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COVID-19: a causa e a honra
por Aracy Balbani
A fala mais recente da Dra. Margareth Dalcolmo, pneumologista e pesquisadora da Fiocruz, uma das grandes damas da Medicina brasileira, resume os pensamentos e sentimentos atuais dos profissionais de saúde.
Tem dias em que dá vontade de chorar. Dói demais saber que cidadãs e cidadãos morrem de COVID-19 no Brasil do século 21 em grande sofrimento pela falta de oxigênio ou de vagas de UTI. Revolta ver quantos profissionais excelentes, éticos, comprometidos com o cuidado da população, entraram na conta inaceitável das mais de 210.000 vidas perdidas para a pandemia. Causa mortis de base: catástrofe política.
Apunhala o peito ler que pesquisadores sérios têm sido menosprezados sistematicamente por (des)governantes irresponsáveis que cortaram verbas e outros incentivos para a ciência e tecnologia. Quanta politicagem, hipócrita e mentirosa, em torno das vacinas nas três esferas de governo! Quantos seres abjetos praticaram corrupção, nepotismo, mamatas e outros crimes na compra de respiradores e EPIs. Agora, também furam as filas da vacinação. Polícia, justiça e cadeia neles!
Mas nossa garra e brio falam sempre mais alto. Não estudamos em universidades públicas e dedicamos décadas às profissões de saúde, sacrificando nossos familiares e questões pessoais, para que maltas de ignorantes e cínicos travestidos de políticos ousem tentar nos desviar da nossa missão: proteger a Vida. Não recuamos nenhum milionésimo de milímetro. Não nos calamos.
Basta da truculência do pseudocapitão grosseiro metido a mito e seus milicianos de estimação. Basta das patacoadas de General Zuzu e seu time amador de empurroterapeutas, um punhado de empurradores-de-cloroquina-goela-abaixo. Basta do chanceler tosco e boquirroto aboletado no Itamaraty a mando de alguém. Basta da cara de pau de governantes que têm mal-disfarçado nojo do povo, mas teimam em fazer demagogia escancarada em torno da vacina. Canastrões!
Chega da falência de múltiplas instituições nacionais, incluindo alguns conselhos de profissões de saúde que custam caro aos nossos bolsos. Fim à banda podre da imprensa, aquela das meias-verdades, submissão aos anunciantes e bajulação político-ideológica. Abaixo às igrejas de farsantes e arrecadadores de dízimo via PIX, que reviram os olhos diante dos cifrões enquanto ajudam a materializar o Inferno de Dante no nosso Brasil.
A verdade é que ainda não há no país vacinas suficientes contra COVID-19 sequer para os profissionais de saúde. Neste momento, não estão garantidas duas doses de nenhuma vacina para todos os médicos do SUS. Desviar a vacina destinada a um médico ou enfermeiro para outro alguém privilegiado pelos poderosos coloca a população em perigo ainda maior. Ficam desguarnecidos alguns dos profissionais mais necessários ao enfrentamento da pandemia.
O país está podre. Doenças letais, violência, miséria, fome, destruição ambiental, desemprego, desalento. Quem tem juízo, com o perdão da expressão, está com o traseiro na mão. As consequências sociais disso são imprevisíveis. Já pipocam relatos de tumulto de populares em locais de vacinação. A temperatura do caldeirão Brasil se aproxima rapidamente do ponto de ebulição.
União nessa luta contra a morte e o desespero. Mesmo distantes fisicamente, continuamos trabalhando pela saúde, paz, democracia, segurança e desenvolvimento digno para todas e todos. Quanto maiores os desafios, mais energia colocamos para os vencer. Nossa causa é a Vida, nosso combustível é a honra. Coragem sempre! À vitória!
Aracy P. S. Balbani é médica.
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Clap, clap, clap. De pé.
Que pancada!
Não da pra acreditar no que está acontecendo.
“O país está podre. Doenças letais, violência, miséria, fome, destruição ambiental, desemprego, desalento.”
Parabéns pelo artigo Aracy