Armando Coelho Neto
Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.
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Dilma Rousseff e as Mulheres de Tejucupapo, por Armando Coelho Neto

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por Armando Coelho Neto
 
Neste Dia Internacional da Mulher fica em aberto um convite ao leitor para comemorar a data com a ousadia feminina. A referência é a legítima Presidenta do Brasil, Dilma Rousseff, cuja garra encontra parâmetro em outras díspares guerreiras. Nesse GGN a Coração Valente já teve seu nome associado à Joana Darc, a colombiana Policarpa Salavarrieta Ríos (La Pola) e à destemida Bárbara Alencar. Hoje, o resgate das Mulheres de Tejucupapo é uma reverência à Dilma e as brasileiras que de forma aguerrida abraçaram a luta como profissão de fé.
 
Aconteceu em Pernambuco, em 24 de abril de 1646, ano em que os holandeses já haviam praticamente perdido o domínio que, durante algum tempo, mantiveram sobre quase todo Pernambucano.
 
Era um domingo, dia em que os homens do vilarejo costumavam ir ao Recife, a cavalo, para vender, nas feiras da capital, os produtos da pesca. A presunção dos holandeses era que, estando os varões fora da cidade, o lugarejo estaria desprotegido.

 
Alojados no forte Orange, na Ilha de Itamaracá, sob o comandado do almirante Lichthant, saíram pelo mar e tentaram ocupar o pequeno distrito que, segundo pesquisadores, possuía apenas uma rua larga, “quase uma praça, ladeada por casas simples, destacando-se ao final dela a Igreja de São Lourenço de Tejucupapo, de arquitetura jesuítica”.
 
O episódio está incorporado ao imaginário dos pernambucanos e ficou conhecido como a Batalha de Tejucupapo que, liderada por Maria Camarão, teria se tornado o primeiro combate com participação feminina, registrado em território nacional. As outras mulheres seriam Maria Quitéria, Maria Clara e uma tal Joaquina, cujo sobrenome as fontes convencionais históricas não registram.
 
Segundo consta, Maria Camarão havia constatado a superioridade bélica dos holandeses, que somavam 600 soldados alojados no forte Orange. Diante disso, com um crucifixo em punho, saiu percorrendo o vilarejo convocando as mulheres a pegar em armas e ajudarem os homens na luta contra as tropas inimigas. Munidas de paus e pedras, tiveram a ideia de usar água fervente com pimenta.
 
Sobre a bravura daquelas mulheres, aliadas às outras, cabe registrar que “a atitude não teria sido exatamente política ou religiosa. As tejucupapenses não estariam defendendo a permanência portuguesa no Brasil. Como também não brigaram contra a expansão holandesa na América. Elas estariam simplesmente defendendo sua vila, suas vidas e seus filhos dos invasores. Principalmente porque não contavam com a presença dos homens da comunidade”, registra o site Mania de História.
 
Os poucos homens que ficaram em Tejucupapo enfrentaram os invasores à bala, enquanto as mulheres escondidas em trincheiras, que elas mesmos cavaram, atacavam com o que jamais esperariam os soldados holandeses: os olhos dos inimigos e o fator surpresa. Segundo consta, 300 cadáveres ficaram espalhados pelo vilarejo, sobretudo flamengos. Era o começo do fim da já então combalida dominação holandesa no Brasil.
 
O avanço dos debates sobre as questões femininas intensificaram buscas sobre as Mulheres de Tejucupapo. Em 2002, foi criada uma medalha denominada Heroínas de Tejucupapo, uma condecoração destinada a enaltecer mulheres que se destacaram nas áreas de ciências jurídicas, medicina, ensino, segurança, entre outras profissões, no estado de Pernambuco.
 
O resgate histórico compreende uma peça anual encenada ao ar livre pelo Clube de Mães da Vila de Tejucupapo (Goiânia/PE), em comemoração ao aniversário da vitória daquelas mulheres. A peça já foi transformada num curta dirigido por Marcílio Brandão, com roteiro dele em companhia de Cláudio Bezerra.
 
Na cidade de Olinda/PE, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher (2015), foi inaugurado um espaço cultural que passará a abrigar múltiplas contribuições no campo das artes e da dinâmica social. No campo da música, o cantor e compositor pernambucano, Maciel Salu, transformou o assunto numa canção, cuja letra enaltece a bravura das Mulheres de Tejucupapo. A peça musical tem um precioso arranjo instrumental de rabeca. Noutras áreas, as famosas heroínas viraram objeto de teses, dissertações e até nome de conjunto habitacional.
 
Resgatar as Mulheres de Tejucupapo na data de hoje é uma forma de dignificar a garra feminina. Mais que isso, é a constatação de que suas memórias estão bem representadas e dignificadas na verve da Presidenta Dilma Rousseff, que quando ela voltar – porque é certo que volta, o fará perfumada e de alma lavada. O coração valente e pulsante trilhará triunfal sobre o escombro da maldade. Dilma Rousseff voltará à cena com sua própria garra, ainda que não se possa prevê se subindo a rampa do Alvorada ou uma tribuna oficial do povo. Mais que um anseio isso é uma certeza, porque a Nação não poderá viver mais tempo com a nódoa da covardia.
 
Armando Coelho Neto é jornalista e advogado, Delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo
 
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Armando Coelho Neto

Armando Rodrigues Coelho Neto é jornalista, delegado aposentado da Polícia Federal e ex-representante da Interpol em São Paulo.

4 Comentários

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  1. Coração Valente

    Dilma, sem dúvida, merece a comparação. Teve mais coragem do que os muitos (inclusive na esquerda) que a chamaram de “fraca”.

  2. e o romance de Marilene Felinto

    Sugiro da ótima Marilene Felinto,As Mulheres de Tijucupapo(alguns,com “i”;outros escrevem com “e”).Se não me engano, foi levado ao palco,como peça,em São Paulo.Quem não conhece e não conheceu as crônicas e também esporádicas reportagens (com agudas,penetrantes e surpreendentes observações de um raro pensamento independente e livre)não sabe o que está perdendo e perdeu(cito as crônicas, coluna semanal, e notas curtísssimas noutras seções) pois foi por elas que a conheci e seus livros.Ela tem um belo site oficial.Ela renega o tempo em que escreveu pra mídia. Faz muitíissima falta, muita!

  3. Corações valentes

    Excelente homenagem na lembrança da luta de mulheres numa época em que não eram emancipadas nem tinham voz. E também é bonito desejar a volta ao Palacio de Planalto da presidente Dilma Rousseff. A Cesar o que é de Cesar.

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