Banco Mundial norteou políticas para educação de FHC, diz Newton Lima Neto

Atual assessor do IFSP faz um paralelo entre o desmonte da educação e projeto que reduz autonomia do país 
 
Educação e soberania nacional
 
A promoção da educação pública e indutora de ciência e inovação tem forte relação com a autonomia de um país, defende Newton Lima Neto, assessor da reitoria do Instituto Federal de São Paulo (IFSP), entidade responsável por 37 centros de ensino, 50% das vagas voltadas à educação básica profissional e 50% para o ensino universitário no Estado de São Paulo. 
 
O tema foi levantado durante sua participação no fórum Brasilianas – Saídas para o Brasil crescer, marcando o lançamento da nova plataforma online criada para apresentar as propostas de políticas públicas para o país. 
 
Como político, Lima Neto participou de momentos decisivos da história para garantir a autonomia do ensino público, um deles foi na comissão que lutou para incluir o orçamento na Constituição Federal, destacando que, mesmo após essa conquista, a educação pública continuou sofrendo ataques. 

 
Em 1994, por exemplo, o Banco Mundial publicou o relatório La enseñanza superior en america latina, que acabou norteando as políticas para a educação superior do governo Fernando Henrique Cardoso. O material declarava que os países latino-americanos, assim como as demais nações do terceiro mundo, deveriam deixar os investimentos com pesquisa e conhecimento para as nações de primeiro mundo e se concentrar na educação básica. Naquele momento da história do país, os investimentos na expansão das universidades públicas ficaram, praticamente, estagnados com apenas 3,2% do Produto Interno Bruto colocados em toda a educação, do ensino básico até o superior. 
 
O aumento proporcional de recursos para a educação em relação ao PIB só volta a aumentar a partir do governo Lula alcançando, em 2015, 5,6%. Nesse período aconteceu também outra conquista para o setor que foi a aprovação do Plano Nacional da Educação (PNE) com metas claras para superar os déficits da educação básica ao ensino superior estabelecendo um aumento gradativo dos investimentos até chegar a 10% do PIB com recursos que seriam garantidos com a exploração do pré-sal nos anos seguintes. 
 
Entretanto, com o golpe parlamentar que destituiu Dilma Rousseff do poder, em maio de 2016, veio junto o fim do PNE que passou a ser impraticável a partir da aprovação da chamada PEC do Teto que congelou por gastos públicos com saúde e educação pelos próximos 20 anos. 
 
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Lima Neto identifica, ainda, que o modelo educacional proposto há mais de 20 anos pelo Banco Mundial volta a nortear o novo governo e isso fica claro com a reforma do Ensino Médio, realizada sem debate com a ampla maioria dos especialista do setor e nos recentes artigos da Secretária Executiva do Ministério da Educação, Maria Helena Guimarães de Castro divulgadas em revistas e jornais de grande circulação.
 
“Nunca vivemos um ataque contra a soberania nacional tão explícito e escancarado fazendo com que até mesmo os militares concordem conosco. Veja, por exemplo, a proposta do novo governo de permitir que militares norte-americanos atuem em Alcântara [Base Militar, na região Norte]”, conclui o porta voz do IFSP.
 
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Veja a seguir dois trabalhos que analisaram os investimentos do Banco Mundial na educação brasileira, o primeiro assinado por Kátia Souza Lima, pela UFF, e o segundo por Ireni Figueiredo, pela Unioeste. 
 
E, mais abaixo, o vídeo com a a palestra de Newton Lima Neto. 
 

O Banco Mundial e a educação superior brasileira na primeira década do novo século 
 
 

OS PROJETOS FINANCIADOS PELO BANCO MUNDIAL PARA O ENSINO FUNDAMENTAL NO BRASIL 
 
A palestra de Newton Lima Neto começa a partir de 53:39 segundos 
https://www.youtube.com/watch?v=lsE_oA0IWpo?list=PL99vyy3WwlvrMUCpp4Y8VyzF5JP2z09P8&t=3221
Redação

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  1. AS UNIVERSIDADES E O ESPORTE

    Brasil cria status de “desportista-artista” apenas a uns poucos, que correm em nome de um banco, de uma empresa patrocinadora, deixando a enorme maioria da população apenas na arquibancada e na telinha da TV.

    Dinheiro de patrocínio – às vezes público – jogado no imediatismo e em pessoas específicas não melhora o nível esportivo e, por tanto, a imagem do Brasil. Se o atleta perde, é dinheiro fora. Se ganha, também é jogado o dinheiro fora, pois o sucesso é passado à comunidade nacional como um assunto individual, “meritocrático” de quem quer surgir sozinho na vida correndo ou lutando e, espera-se, no máximo, que surja mais um eventual talento individual, a cada geração.

    O sucesso esportivo de determinadas nações se explica principalmente pelo planejamento e a visão nacional e coletiva do assunto e não na aposta em determinados “cavalinhos” ou pela luta imediatista de poucas medalhas. O esporte-show, alavancado pela mídia, é baseado em ídolos individuais e milhões de fãs anônimos, estáticos, sentados frente à TV bebendo cerveja. O esporte amador e coletivo não apenas é executado por muita gente, mas também praticado massivamente em colégios e escolas, e faz parte da educação do jovem.

    Se o mesmo dinheiro hoje gasto pelo poder público em patrocínios individuais da Caixa, Petrobrás e do BB, entre outros, fosse canalizado para as universidades federais, poderiam ser construídos centros esportivos, com estádios, piscinas, quadras, etc., campeonatos universitários – em nível nacional – amadores, em dezenas de atividades “olímpicas”, caça de talentos pelas próprias universidades dentro dos colégios e escolas da região, incentivos e becas de estudo aos bons esportistas da comunidade, associando esporte, nação e educação numa única equação.

    As universidades federais teriam que contar com Departamento de Esportes, além da carreira de Educação Física, para administrar e desenvolver atividades esportivas (campeonatos mirins regionais, com finais nacionais) nos colégios e escolas da região, assim como a formação de monitores esportivos.

    Acredito que um campeonato feminino de futebol universitário, e de outros esportes, geraria a base e o interesse das gerações em determinados modalidades, para aí sim, passarem ao “profissional” se o ambiente profissional o permitir ou desejar. Vejam, no caso atual, como a geração da Marta desaparece gradativamente sem ter conseguido levar esta modalidade para sua prática ao longo do país.

    Esportes amadores sem FIFA nem CBF, sem cartolas, mas com juventude sadia. Com as universidades chegando a todas as escolas e colégios da sua respectiva área de ação, até a raiz do inicio da formação cívica e física de cada pequeno brasileiro que nasce a cada dia.  Deste modo o Estado atua como indutor e trabalha no aspecto amador do esporte, que tantas satisfações têm dado a muitos países, inclusive nos EUA, onde o ambiente universitário dá cobertura a todos estes esportes.

  2. discutir?

    Discutir? O que fizemos desde 1979, ano da volta de pseudo-perseguidos políticos ao país? Incapacitados e incompetentes não conseguiram trazer de volta o Ensino e Educação Pública que existia até o início dos anos de 1970. Peguem livros e matérias daquela época e dêem para alunos de hoje em dia. Não compreenderão nem 10% do conteúdo ensinado. Perdemos 40 anos em Academicismos e Ilusões. O Ensino Público foi jogado na latrina em 40 anos de esquerdopatas, muitos vindos de Escolas e Universidades Públicas. Agora é que temos que discutir? O Brasil é surreal !!  

  3. Alguém leu o texto do Banco Mundial?
    Em nenhum momento o texto do Banco Mundial diz que os países de terceiro mundo deveriam abrir mão de P&D; a proposta do Banco é que, antes de aumentar os recursos disponíveis, seria importante melhorar a qualidade do que já é gasto – fato que qualquer um que analise os projetos financiados pelo FNDCT vai concordar plenamente.

    Ironicamente, o texto do Banco apresenta propostas que foram na prática implantadas no governo Lula, tais como o ProUni e o Fies.

    Determinados setores da esquerda precisam parar de colocar a culpa de todos os problemas nos espantalhos usuais (como o Banco Mundial) e apresentarem propostas concretas, que não se resumam a gastar mais dinheiro (que vai sair de onde?), para elevar o nível da educação e da pesquisa no Brasil.

  4. Esperar o que de FHC? O sociólogo que não entende de povo

    Subiu e se elegeu como ministro da economia e quebrou o país várias vezes. Dotô poucas vezes homenageado, morre de ciúmes de um outro, pouco escolado, por várias vezes doutorado. Traira com a própria esposa, como não trairia o povo?

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