“As denúncias são ações inquisitórias e purificadoras”, disse reitor da USP

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – “A USP não irá, como querem alguns, promover autos-de-fé (…) As denúncias são ações inquisitórias e purificadoras”, disse o reitor da USP, Marco Antonio Zago, em reunião do Conselho Universitário, nesta terça-feira (09). “São casos isolados de alguns”, completou.

Do SpressoSP

Para reitor da USP, denunciar estupro na universidade é “ação inquisitória”

Alunas relataram que, na última reunião do Conselho Universitário, realizada essa semana, o reitor colocou a pauta das violações em “panos quentes” e ainda as intimidou enquanto tentavam argumentar: “Você é incapaz de me responder” 

Por Ivan Longo 

Enquanto centros acadêmicos, movimentos sociais, coletivos e até a Assembleia Legislativa do Estado de São Paulo (Alesp) se mobilizam para amparar as vítimas, colher denúncias e promover debates acerca dos recentes casos relatados de estupros e violações de direitos humanos na Universidade de São Paulo (USP), a reitoria prefere minimizar o problema, classificando as denúncias como ações “inquisitórias” e “purificadoras”. 

A definição partiu do próprio reitor Marco Antonio Zago, na última reunião do Conselho Universitário do ano, realizada na última terça-feira (9). Depois de anunciar o corte orçamentário de 30% para o ano que vem, Zago introduziu a pauta das denúncias, mas optou por criticar as próprias pessoas vítimas ao invés de centrar suas críticas aos agressores. 

“São casos isolados de alguns (…) A USP não irá, como querem alguns, promover autos-de-fé (…) As denúncias são ações inquisitórias e purificadoras”, afirmou. 

O relato partiu de quatro representantes discentes, alunas da graduação, que estiveram presentes na reunião. Segundo elas, professores e diretores que também estavam no encontro tiraram sarro das alunas nos momentos em que tinham a fala e um deles, inclusive, teria depositado a culpa dos relatos de violência no Diretório Central dos Estudantes (DCE) e no movimento estudantil. “Uma menina de calcinha no trote é um passo para o estupro”, disse. 

Em sua fala, a representante discente Gabriela Ferro afirmou que alguns diretores vêm omitindo os casos de violações de direitos. Um diretor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto, então, em tom provocativo, teria feito piada e perguntado se estava incluído entre eles. 

De acordo com as estudantes, entre pouco caso e piadas – um dos professores ainda teria filmado, através de um celular, a fala de uma delas para constrangê-la – o ápice da reunião teria sido quando o reitor Zago protagonizou um ataque moral contra uma das alunas. 

“Após o pronunciamento de uma das RDs sobre o tema orçamentário, Zago simplesmente não reconheceu a legitimidade dos argumentos apresentados e, de modo arbitrário e autoritário, diante de todo conselho, ordenou que a mesma voltasse ao microfone e se retratasse, posto que o reitor discordava de seus argumentos. Ao tomar a palavra, a RD imediatamente foi interrompida pelo reitor, que gritava repetidas vezes, em altíssimo tom de voz: ‘você é incapaz de me responder’, ‘você é incapaz de me responder’”, afirmou a representante discente, aluna de Nutrição, Vanessa Couto. 

A USP, até o momento, não se pronunciou em relação ao relato das alunas. Em nota publicada no dia da reunião, no site da instituição, o reitor Zago apenas afirma que “a Universidade de São Paulo é detentora de respeitável história no campo da defesa dos direitos individuais e sociais” e reforça sua fala da reunião: “Ações isoladas de alguns, sejam estudantes, docentes ou servidores, não desviarão a USP do seu papel de baluarte na defesa dos direitos humanos, o que não significa promover autos de fé, como querem alguns: todos sabem aonde levam ações inquisitoriais e purificadoras”. 

Confira a íntegra do relato das estudantes aqui e o comunicado de Zago aqui.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

6 Comentários

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  1. A administração publica,
    A administração publica, direta ou indireta, deve se pautar pelo respeito à legalidade e a moralidade (art. 37, da CF/88). É imoral um reitor de universidade pública acobertar crimes ocorridos dentro da mesma ou negar a vigência da legislação penal nacional dentro dela. O cretino do reitor que disse o que foi referido aqui deveria ser posto para fora da universidade a chutes, isto além de indenizar pessoalmente as vítimas.

  2. ah, tá, as pessoas são

    ah, tá, as pessoas são constrangidas, denunciam,

    mas essas reações são consideradas inquisitoriais!

    quem é inquisidor aí?

  3. Caso USP

    Deplorável o comportamento deste senhor  e do conselho por ele presidido. Esta instituição que deveria ser de ensino está muito doente.Há vários responsáveis por esta situação,estão entre  eles, aqueles que se omitem. Espero que a sociedade paulista ouça o pedido de socorro das alunas.

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