIB do estado cresceu 12,4% no segundo trimestre deste ano, ante igual período de 2009. Nos primeiros seis meses do ano, o crescimento acumulado é de 9,9%, enquanto o acumulado no Brasil foi de 8,9%, de acordo com dados da Agência Condepe/Fidem. No crescimento da indústria pernambucana, as maiores influências ficaram por conta do crescimento da indústria de transformação (22,0%) e da construção civil (21,2%).

EntrEntre julho e agosto, a taxa de desemprego no estado caiu de 17,2% para 15,9%, a menor da série iniciada em 1998. O desemprego aberto – pessoas efetivamente desempregada – recuou de 10,3% para 9,5% e o desemprego oculto -pessoas que realizam algum trabalho precário)-passou de 6,9% para 6,4%, segundo dados Pesquisa de Emprego e Desemprego na Região Metropolitana do Recife. Somente em agosto, o contingente de ocupados foi estimado em 1,5 milhão de pessoas, 34 mil a mais do que no mês anterior. O contingente de desempregados foi estimado em 290 mil pessoas, 21 mil a menos do que no mês anterior.

Os índices da economia pernambucana são, hoje, bastante influenciados pelo fator Suape. Nascido como Porto, hoje Suape é um Complexo Industrial dos mais importantes do País. São mais de 100 empresas instaladas, cerca de 20 em fase de implantação. Em paralelo, estão em andamento projetos estruturantes e pólos produtivos, que ampliam os números positivos do estado e devem configurar uma nova realidade regional ao longo dos anos.

Tais resultados também são reflexo da mudança do perfil da matriz econômica. Mais pessoas entraram para a classe consumidora em todo o País. No Nordeste, entretanto, por ter historicamente índices mais baixos de desenvolvimento, o resultado tem se mostrado mais expressivo.

O Complexo de Suape foi desenvolvido a partir da localização estratégica, que permitia uma boa comunicação do porto com os mercados nacionais e internacionais. A vantagem geográfica, em termos de logística, favorece a distribuição para mercados da América do Sul, América Central e Europa. O porto permitiu o desenvolvimento e atração de empresas dentro da lógica de cadeia produtiva, explica o Secretário Executivo de Planejamento e Orçamento da Secretaria de Planejamento e Gestão (Seplag), Antônio Alexandre. Impulsionaram esse modelo a cadeia petroquímica e de refino, com a instalação da Refinaria Abreu Lima e a Petroquímica Suape.

Observar o fluxo e os números de Pernambuco levam a crer que as ações conduzidas pelos governos federias e estaduais podem estar surtindo imediato efeito, mas ainda há muito a ser feito. De acordo com o assessor da Secretaria de Desenvolvimento Regional do Ministério da Integração Nacional, Jacques Soares, o Brasil começou a acordar recentemente para a regionalização do desenvolvimento, após muitos anos se dedicando a reduzir a inflação. Com a dimensão territorial do País e pluralidade de características, as políticas para atender essa redução da desigualdade ainda são recentes e estão em aperfeiçoamento. Entender essas peculiaridades locais e incentivar arranjos produtivos em seu âmbito podem ser a saída para a inclusão de famílias que vivem do extrativismo e agricultura.

Diversificação e Tradição

No caso de Pernambuco, o desenvolvimento de pólos potencializa processos produtivos tradicionais que, antes usados apenas para a subsistência ou comercialização em pequena escala, começam a receber uma nova perspectiva. As pequenas iniciativas começam a ser organizadas, abarcadas por programas de incentivo.

No caso dos derivados de petróleo, o reflexo se dá além da cadeia é expoente nas áreas de produtos de resina PET e na indústria têxtil. Nas décadas de 70 e 80, o estado foi um grande produtor têxtil, mas acabou perdendo força com a chegada de produtos importados a preços mais competitivos, principalmente da China, explica Alexandre. Agora, o Pólo de Confecções de Caruaru possui uma perspectiva mais otimista de retomada das atividades e mercado.

Também atividade tradicional da região, a bovinocultura ganhou novos contornos no Agreste Meridional com a chegada da Sadia/Perdigão. O modelo de funcionamento dessas empresas de alimentos, com capacitação de manejo e qualidade, favoreceu a inserção dos pequenos produtores locais. Da mesma forma, foi beneficiada a atividade de caprinovinocultura.

Outro exemplo de ação é o Pólo de Vitinicultura, na região do Vale do São Francisco, beneficiada pela irrigação por meio do Rio São Francisco. A produção de vinhos vem despontando como uma atividade de valor agregado, encadeando beneficiamento e industrialização do produto.

Da mesma maneira, em maior ou menor escala, demais pequenos setores produtivos pegam carona no desenvolvimento industrial do estado, como o setor moveleiro, que teve no estaleiro Atlântico Sul, instalado em Suape.

Se por um lado Suape gerou uma concentração de empresas em uma determinada região pernambucana, por outro reverberou no incentivo de cadeias produtivas no interior do estado. Em uma visão estratégica, a ideia é incentivar arranjos produtivos em áreas mais afastadas, reduzindo assim o movimento migratório para a área de Suape e incentivando outras potencialidades do estado.

“Suape é a plataforma para estruturar o crescimento sustentado” diz Alexandre, ressaltando que os esforços estão no âmbito de desconcentrar o desenvolvimento econômico, tanto no plano nacional quanto estadual. A dinâmica do complexo é inspirada em iniciativas de outros países que transformaram a área ao redor em parque industrial, como o Porto de Calgary, na costa Oeste do Canadá, explica Alexandre.

Políticas

Na carteira de programas e políticas federais, são abrigadas ações estaduais para estruturar e incentivar arranjos produtivos locais, aproveitando as características locais. Programas de governo como Territórios da Cidadania e a PNDR, tem o objetivo de integrar governos federal, estadual e municipal junto a sociedade organizada, identificando prioridades e melhores métodos de investimento.

Embora reconheça o avanço, Alexandre confirma que ainda há muito a ser superado, já que essas ações são recentes e sugerem aperfeiçoamento e mudança de cultura. Uma delas é o alinhamento da visão estratégica. O Governo federal possui leitura diferente de um território, o que o secretário da Seplag considera como principal exercício a ser feito e aperfeiçoado. Isso quer dizer, por exemplo, que enquanto em um mesmo projeto ou programa a ação federal vê uma área prioritária englobando 10 municípios, o estado pode estar planejando 15 municípios na mesma ação. “Enxergar o mesmo território é possível através da organização”.

Mas se todo esse crescimento necessita também de mão de obra altamente qualificada, a educação pode se tornar um obstáculo à geração de empregos e se configura como ferramenta fundamental à redução das desigualdades regionais, já que para a própria organização local, faltam pessoas que entendam os mecanismos produtivos. A falta de profissionais mais capacitados abarca todo país, com ênfase nas regiões Norte e Nordeste. A defasagem de qualificação é mais visível em áreas mais requisitadas, como o setor petróleo.

No entanto, dada a característica histórica do estado de Pernambuco, os índices educacionais no nível básico estavam muito aquém do necessário para uma qualificação técnica, diz Alexandre. Foi necessária uma pré-capacitação para que os estudantes pudessem compreender os cursos específicos de capacitação na área naval e petroquímica, no âmbito do Programa de Mobilização da Indústria Nacional de Petróleo e Gás Natural (Prominp), da Petrobras.

Dados do Priminp apontaram em 2009 uma demanda por cerca de 15 mil profissionais em Pernambuco, que está entre os estados com maior escassez de pessoas qualificadas. Depois de mapear a demanda de qualificação de mão de obra, o Prominp lança concursos públicos nacionais para selecionar pessoas que serão treinadas nos cursos, estruturados em escolas técnicas e universidades federais e instituições com reconhecimento nacional.

Em nível de graduação, além de parcerias entre os governos federal e estadual, com a criação de novos institutos tecnológicos, principalmente nas cidades pólo, e escolas de referência, três novas universidades devem mudar o perfil do trabalhador pernambucano, acredita Alexandre. Entre elas, a Universidade Federal do Vale do São Francisco (Univasf) é outra ação que deve colaborar com a criação de mão de obra qualificada no médio prazo, principalmente para subsidiar a demanda do pólo de agricultura irrigada na região do Rio São Francisco. 

Luis Nassif

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