Como o Banco Central poderia controlar o câmbio

Em entrevista no Sala de Visitas, Pedro Rossi derruba mito sobre a regulação da taxa no Brasil 
 
 
Jornal GGN – Apesar da interdependência internacional é possível controlar os fluxos de câmbio permitindo maior autonomia da economia brasileira. É isso que defende o professor do Instituto de Economia da Unicamp, Pedro Rossi, autor do livro recém-lançado “Taxa de Câmbio e Política Cambial no Brasil”, publicado pela FGV Editora.
 
Rossi se debruça sobre o tema desde 2012 e, em entrevista ao programa Na Sala de Visitas com Luis Nassif, assegurou que parte dos dogmas da economia reproduzidos pela imprensa brasileira não se sustentam, salientando, por exemplo, que a taxa de câmbio é debatida em geral como um mecanismo que não pode sofrer interferência de governo, “como se fosse um dado da natureza do sistema econômico”.
 
“O que meu trabalho descobriu é que, na verdade, existem ligações entre os mercados e ligações com o mercado externo que fazem da taxa de câmbio controlável sim. Não tem nada de ‘natural’, é uma institucionalidade construída por um processo histórico e que a gente optou em ser assim”. Em outras palavras, havendo vontade política é possível melhorar a regulação do câmbio a favor da economia interna. 

 
Para chegar a essa conclusão, além do mercado de câmbio, Rossi estudou os mercados à vista, futuro, interbancário e o panorama externo, todos eles pontos que condicionam a formação da taxa de câmbio. A partir do conjunto de dados que conseguiu reunir, o economista concluiu que controlando os mercados a vista, futuro e interbancário é possível estabelecer uma taxa de câmbio favorável para a competitividade brasileira.  
 
Rossi destaca que, no segundo semestre de 2012, a política econômica brasileira conseguiu controlar esses três eixos, equilibrando o câmbio. “[Naquele momento] o mercado não peitava o Banco Central, porque sabia que ele tinha força, porque você tinha todos esses controles e isso tornava os instrumentos típicos de intervenção muito mais potentes”, pontuou.
 
                      Livro remonta mitos sobre câmbio e revela que é possível controlar taxa
                 
 
Em 2012 estava em andamento, no então governo Dilma, a redução da taxa básica de juros (Selic) que tinha alcançado o menor nível da história, a 8,5%. O movimento recebia críticas de grandes grupos do mercado e da própria imprensa que acusavam para a possibilidade de haver uma forte alta dos juros, caso o Banco Central não voltasse a aumentar a Selic, o que não aconteceu – os preços continuaram sob controle. 
 
“A Selic é um elemento fundamental para explicar a volatilidade da moeda brasileira, porque atrai muito capital especulativo”, alerta. Em seu livro Rossii dedicou um capítulo sobre essas operações, chamadas de carry trade, que nada mais são do que tomar dinheiro emprestado a juros baixos em países como Japão ou Estados Unidos, onde as taxas variam entre 0% a 3%, e aplica-lo em países com juros altos como o Brasil, com taxa de 14,5%.
 
Nessa operação especulativa o grande risco do acionista está na variação do câmbio, mas com o diferencial de juros do nível brasileiro dificilmente isso se torna um mau negócio. 
 
Outro fator que motiva a especulação, além da Selic, apresentada por Rossi é a própria institucionalidade do sistema interbancário brasileiro. “Eu não preciso tomar dinheiro emprestado num banco lá fora e aplicar aqui em títulos públicos para ganhar o diferencial de juros. Eu simplesmente posso fazer uma operação vendida em Dólar na BM&F que não negocia em Dólar, o diferencial é liquidado em Real”. 
 
Para completar, toda a legislação aplicada no país para regular o mercado à vista de contrato de câmbio não se aplica em contratos do mercado futuro, ficando este último mais livre para a atuação dos especuladores, fator nocivo à economia brasileira porque a negociação futura da taxa câmbio acaba se tornando referência de todos os preços no mercado. 
 
                                Quando a imprensa reproduz dogmas em favor do capital especulativo
                 
 
Rossi acrescenta que o mercado futuro negocia a uma taxa de câmbio até cinco vezes maior do que a aplicada no mercado à vista, por isso é necessário também que a política cambial atue para neutralizar o mercado futuro de câmbio. 
 
Diante desse quadro, o economista defende um maior protagonismo do Estado, revelando que há um desenho ideológico que domina a política econômica no país, pontuando que após 2008 o controle cambial se popularizou no mundo. “A política monetária nos Estados Unidos e Japão é completamente heterodoxa, e até a própria política fiscal”, frisa.
 
E para corroborar a necessidade de o país evitar se submeter à variação de fluxo internacional, Rossi destaca que os dez principais bancos do mundo respondem hoje por 80% das negociações no mercado de câmbio. Apenas quatro deles – Barclays, UBS, Citigroup e Deutsche Bank -, realizam 50% e, os dois últimos, 32% das operações, portanto um oligopólio que abre margem para a manipulação e aumento da vulnerabilidade de economias nacionais às grandes traders. 
 
Em 2015, seis grandes bancos, dentre eles os nomes citados acima, foram condenados pelo Departamento de Justiça dos Estados Unidos e Federal Reserve a uma multa de 5,6 bilhões de Dólares por manipulação da taxa de câmbio Dólar-Euro. 
 
As instituições financeiras usavam fóruns de discussão na internet e serviços de SMS de forma ilegal para influenciar uma taxa de referência no mercado cambial. Na época, o banco britânico Barcleys admitiu que a taxa de câmbio Real-Dólar também foi manipulada, levando o Conselho Administrativo de Defesa Econômica (CADE) a abrir uma investigação. 
 
Assista a seguir entrevista completa 
 
https://www.youtube.com/watch?v=FnBXW5jK54g
 
Redação

7 Comentários

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  1. como o banco central….

    O Banco Central poderia fazer o que ele quisesse para manter a qualidade de vida e beneficois para a população brasileira, na sua área de atuação. Ele é livre e independente desde que a trabalhar para seu único dono: o cidadão brasileiro.  Todo o restante que se adapte aos interesses que deseja  a população de um país chamado Brasil e não o contrário. Somos o único país da mundo que faz politicas pensando em mercado, a interesses e pressões externas. Empossamos autoridades que agradem a organismos estranhos ao nosso país e soberania. Não existe nada parecido no planeta!!! Nos comparamos a países que tem a população de um bairro de São Paulo. Somos o 5.o mair país do globo, 250 milhões de pessoas, 4.o maior mercado sozinho de automóveis. As maires filiais das 500 maiores transnacionais do planeta. Quem não tiver contente que de no pé!!! Quero ver quem vai abandonar um mercado consumidor e produtor como o nosso? Usar muito o cérebro não dá caimbra. Usemos.

  2. Não existe uma verdade sequer

    Não existe uma verdade sequer que esse cidadão especulativo da exterioridade procurasse ocupar numa questão em que o resultado se tornaria restante de uma medida que se possa desenvolver entre modelos de padrão, conveniente às distinções no tempo (espírito e razão no espaço).

    Lamento informá-lo de que é no trabalho que as pessoas contribuem com valores para um propósito redentor entrar no país enquanto todos os outros possam ser ao mesmo tempo, pois não é assim quando o país, sob senhorio americano, tem o local onde dar vidas pelas ações – nos territórios de saqueadores do mercado financeiro.

    Pura conversa fiada essa ordem de submissão como o câmbio; a esfera de funcionamento de um país é a sociedade civil.

  3. Depois de ver o relatório do

    Depois de ver o relatório do anastasia – NÃO ACREDITO QUE ALGUÉM NESTA SOPA QUEIRA RESOLVER ALGUMA COISA!

    O que eles querem é empurrar com a barriga e tirar o deles…

    É como o MP!

    Quer aprovar uma lei achando que existirão petistas para o resto da Vida!

    Zé Dirceu morrerá, Dilma morrerá, TODOS NÓS MORREREMOS, o Brasil ficará – é nisso que deviam pensar…

    A Vida é curta!

    E eles vão de mais ou menos, se valer valeu…

    Por que o importante é separar o cada um chama de seu…

  4. O BC, o câmbio e o governo federal

    Na realidade fica visível a incapacidade de os governos do campo democrático popular, hoje capitaneados pelo PT, em executar políticas em benefício do país e que tragam redução de ganhos ao “mercado”.

    A finança, o dinheiro pelo dinheiro, assumiu o controle da mídia, proprietários aliados, em muitos países e, em especial no Brasil. O giro financeiro, nacional e internacional,  abocanha gordos lucros no controle de diversas precificações validadas pelo trombone diário dos noticiários.

    Nesse andar e face a não aprovação de um marco legal moderno para a mídia o governo federal se submete às “verdades axiomáticas” veiculadas pelo grupo – os 1%, interessado.

    O controle do câmbio e dos fluxos de capitais, o uso da SELIC como ÚNICA forma de combate à inflação, a prevalência do controle da inflação sobre o desenvolvimento nacional,  a independência do Banco Central são mentiras que se tornaram verdadeiras pela torrente diária da lavação proporcionada pelos “analistas”.

    Dilma tentou mas piscou. Lula nem isso.

    Ali está a gênese de todo esse processo que redução nacional que vivemos.

    Os ratos tomaram conta por que o gato – no caso, a gata – se assustou por maus conselheiros.

    Da mesma forma, outras instituições federais foram dominadas por interesses diversos, alguns até contrários aos interessea nacionais, face a ausência do felino.

    Assim,as estrepolias deletérias de camundongos, ratos e ratazanas se espraiaram com a podridão que lhes é característica.

  5. Taxa de câmbio
    Foi usado o exemplo do governo da Dilma Rousseff, para afirmar que é possível controlar o câmbio.
    Porém esse controle do câmbio, junto com a ineficiência e baixa produtividade, não foram o que causaram a crise no Brasil? Junto com a falta de reformas da previdência, por exemplo, entre outros controles dos gastos públicos?

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