Mais qualificadas, mulheres ainda recebem menos que homens

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Do Fato Online

As mulheres são maioria nas escolas, universidades, cursos de qualificação, mas ainda recebem menos do que os homens para desempenhar as mesmas atividades, e estão mais sujeitas a trabalhos com menor remuneração e condições mais precárias.

Das mulheres ocupadas com 16 anos ou mais de idade, 18,8% possuíam ensino superior completo, enquanto para homens, na mesma categoria, este percentual é de 11%, apontam dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílio (Pnad) de 2014, realizada pela Fundação Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). A pesquisa indica ainda que as mulheres são maioria para ensino médio completo ou superior incompleto: 39,1% das mulheres se enquadram nesta categoria, contra 33,5% dos homens.

Mas não só a escolaridade é maior entre as mulheres no mundo do trabalho. Elas também são maioria nos cursos de qualificação de mão de obra, indicam os dados do Plano Nacional de Qualificação, do Ministério do Trabalho e Previdência Social (MTPS). De 2003 e 2012, dos 1,8 milhão de alunos e alunas dos cursos de qualificação, 713 mil eram mulheres, o que corresponde a mais de 60% do total.

Para as mulheres, no entanto, uma maior escolaridade e presença nos cursos de qualificação não se traduz em maiores rendimentos e, essa diferença se amplia conforme aumenta a escolarização. As mulheres com cinco a oito anos de estudo receberam por hora, em média, R$ 7,15 e os homens, com a mesma escolaridade, R$ 9,44, uma diferença de R$ 24%. Para 12 anos de estudo ou mais, esta diferença na remuneração vai a 33,9%, com R$ 22,31 para mulheres e R$ 33,75 para homens.

 “Os estudos apontam que as mulheres têm mais escolaridade que os homens, mais isso não tem sido determinante para que ela possa entrar em setores mais qualificados e, mesmo ela estando nesses setores, ela recebe menos e não é valorizado o seu grau de instrução”, afirma Rosane da Silva, coordenadora do Núcleo de Gênero do MTPS.

 No entanto, apesar desta diferenciação por gênero ainda existir no mercado de trabalho brasileiro, as mulheres vêm conquistando avanços e espaços e diminuindo, ainda que lentamente, a diferença entre salários e rendimentos. Em 2004, ainda segundo dados da Pnad, a diferença da remuneração por hora entre homens e mulheres foi, em média, de 38,53% para trabalhadoras com 12 anos de estudo ou mais.

 A busca por diminuir essa diferença é contínua, e envolve o fortalecimento de políticas públicas que estimulem a igualdade de gênero no mercado de trabalho, além de exemplos individuais de superação, qualificação e avanços. Este é o caso da empresária Zeli D’Ambros, de Caxias do Sul, no Rio Grande do Sul. Filha mais nova de uma família de agricultores de nove irmãos, saiu do interior do estado com 13 anos para trabalhar e estudar em Caxias, segunda maior cidade do estado. Entrou no mundo do trabalho cuidando de crianças, e estudando para concluir o segundo grau. Depois, trabalhou em uma malharia, onde passou por diversas funções até ser contratada por uma empresa de logística, na qual chegou ao cargo de gerente, mas não conseguia ser promovida.

 “Não importava o que eu fizesse, houve três oportunidades de promoção, e sempre traziam um homem para a vaga de direção”, lembra Zeli, acrescentando: “nas empresas que visito vejo muitas mulheres gerentes, mas poucas diretoras. Hoje 51% das micro e pequenas empresas de Caxias são lideradas por mulheres. Fico pensando se não é porque as mulheres não são reconhecidas para cargos de direção, e acabam saindo para se tornarem donas da própria empresa”, conta Zeli.

 A persistência, aliada a estudos e disposição para encarar cursos noturnos de graduação e pós-graduação levaram Zeli a se tornar dona de uma das subsidiárias da empresa de logística, e, posteriormente, a abrir o próprio negócio. “Existe uma barreira, e parece que a mulher tem que estar o tempo todo provando sua capacidade, e se fazer reconhecida. Mas eu acho que a competência não está em uma calça ou uma saia. A competência está em se qualificar e ver que, independente de gênero, as capacidades são iguais”, pondera a empresária.

Hoje a empresa de Zeli gera trinta e cinco empregos diretos e indiretos, e muitos dos empregados são homens.

Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

1 Comentário

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  1. O fato de as mulheres serem

    O fato de as mulheres serem mais escolarizadas que os homens denota um sexismo favorável às mulheres.

    De fato, se a premissa é que homens e mulheres são igualmente capazes, era de se esperar uma relação também igualitária na escolarização.

    O que ocorre é que nas famílias de baixa renda são os meninos que são escolhidos para garantir uma fonte de renda adicional, quando necessário. As meninas podem continuar estudando.

    E é exatamente na baixa renda que essa diferença aparece. Nas famílias mais ricas, os resultados são mais próximos, pois os meninos não são empurrado para o mercado de trabalho com 12 anos.

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