A greve geral contra a escravidão e o atraso: quando os trabalhadores querem, eles podem
por Roberto Bitencourt da Silva
Os empresários brasileiros do campo e da cidade nunca engoliram as leis trabalhistas. Nos primórdios da República Velha, as reivindicações sindicais e operárias por uma legislação que protegesse os trabalhadores eram tratadas como problema policial, pelo sistema político oligárquico e econômico agroexportador, então vigente.
As leis trabalhistas, após duras e longas lutas sociais dos trabalhadores brasileiros, sobretudo urbanos, são uma conquista social derivada de uma (semi)revolução, inicialmente política, contra o império liberal e vende-pátria das oligarquias paulistas do café.
Além da trajetória das atividades das organizações e das mobilizações dos trabalhadores, colocando o tema na agenda pública, foi necessária a atuação do Exército, como um dos pilares da Revolução de 1930, para que se desenhasse o escopo das leis do trabalho.
A Revolução de 1930 desenvolveu o seu conteúdo econômico até os anos 1940, sob a batuta do presidente Getúlio Vargas. Acompanhando os ideais de industrialização autóctone e de menor dependência do capital estrangeiro e da tecnologia forânea, a integração social das amplas massas de trabalhadores superespoliados e abandonados à própria sorte nas cidades teve como expressão maior a Consolidação das Leis do Trabalho (1942). Registre-se, contudo, que, então, os trabalhadores rurais não foram contemplados por essas leis.
Afastado do governo o presidente Getúlio Vargas, em 1945, as elites bacharelescas, oligárquicas, entreguistas e colonizadas surpreenderam-se com o amplo movimento popular “queremista”, que advogava a redação de uma nova Constituição sob a liderança de Vargas. Temiam os trabalhadores a perda de direitos duramente conquistados.
Mas, como? Defender um ditador? A racionalidade dos trabalhadores era muito superior ao que atribuíam, preconceituosamente, parcelas das elites comprometidas com a ordem anterior a 1930 e saltitantes de alegria com a destituição de Vargas.
Cumpre ainda lembrar que foi no Estado Novo que se introduziram os primeiros parâmetros da impessoalidade e da racionalidade no serviço público, adotando-se o Concurso Público como meio de admissão de funcionários. Os velhos fisiologismo e clientelismo das mesmas elites pré-1930 recebiam um bom e importante golpe. Hoje, pretendem dominar amplamente o acesso aos postos dos serviços públicos, acabando com os diretos do funcionalismo.
Os trabalhadores urbanos, após intensas manifestações durante meses, conseguiram alcançar os seus intentos e as leis trabalhistas foram asseguradas. Mas, na República de 1946, os representantes políticos conservadores não deixavam de alegar, sistematicamente, que as leis trabalhistas “corrompiam” o sistema político, “manipulando” a opinião das “massas”, “ignorantes e irracionais”. O udenismo e os velhos e reacionários jornais O Globo e O Estado de S.Paulo se encontravam na linha de frente da veiculação desse perfil de ideias.
Sintonizado e associado com os interesses empresariais, o senador fluminense Alfredo Neves, acompanhado do senador pela Paraíba, e poderoso proprietário dos Diários Associados, Assis Chateaubriand, tinha o despudor de afirmar o seguinte: “O sentimentalismo, que domina o espírito dos homens públicos do nosso país, tem resultado na substituição do estímulo ao trabalho pelo incitamento à preguiça coletiva, que se vai estendendo até os meios rurais. O trabalho já não é mais tão eficiente como em outros tempos” (Diário do Congresso Nacional, 21/06/1952, p.5626).
No acalorado debate que aí transcorreu, o senador gaúcho e então notório “teórico do trabalhismo”, Alberto Pasqualini, acicatava o oponente, ironizando o “ilustre colega”, como defensor da escravidão. É precisamente o que pretendem hoje os agentes do atraso entreguista e antipopular no governo federal, no Legislativo e na mídia: defender a escravidão.
Note-se que no curso daqueles anos, a consciência política, as organizações e as mobilizações dos trabalhadores rurais e urbanos foram bastante incrementadas, alargando direitos trabalhistas e sociais e estendendo-os também para o campo.
Desse modo, não foi gratuita a posição da ditadura empresarial-militar que se instaurou em 1964, a respeito das leis trabalhistas. Estas praticamente não foram alteradas, mesmo sob o regime ditatorial. Era melhor não cutucar a onça com vara curta, pois a crescente e vibrante trajetória de lutas sociais, econômicas e políticas dos trabalhadores eram de memória recente. Somente um regime explícito de força para encarcerar, perseguir, silenciar e obscurecer o movimento sindical. Mesmo, assim, os ditadores de plantão não ousaram mexer nas leis.
O coveiro da ditadura, uma vez mais, saiu das forças do universo do trabalho. As grandes greves do ABC despontaram ao final da década de 1970, contribuindo para a retirada da legitimidade do regime ditatorial. A mobilização e politização de operários, servidores públicos e trabalhadores rurais abriram, definitivamente, o caminho da redemocratização, de novos direitos sociais e da redução da jornada de trabalho – de 48 horas para 44 h – nas leis.
Ao mesmo tempo, não foram poucas as bobagens ditas por personagens atuantes naqueles movimentos sociais, especialmente ligados ao Partido dos Trabalhadores, no curso do final dos anos 1970 e na década de 1980 – diga-se, Lula à frente –, contra as pretensas “leis fascistas e populistas”, a “Carta del Lavoro de Getúlio Vargas”. Uma triste página da história de setores das esquerdas, que levaram água para o mofado moinho reacionário.
Uma autocrítica aí, assim como em função do apassivamento de enormes frações dos trabalhadores brasileiros, legado pelo lulopragmatismo, é mais do que necessária.
Esse apassivamento corresponde a uma variável decisiva da facilidade e do despudor com que as forças do atraso, capitaneadas pelo golpista Michel Temer (PMDB) – a serviço dos bancos, das multinacionais, dos latifundiários, das empresas prestadoras de serviços e de parasitas especuladores em geral –, têm desmontado o País e promovido uma aberta guerra de classes contra os trabalhadores.
Em uma Nação que registra um dos maiores índices de concentração de rendimentos e riquezas no mundo, em vez de propor absurdos como a supressão de direitos trabalhistas, o que se deveria fazer, entre outras medidas, é reduzir a jornada de trabalho, sem diminuição de salários. Isso para elevar a oferta de emprego e fazer justiça social para com os trabalhadores: desde os anos 1940, quando o limite era de 48 horas semanais, apenas em 1988 a jornada foi reduzida (para 44h).
Peço ao leitor pensar no incremento técnico-cientifico e na elevação da produtividade do trabalho durante todo esse longo período. É uma infâmia o que o governo golpista de Temer, abjeto testa de ferro do grande capital nacional e estrangeiro, está fazendo contra o mundo do trabalho.
Nesse sentido, o grande capital e o seu governo títere só podem entender a linguagem da força. A força que afeta a capacidade de circulação e reprodução do dinheiro. Ilusões em torno de eleições e do sistema político e jurídico imperante – totalmente enclausurado por entreguistas, larápios dos cofres públicos e reacionários – em nada podem contribuir para nos tirar da situação deprimente e de ameaça a um giro histórico para antes da era Vargas.
A principal força que os trabalhadores possuem só pode ser traduzida pela união, a cooperação, a organização e a mobilização. Nesta sexta-feira é greve geral! E que se torne o quanto antes por tempo indeterminado.
Diversos momentos da trajetória proletária no Brasil República demonstram que quando querem, os trabalhadores podem alcançar os seus objetivos. Precisamos fazer jus aos nossos gloriosos e aguerridos antepassados.
Roberto Bitencourt da Silva – historiador e cientista político.
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Um dia roubaram uma flor e não dissemos nada…
Eu, que tantas vezes acreditei que a Rede Record seria o contra ponto da golpista globo, deixei de assisti-la e de fazer campanha a favor do aumento da audiência da mesma ha algum tempo. Em consultórios e locais semelhantes, sempre questionava o porque de só sintonizarem a globo. Hoje comprovei mais um vez de a Rede Record não passa de uma imitadora de baixo nível da famigerada globo ao ver as apresentadoras do tal “fala Brasil”, dizer que a greve convocada pelos sindicatos para defender os direitos trabalhistas duramente conquistados pelos trabalhadores brasileiros, “são atos de vandalismo de pequenos grupos convocados por sindicatos que estão tumultuando a vida dos brasileiros”.
A que ponto chegou a subserviência aos golpistas desse arremedo de mídia brasileira que se acha ser IMPRENSA.
Enquanto uns lutam, outros piegas se acovardam.
a….
Não existe mais espaço nem tempo para omissão. Ás ruas….