“Carta da Prisão” do Doutor Luther King: consciência de ser antirracistas!, por J. Roberto Militão

“Carta da Prisão” do Doutor Luther King: consciência de ser antirracistas!

por J. Roberto Militão

Prezados, saudações contra o racismo e as discriminações.

Neste dia da ´Consciência Negra´ com sua proposta fraternal de pedir a reflexão a toda sociedade e a fim de dialogar com os companheiros do portal – numa interlocução indispensável – a respeito do racismo e da necessidade do combate por todos – sem omissão – trago a mais poderosa reflexão deixado pelo Doutor Martin Luther King, na extraordinária ´Carta da Prisão´ de Birminghan, em abril de 1963. Meses depois liderava a famosa ´Marcha sobre Washington´ a maior manifestação civil dos EUA, até então. No ano seguinte, 1964,  ele recebeu o Prêmio Nobel da Paz.

Escrita em dois dias seguidos, nas margens de jornais velhos encontrados no cárcere racista pois estava proibido de acesso a papel e a receber visitas, Dr. King, produziu um verdadeiro manifesto, na sua condição de Reverendo da Igreja Batista, dirigido a seus colegas Clérigos e amigos Pastores protestantes que o haviam criticado em razão da participação em atos de ´desobediência civil´ contra as leis de segregação de direitos raciais.

Existem traduções várias e preferi essa, a meu ver, mais consoante com o espírito do autor. O texto original vc encontra aqui:  http://www.africa.upenn.edu/Articles_Gen/Letter_Birmingham.html 

Destaco aos leitores a parte da ´Carta´ – pag.7 –  em que se refere às ´leis de segregação de direitos raciais´, tendo em vista as críticas que fazemos na condição de ativistas opositores de leis raciais no Brasil –  ´cotas raciais´ – que o parlamento com 90% de brancos racistas, sob o comando do nefasto Senador José Sarney, então presidente do Congresso, outorgaram no Brasil, as leis que fazem a mesma doentia ´segregação de direitos´ pois afirmava o Doutor King Jr. diante de uma questão central:

“Como você pode defender a violação de algumas leis e obediência a outras?”

“A resposta está no fato de que existem dois tipos de leis: as justas e as injustas. Eu seria o primeiro a advogar a obediência a leis justas. Tem-se uma responsabilidade não só legal como também moral de obedecer a leis justas. De modo contrário, tem-se uma responsabilidade moral de desobedecer a leis injustas. Eu concordaria com Santo Agostinho em que “uma lei injusta simplesmente não é uma lei”.

Agora, qual é a diferença entre as duas? Como se pode determinar se uma lei é justa ou injusta? Uma lei justa é um código feito pelo homem que se ajusta com a lei moral ou a lei de Deus. Uma lei injusta é um código que está em desacordo com a lei natural.  

Para dizer isso nos termos de Santo Tomás de Aquino: uma lei injusta é uma lei humana que não está enraizada na lei eterna e na lei natural. Qualquer lei que eleva a personalidade humana é justa. Qualquer lei que degrada a personalidade humana é injusta. Todos os estatutos de segregação são injustos porque a segregação distorce a alma e prejudica a personalidade. Ela dá ao segregador uma falsa impressão de superioridade e aos segregados, ela impõe uma falsa sensação de inferioridade. Segregação, para usar a terminologia do filósofo judeu Martin Buber, substitui um relacionamento “eu-você” por uma relação “eu-isso” e acabo relegando as pessoas ao status das coisas. Portanto, a segregação não é apenas política, econômica e sociologicamente doentia: é moralmente errada e pecaminosa.” 

 

“Carta da prisão de Birmingham [LUTHER KING, Jr.]”

16 de abril de 1963 

Meus queridos clérigos: 

Embora confinado aqui na prisão da cidade de Birmingham, encontrei sua recente declaração chamando minhas atividades atuais “imprudentes e intempestivas”.  Raramente faço uma pausa para responder a críticas do meu trabalho e ideias. 

Se eu procurava responder a todas as críticas que atravessavam minha mesa, meus secretários teriam pouco tempo para além da correspondência no decorrer do dia, e eu não teria tempo para o trabalho construtivo. Mas, como sinto que você é homem de boa vontade genuína e que suas críticas são sinceramente estabelecidas, eu quero tentar responder a sua afirmação no que espero sejam pacientes e termos razoáveis.

Eu acho que devo indicar por que estou aqui em Birmingham, já que você foi influenciado pela visão que argumenta contra “estranhos chegando”. 

Tenho a honra de servir como presidente da Southern Christian Leadership Conference, uma organização que opera em todos os estados do sul, com sede em Atlanta, Geórgia. Temos cerca de oitenta e cinco organizações afiliadas em todo o Sul, e uma delas é o Movimento Cristão dos Direitos Humanos de Alabama. Frequentemente compartilhamos recursos de pessoal, educacionais e financeiros com nossos afiliados. 

Vários meses atrás, o afiliado aqui em Birmingham nos pediu para estar de plantão para participar de um programa de ação direta não-violento, se tal fosse considerado necessário. Nós prontamente consentimos, e quando chegou a hora, cumprimos nossa promessa. Então eu, juntamente com vários membros da minha equipe, estou aqui porque fui convidado aqui. Estou aqui porque tenho vínculos organizacionais aqui.

Mas, mais basicamente, estou em Birmingham porque a injustiça está aqui. 

Assim como os profetas do oitavo século a.c. deixaram suas aldeias e levaram seus “assim diz o Senhor” muito além dos limites de suas cidades de origem, e assim como o apóstolo Paulo deixou sua aldeia de Tarso e levou o evangelho de Jesus Cristo aos distantes cantos do mundo greco-romano, também sou obrigado a levar o evangelho da liberdade para além da minha própria cidade natal. Como Paulo, devo responder constantemente ao apelo macedônico para auxílio.

Além disso, reconheço a inter-relação de todas as comunidades e estados. Não posso ficar de bom grado em Atlanta e não me preocupar com o que acontece em Birmingham. A injustiça em qualquer lugar é uma ameaça à justiça em todo lugar. Estamos presos numa rede inescrutável de reciprocidade, amarrada em uma única peça de destino. Qualquer coisa que afeta um diretamente, afeta todos indiretamente. Nunca mais podemos dar ao luxo de viver com a ideia estreita e provincial de “agitador externo”. Quem vive nos Estados Unidos nunca pode ser considerado um estranho em qualquer lugar dentro de seus limites.

Vocês deploram as manifestações que ocorrem em Birmingham. Mas sua afirmação, lamento dizer, não expressa uma preocupação semelhante pelas condições que provocaram as manifestações. 

Tenho certeza de que nenhum de vocês gostaria de se contentar com o tipo superficial de análise social que trata meramente de efeitos e não lida com causas subjacentes. É lamentável que as manifestações aconteçam em Birmingham, mas é ainda mais lamentável que a estrutura de poder da cidade deixasse a comunidade negra sem alternativa.

Em qualquer campanha não violenta, existem quatro etapas básicas: a coleta dos fatos para determinar se existem injustiças; negociação; autopurificação; e ação direta. Passamos por todos esses passos em Birmingham. Não pode haver contradição com o fato de que a injustiça racial engolfa essa comunidade. 

Birmingham é provavelmente a cidade mais completamente segregada nos Estados Unidos. Seu feio registro de brutalidade é amplamente conhecido. Os negros experimentaram um tratamento grosseiramente injusto nos tribunais. Houve mais bombardeios não resolvidos de casas e igrejas negras em Birmingham do que em qualquer outra cidade da nação. 

Estes são os fatos difíceis e brutais do caso. Com base nessas condições, os líderes negros buscaram negociar com as autoridades da cidade. Mas estes se recusaram consistentemente a negociar de boa-fé.

Então, em setembro passado, veio a oportunidade de conversar com os líderes da comunidade econômica de Birmingham. No decorrer das negociações, certas promessas foram feitas pelos comerciantes – por exemplo, para remover os humilhantes sinais raciais das lojas. 

Com base nessas promessas, o Reverendo Fred Shuttlesworth e os líderes do Movimento Cristão de Alabama para os Direitos Humanos concordaram com uma moratória em todas as manifestações. À medida que passavam as semanas e os meses, percebemos que fomos vítimas de uma promessa quebrada. Alguns sinais, brevemente removidos, retornaram; os outros permaneceram. 

Como em tantas experiências passadas, nossas esperanças foram explodidas, e a sombra do profundo desapontamento se estabeleceu sobre nós. Não tínhamos outra alternativa senão preparar-se para a ação direta, pelo que apresentamos nossos próprios corpos como meio de colocar nosso caso diante da consciência da comunidade local e nacional.

Consciente das dificuldades envolvidas, decidimos empreender um processo de autopurificação. Começamos uma série de workshops sobre a não-violência, e nos perguntamos repetidamente: “Você é capaz de aceitar golpes sem retaliar?” “Você é capaz de suportar a provação da prisão?” 

Decidimos agendar nosso programa de ação direta para a temporada de Páscoa, percebendo que, exceto para o Natal, esse é o principal período de compras do ano. Sabendo que um forte programa de retração econômica seria o produto de ação direta, achamos que este seria o melhor momento para pressionar os comerciantes pela mudança necessária.

Então, demo-nos conta de que a eleição para prefeito de Birmingham ocorreria em março, e rapidamente decidimos postergar a ação para depois do dia de eleição. Quando descobrimos que o Comissário de Segurança Pública, Eugene “Touro” Connor, havia reunido votos suficientes para ir ao segundo turno, decidimos mais uma vez postergar a ação para depois do dia do segundo turno, para que as manifestações não pudessem ser usadas para obscurecer os temas.

Como muitos outros, esperávamos ver a derrota do Sr. Connor, e com esse fim aguentamos adiamento após adiamento. Tendo ajudado nesse interesse da comunidade, terminada as eleições e derrotado o Sr. Connor, sentimos que nosso programa de ação direta não poderia mais ser atrasado.

Vocês podem muito bem perguntar: “Por que ação direta? Por que sit-ins, marchas e assim por diante? Não seria a negociação um caminho melhor?” Vocês estão bastante certos em clamar por negociações. Na verdade, esse é o real propósito da ação direta.

A ação direta pacífica busca criar uma tal crise e promover uma tal tensão que a comunidade que constantemente se recusou a negociar é forçada a confrontar o tema. Ela busca, assim, dramatizar um tema que não pode mais ser ignorado. Minha referência à criação de tensão como parte do trabalho do resistente pacífico pode soar um tanto chocante. Mas devo confessar que não tenho medo da palavra “tensão”.

Opus-me veementemente à tensão violenta, mas há um tipo de tensão construtiva, pacífica, que é necessária para o crescimento.

Assim como Sócrates sentiu que era necessário criar uma tensão na mente para que os indivíduos pudessem ascender da servidão de mitos e de meias verdades ao reino livre de amarras da análise criativa e da avaliação objetiva, também nós temos de ver a necessidade de impertinentes pacíficos para criar o tipo de tensão na sociedade que ajudará os homens a ascenderem das escuras profundezas do preconceito e do racismo às alturas majestosas da compreensão e da fraternidade.

O propósito de nosso programa de ação direta é criar uma situação tão recheada de crise que inevitavelmente abrirá as portas à negociação. Eu, portanto, concordo com vocês no seu clamor por negociações.

Nossas amadas terras do Sul têm estado atoladas por tempo demais em um trágico esforço para viver em um monólogo ao invés de em um diálogo.

Um dos pontos básicos em sua declaração é que a ação que eu e os meus associados tomamos em Birmingham é inoportuna. Alguns perguntaram: “Por que você não deu tempo à administração da cidade para agir?” 

A única resposta que posso dar a essa consulta é que a nova administração de Birmingham deve ser estimulada tanto quanto a anterior, antes de agir. Nós estaremos tristemente equivocados se acharmos que a eleição de Albert Boutwell como prefeito trará uma época de ouro para Birmingham. Embora o Sr. Boutwell seja uma pessoa muito mais gentil do que o Sr. Connor, ambos são segregacionistas, dedicados à manutenção do status quo. 

Tenho a esperança de que o Sr. Boutwell seja razoável o suficiente para ver a inutilidade da enorme resistência à desagregação. Mas ele não vai ver isso sem a pressão dos partidários dos direitos civis. 

Meus amigos, devo dizer-lhe que não fizemos um único ganho nos direitos civis sem uma pressão legal e não violenta determinada. Lamentavelmente, é um fato histórico que os grupos privilegiados raramente abandonam seus privilégios por vontade própria. Os indivíduos podem ver a luz moral e abandonar voluntariamente sua injusta postura; mas, como Reinhold Niebuhr nos lembrou, os grupos tendem a ser mais imorais que os indivíduos.

Sabemos através da experiência dolorosa que a liberdade nunca é voluntariamente dada pelo opressor; deve ser exigida pelos oprimidos. 

Francamente, ainda não tomei parte em uma campanha de ação direta que fosse ´oportuna´ na opinião daqueles que não sofreram indevidamente da doença da segregação. Já faz anos que ouço a palavra ´Espere!´. Ela ressoa nos ouvidos de cada negro com uma familiaridade aguda. Esse “Espere” quase sempre significou “Nunca”. Temos a percepção, com um dos nossos distinguidos juristas, que “a justiça adiada por muito tempo é a justiça negada”.

Esperamos mais de 340 anos por nossos direitos constitucionais e concedidos por Deus. As nações da Ásia e da África estão se movendo com uma velocidade semelhante a um jato para ganhar independência política, mas ainda nos arrastamos a passo de e a um ritmo de buggy (carroça) para obter a conquista ao direito a uma xícara de café em um balcão de almoço. Talvez seja fácil para aqueles que nunca sentiram os perigosos dardos da segregação dizerem: “Espere”. 

Mas quando você viu bandos perversos lincharem suas mães e seus pais a vontade e afogar seus irmãos e irmãs a seu capricho; quando você viu policiais cheios de ódio, amaldiçoar, chutar e até matar seus irmãos e irmãs pretos; quando você vê a grande maioria de seus vinte milhões de irmãos sufocando-se em uma gaiola hermética de pobreza no meio de uma sociedade de abundância;

quando de repente você encontra sua língua travada e seu fala balbuciando ao tentar explicar a sua filha de seis anos por que ela não pode ir ao parque de diversões público que acabou de ser anunciado na televisão e vê lágrimas jorrando nos olhos dela quando lhe é informada de que Funtown está fechado para crianças de cor e vê nuvens ameaçadoras de inferioridade começando a se formar em seu pequeno céu mental e vê começar a distorcer sua personalidade ao desenvolver um rancor e uma amargura inconsciente em relação a pessoas brancas;  quando você tem que inventar uma resposta para um filho de cinco anos que está perguntando: “Papai, por que os brancos tratam as pessoas de cor tão mal?; 

quando você faz uma viagem pelo seu estado e descobre ser necessário dormir noite após noite nos cantos desconfortáveis do seu automóvel porque nenhum motel irá aceitá-lo; Quando você é humilhado dia a dia com as placas irritantes que lêem “branco” e “de cor”; Quando seu primeiro nome se torna “nigger” (neguiho), seu nome do meio torna-se “menino” (por mais idoso que seja) e seu sobrenome se torna “João”, e sua esposa e mãe nunca são chamadas pelo título respeitável de ´Sras.´

Quando você é perseguido de dia e assombrado de noite pelo fato de ser um preto, vivendo constantemente na posição de ponta dos pés, sem saber exatamente o que esperar em seguida e é atormentado por medos interiores e ressentimentos externos; quando você está sempre lutando contra uma sensação degenerada de “não ser ninguém” – então você entenderá porque é difícil ´esperar´. 

Chega um momento em que a capacidade de suportar esgota-se, e os homens não estão mais dispostos a mergulhar no abismo do desespero. Espero, senhores, que vocês possam compreender nossa impaciência legítima e inevitável. Vocês manifestam uma boa dose de ansiedade quanto à nossa disposição de violar as leis. Essa é certamente uma preocupação legítima.

Como pedimos muito diligentemente às pessoas que obedeçam a decisão da Suprema Corte de 1954 que proíbe a segregação nas escolas públicas, à primeira vista pode parecer bastante paradoxal para nós conscientemente quebrar as leis. Pode-se perguntar: “Como você pode defender a violação de algumas leis e obediência a outras?” 

A resposta está no fato de que existem dois tipos de leis: as justas e as injustas.

Eu seria o primeiro a advogar a obediência a leis justas. Tem-se uma responsabilidade não só legal como também moral de obedecer a leis justas. De modo contrário, tem-se uma responsabilidade moral de desobedecer a leis injustas. Eu concordaria com Santo Agostinho em que “uma lei injusta simplesmente não é uma lei”.

Agora, qual é a diferença entre as duas? Como se pode determinar se uma lei é justa ou injusta? Uma lei justa é um código feito pelo homem que se ajusta com a lei moral ou a lei de Deus. Uma lei injusta é um código que está em desacordo com a lei moral.

Para dizer isso nos termos de Santo Tomás de Aquino: uma lei injusta é uma lei humana que não está enraizada na lei eterna e na lei natural. Qualquer lei que eleva a personalidade humana é justa. Qualquer lei que degrada a personalidade humana é injusta. Todos os estatutos de segregação são injustos porque a segregação distorce a alma e prejudica a personalidade. Ela dá ao segregador uma falsa impressão de superioridade e aos segregados, ela impõe uma falsa sensação de inferioridade. Segregação, para usar a terminologia do filósofo judeu Martin Buber, substitui um relacionamento “eu-você” por uma relação “eu-isso” e acabo relegando as pessoas ao status das coisas. 

Portanto, a segregação não é apenas política, econômica e sociologicamente doentia: é moralmente errada e pecaminosa. 

Paul Tillich disse que o pecado é uma separação. A segregação não é uma expressão existencial da separação trágica do homem, de sua horrível alienação, de sua terrível pecaminosidade? 

Sendo assim é que posso pedir aos homens que obedeçam a decisão de 1954 da Suprema Corte, pois é moralmente correto; e eu posso exortá-los a desobedecerem às ordenanças de segregação, pois estão moralmente erradas.

Consideremos um exemplo mais concreto de leis justas e injustas. Uma lei injusta é um código que um grupo de maioria numérica ou de poder obriga um grupo minoritário a obedecer, mas não se vincula. Esta é a ´diferença´ tornada legal. Do mesmo jeito, uma lei justa é um código que uma maioria obriga uma minoria a seguir e que está disposto a seguir a si mesmo. Isso é a ´igualdade´ legitima e legal. 

Deixe-me dar uma outra explicação. Uma lei é injusta se for infligida a uma minoria que, como resultado de negar o direito de voto, não teve nenhuma participação na ciração, elaboração ou na promulgação da lei. Quem pode dizer que a legislatura do Alabama que estabeleceu as leis de segregação desse estado foi democraticamente eleita? Em todo o Alabama, todos os tipos de métodos tortuosos são usados ​​para evitar que os negros se tornem eleitores registrados e existem municípios nos quais, mesmo que os negros constituam a maioria da população, nenhum negro está registrado. Qualquer lei promulgada em tais circunstâncias pode ser considerada democraticamente estruturada?

Por exemplo, fui preso por uma acusação de participar de uma passeata sem autorização. Agora, não há nada de errado em ter uma norma que exige uma autorização para uma passeata. Mas essa ordenança torna-se injusta quando é usada para manter a segregação e negar aos cidadãos o direito e privilégio fundamental da Primeira Emenda à Constituição: a garantia de reunião pacífica e de protesto.

Espero que você possa ver a distinção que estou tentando apontar. Em nenhum sentido, eu defendo evadir ou desafiar a lei, assim como faz o segregacionista raivoso. Isso levaria à anarquia. Alguém que viole uma lei injusta deve fazê-lo de forma aberta, amorosa e com a disposição para aceitar a pena. Afirmo que um indivíduo que viola uma lei que a consciência lhe diz que é injusta, e que, de bom grado, aceita a pena de prisão a fim de despertar a consciência da comunidade por sua injustiça, está realmente expressando o mais alto respeito pela lei.

Claro, não há nada de novo sobre esse tipo de desobediência civil. Foi evidenciado sublimemente na recusa de Shadrach, Meshach e Abednego em obedecer às leis de Nabucodonosor, com o fundamento de uma lei moral superior. Foi praticado soberbamente pelos primeiros cristãos, que estavam dispostos a enfrentar leões famintos e a dor insidiosa de cortar blocos ao invés de se submeter a certas leis injustas do Império Romano. Até certo ponto, a liberdade acadêmica é uma realidade hoje porque Sócrates praticou desobediência civil. Em nossa própria nação, o Tea Party de Boston representava um grande ato de desobediência civil.

Nunca devemos esquecer que tudo o que Adolf Hitler fez na Alemanha era “legal” e tudo o que os combatentes da liberdade húngaros fizeram na Hungria era “ilegal”. Era “ilegal” ajudar e consolar um judeu na Alemanha de Hitler. Mesmo assim, estou certo de que, se eu tivesse vivido na Alemanha na época, teria ajudado e consolado meus irmãos judeus. Se hoje vivi em um país comunista onde certos princípios, queridos pela fé cristã, são reprimidos, eu defendi abertamente o desobedecer às leis anti-religiosas desse país.

Devo fazer duas confissões honestas para você, meus irmãos cristãos e judeus. Primeiro, devo confessar que, nos últimos anos, fiquei gravemente decepcionado com o branco moderado. 

Já cheguei à conclusão lamentável de que a grande pedra de tropeço do negro em seu passo em direção à liberdade não é o Conselheiro do cidadão branco ou o Ku Klux Klanner, mas o branco moderado, mais dedicado à “ordem” do que à justiça; que prefere uma paz negativa que é a ausência de tensão para uma paz positiva que é a presença da justiça; que constantemente diz: “Eu concordo com você no objetivo que você procura, mas não posso concordar com seus métodos de ação direta”; que paternalisticamente acredita que pode estabelecer o cronograma para a liberdade de outro homem; que vive por um conceito mítico de tempo e que constantemente aconselha o negro a esperar uma “temporada mais conveniente”. 

A compreensão superficial de pessoas de boa vontade é mais frustrante do que um mal-entendido absoluto de pessoas de má vontade. A aceitação cautelosa é muito mais desconcertante do que a rejeição total.

Eu esperava que o branco moderado entendesse que a lei e a ordem existem para o propósito de estabelecer a justiça e que, quando falham nesse propósito, se tornam as barragens perigosamente estruturadas que bloqueiam o fluxo do progresso social. Eu esperava que o branco moderado entendesse que a tensão atual no Sul é uma fase necessária da transição de uma paz negativa desagradável, na qual o negro aceitou passivamente sua situação injusta, a uma paz substantiva e positiva, na qual todos os homens respeitará a dignidade e o valor da personalidade humana. 

Na verdade, nós, que nos envolvemos em ações diretas não-violentas, não somos criadores de tensão. Nós simplesmente trazemos à superfície a tensão escondida que já está viva. Nós o trazemos ao ar livre, onde pode ser visto e tratado. Como uma fervura que nunca pode ser curada enquanto estiver coberta, mas deve ser aberta com toda a sua feiura para os medicamentos naturais do ar e da luz, a injustiça deve ser exposta, com toda a tensão que sua exposição cria, à luz do humano consciência e o ar da opinião nacional antes que ela possa ser curada.

Em sua declaração, você afirma que nossas ações, mesmo que pacíficas, devem ser condenadas porque precipitam a violência. Mas isso é uma afirmação lógica? Isso não é como condenar um homem roubado porque a sua posse de dinheiro precipitou o ato malvado de roubo? 

Isso não é como condenar Sócrates porque seu compromisso inabalável com a verdade e suas investigações filosóficas precipitaram o ato pela população equivocada em que o fizeram beber cicuta? 

Isso não é como condenar Jesus porque sua consciência única de Deus e nunca cessar a devoção à vontade de Deus precipitou o malvado ato de crucificação? Nós devemos ver isso, como afirmam os tribunais federais, é errado instar um indivíduo a cessar seus esforços para conquistar seus direitos constitucionais básicos porque a busca pode precipitar a violência. 

A sociedade deve proteger o roubado e punir o ladrão. Eu também esperava que o branco moderado rejeitasse o mito sobre o tempo em relação à luta pela liberdade. Acabei de receber uma carta de um irmão branco no Texas. Ele escreve: “Todos os cristãos sabem que as pessoas de cor receberão direitos iguais eventualmente, mas é possível que você tenha uma grande pressa religiosa. Ele levou o Cristianismo quase dois mil anos para realizar o que tem. Os ensinamentos de Cristo tomam hora de vir à terra “. 

Tal atitude decorre de um conceito equivocado trágico do tempo, da noção estranhamente irracional de que há algo no próprio fluxo de tempo que inevitavelmente curará todos os males. Na verdade, o próprio tempo é neutro; ele pode ser usado de forma destrutiva ou construtiva. 

Mais e mais eu sinto que as pessoas doentes terão utilizado o tempo muito mais efetivamente do que as pessoas de boa vontade. Teremos que nos arrepender nesta geração, não apenas pelas palavras e ações odiosas das pessoas más, mas pelo silêncio terrível das pessoas boas. 

O progresso humano nunca entra em roda de inevitabilidade; Isso vem através dos esforços incansáveis ​​dos homens que estão dispostos a trabalhar com Deus e, sem esse trabalho árduo, o próprio tempo se torna um aliado das forças da estagnação social. Devemos usar o tempo de forma criativa, sabendo que o tempo está sempre pronto para fazer o certo. Agora é a hora de tornar real a promessa da democracia e transformar nossa elegia nacional pendente em um salmo criativo de fraternidade. Agora é a hora de levantar a nossa política nacional da areia movediça da injustiça racial ao sólido rol da dignidade humana.

Vocês falam de nossa atividade em Birmingham como extrema. No começo, fiquei bastante desapontado de que os colegas clérigos vejam meus esforços não-violentos como os de um extremista. Comecei a pensar no fato de estar no meio de duas forças opostas na comunidade negra. 

Uma é uma força de complacência, composta em parte de negros que, como resultado de longos anos de opressão, estão tão escorridos de respeito próprio e uma sensação de “alguma gordura” que eles se adaptaram à segregação; e em parte de alguns negros de classe média que, por causa de um grau de segurança econômica e econômica e porque de certo modo eles se beneficiam com a segregação, tornaram-se insensíveis aos problemas das massas. 

A outra força é de amargura e ódio, e vem perigosamente perto de defender a violência. É expressado nos vários grupos nacionalistas negros que brotam em todo o país, sendo o maior e mais conhecido movimento muçulmano de Elijah Muhammad. Alimentado pela frustração do negro sobre a persistência da discriminação racial, este movimento é composto por pessoas que perderam a fé na América, que repudiaram completamente o cristianismo e que concluíram que o homem branco é um incorrigível “demônio”.

Tentei interceder entre essas duas forças, dizendo que não precisamos imitar o “fazer nada” do complacente, nem o ódio e o desespero do nacionalista negro. Pois existe o modo mais excelente de amor e protesto não-violento. Sou grato a Deus que, através da influência da igreja negra, o caminho da não-violência tornou-se parte integrante da nossa luta. Se essa filosofia não tivesse surgido, agora, muitas ruas do Sul estarão convencidas de estar fluindo com sangue. E estou ainda convencido de que, se os nossos irmãos brancos descartarem como “agitadores” e “agitadores externos” aqueles que empregam ação direta não-violenta e se se recusam a apoiar nossos esforços não-violentos, milhões de negros, por frustração e desespero , buscam consolo e segurança em ideologias nacionalistas negras – um desenvolvimento que levaria inevitavelmente a um pesadelo racial assustador.

Pessoas oprimidas não podem permanecer oprimidas para sempre. O desejo de liberdade eventualmente se manifesta, e é isso que aconteceu com o negro americano. Algo dentro lhe lembrou seu direito de nascimento, e algo sem lhe lembrou que isso pode ser obtido. Conscientemente ou inconscientemente, ele foi apanhado pelo Zeitgeist, e com seus irmãos negros de África e seus irmãos castanhos e amarelos da Ásia, América do Sul e Caribe, o negro dos Estados Unidos está se movendo com uma sensação de grande urgência em relação ao prometido terra da justiça racial. 

Se alguém reconhecer esse impulso vital que engoliu a comunidade negra, deve-se entender facilmente por que as manifestações públicas estão ocorrendo. O negro tem muitos ressentimentos reprimidos e frustrações latentes, e ele deve libertá-los. Então deixe-o marchar; Deixe-o fazer peregrinações de oração para a prefeitura; Deixe-o andar na liberdade e tente entender por que ele deve fazer isso. Se suas emoções reprimidas não são liberadas de maneiras não-violentas, elas buscarão expressão através da violência; Esta não é uma ameaça, mas um fato da história. Então eu não disse ao meu povo: “Livrar-se do seu descontentamento”. 

Em vez disso, tentei dizer que esse descontentamento normal e saudável pode ser canalizado para a saída criativa da ação direta não-violenta. E agora essa abordagem é denominada extremista. Mas, inicialmente, fiquei desapontado por ser categorizado como um extremista, enquanto continuava a pensar sobre o assunto gradualmente ganhei uma medida de satisfação com o rótulo. Jesus não era um extremista por amor: “Amai os teus inimigos, abençôes os que te amaldiçoam, fazem bem aos que te odeiam e rezam por eles que, maldosamente, te usam e perseguem vocês”. Não era Amos um extremista para a justiça: “Deixe a justiça rolar como águas e justiça como um fluxo sempre corrente”. Paulo não era um extremista para o evangelho cristão: “Tenho em meu corpo as marcas do Senhor Jesus”. Martin Luther não era extremista: “Aqui estou, não posso fazer o contrário, então ajude-me, Deus”. E John Bunyan: “Eu vou ficar na prisão até o fim dos meus dias antes de fazer uma talha de minha consciência”. E Abraham Lincoln: “Esta nação não pode sobreviver meio escravo e meio livre”. E Thomas Jefferson: “Nós consideramos essas verdades serem evidentes, que todos os homens são criados iguais …” 

Então a questão não é se seremos extremistas, mas que tipo de extremistas seremos. Seremos extremistas por odiar ou por amor? Seremos extremistas para a preservação da injustiça ou para a extensão da justiça? Naquela cena dramática no monte do Calvário, três homens foram crucificados. 

Nunca devemos esquecer que os três foram crucificados pelo mesmo crime – o crime do extremismo. Dois eram extremistas por imoralidade e, portanto, ficaram abaixo do ambiente. O outro, Jesus Cristo, era um extremista pelo amor, a verdade e a bondade, e assim se elevava acima de seu ambiente.Talvez o Sul, a nação e o mundo tenham extrema necessidade de extremistas criativos.

Eu esperava que o branco moderado visse essa necessidade. 

Talvez eu estivesse muito otimista; talvez eu esperasse demais. Suponho que eu deveria ter percebido que poucos membros da raça opressora podem entender os gemidos profundos e os anseios apaixonados da raça oprimida, e ainda menos tem a visão de ver que a injustiça deve ser descartada por uma ação forte, persistente e determinada. 

Contudo, agradeço que alguns dos nossos irmãos brancos no Sul tenham entendido o significado dessa revolução social e se comprometeram com isso. Eles ainda são muito poucos em quantidade, mas eles são de grande qualidade. Alguns – como Ralph McGill, Lillian Smith, Harry Golden, James McBride Dabbs, Ann Braden e Sarah Patton Boyle – escreveram sobre nossa luta em termos eloquentes e proféticos. 

Outros marcharam conosco pelas ruas sem nome do Sul. Eles dormiram em prisões imundas e infestadas, sofrendo o abuso e a brutalidade dos policiais que os vêem como “amantes sujos de negros”. 

Ao contrário de tantos de seus irmãos e irmãs moderados, eles reconheceram a urgência do momento e sentiram a necessidade de poderosos “antídotos de ação” para combater a doença da segregação. Deixe-me tomar nota da minha outra grande decepção. Fiquei tão desapontado com a igreja branca e sua liderança. Claro, há algumas exceções notáveis. Eu não sou desconhecido do fato de que cada um de vocês tomou alguns pontos significativos nesta questão. Eu recomendo-lhe, Reverend Stallings, por sua posição cristã neste domingo passado, em receber os negros para o seu culto de forma não fundada. Eu elogio os líderes católicos deste estado por integrar o Spring Hill College há vários anos.

Mas, apesar destas notáveis ​​exceções, devo reiterar sinceramente que fiquei desapontado com a igreja. Não digo isso como um daqueles críticos negativos que sempre podem encontrar algo errado com a igreja. Digo isso como ministro do evangelho, que ama a igreja; que foi nutrido em seu seio; que foi sustentado por suas bênçãos espirituais e que permanecerá fiel a ele enquanto o fio da vida se prolongar.

Quando fui de repente catapultado para a liderança do protesto de ônibus em Montgomery, Alabama, alguns anos atrás, senti que seríamos apoiados pela igreja branca. Senti que os ministros brancos, sacerdotes e rabinos do Sul estariam entre os nossos aliados mais fortes. Em vez disso, alguns foram opositores definitivos, recusando-se a entender o movimento da liberdade e deturpar seus líderes; Todos muitos outros foram mais cautelosos do que corajosos e permaneceram silenciosos atrás da segurança anestesiante dos vitrais.

Apesar de meus sonhos quebrados, cheguei a Birmingham com a esperança de que a liderança religiosa branca dessa comunidade visse a justiça de nossa causa e, com profunda preocupação moral, sirva de canal através do qual nossas justas queixas poderiam alcançar o poder estrutura. Eu esperava que cada um de vocês entendesse. Mas novamente fiquei desapontado.

Ouvi falar de numerosos líderes religiosos do sul admoestar seus adoradores para cumprir uma decisão de desagregação porque é a lei, mas desejei ouvir ministros brancos declararem: “Siga este decreto porque a integração é moralmente correta e porque o negro é o seu irmão”. Em meio a injustiças flagrantes infligidas ao negro, vi homens de igrejas brancos levantar-se à margem e frustrar irrelevâncias caras e trivialidades assustadoras. 

No meio de uma poderosa luta para livrar nossa nação de injustiça racial e econômica, ouvi muitos ministros dizerem: “Essas são questões sociais, com as quais o evangelho não tem nenhuma preocupação real”. E vi muitas igrejas se comprometerem com uma outra religião mundana que faz uma distinção estranha e não-bíblica entre corpo e alma, entre o sagrado e o secular.

Viajei ao longo e ao largo do Alabama, do Mississippi e de todos os outros estados do sul. Nos dias de verão sufocantes e as manhãs de outono torradas, eu olhei as belas igrejas do Sul com suas altas torres apontando para o céu. Eu vi os contornos impressionantes de seus edifícios de educação religiosa maciça. Mais uma vez eu me perguntei: “Que tipo de pessoas adoram aqui? Quem é o seu Deus? Onde estavam suas vozes quando os lábios do governador Barnett pingavam com palavras de interposição e anulação? Onde estavam eles quando o governador Wallace deu um apelo por desafio e ódio? Onde estavam suas vozes de apoio quando machucados e cansados ​​homens e mulheres negros decidiram se levantar das masmorras sombrias da complacência para as colinas brilhantes do protesto criativo?

Sim, essas perguntas ainda estão em minha mente. Com profunda decepção, chorei o laxismo da igreja. Mas tenha certeza de que minhas lágrimas foram lágrimas de amor. Não pode haver uma profunda decepção onde não há amor profundo. Sim, eu amo a igreja. Como eu poderia fazer o contrário? Eu estou na posição bastante única de ser o filho, o neto e o bisneto dos pregadores. Sim, vejo a igreja como o corpo de Cristo. Mas, oh! Como mantivemos e corroem esse corpo através da negligência social e pelo medo de ser inconformistas.

Houve um tempo em que a igreja foi muito poderosa – no tempo em que os primeiros cristãos se alegraram em ser considerados dignos de sofrer pelo que acreditavam. Naquela época, a igreja não era apenas um termômetro que registrou as idéias e os princípios da opinião popular; Era um termostato que transformava os costumes da sociedade. Sempre que os primeiros cristãos entraram em uma cidade, as pessoas no poder se tornaram perturbadas e imediatamente procuraram convencer os cristãos por serem “perturbadores da paz” e “agitadores externos”. “Mas os cristãos pressionaram, com a convicção de que eles eram” um colônia do céu “, chamado a obedecer a Deus em vez do homem. Pequeno em número, eles eram grandes em compromisso. Eles também estavam com Deus intoxicados para serem “intimidados astronômicos”. Por seu esforço e exemplo, eles trouxeram um fim a males tão antigos como o infanticídio e os concursos de gladiadores. 

As coisas são diferentes agora. Muitas vezes, a igreja contemporânea é uma voz fraca e ineficaz com um som incerto. Muitas vezes, é um arquidiador do status quo. Longe de ser perturbado pela presença da igreja, a estrutura de poder da comunidade média é consolada pela sanção silenciosa e muitas vezes vocal da igreja das coisas como elas são.

Mas o julgamento de Deus é sobre a igreja como nunca antes. Se a igreja de hoje não retomar o espírito de sacrifício da igreja primitiva, perderá sua autenticidade, perderá a lealdade de milhões e será demitido como um clube social irrelevante sem significado para o século XX. Todos os dias conheço jovens cujo desapontamento com a igreja se tornou um desprezo absoluto.

Talvez eu tenha sido uma vez mais otimista demais. A religião organizada também está inextricavelmente ligada ao status quo para salvar nossa nação e o mundo? Talvez eu deva transformar a minha fé na igreja espiritual interior, na igreja dentro da igreja, como a verdadeira eclesial e a esperança do mundo. 

Mas, novamente, agradeço a Deus que algumas almas nobres das fileiras da religião organizada tenham se solto das paralizantes cadeias de conformidade e se juntaram a nós como parceiros ativos na luta pela liberdade. Eles deixaram suas congregações seguras e caminharam pelas ruas de Albany, na Geórgia, conosco. Eles derrubaram as rodovias do Sul em passeios tortuosos pela liberdade. Sim, eles foram para a prisão conosco. Alguns foram demitidos de suas igrejas, perderam o apoio de seus bispos e colegas ministros. Mas eles agiram na fé que o derrotado é mais forte do que o mal triunfante. O seu testemunho foi o sal espiritual que preservou o verdadeiro significado do evangelho nestes tempos difíceis. Eles criaram um túnel de esperança através da montanha escura do desapontamento. 

Espero que a igreja como um todo atenda ao desafio dessa hora decisiva. Mas mesmo que a igreja não venha em favor da justiça, não tenho desespero em relação ao futuro.

Não tenho medo do resultado de nossa luta em Birmingham, mesmo que nossos motivos sejam mal interpretados no presente. Alcançaremos o objetivo da liberdade em Birmingham e em todo o país, porque o objetivo da América é a liberdade. Abusado e desprezado embora possamos ser, nosso destino está amarrado ao destino dos Estados Unidos. Antes de os peregrinos terem pousado em Plymouth, estávamos aqui. Antes que a caneta de Jefferson gravasse as majestosas palavras da Declaração de Independência nas páginas da história, estávamos aqui. 

Por mais de dois séculos, nossos antepassados ​​trabalharam neste país sem salários; eles fizeram rei de algodão; eles construíram as casas de seus mestres enquanto sofriam uma injustiça grosseira e uma humilhação vergonhosa – e, ainda assim, de uma vitalidade sem fundo, continuaram a prosperar e se desenvolver. Se as crueldades inexplicáveis ​​da escravidão não pudessem nos impedir, a oposição que enfrentamos certamente falhará. Ganharemos nossa liberdade porque a herança sagrada de nossa nação e a eterna vontade de Deus estão incorporadas em nossas demandas de eco. 

Antes de me fechar, sinto-me pressionado a mencionar um outro ponto em sua declaração que me perturbou profundamente. Vocês recomendaram calorosamente a força policial de Birmingham por manter “ordem” e “impedir a violência”. 

Eu duvido que vocês tivessem tão calorosamente recomendado a força policial se vocês tivessem visto seus cachorros afundarem os dentes contra negros desarmados e não violentos. Duvido que você elogie tão rapidamente os policiais se vocês observassem seu tratamento feio e desumano de negros aqui na prisão da cidade; se vocês fossem vê-los empurrar e currar velhas mulheres negras e jovens meninas negras; se vocês fossem vê-los tapar e chutar velhos homens negros e meninos; se vocês os observassem, como fizeram em duas ocasiões, recusam-se a nos dar comida porque queríamos cantar nossa graça juntos. Não posso me juntar a vocês em seu louvor pelo departamento de polícia de Birmingham.

É verdade que a polícia exerceu um grau de disciplina no tratamento dos manifestantes. Nesse sentido, eles se conduziram bastante “não violentos” em público. Mas para que propósito? Para preservar o sistema maligno de segregação. Ao longo dos últimos anos, preguei repetidamente que a não-violência exige que os meios que utilizamos sejam tão puros quanto os fins que buscamos. Tentei deixar claro que é errado usar meios imorais para alcançar fins morais. 

Mas agora devo afirmar que é tão errado, ou talvez ainda mais, usar meios morais para preservar os fins imorais. Talvez o Sr. Connor e seus policiais tenham sido bastante não-violentos em público, como foi o Chefe Pritchett em Albany, na Geórgia, mas eles usaram os meios morais da não-violência para manter o fim imoral da injustiça racial. Como TS Eliot disse: “A última tentação é a maior traição: fazer a ação correta por uma razão errada”.

Gostaria que vocês elogiassem os manifestantes de Birmingham por sua coragem sublime, sua vontade de sofrer e sua incrível disciplina em meio a uma grande provocação. 

Um dia, o Sul reconhecerá seus verdadeiros heróis. Eles serão os James Merediths, com o nobre sentido do propósito que lhes permite enfrentar mutilações zombadoras e hostis, e com a angustiante solidão que caracteriza a vida do pioneiro. Serão velhas, oprimidas, mulheres negras maltratadas, simbolizadas em uma mulher de setenta e dois anos em Montgomery, Alabama, que se levantou com um senso de dignidade e com seu povo decidiu não andar de ônibus segregados e que respondeu com profundidade não gramatical para quem perguntou sobre o cansaço dela: “Meus pés estão cansados, mas minha alma está em repouso”. 

Eles serão os jovens estudantes do ensino médio e universitário, os jovens ministros do evangelho e uma série de seus anciãos, corajosamente e não violentamente sentados nos balcões do almoço e voluntariamente indo para a prisão por causa da consciência. 

Um dia, o Sul saberá que, quando esses filhos de Deus deserdados se sentaram nos balcões do almoço, eles estavam em realidade defendendo o que é melhor no sonho americano e pelos valores mais sagrados em nossa herança judaica-cristã, trazendo assim a nossa nação de volta para os grandes poços da democracia que foram criados pelos pais fundadores na formulação da Constituição e da Declaração de Independência.

Nunca antes escrevi há uma carta longa. Receio que seja muito longo para levar seu precioso tempo. Posso assegurar-lhe que teria sido muito mais curto se eu estivesse escrevendo a partir de uma mesa confortável, mas o que mais pode fazer quando se está sozinho em uma cela de prisão estreita, além de escrever longas cartas, pensar longos pensamentos e rezar orações longas ?

Se eu disse alguma coisa nesta carta que exagere a verdade e indica uma impaciência irracional, peço-lhe que me perdoe. Se eu disser qualquer coisa que altere a verdade e indique que eu tenho paciência que me permite se contentar com algo menos que fraternidade, imploro a Deus que me perdoe.

Espero que esta carta os ache forte na fé. Eu também espero que as circunstâncias em breve me permitam conhecer cada um de vocês, não como um líder integracionista ou de direitos civis, mas como um clérigo e um irmão cristão. 

Todos esperamos que as nuvens escuras do preconceito racial em breve desapareçam e o nevoeiro profundo do mal-entendido será levantado de nossas comunidades sem medo, e em alguns não muito distantes, amanhã, as radiantes estrelas de amor e fraternidade irão brilhar sobre nossa grande nação com toda a sua beleza cintilante.

O seu pela causa da paz e da fraternidade, Martin Luther King, Jr. 

Publicado em:  Rev. Martin Luther Jr. 

 https://translate.google.com.br/translate?hl=pt-BR&sl=en&u=https://www.theatlantic.com/politics/archive/2013/04/martin-luther-kings-letter-from-birmingham-jail/274668/&prev=search

Redação

2 Comentários

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  1. carta….

    Esquerdopatia não deve ter cura mesmo. Mas tem tratamento. Mas o texto mostra claramente o abismo entre o Brasil e o racista EUA. Dizendo ser a Terra da Liberdade, nunca deixaram de ser a Terra do nazismo, fascismo ou racismo. Ou não são sinônimos? E ainda adaptamos nosso Politicamente Correto a Academicismos e Ilusões de realidades diferentes da nossa. Continuamos atrelados a 1964. Primeiro, quanto a José Sarney, líder do PDS que virou PFL, partido do Regime Militar. Quem fez aliança espúria e o elevou a condição de Presidente da República foi o Golpismo Esquerdopata que traiu as Eleições Diretas e indiretamente o empossou. José Sarney, depois do fim do Regime Militar é culpa de quem? O mesmo Golpismo contra Eleições Livres, Facultativas e Diretas que elegeram Julio Prestes, que trouxe ao Poder uma Ditadura Militar no Getulismo. Entendemos porque Esquerdopatas dizem que jovens alunos da Faculdade de Direito de São Paulo, seriam uma tal Elite. Martins, Miragaia, Drauzio, Camargo, Alvarenga, para o fanatismo ideológico representavam uma tal Elite. Imagina se representassem a preservação da Democracia? É possível falar uma Verdade, falando um monte de Mentiras? Dizem que fomos o último país a abolir a Escravidão? A Escravidão nos EUA, perdura até hoje. Como podemos nos comparar? MLK, estava preso nos anos 60, pela sua cor. Não podia estar em lugares públicos entre brancos. Casamento inter-racial em alguns estados americanos era passível de Pena de Morte. Não podiam nem votar até alguns anos antes. Muito menos se candidatarem. Era excluídos de vários Direitos Civis. No Brasil, nos anos da Abolição, já tínhamos uma Elite Intelectual negra. De qual época era Castro Alves? E Machado de Assis?  E Cruz e Sousa? Onde existiam leis impeditivas e racistas na nossa Constituição depois do Republicanismo? Até os dias de hoje, a segregação racial americana é fato que salta aos olhos. Nossa missigenação é fato alardeado por todo o Mundo. Só mesmo o fanatismo ideológico pode tentar comparar fatos, situações e países tão diferentes. Mas se não pregassem a divisão, jurando defender a unidade e igualdade, como manteriam seus discursos? O Brasil é de muito fácil explicação. 

  2. “Qualquer lei que degrada a personalidade humana é injusta.”

    Muito boa lembrança, Militão, trazer a carta de Luther King nesta semana de reflexão sobre nosso mundo, sociedade, cotidiano, formas de expressão e condutas. Não é possivel continuarmos atavicamente nessa relação preconceituosa com negros, mulatos, pardos, indios e pobres. Para que tenhamos alguma mudança, acho que é preciso um anorme combate, que viria pela formação pedagogica, instrução e propaganda nos meios de comunicação. 

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