O direito feminino de opinar e decidir, por Cristiane Alves

O direito feminino de opinar e decidir

por Cristiane Alves

Em face do grande passo dado por nossos vizinhos argentinos em relação ao direito feminino de opinar e decidir quais caminhos tomar frente a uma gravidez, sendo eu mulher e mãe, gostaria de deixar uma breve e despretensiosa consideração.

Diante da conquista das mulheres argentinas, melhor, conquista da sociedade argentina, pessoas inteligentes e sensíveis manifestaram alegria e esperança. Por outro lado muitos homens e mulheres insistem em condenar a descriminalização do aborto como a tratar-se de incentivo ao assassinato. Muitos dentre os quais ávidos apoiadores da pena de morte, prisão perpétua e tortura. Defendem que a vida é mais importante para quem não viveu do que para os que viveram em dificuldades.

 
Não sou das que acreditam que homens não devam contribuir para discussão do direito ao aborto, do mesmo modo que defendo que mulheres inférteis também possam opinar.
 
Creio, no entanto, que a mulher seja protagonista em sua própria vida.
 
Enquanto olhamos nossos vizinhos rumarem ao futuro de forma progressista, somos assolados pela notícia da autorização de uma esterilização irreversível de uma mulher em situação de rua, no Brasil. Jurisprudência aplaudida pelos que crêem que a pobreza é culpada por sua própria existência. É como se houvesse uma escala de humanidade proporcional ao poder aquisitivo de cada pessoa. Mutilar o miserável não causa aversão, uma vez que nada possuiu. Tornamo-nos coisas se não as temos. O desmilagre do materialismo.
 
A pergunta que muitos fazem é: Qual a vantagem de abortar? Rica pergunta pois não se encerra em si.
 
Primeiro, penso, vantagem não é vocábulo aceitável sempre, nem tudo que é necessário é vantajoso, nem tudo vem com bônus. Por vezes algumas perdas são necessárias, embora tragam dor. Segundo que não, não há vantagem, ao contrário do que pensam os insensíveis hiper sensibilizados, os quais provavelmente nunca terão que decidir por gestar até o fim ou interromper uma gestação que ocorre seu corpo.
 
Costumamos dizer que somos o espermatozóide que deu certo, não somos. Somos o óvulo fecundado que ficou. Não somos só sorte, somos uma escolha.
 
Um dia ouvi de uma outra professora que a menstruação era uma dádiva pois somente as mulheres têm esse “dom”. Tentei tirar uma lição disso, uma moral (coisa de gente que foi educada durante a ditadura militar).
 
Na verdade ainda estou tentando. Menstruar é coisa de mulher e tenho certeza que os homens agradecem, a Quem possa, por ser exatamente assim, mas existem mulheres que acham vantagem em excretar algo que homens não excretam. Por qual motivo pessoas ainda tentam discutir hegemonia biológica? Onde expelir o que o corpo não precisa é préstimo? Talvez venha desse mesmo endereço o ideário da maternidade ou da paternidade. Algo que somente mulheres ou somente homens podem.
 
Mas se a questão é competir queria entender como estabelecer uma disputa onde os adversários estão em modalidades distintas? Como estabelecer comparação de proficiência entre máquinas com funções diferentes? Um trator pode ser comparado em eficiência à uma colheitadeira? Dizer que apenas mulheres procriam é imputar muita responsabilidade ao feminino e total liberdade ao masculino. Procriar, gestar, engravidar é ação conjunta, precisamos ensinar isso às nossas crianças.
 
Existe democracia biológica, precisamos aceitar. A mãe não é importante porque tem útero. Maternidade é algo maior que isso. É uma relação metafísica que liga duas pessoas em algo maior do que nascer, um elo de pertencimento mútuo, de completar-se e completar.
 
A mim é inconcebível pensar que pessoas defendam o aborto. Mulheres não sentem prazer em abortar. Mulheres e homens sentem prazer. Mulheres nem sempre sentem prazer. Mulheres nem sempre sentem prazer em engravidar, sobretudo porque esse momento que é biologicamente conjunto, na maioria das vezes, é psicológica e socialmente individualizado.
 
Na gravidez a mulher é abortada e surge a mãe. O homem vira pai apenas depois do parto ou do exame de paternidade, mas nem sempre. Não somos educados para o estado gravídico, apenas engravidamos e parimos.
 
Nem todos nascemos afeitos ao materno e ao paterno. Nem sempre fazemos sexo por amor à procriação. Nem sempre fazemos sexo por amor. E mesmo quando amamos nem sempre fazemos sexo porque queremos. Revolta ouvir que mulheres “abrem as pernas” e depois querem fazer aborto. Mulheres e homens fazem sexo pensando em sexo, não em fraldas descartáveis e febre repentina. Mulheres são violentadas na rua ou em casa, por estranhos, parentes, amigos e cônjuges. Mulheres ficam com o ônus daquilo que não escolheram.
 
Nenhum humanista defende o aborto, a defesa é pelo direito de escolha. Impossível que somente homens possam escolher. Privilegiar a maternidade biológica à maternidade emocional é abortar. Acreditar que amor e cuidado formam um combo mágico com a maternidade é mistura de mal com atraso com pitadas de psicopatia. 
 
O dia que aceitarmos a concepção como responsabilidade mútua caminharemos para a transformação de uma sociedade mais justa. De todo jeito é importante frisar que assim como o direito de dirigir aos 18 anos não obriga todo indivíduo a dirigir; o direito de homossexuais se casarem não aumenta a população homossexual, nem faz com que todos se casem; o fato de álcool e cigarros serem permitidos não faz com que todos bebam ou fumem; o direito que temos de estudar não nos obriga a sermos aplicados estudantes; do mesmo modo, poder decidir por manter uma gestação ou não será exatamente isso, um direito. Um pouco mais, talvez uma conquista de uma fração a mais do território expropriado de nós mesmas.

 

Cristiane Alves

4 Comentários

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  1. BIPOLARIDADE É POUCO !!!!

    O Inacreditável é que Esquerdopatas se dizem contra a Pena de Morte, quando um crápula, adulto, pleno de suas faculdades mentais comete uma barbarie hedionda (ou matar estrangulada uma criança, uma menina de 12 anos, passeando de patins, tem a ver com a condição social do desprestigiado?) Mas aceitam matar uma Vida Inocente? É surreal !! É muita Bipolaridade !! Deveriam dar todas as condições possíveis para esta Mulher conviver com sua gravidez. E depois de alguns meses, decidir pela adoção do seu filho, se assim quisesse (Licença Maternidade já foi algo inimaginável. Em alguns países, hoje passa de 1 ano). Sou totalmente contra o Aborto. Mas totalmente favorável que não existam Leis que restrinjam a escolha da Mulher, em fazer o que bem entender.   

    1. Palavra

      Quando usou a palavra “ esquerdopata” desqualificou toda a argumentação, seja ela qual for. Quem quer discutir ideias precisa respeitar para ser respeitado. Sem mais. 

  2. Aprenda a ler
    Caro Zé,

    Não por qualquer estima, que não lhe tenho nenhuma. Gostaria de sugerir que aprenda a ler, no minimo, pois que escrever também faz-se necessário. Mas comece pelo princípio.
    Esquerdopata é tudo que você excreta. Poderia ser pouco mais original e valer-se do bom argumento.
    Nunca te resondi e, provavelmente,numa mais o farei. Porquanto acho tua opinião irrelevante.
    Se você fosse capaz de ler, provavelmente veria que foi citado no texto.
    Você está entre os que preservam a gestação do filho do estupro, mas apoia o assassinato do pai e acredita que a culpa é da mãe.
    Você é hipócrita. Hipocrisia fede.
    Outra coisa importante, aprenda sobre bipolaridade, pelo menos mitigaria o combo de idiotias.

    1. BIPOLARIDADE ESQUERDOPATA: 88 ANOS DE ATRASO

      Cara sra. Cristiane

      Sua opinião a meu respeito pouco importa. Importante são seus artigos e seus argumentos. Importante é a discussão. É a troca de idéias permitida pelos Articulistas e este veículo. Algo a cada dia mais raro na Imprensa Tupiniquim, principalmente por aqueles que creem que tem o Monopólio da Verdade baseados em Fanatismo Ideológico. Entendi seus argumentos e foram bastante liberais. Os meus também. Talvez Analfabetismo Funcional explique porque alguns lêem certos textos e não os compreendem. Continua com os mesmos argumentos. Condenando o Inocente pela culpa dos Adultos e consequências dos seus atos. Democracia Soberana,  Liberal e Facultativa é uma excepcional e insubstituível via para direcionar tais politicas e dirimir quaisquer dúvidas sobre a soberana vontade da Nação. Esquerdopatas atrasam e impedem tal Liberdade há 88 anos. Código Civil Fascista que não foi alterado durante todo este período, mesmo sob a vigência de Constituição Cidadã ou Governos pseudo-progressistas de Jango, FHC, Lula e Dilma talvez revele o pensamento ditatorial de nossas Elites. Intelectuais, Socialistas e Progressistas. Obrigado por me ouvir (ler) e por responder. Apesar de separados, estamos caminhando para o mesmo rumo. abs.     

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