Limite do humorismo como transformação da realidade, de Cesar Monatti

A grande comoção provocada pela chacina deste início de ano na Europa deve, no mínimo, gerar reflexões profundas, que evitem a consagração e a disseminação de visões simplistas a respeito de fenômenos sociais de grande complexidade e alcance.

São inadmissíveis quaisquer argumentações que apontem a culpabilização das vítimas do atentado de Paris por seus próprios homicídios, bem como aquelas de outras tantas situações de violência frequentes no mundo contemporâneo, tais como o estupro.

Não há justificativas para tais atos que devolvem a humanidade aos tempos da barbárie, às condições de pré-consciência da alteridade como elemento constituinte do conceito de civilização.

Um dos possíveis questionamentos que se erguem neste momento é qual o limite de atuação do humorismo no mundo do século XXI. A pretensão de que qualquer forma particular do pensamento humano, incluindo as poderosas ciência e religião, possa dar conta individualmente dos dilemas humanos atuais é intelectualmente ingênua e muito perigosa.

Quando essa expectativa se amplia para uma forma peculiar do pensamento criativo de arte, tal como a literatura ou o humorismo, a indicada pretensão se torna ainda mais débil e arriscada.

Artistas em geral – cartunistas e escritores, por exemplo – são seres humanos como todos os outros, embora a força do papel social de cada uma dessas categorias profissionais induza a uma supervalorização de suas habilidades específicas. Dessa forma, é preciso admitir-se que é a política a construção do intelecto humano que reúne as diversificadas vertentes de pensamento detentoras da potência transformadora da realidade.

O humor como expressão estética e discursiva pode ser parte da política, mas será, sempre, apenas parte.

Pretender que ele possa enfrentar de forma auto-suficiente a postura tresloucada de extremistas, num ambiente virtualmente incontrolável de manifestações e virulência irracional minoritária é assumir riscos incomensuráveis que, no caso da tragédia em evidência, foi antecipada numa charge política, há três anos, como suicídio, por um colega de mister dos quatro assassinados mais reconhecidos profissionalmente entre os doze mortos.

O humor é necessário, mas insuficiente para deter a demência que projeta no outro as razões do drama existencial que deveria unificar na compaixão todos os seres humanos.

47 Comentários

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

  1. Sou totalmente favorável a

    Sou totalmente favorável a liberdade de expressão, mas o limite, a não invasão do espaço do outro, tem que ser respeitado. Isso é  da democracia. O ocidente tem pegado pesado com o islamismo e, com isso, gerado a radicalidade dos atos dos extremistas. Por que questionar maomé se a resposta é sempre a violência? Cada religião com seu deus e ponto final. O ocidente tem que parar com essa mania RADICAL de se achar absoluto, dono da verdade absoluta. Estou  chocada com o terrorismo que avança, tambem,  pela intolerância e incentivo do ocidente. Cada país tem seus problemas, seus deuses, seus demônios, sua cultura, sua verdade. Religião é algo muito intrínseco, muito pessoal, muito cultural.

    1. Charlie Hebdo é “o ocidente”? E vc tá defendendo a censura?

      Nao se pode criticar religioes, é isso? Ou a todos os grupos que possam fazer atos terroristas em revanche? Deve-se ceder à chantagem? 

      A nao invasao do espaço do outro é exatamente nao pretender impor aos outros as suas crenças. Nenhuma religiao, como nenhum outro sistema de pensamento, está acima de críticas e da possibilidade de ser satirizado. 

  2. Permita-me pegar carona no

    Permita-me pegar carona no seu bom texto.

    O nó está em O humor é necessário em todos os campos, uma vez que nós, humanos, somos risíveis em nossas psiques. Mas realmente insuficiente para deter a demência dos que preconizam que seus dogmas religiosos são as únicas verdades absolutas. Alguem disse que o “politicamente correto” ia dar nisso … 

  3. Todo assassinato é uma coisa

    Todo assassinato é uma coisa estúpida. Uma chacina como essa, idem. Temo que a coisa só venha a piorar.

    A liberdade de um termina no ponto em que começa a do outro. Essa é uma formulação de conteúdo kantiano que todos já ouviram.

    Cresceu muito nas últimas décadas uma deformação que se pretende liberal que ignora que para a própria garantia da liberdade uma parcela dessa precisa ser renunciada pelos indivíduos, caso contrário pernanecemos no estado de guerra de todos contra todos, conforme Hobbes já o demonstrou há séculos. A vida civilizada se torna impossível se todos e cada um se orienta como quem têm Diireito a tudo. A própria vida permanece em constante risco (“e a vida do homem é solitária, miserável, sórdida, brutal e curta”)

    Hannah Arendt assinalou: “a política é a iberdade, e Hobbes enxergou isso”.

    Mas não se faz política sem respeito mínimo ao outro (Levinas). Uma coisa é um cristão satirizar ou injuriar um membro ou um símbolo da comunidade cristã. Se entre esses membros ninguém se sente injuriado, o problema inexiste.

    Outra muito diferente é fazê-lo com um membro ou um símbolo de outra comunidade. Sobretudo quando esse outro tanto pediu por respeito…

    Não é justificável mas é perfeitamente explicável porque chegou-se ao ponto de surgirem extremistas para cometer um ato desses. Sobretudo num momento em que a islamofobia cresce na europa lado a lado com o fascismo

    Temo que a coisa só venha a piorar, repito.

    É a marcha da insensatez. Os fatos se precipitam em velocidade e modo incontroláveis…

    E ainda tem gente que fomenta isso.

  4. 2 Pesos 2 Medidas

    Impressão minha ou eu li “Não é justificável mas é perfeitamente explicável” ????????? Quando àquela jornalista que comentava no SBT disse estas mesmas palavras em relação ao tratamento dado pelos justiceiros ao menor trombadinha no Rio de Janeiro, uma parte da opinião da pública veio abaixo em um único coro denunciar o racismo e o incentivo a violência e tal e tal da jornalista, agora em uma situação muito pior, um massacre perpetrado por radicais é possível compreender? Ora bolas, vão catar coquinho.

    1. … E ela só colaborou para

      … E ela só colaborou para piorar com o discurso “a´polícia não faz nada, o “cidadão” faz por conta própria”

      Não consta que ela tenha condenado o ato dos “justiceiros” – que mais adiante, ficou-se sabendo, eram um bando de traficantes “de classe mééédia”.

      A aparente “explicação” dela além de não explicar nada, porque não passou nem perto de apontar as causas do problema, não passou de uma justificação dissimulada.

      Não venha comparar o que não tem compararção. Não estou fazendo defesa nenhuma da chacina e repito mais uma vez: a coisa só tende a piorar com esse tipo de atitude. Num caso sabe-se o que fazer e há inclusive uma agencia estatal para isso. O que um cidadão civilizado deve fazer é defender que as instituições funcionem.

      No outro caso, muito pior mesmo, levanta-se a bandeira em nome da civilização exatamente acima da moral e da civilidade sem que haja instituições reconhecidas pelas partes que sejam capazes de dirimir o conflito. O diálogo interreligioso está avançando muito pouco apesar dos esforços das principais lideranças.

      Repetindo: num caso há instituições que existem e que foram ignoradas. Noutro não há sequer instituições recnhecidas em comum. É isso que alguns chamam de “choque de civilizações” (Huntington). É ai que a moral e a verdadeira civilidade devem sobressair, e não deformações de “justiceiros” que se igualam na desumanidade em nome de uma vulgata de liberdade.

      “Homo sum, humani nihil a me alienum puto”

      Você recomendou “catar coquinho”, eu recomento parar de provocaçãozinha infantil, moderar sua linguagem e ler com mais atenção e respeito as mensagens allheias. Isso também é sinal de civilidade.

      1. Faltou acrescentar que sua

        Faltou acrescentar que sua comparação só demonstra mais uma vez como são percebidos os pobres, negros e desassistidos em geral: como o OUTRO, que não é reconhecido como um semelhante. Tampouco como um igual em humanidade.

        … E ainda vem falar de civilidade…

      2. No caso, ninguém precisa “dirimir” conflito nenhum

        Que cada religiao siga seus preceitos e nao tente se impor sobre outros. Se faz isso e é criticada, mesmo satirizada, que satirize de volta, se quiser, mas nao saia matando por aí. Nao se pode impedir que pessoas critiquem e satirizem ideias que para algumas religioes sao sagradas (por ex., que mulheres tenham que cobrir a cabeça, que ninguém possa beber, etc.) mas que para os críticos sao absurdas. Ninguém tem que respeitar preceitos alheios, a nao ser num sentido muiiiito genérico do verbo respeitar (nao se pode queimar mesquitas, nem chutar santas, nem invadir terreiros de macumba, etc., claro; mas isso nao quer dizer que nao se possa fazer humor contra religioes). 

        Nao tem que haver diálogo entre religioes. Apenas que cada uma fique na sua e nao tente se impor sobre os crentes das outras ou sobre os nao crentes. 

        1. Fazer o quê com os conflitos,

          Fazer o quê com os conflitos, então?

          Se não forem dirimidos tudo mais que você mencionou é só teoria.

          Defendo que que é possivel o diálogo, sim. E saúdo que eleesteja acontcendo por mais que não seja divulgado. As religiões são diferentes mas todos são humanos.

          E não venha alguém dizer que estou defendendo diálogo com intolerantes. Não. Isso não tem nada a ver com religião, com política ou sociabilidade.

          1. Nao tem que ter conflitos, para começar

            Só existem conflitos RELIGIOSOS (há outros conflitos, claro, mas que só aparentemente sao religiosos) porque as religioes querem se meter com questoes que nao dizem respeito só aos seus crentes. Se cada uma ficasse na sua nao existiriam conflitos, existiriam apenas diferenças, e cada grupo seguiria o que achasse melhor, desde que nao ferisse a lei. 

            Que diálogo vc queria que houvesse? Que fossem aproximados os preceitos de cada uma? É a coisa mais impossível do mundo, e mesmo indesejável. Cada um com seu cada qual. Aliás, pela minha preferência pessoal, todo mundo sem nenhuma delas. Isso é impossível, claro, como é impossível a concordância entre elas. 

            Quanto aos outros conflitos, é ainda mais impossível resolvê-los com “diálogo”. O que há sao interesses geopolíticos em jogo, e as forças em causa nao dao a mínima para “argumentos”. 

          2. “Que diálogo vc queria que

            “Que diálogo vc queria que houvesse?”

            Que somos todos iguais em humanidade. homo sum…

          3. E precisa d q diálogo p/ isso? Somos mesmo todos =s em humani//

            Por menos que fanáticos concordem com isso. Mas fanáticos sao minoritários até entre religiosos. Só que fazem muito barulho. E querer argumentar com fanáticos é o mesmo que argumentar com Leônidas, por ex., perda de tempo total e absoluta.  

            E voltando ao contexto de Charlie, a revista nunca disse ou insinuou que muçulmanos fossem inferiores a membros de qualquer outra religiao, nunca negou a humanidade de ninguém. Inclusive era importante na luta anti-racista. O que ela fazia era reagir ao conservadorismo e obscurantismo de todas as religioes. 

          4. Sim, sou da opinião que

            Sim, sou da opinião que precisa de diálogo pra isso. É pedagógico.

            Aqui no Rio há alguns anos ocorre a marcha pela liberdade e tolerância religiosa (acho que o nome é esse). Inclusive ouvi falar que estão se movimentando por causa desse episódio.

            Ela surgiu em um contexto muito complicado. Até hoje há notícias de templos de religiões afrobrasileiras que são turbados por evangélicos, por exemplo… O diálogo ajuda a isolar esses fanáticos.

            Eu já tinha mencionado que com intolerantes não tem jeito. Mas também não é o caso de ficar provocando. É isso que eles querem; é só disso que se alimentam.

          5. Se os intolerants nao aceotam o diálogo, como est resolverá alg?

            O diálogo só acontece entre os que nao sao os responsáveis pelos atos de intolerância, e nao atinge em nada os intolerantes. Portanto nao adianta. E nao se deve fazer ou deixar de fazer nada em funçao do que intolerantes pensam, ou estaremos dando a eles o poder de decisao sobre os outros. 

            Acho que concordamos no essencial, Lucinei, apenas nao nas táticas de conduta em relaçao à intolerância. 

  5. Entendo o ponto do

    Entendo o ponto do articulista. Em certo sentido foi um “suicídio”. É uma temeridade querer defender a liberdade do homem diante de seres que não a querem para si nem para os outros, e pior, a vêem como ameaça ao que dá significado a suas vidas miseráveis.

    No entanto, o tipo de humor a que se dedicavam não permite consessões. Eram sem dúvida idealistas. Talvez se sentissem fazendo jus aos pioneiros do cartum político, que não temiam o poder e a intolerância. Da mesma França, que foi berço dos mais importantes, que se destacaram no período pré-revolução francesa. Alguns perseguiods, presos e mortos

    Talvez considerassem que a arte deles só faria sentido se desafiasse a ignorância. De forma radical. A ignorância foi realmente desafiada, e manifestou-se em toda sua boçalidade. Eu prefereria que tivessem tido mais prudência, mas admito que essa palavra não agrada esse tipo de artista. Agora só resta respeitar a memória deles.

  6. Um resumo

    Quer fazer piadinha?

    Faça COM A SUA TURMA.

    Fazer piada com a turma DOS OUTROS PODE TERMINAR MAL

    Todos gostam de RESPEITO.

    E há violentos que se descontrolam, infelizmente.

    Por isso mesmo, CUIDADO.

    Faça piadinha com sua mãe,  seu pai, suas crenças,  seus deuses, suas verdades, suas qualidades, suas características. 

    Rir dos outros sempre foi perigoso e cada dia pode ser ainda mais perigoso.

    1. Desde q a “outra turma” nao queira me dizer o q posso fazer

      Porque a questao é essa. As religioes — nao só o islamismo — querem impedir direitos sociais, se meter na vida dos nao crentes, mas acham que nao podem ser criticadas. Se metem no casamento homossexual, já se meteram no divórcio, se metem no aborto, se metem no direito ou nao das pessoas beberem, se as mulheres têm que cobrir a cabeça ou nao, etc., mas nao podem ser criticadas? Ora, ora. É mais do que preciso lutar contra o fundamentalismo religioso. 

      1. Anarquista temos que respeitar a outra turma

        No caso presente a outra turma nao mandou ninguem fazer ou nao fazer nada.

        A sociedade francesa em nada foi obrigada a nada por essa outra turma.

        E se tentassem obrigar a maneira de resistir NAO SERIA DIZENDO E ESCREVENDO E DESENHANDO QUE O LIVRO DELES, QUE ELES CREEM SAGRADO É UMA M…#$@÷

        Foi isso o que o Charles fez. Disse, escreveu, desenhou, publicou e distribuiu.

        E fez pior colocando gente sagrada de 4 e assim por diante.

        Quem procura acha. Procurou, achou. Charles não passava de um  menino mimado que achava que podia tudo. Não podia.Infelizmente descobriu essa realidade de forma trágica e radical.

        Há muitos anos participei em país árabe na África de reuniões cientificas que tinham árabes,franceses e eu brasileira. Eu vi um frances dizer o mesmo que Charles desenhou. Disse baixinho mas ouviram. Não só a reunião acabou mas ele saiu escoltado, eu envergonhada e perdemos o contrato na hora.

        Esse francês saiu corrido do país,  perdeu o emprego na França de entao. O que mudou? Os arabes? Não.  A agressividade e a prepotencia ocidental mudou. Para muito pior.

        1. Vc está mal informada…

          As charges de Charlie sobre o islamismo começaram quando um aiatolá lançou um pedido de morte para aquele escritor que escreveu Versos Satânicos. Se acharam no direito de simplesmente decretar a morte de quem nao seguia os preceitos deles. 

      2. POIS É, NAO SEI …

        O problema não é a crítica, mas COMO ela é feita. Nós, maioria de católicos,  não  entendemos bem como se sentem esses extremistas quando mexem com o seu profeta sagrado. Costumamos ser muito tolerantes e flexíveis na nossa crença, por assim dizer. Eles não. E todos sabemos disso. Infelizmente, os colegas franceses brincaram com fogo, sabendo que estavam brincando fogo. Encontraram dois loucos pela frente que não só acabaram com suas vidas, mas deixaram um país inteiro triste e amedontrado. E, além disso, inflamaram o preconceito e a hostilidade contra muçulmanos decentes que vivem lá. Hoje, apedrejaram e lançaram granadas em mesquitas na França.

        Como já disso antes, de forma alguma culpo as vítimas. Espero que encontrem e prendam para sempre os dois assassinos. Mas esse horror tem que, ao menos, servir para refletirmos além do óbvio.Como parar essa matança movido a ódio?

         

  7. Tema difícil!

    Quer parecer que só se pode falar em “liberdades”, no que se inclui a “liberdade de imprensa”, em um “mundo civilizado”. Nesse verdadeiro “balaio de gatos” em que se resume esse nosso “mundinho globalizado” resulta infrutífera qualquer discussão nesse sentido.

    E esse contexto revela que a rapaziada que se foi era muitíssimo corajosa; se certos ou errados, acho que pouco importa!

  8.  
     
    Eh…”¨&*+#*%, não! Ai é

     

     

    Eh…”¨&*+#*%, não! Ai é difente, =+***&$%….W*&, !8*)&. – O holocausto? – @?#¨&***- claro que pode, no mundo livre?…Sim…quer dizer,… se for com a mãe dos outros?…$$&* _Pois é. – #@¨%&((%@$$$,,, – Sempre foi assim….quando é no dos outros! Né? Fica bem mais fácil. !@*&%$$9% – Tu se refere a “jê Vous Salue, Marie?..$&%$. é…mais ai, não dá né?

    #&$$$ —  Tá.  Então… até o próximo!

    Orlando

     

    PS: Tava tentando convencer o cara, não sei se membro do Boko Haram ou, da Al Qaeda árabe. Sugeria para que retaliassem contra os maus-tratos que alegam sofrer dos ocidentais judaicos/cristãos, especialmente dos europeos, com charges ridicularizando os seus deuses e crenças desses senhores. Em vez de chumbo e bombas, como gostam de fazer os norte americanos.

    Ao que parece, não fui convincente.

  9. Muito bom!
    Fascistas e

    Muito bom!

    Fascistas e  oportunistas já estão se vitimizando após 

    o atentado.Não aceitar nehuma  forma de fundamentalismo

    se faz necessário, inclusive aquele que vem travestido

    de humor.O terror do pensamento único daquele que

    se considera ungido por seu deus , deuses,ou pelo nada

    absoluto abre as portas para ese tipo de tragédia.

    É a guerra do poder , onde o desrespeito e o fanatismo 

    dão as cartas.

     

     

     

  10. A incivilidade dos civilizados.

    Eu vejo todos defenderem a liberdade de imprensa ao mesmo tempo em que, de maneira paradoxal, não se furtm a apontar diversos óbices para o seu exercício. Ora, quando se pretende estabelecer critérios e limites para liberdade da livre opinião, livre imprensa então já não há mais liberdade. Quem se sentir caluniado por injúrias e/ou onfesas por periódico seja ele de qualquer origem, tem todo direito e está amparado para procurar a Justiça, exigir indenização, direito de resposta, como o próprio Nassif outrora o fiez contra àqueles por quem se sentiu lesado.

    A sátira sempre foi um instrumento de denúncia da tirania, da opressão dos opedorosos e o jornal francês, admirado em todo mundo, não poupava nenhum ídolo, ironizava a todos, cristãos, mulçumanos, judeus, profissonais liberais e etc, numa longa tradição da literatura greco-latina. O humor é uma maneira de ver as coisas de modo distanciado, é um olhar filósofico sobre a miséria do nosso cotidiano. Interditar esse gesto é retroceder em séculos a um direito duramente conquistado.

    O que lamentavelmente Lucinei tenta fazer embora não é admita é justificar a brutalidade dos jovens mulçumanso de ascedência argelina que já estão sendo devidamente tratados como ídolos por grupos radicais no Oriente Médio. Em sua visão, eles seriam uma resposta a “islamofobia” crescente na Europa. Ou seja, começa-se a buscar um precedente, uma justificativa para atos bárbaros. Quer se interditar a representação do profeta Maomé quando outras religiões conviveram com a crítica e uma sátira milenar dos seus ídolos. Infelizmente tal comportamento não surpreende, na verdade, ele é corolário do pouco apreço que as liberdades gozam no país. O Brasil é um país autoritário, não somente os aparelhos do Estado, mas sua população, nossa história que cumula incontáveis episódios da mais pura tirania dos poderosos contra os mais humildes.

     

    Lamento e agradeço pelo espaço para debatermos.

    1. Não estou tentando

      Não estou tentando “justificar” brutalidade nenhuma. É perda de tempo insistir nisso.

      O que estou defendendo com todas as letras é o respeito ao outro.

      Contesto, sim, que se evoque a liberdade CONTRA a dignidade alheia. Isso, na minha opinião, não é civilidade. É um fundamentalismo versus o outro. É por isso que eu aponto que a coisa só tende a piorar; como vem piorando.

      1. “Não é bem assim”

        Achar que é “perfeitamente explicável” é uma maneira ardilosa de querer inocentar os assassinos pelo brutal atentado. Releia o que você escreveu. Não estou inventando nada. Esta afirma contradiz de todo sua reprovação ao ato. É um crime bárbaro, nada justifica a carnificina. Dizer que os chargistas estavam avisados, é como querer culpar a mulher que sofreu um atentando por ela ter ignorado os avisos do agressor que a violentaria se ela voltasse a se vestir desta ou daquela forma. Existem formas que não envolvem o uso de AK-47 em civis inocentes para protestar contra algo que ofenda a dignidade. Se abrir um pretexto, tudo poderá ser justiifcado à luz de novos casuísmo

        Lucinei, todos aqui comungam da sua ideia de alteridade, de respeito e aceitação ao Outro, ao diferente, do mesmo que tenho certeza que a sociedade francesa não tem enfrentado a questão dos imigrantes da melhor forma, mas não só ela. Infelizmente, correntes extremistas têm aflorado em toda Europa, o mais recente encontro de 30 mil pessoas contra os imigrantes na Alemanha confirma isto.

        Não concordo com o teor de algumas publicações da Hebdo, se eu morasse na França, não seria um dos seus leitores, mas defendo o direito deles publicarem as charges. A publicação tem orientação de esquerda, o grupo satirizava há décadas a extrema direita francesa, os cristãos, judaicos, mulçumanos, não poupava nenhum ídolo. Infelizmente a bárbarie só fomentará uma nova de islamofobia. 

        1. Nã nã ni nã Não.Não tem nada

          Nã nã ni nã Não.

          Não tem nada de “ardiloso”; e não estou inocentando ninguém. Releia você o que eu escrevi e verá que eu condenei o crime desde o princípio. Se esse tipo de provocaçaozinha persistir não adianta seguir em frente.

          Minha opiniao foi posta com toda clareza: um fundamentalismo versus o outro; é essa a “explicação”, sim, a explicação, não justificativa, mais uma vez, que ofereço (muito modestamente) para a escalada de violência que está latejando na europa. Não estou de acordo que se deva evocar a liberdade contra a dignidade alheia.

          Aqui no Brasil uma mera alegoria de escola de samba com o nítido sentido de representar a cidade – falo do cristo redentor do Joaosinho Trinta – foi proibida pela justiça à pedido da Igreja católica. Os que hoje se dizem defensores da “liberdade de expressão”  não chamaram de censura.

          Escrevi também que o crime, a chacina, por ter alvos certos e determinados não se encaixa tão facilmente nas tipificações de terrorismo tal como foi imediatamente estampado na imprensa.

          Sem essa também de que “todos aqui comungam da sua [minha] ideia de alteridade, de respeito e aceitação ao Outro, ao diferente”. Não é verdade. Eu contesto uma visão distorcida que se pretende liberal que não reconhece que para a garantia da liberdade uma parcela dessa mesma liberdade precisa ser renunciada para não cairmos em um estado de guerra de todos contra todos. Há quem acredite que liberalismo é sinônimo de nenhuma limitação externa; e que qualquer coisa nesse sentido é intervencionismo ou atentado à liberdade. Não aceitam essa reserva legal.

          Se há contradição, não é minha. Da boca pra fora pode ser que o brasileiro seja “muito bonzinho”. Foi por isso que comentei a comparação que fizeste em relação aos justiceiros do bairro do Flamengo, no Rio, em que, no caso, o OUTRO está aqui ao lado.

          Vamos finalizar (já está ficando repetitivo) concordando, então, com o que parece estar acontecendo na europa: é um problema que eles vão ter que encontrar um modo de solucionar ou, pelo menos, não permitir que aumente. Isso seria pior para todos. E isso eu também disse que é o meu maior temor em relação à esse assunto.

          Saudações.

          Fui!

          1. E vc concordou com a proibiçao da representaçao de Cristo?

            Claro que foi absurda. A seguir seu raciocínio, o filme Je Vous Salue Marie, de Godard, devia ter sido proibido, e por aí vai.

            Nao defendo a liberdade de expressao absoluta. Sou contra piadas racistas, homofóbicas, machistas, antissemitas, qualquer forma de escracho sobre minorias. Mas nao era isso o que Charlie fazia. Ele criticava IDEIAS, nao minorias, e idéias fundamentalistas. Criticavam via humor, que era a arte deles. Nao eram islamofóbicos, nao eram racistas, apenas ANTICLERICAIS e ANTIFUNDAMENTALISTAS. 

          2. Anarquista era Cristo num país de tradição cristã

            Nesse caso tudo se dá NA MESMA TURMA

            Representação do Cristo numa socieface essencial e historicamente cristã. 

            Nada a ver com um judeu ou cristao ou mesmo ateu ou agnóstico frances agredir o Corão na França

            Essa questão das turmas parece brincadeira mas nao é

            Escrevi um texto explicando melhor mas creio foi censurado, não vi aqui publicado.

            Creio xingar o livro sagrado dos outros pode, dar exemplos simples nao se pode.

          3. Por favor, Anarquista Lúcida,

            Por favor, Anarquista Lúcida, releia também o que escrevi para eu não ter que ficar repetindo. Isso não é uma arguição, pelo amor de deus!

            Se você critica os seus e ninguém reclama, é uma coisa. Se você critica o OUTRO, é diferente.

            O exemplo do Joaosinho mostra duas coisas: 1) que o outro está aqui; 2) que quem defende hoje “essa tal liberdade” não reclamou de censura.

            Eu vou repetir: se alguém se sente ofendido e pede pra parar, parou! Isso é respeito ao outro.

            Ah, então tudo vai ser vetado, você pode indagar! Só a democracia pode resolver isso, penso eu (se você quer mesmo saber).

            Não é tão simples, reconheço. Mas a vida não é teoria somente.

            Eu, pessoalmente, que não tenho religião, nasci ateu e assim continuo, observo isso. E procuro não ofender a religião de ninguém. Mas também não aceito que queiram me converter.

          4. “quem defende hoje ‘essa tal liberdade’ não reclamou de censura”

            De onde vc tirou isso, Lucinei? Eu defendo hoje essa liberdade e reclamei da censura, e creio que muitos como eu. Vc tem como mapear todos os que defendem hoje essa liberdade e saberem como se posicionaram naquela época? Tá afirmando coisas sem base nenhuma… 

            E nao acho que religioes estejam acima de críticas, sejam a nossa, sejam outras. Elas tentam interferir em questoes da sociedade (aborto, casamento gay, etc.; no caso do islamismo, até a roupa das mulheres), sao forças opressoras, precisam ser denunciadas enquanto tal, e a melhor maneira de fazer isso é pelo humor. Nao se trata de querer converter ninguém, e sim de defender nossa liberdade. Diante de qualquer religiao, e aliás sobretudo da “nossa” (qual? nao tenho nenhuma…) 

            Nao pense que estamos livre dos fundamentalismos. A ICAR ainda é uma força retrógrada contra o aborto. As religioes pentecostais entao nem se fala, vide os malafaias homofóbicos da vida. É preciso denunciar todas elas. Que aconselhem seus crentes, mas que nao tentem interferir na vida da sociedade. 

          5. O FATO é que foi censurada,

            O FATO é que foi censurada, sim, e a alegoria foi pro saco. Foi considerada vilipendio de simbolo religioso ou qualquer coisa parecida.

            A “liberdade de expressão” perdeu.

            Se foi democrático ou não; se foi civilizado ou não, esse foi o assunto que eu trouxe. A resposta não fácil, reconheço.

            Quem sabe se hoje não “passaria”?

          6. Difícil responder à última questao

            Meu primeiro impulso seria responder que nao passaria, mas me lembrei das chantagens eleitorais e de vários retrocessos por causa disso. Melhor nao arriscar um prognóstico. 

            Quanto às outras, na minha opiniao nao foi nem democrático nem civilizado. Só censura obscurantista. 

      2. Respeitar é a palavra chave

        Respeitar o outro será a UNICA FORMA DE EVITAR O PIOR.

        Uma atitude publica de respeito NÃO É CAPITULCAO mas bom senso, maturidade, uma atitude responsavel.

        Insistir no erro levará a mais e mais violencia. Atuar com equilibrio e bom senso ainda é o melhor caminho para quem quer a paz.

    2. A liberdade de expressão não é bem absoluto

      A liberdade não é absoluta.

      Nunca.

      Muito menos na imprensa

      A liberdade de ROUBAR, CALUNIAR, RIDICULARIZAR, tem sempre limites.

      O RESPEITO é o limite.

      Quer ridicularizar, ridicularize a si mesmo, seus dogmas e seus valores.

      Ridicularizar O OUTRO, e querer se esconder sob um falso dogma de liberdade, É QUERER ESTUPRAR A LIBERDADE.

      Uma revista francesa, numa cultura cristã e catolica, ridicularize sua cultura francesa. Ridicularizar os OUTROS tem seus riscos. Isso fizeram os franceses. Jogaram, arriscaram, e infelizmente OS OUTROS no caso, INFELIZMENTE não tiveram paciência e surtaram.

      1. Os grandes humoristas ridicularizan sua própria condição

        Vejam Crasles Chaplin e Cantinflas. Ridicularizavam o momento de suas sociedades.

        No Brasil Golias, Chico Anisio, José Vasconcelos,  Mussum, idem.

        O negro brincar com sua negritude, o nordestino com sua origem, o gordo com sua obesidade, e assim o gay, o feio, a feia, o idoso com sua surdez, o caipira, etc… o judeu com seus estereótipos,  o árabe o japones, e assim por diante, o português,  e assim vai.

        Lembro bem de um comediante português que fazia piadas de português hilarias.

        Todos na realidade mostrando de forma critica e bem humorada A SUA CONDICAO.

        O que se quer fazer hoje É AGREDIR O OUTRO USANDO DO DOGMA DE UMA PRETENSA LIBERDADE DE EXPRESSAO

        Como bem mostra outra comentadora Lucinei,  desculpe se errei o nome, esse é um DOGMA FUNDAMENTALISTA, que quer enfrentar outros fundamentalismos.

        Acho que chega de tanta manipulação maquiavélica para denegrir os outros.

        Isso NAO É HUMOR.

        Isso é puro desrespeito.

         

         

         

         

        1. Realmente, esses citados sao humoristas exemplares!

          Bebeu? Chico Anísio, da escolinha do Prof. Raimundo, um dos programas mais sórdidos da TV? Mussum dos Trapalhoes, e suas piadas homofóbicas, machistas, racistas, etc? Me poupe! Esses sim zombavam de PESSOAS, nao de idéias, que era o que o Charlie Hebdo fazia. 

  11. Os catolicos ha séculos

    Os catolicos ha séculos perceberam que essa historia de qualquer um do povo poder interpretar a biblia, ocasionaria um caos futuro. O islã precisa de algo semelhante. Bom mesmo seria incentivar o ateismo.

  12. “Dessa forma, é preciso

    “Dessa forma, é preciso admitir-se que é a política a construção do intelecto humano que reúne as diversificadas vertentes de pensamento detentoras da potência transformadora da realidade.”

    É preciso entender que a geopolitica impõe a ideia de finalidade.

    Ai que entra o grande engano dos jornalistas quanto  ao mundo arabe e judeu: No balizamento da política, para quem conhece a Biblia, o sentido de ordenação da potência é Deus e não o dinheiro. 

    Deus, o Senhor de todas as coisas, ordenava “morte” aos inimigos do povo de Israel pela mesma palavra que o mundo ocidental considera “liberdade” um pilar da democracia.

    A prostituição-cultural aos idolos pagãos de hoje (dinheiro, poder, soberania nacional), eram, naquela época, qualquer desobediência aos estatutos do Senhor narradas nos livros dos Reis de Judá com a pena de morte! 

    Na questão de revide, podemos sitiuar o massacre na ira dos povos (por Deus) daquela região, quando os EUA, França e Inglaterra, como se fossem Deuses, mandam bombardear cidades inteiras e os habitantes de modo impensável – sem levar em conta históricos de Deus – por uma pluralidade desreipeitosa e sedenta de interesses materiais. 

  13. TRATOS À BOLA

    Sou duplamente a favor da liberdade de imprensa, como ser humano e como jornalista. Então, longe de mim culpar as vítimas (mesmo que não fossem colegas de profissão). Mas a minha pergunta, talvez simplória, é : havia necessidade de usarem Maomé para fazer humor político? Não seria suficiente um aitolá, um líder terrorista, o açougueiro da esquina , sei lá…para dar o mesmo recado? Sequer falo por medo, mas por um resquício de respeito com a crença alheia, ainda mais sabendo com que tipo de pessoas estavam lidando. Não dá para aceitar que “perco a vida, mas não perco a piada”, parafraseando o velho clichê.

    Me parece insuficiente que a resposta seja ”  não vão nos calar”, “melhor morrer de pé do que viver de joelhos” etc… Concordaria se se tratasse de silenciar sobre a morte de crianças nas minas de tantalita do Congo para que tenhamos nossos avançados tablets e celulares , por exemplo.  Não sei se é esse tipo de reflexão, pretendida pelo autor do texto, mas estou aqui “dando tratos à bola” para compreender mais profundamente essa carnificina ocorrida em Paris. E tentando descobrir o que  eu posso fazer para ajudar a impedir  que esse horror se espalhe.

Você pode fazer o Jornal GGN ser cada vez melhor.

Apoie e faça parte desta caminhada para que ele se torne um veículo cada vez mais respeitado e forte.

Seja um apoiador