O atentado de Berlim para justificar a criminalização dos refugiados

Patricia Faermann
Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.
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Jornal GGN – Grande receptora de imigrantes e de portas abertas àqueles “não-alemães” que necessitaram de proteção desde o fim do nazismo que recaiu sobre o país, as resistentes políticas aos refugiados sírios, árabes e muçulmanos não foram tão fáceis quanto aparentavam. Em paralelo ao aumento da chegada desses imigrantes na Alemanha, cresceram também os crimes racistas, sobretudo por grupos de extrema-direita. E o atentado em Berlim, na noite desta segunda-feira (19), deve endurecer ainda mais essa “receptividade”. 
 
Em agosto de 2015, o GGN publicava que a Alemanha, como um dos principais países de abrigo de refugiados, chegava ao recorde de 750 mil pedidos de asilo. E as estatísticas também apresentavam que, naquele período, os crimes xenofóbicos aumentavam 40% na região Leste do país.
 
Ataques contra imigrantes ou contra cidadãos de origem estrangeira chegaram, em 2013, a 43 crimes xenofóbicos no Leste da Alemanha. E se os dados foram catalogados até o ano de 2014, os jornais registraram que, em 2015, os alvos dos diversos incêndios eram as casas ou abrigos para refugiados.
 
Em julho daquele ano, um campo de acolhimento da Cruz Vermelha, em Dresden (no Leste), que abrigava 800 refugiados sírios, foi atacado com fogo. O levantamento é alarmante, chegando ao triste cálculo de que, no ano passado, praticamente não houve um dia na Alemanha sem o registro de algum incidente envolvendo refugiados.
 
Nesse cenário, a violência xenofóbica tornou-se mais evidente com a popularidade do movimento anti-islâmico Pegida, criado na região, que chegou a reunir 250 mil manifestantes no início de 2015. No momento de maior número de pedidos de asilo desde 1995, a polícia apontou que pelo menos 85% dos crimes foram cometidos por grupos de extrema direita.
 
Desde esta segunda (19), o que a violência na prática se mostra pelos números também foi representada pelos noticiários, não só alemães, como de todo o mundo. Na Espanha, já foram duas imediatas manifestações
 
A vice-secretária de Estudos e Programas do Partido Popular (PP), Andrea Levy, criminalizou toda a civilização islâmica pelo atentado. Para ela, o caso em Berlim esconde “um choque de civilizações, onde estão dispostos a perder suas vidas pela defesa de umas ideias”. “E isso, na Europa, não estávamos acostumados, porque defendíamos nossas ideias desde o diálogo e observamos que tem uma outra civilização do outro lado do Mediterrâneo que está colocando em dúvida essa maneira de agir e o que querem é impor sua escala de valores mediante o terror e a força”. 
 
Da mesma forma, a deputada do PP de “Castilla-La Mancha”, Lola Merino, foi mais direta no preconceito e generalização do caso como de responsabilidade das políticas de abertura da Alemanha para os refugiados. Ao compartilhar nas redes sociais a notícia de que foram nove mortos e dezenas de feridos em Berlim, fez a pergunta: “Refugiados, sejam bem vindos?”.
 
Aqui, no Brasil, o apresentador do programa Bom Dia Brasil, Chico Pinheiro, da rede Globo, também não teve cautela ao se posicionar, logo após a reportagem noticiando o atentado na Alemanha por um suposto terrorista. O jornalista afirmou que a cena era resultado da postura da chanceler Angela Merkel, “reconhecida por suas políticas protecionistas aos refugiados”.
 
 
O preconceito, não só pela extrema-direita alemã que está utilizando, nos últimos dias, o chocante atentado para justificar a criminalização do refúgio, poderá provocar uma reação de maior endurecimento à chegada de novos imigrantes que necessitam de proteção.
 
“Caso realmente o autor seja um refugiado que entrou no país no ano passado, quando a Alemanha abriu as fronteiras de forma tão generosa como incontrolada, então a política de refugiados da chanceler vai enfrentar severas críticas”, publicou o editor-chefe da DW, Alexander Kudascheff. 
 
“Aí a simpatia da sociedade para com  os necessitados estará desgastada ao máximo. Aí, também na Alemanha, o triunfo do pensamento nacionalista e egoísta de direita celebrará mais do que apenas sucessos passageiros. Aí a sociedade tolerante vai se fechar. Aí o clima político do país vai se petrificar. Aí a liberdade estará ameaçada a partir de dentro”, concluiu.
 
Patricia Faermann

Jornalista, pós-graduada em Estudos Internacionais pela Universidade do Chile, repórter de Política, Justiça e América Latina do GGN há 10 anos.

5 Comentários

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  1. No mundo a cristiofobia é

    No mundo a cristiofobia é muitas vezes mais letal do que a islamafobia.

    E não se trata de criminalizar os refugiados.

    A casa é deles, alemães, e eles tem o pleno direito de deixar entrar quem eles quiserem no seu país. E tem também o pleno direito de expulsar também.

    Quando você empurra um pendulo para um lado, mais que que você pode segurarr, ele volta contra você e te carrega junto.

     

  2. No mundo a cristiofobia é

    No mundo a cristiofobia é muitas vezes mais letal do que a islamafobia.

    E não se trata de criminalizar os refugiados.

    A casa é deles, alemães, e eles tem o pleno direito de deixar entrar quem eles quiserem no seu país. E tem também o pleno direito de expulsar também.

    Quando você empurra um pendulo para um lado, mais que que você pode segurarr, ele volta contra você e te carrega junto.

     

  3. “E isso, na Europa, não

    “E isso, na Europa, não estávamos acostumados, porque defendíamos nossas ideias desde o diálogo e observamos que tem uma outra civilização do outro lado do Mediterrâneo que está colocando em dúvida essa maneira de agir e o que querem é impor sua escala de valores mediante o terror e a força”.

    Andrea Davy deve ter estudado em escola como as que os golpistas querem implantar por aqui.Ou seja não se estuda história, não se lê nada. Porque ter a desfaçatez de dizer que a Europa nunca impôs seus pontos de vista é no mínimo muita ignorância. Se fosse europeia estaria ofendida e a processaria por ofensa pessoal. Mesmo que não desse em nada só como estratégia  de luta. Só para ‘causar’

     E olha que ela é vice-secretária de Estudos e Programas do Partido Popular (PP).

  4. Terror americano

    É o que eu disse, aqui, o que acontecerá, no Brasil, através de mercenários: a provocação de mortes e atentados para matar alguns manifestantes e participantes de passeatas de esquerda, quando as polícias não derem mais conta de conter a turba. PSDB é a mão, no Brasil, do entreguismo e terrorismo perpetrados pela política americana.

    A terceira fase é sumir com os alimentos através de boicotes (até a sua queima como na Venezuela) e deixar a população desesperada, como ocorreu na URSS, Líbia, Síria, Iêmen e todos os outros que os senhores já sabem….

     “Sorry, periferia.”

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