O processo de desenvolvimento do Brasil – 1

A análise do processo de desenvolvimento econômico e social do Brasil tem cinco grandes marcos divisores: (i) o denominado projeto 1844; (ii) o ciclo do café a partir de 1860; (iii) a ascensão de Getúlio Vargas como resultado da Revolução de 1930; (iv) a ascensão de Café Filho; e (v) a chegada de Lula e do PT ao governo em 2003.

A primeira fase nasceu com o fim do sistema de alianças comerciais a que o País se submeteu com a independência, baseadas no princípio da nação mais favorecida. Tal sistema praticamente inviabilizou qualquer hipótese de industrialização do País, o que, no século XIX, significava condição básica para a aceleração do processo de desenvolvimento. A partir de 1844 houve o nosso primeiro surto industrial, abortado pela elite do vale do Paraíba, assim que nossa balança comercial se tornou positiva com o ciclo do café por volta de 1860. Estas duas primeiras fases antagonizaram no âmbito da nossa elite, pela primeira vez, duas posições sobre o desenvolvimento do Brasil, que, Darcy Ribeiro, entre outros, sempre chamou de entreguismo e nacionalismo. Se a primeira fase buscou o protecionismo e o fortalecimento das elites urbanas com o fomento, ainda que frágil, de uma tentativa de industrialização, na segunda fase a elite rural dominante no segundo império contentou-se em enriquecer às custas do desenvolvimento nacional, abraçando o livre comércio como uma tendência inevitável.

Sob Getúlio Vargas, já na terceira fase, o nacionalismo é retomado na esteira do pensamento keynesiano. Um Estado forte e atuante investiu na siderurgia, na busca por petróleo e na construção de um pacto entre empresas nacionais e trabalhadores pelo desenvolvimento. A sociedade brasileira, muito mais complexa do que no século XIX, se dividiu, definitivamente, entre entreguistas e nacionalistas. A ascensão de Café Filho redirecionou o desenvolvimento brasileiro para um modelo mais condizente com os interesses do capital estrangeiro, notadamente ao levantar as barreiras impostas às remessas de lucros.  A industrialização tardia brasileira impulsionada pelo governo JK e os PNDs do regime militar consolidou a quarta fase, que encontrou o seu fim no trágico governo FHC.

Evidentemente, a privatização e internacionalização do capital e a globalização enterraram a discussão sobre remessas de lucros, mas não a dicotomia existente entre nacionalistas e entreguistas. Essa dicotomia esteve presente nas três últimas eleições brasileiras, para sorte do País, com finais felizes para o processo de desenvolvimento nacional. Continuarei a falar sobre isso nos próximos posts.

Luis Nassif

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