Como os noviliberais se solidarizaram com Gleisi Hoffmann

A maioria escafedeu, porque faz parte da natureza humana o medo. Os melhores tentaram encontrar uma maneira de atender aos dois públicos: solidariedade contra o ato, mas sem mencionar o nome da vítima.

É curiosíssimo o processo de interação dos veículos tradicionais de comunicação com as redes sociais.

A não ser em breves períodos, os veículos sempre prezaram manter o controle editorial sobre seus jornalistas e colaboradores, mesmo quando praticando a diversidade controlada. Por outro lado, era relevante o cardápio de personalidades individuais, os colunistas. Durante algum tempo, abriu-se inclusive um espaço democrático inédito para a diversidade.

A interação dos colunistas com os leitores se dava apenas através da seção de cartas ao leitor. Mais tarde, através de e-mails.

Com a Internet, primeiro, os grupos jornalísticos trataram de enquadrar seus jornalistas, impedindo ativismo político virtual.

Com a explosão das redes sociais e dos influenciadores digitais, especialmente do Twitter, houve uma mudança de estilo. Para enfrentar a legião estrangeira dos influenciadores digitais, os grupos precisavam criar um exército próprio de personalidades individuais digitais, mas obedecendo à voz de comando.

De repente, com mais discrição, é verdade, jornalistas e colunistas passaram a se comportar como influenciadores digitais, lutando pela simpatia dos leitores, soltando chistes simpáticos na rede, gradativamente passando a defender teses politicamente corretas.

No artigo “A modernidade líquida e vazia da tribo dos novos liberais brasileiros” tentei descrever o comportamento desses personagens, como um documento sobre a nova transição da comunicação jornalística. Montei uma espécie de manual de boas maneiras, no qual se destacavam dois itens

  • Seja solidário quando um dos seus for vítima dos esbirros autoritários do governo. Vale 5 pontos Mas feche os olhos quando os esbirros forem contra membros da outra tribo. Se descumprir, perde 10 pontos.
  • Respeite a lista dos malditos da mídia, e não ouse citar, nem retuitar nada deles. Incorrer no erro é pecado mortal. Perde 20 pontos.

No episódio Vera Magalhães, houve um transbordamento significativo da solidariedade com a mulher atacada – especialmente porque os marginais envolveram seus filhos.

Daí, acontece o episódio Gleisi Hoffmann, atacada por quadrilheiros estando com a filha de 14 anos. E aparece o efeito pressão direta do leitor. Passou-se a cobrar o mesmo tipo de solidariedade, por conta do mesmo tipo de crime cometido contra mulheres.

A maioria escafedeu, porque faz parte da natureza humana o medo. Os melhores tentaram encontrar uma maneira de atender aos dois públicos: solidariedade contra o ato, mas sem mencionar o nome da vítima. A vítima foi a famosa quem. De todo modo, foi um avanço.

Ao mesmo tempo, a outra tribo explorou despudoradamente um boato irresponsável envolvendo a primeira dama.

Machado de Assis iria se esbaldar com esses tempos de exposição ampla, não deixando muito espaço para o exercício da hipocrisia.

1 Comentário

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  1. O pior para estes deformadores de opinião, é que entre um gole ou outro da cara garrafa de vinho, a consciência dói e os olhos lacrimejam, ao lembrar que suas posturas, posicionamentos e postagens do passado ajudaram a trazer e validar os atos de senhores irados, em locais elegantes a ferir o outro com sua bengala de madeira cara.

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