A marcha de um genocídio, por Agassiz Almeida

Quando os povos quedam-se domesticados ou alienados, urge definir novos rumos às instituições. A verdade desperta consciências, rebenta grilhões e derruba muralhas.

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A marcha de um genocídio

por Agassiz Almeida

Quando se assiste ao triunfo da mediocridade delirante e prepotente, calar-se violenta a própria consciência. Vem-nos a convicção de que somos governados por lunáticos. A devastação pandêmica se abate sobre o país desorganizando toda a ordem econômica, social e política. Chefes de Estado sucumbem na incapacidade de enfrentar a crise, e aí desandam na boçalidade e absurdos. Lá está, entre eles, Bolsonaro, perdido nas suas tramas criminosas; agita-se e balbucia como ventríloquo   do mandarim norte-americano.

Nesta hora, relembro esta passagem histórica ocorrida no século XVIII, reinado de D. João V, envolvendo a monarquia portuguesa e o tribunal do Santo Ofício, instrumentalizado na sanguinária Inquisição. Gritos dos condenados abalam o Padre Gabriel Malagrida, que, diante do trágico horror, alertou o exército a não participar, como capitão do mato, na caçada humana aos hereges.  Trezentos anos nos separam daquele momento,   quando   ouvimos o ressoar da voz  firme de um forte, Gilmar Mendes,  nestas palavras: “ O exército não deve se associar a este genocídio, que já matou  mais de  noventa e cinco mil pessoas, e infectou mais  de três milhões  de pacientes .”  Ele não se investiu de um Catão do exército, apontou caminhos: “Não se associar ao genocídio…”

Quando os povos quedam-se domesticados ou alienados, urge definir novos rumos às instituições. A verdade desperta   consciências, rebenta grilhões e derruba muralhas.

Senhores comandantes, militares!  Onde se encontra a acusação?

O que esperava a nação?  A desmilitarização do governo e o retorno aos quartéis de mais de três mil militares.  As Forças Armadas se integram ao Estado, e não a governos.

Escancara-se o plano homicida, com acentuada gravidade nas áreas da saúde, meio ambiente, educação e relações exteriores. Desata-se o descalabro. Absurdos se sucedem e se fazem verdadeiras cartas evangélicas dos seus fanáticos apoiadores, tipos Jim Jones.

Instalada a pandemia no país, meados de março, cai a máscara da hipocrisia do clã Bolsonaro. Grita o chefe do clã: “Isto é uma gripezinha”, num deboche à preocupação mundial com a expansão   do vírus.  Alguns dias depois, dispara: “Não sou coveiro, vão trabalhar, não fiquem em casa”. Nos meados de maio, com mais de   cem mil mortes, ele graceja: “Todo mundo morre, eu sou messias, mas não faço milagres.” Nesta escalada, demite dois competentes ministros da saúde em apenas dois meses; na sequência desmonta esta pasta e nomeia para dirigi-la um general da ativa, além de destituir especialistas em suas funções, e os substitui por militares. Isto em plena pandemia.

Que desatino! Pasmem! Primeiro ato do Ministro da Saúde interino, por ordem do seu chefe:   Baixou portaria determinando o uso da hidroxicloroquina, medicamento rejeitado pela OMS, Organização Mundial de Saúde. Que escárnio à ciência!  A tragédia traga milhares de mortos enquanto se assiste à insensibilidade infame de Bolsonaro. Que perfil se traça deste comportamento?  Frieza sociopata   de um genocida.

Na esteira da ação delinquente, ele se insurge contra o isolamento social, sobressaltando o país. Há poucos dias, o jornal “O Estado de São Paulo” estampou estes graves fatos. Em atas de reuniões do comitê de Operações Especiais consta alerta   ao Ministro da Saúde interino, para estas medidas: Convocação da população ao isolamento social. Como resposta, ele editou portaria incentivando a quebra do isolamento. Outro alerta: Retenção de recursos de quarenta bilhões de reais disponíveis no Ministério da Saúde, dos quais empregou apenas um terço deste valor, enquanto governadores e entidades desesperados clamavam e denunciavam a escassez de insumos, sobretudo, de analgésicos, no atendimento de pacientes na UTI. Quantos morreram por esta ação delituosa!  Num   ranking, entre todos os países, Bolsonaro foi apontado como o pior chefe de Estado do mundo, segundo o jornal Washington Post, dos EUA.

Que fique esta exortação.

Parai, oh fanáticos apressados. O Tribunal Penal Internacional o condenará como um genocida.

DEVASTAÇAO DE FLORESTAS E MATANÇA DE INDIGENAS

Esta epígrafe retrata o cenário sombrio em que se debate o país, destacadamente na destruição destes patrimônios humano e ambiental da nação: O florestal e os povos indígenas.

Norteado por uma estratégia criminosa, o governo abre várias frentes afrontosas ao país:  enfraquecer a atuação dos governadores da Amazônia   legal e das ONGs, na preservação da floresta e na defesa dos seus guardiões, os povos indígenas.   Devolve à   Alemanha e à   Noruega duzentos e oitenta e sete milhões de reais destinados ao “Fundo Amazônico”. De descalabro   em descalabro, ameaçou retirar o Brasil do “Acordo de Paris”, que teve o apoio de cento e noventa e cinco chefes de Estado. Debocha Bolsonaro:” Isto de aquecimento global é abobrinha nesses congressos.”  Em 2019, num discurso apequenado e medíocre perante o plenário da ONU ele dispara este besteirol: “Esta gente quer internacionalizar a Amazônia e o cacique Raoni   é instrumento deles “

Avança na ação ultrajante, e demite fiscais do Ibama, que multaram criminosos ambientais; nesta sanha, afasta dos quadros da Funai   indianistas, e os substitui por militares coordenados por um pastor evangélico no objetivo de evangelizar os povos nativos.

Que decisão nefasta! Quantos indígenas perderão a vida?

Levantamento do” Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais” (INPE), conclui que o desmatamento da Amazônia alcançou, em 2020, oitenta por cento a mais do que no ano anterior, com queimadas a irromper em milhares de focos de incêndios.  Neste arrastão criminoso assassinam dezenas de índios. Hordas de marginais, incentivadas pela política pública de Bolsonaro, desencadeiam estas ações, devastando a maior retentora de óxido de carbono e liberadora de oxigênio do planeta, a Floresta Amazônica.

Paremos um pouco e reflitamos. De que se acusa este desastrado chefe de Estado?

Os fatos e os crimes  o tipificam  um  genocida  e,   por isso,    deve responder  perante os tribunais mundiais , destacadamente, o Tribunal  Penal Internacional, com base no art. 6 do Estatuto de Roma, Código Penal Militar, na Lei 2.889,  de 1 de outubro de 1956 e  condenado por seus crimes e assim lançado na galeria destes  genocidas:  Augustin Bizimungu, Ruanda;   Muammar al-Gaddafi, Líbio;   William Samoei Ruto, Quênia;    Vujadin Popović, Bósnia.

Estes fatos perfilam-se como pequeno iceberg de uma montanha de desatinos.

Olhemos a nossa História de alguns anos atrás. O que descortinamos? Um Brasil pujante no seu desenvolvimento, e respeitado perante o mundo. E hoje? Hoje somos um bobão, perdido entre um fanatismo idiota e uma visão de quintal.

Agassiz Almeida, escritor, ativista dos Direitos Humanos, Promotor de Justiça aposentado, ex-deputado federal constituinte, professor da UFPB. Autor das obras: “500 anos do povo brasileiro!” ( Ed. Paz e Terra),” A república das elites” (Ed.Bertrand Brasil)” “ A Ditadura dos Generais” ( Ed. Bertrand Brasil),” O  Fenômeno  Humano” ( Ed. Contexto).Dados colhidos na Wikipédia.

Redação

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