Pesquisadores e professores da USP soltam nota de repúdio ao caso da Medicina

Lourdes Nassif
Redatora-chefe no GGN
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Jornal GGN – Professores e pesquisadores da USP divulgam nota de repúdio sobre os relatos envolvendo abuso sexual e apoiando os alunos que fizerem denúncias sobre esses casos. Fazendo coro com aqueles que se levantaram contra a situação, esses professores se dize confiantes com aqueles que se comprometem a interromper casos que envolvam violência ou discriminação. Leia a matéria da Folha

da Folha

Professores e pesquisaddores divulgam nota sobre relatos de abusos na USP

Professores e pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva USP (Universidade de São Paulo) divulgaram nesta sexta-feira (14) uma nota de repúdio sobre os relatos de abuso sexual na universidade. Eles se colocam à disposição para apoiar os alunos que fizeram as denúncias.

O departamento informa que defende medidas para evitar os abusos e confia nos professores e estudantes que se comprometeram a não admitir mais nenhuma situação de violência ou discriminação.

Folha mostrou na edição desta sexta-feira que o médico patologista Paulo Saldiva, 60, que presidia a comissão que apura as denúncias de abuso sexual na USP, pediu afastamento da instituição nesta quarta (12).

Ele está de licença-prêmio (90 dias de licença sem prejuízo dos vencimentos), mas diz que deixará o cargo de professor titular que ocupa na universidade desde 1996.

A decisão veio após audiência pública na Assembleia Legislativa em que foram relatados oito casos de violência dentro da USP, entre os quais dois de estupro em festas organizadas na universidade.

Em entrevista à Folha, Saldiva afirma que “cansou de engolir sapo” e que o escândalo foi a “gota d’água” para sua saída, embora existam outras causas como o desejo de parcerias com outras universidades, o que é vetado hoje pelo regime de trabalho na USP (dedicação exclusiva).

Leia na íntegra a nota divulgava pelo Departamento de Medicina Preventiva USP:

Nós, professores e pesquisadores do Departamento de Medicina Preventiva vimos a público expressar nossa indignação diante dos casos de violação de direitos, discriminação e violências ocorridos na Faculdade de Medicina da USP.

Também estamos consternados com o fato de não termos estado cientes de toda essa situação e portanto falhado em proteger os mais vulneráveis e mesmo já estarmos atuando para prevenir tais situações.

Os fatos demonstram recorrentes abusos morais, físicos e sexuais, banalizados e praticados em estrutura hierárquica. Manifestamos nossa total solidariedade às vítimas e defendemos uma série de intervenções para mudar essa situação.

Iniciamos declarando nosso total e fundamental apoio aos alunos que, corajosamente, tornaram públicas as violações.

Apoiamos o trabalho sério e competente que foi realizado até agora pela Comissão contra Violência, Preconceito e Consumo de Álcool e Drogas da FMUSP e confiamos na aprovação do seu relatório pela Congregação. E sabemos que ora apenas se inicia um longo e paciente trabalho para uma nova cultura institucional.

Depositamos nossas expectativas e esperanças na decisão do diretor da Faculdade, Prof. Auler, de criação do Centro de Defesa dos Direitos Humanos da FMUSP, que prevê ouvidoria, apoio às vítimas, responsabilização dos autores, campanhas de promoção dos direitos humanos e iniciativas de boa convivência.

Saudamos o compromisso assumido pelos alunos e por suas diversas formas organizativas (Coletivos, CAOC, Atlética e Show Medicina), comprometidos em não mais admitir nenhuma manifestação ou ato de violência e discriminação.

Presentes na sociedade, a violência sexual, o assédio moral, a homofobia e o racismo afetam não só a FMUSP, mas também diversas Universidades do Brasil e do mundo. Infelizmente, são ainda escassas no País as iniciativas para reconhecer e combater essas violações aos Direitos Humanos no ambiente universitário.

São urgentes e necessárias mudanças que sintonizem a Universidade com valores sociais de respeito às diferenças e boa convivência na pluralidade de indivíduos, com consequente formação de médicos adequados ao que a sociedade brasileira espera, profissionais capazes de unir a competência técnica com a ética e o respeito aos direitos humanos.

CAMPANHA

Funcionários da USP têm feito um protesto silencioso em apoio as vítimas de estupro, homofobia e racismo dentro da universidade. Nesta semana, alunas relataram na Assembleia Legislativa os abusos sofridos durante festas da Faculdade de Medicina da USP.

A funcionária da USP, Diana Assunção, 29, diz que a ideia é dar apoio as vítimas e acabar com o silêncio que existia dentro da faculdade sobre o assunto.”Foi quebrado o pacto de silêncio que existia na faculdade. Isso precisa ser discutido para lutarmos contra toda a forma de opressão”, comenta Diana.

“A ideia é ampliar a campanha e que os casos sejam denunciados. Os agressores não podem ficar impunes”, diz Diana, que é diretora do Sintusp (sindicato dos funcionários da USP).

 

Lourdes Nassif

Redatora-chefe no GGN

8 Comentários

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  1. Está explicado tudo o que temos visto de nossos médicos

    Com uma formação destas, não é de se estranhar a desumanidade, o preconceito, a total falta de respeito ao povo que nossos médicos demonstraram recentemente por causa do Mais Médicos. É inacreditável que uma situação destas se prolongue por anos e anos e ainda estar sendo acobertada por canalhas que dirigem esta universidade.

  2. Comentário.

    A criação de um centro de defesa de direitos humanos? Para quem não conhece a USP, pode parecer que ela está às traças e que não existiram e existem até hoje meios para a defesa dos direitos humanos, ou que, no mínimo, trabalham com isto.

    Existe o Núcleo de Estudos sobre a Violência (muito mais amplo e, não especificamente, sobre questões uspianas), a Superintendência de Assistência Social (SAS, que não é apenas para “cuidar” dos alunos do Crusp) e o Núcleo dos Direitos (que deveria, em tese, trabalhar com direitos humanos). Só pra começar. E a Ouvidoria (para que serve uma, se ela não responde às demandas?).

    Quando uma instituição precisa se olhar a partir de fora, por meio de rankings internacionais ou de atividades que apenas possuem a intenção de influenciar a opinião pública – em vez de fazer a sua “fama” em torno daquilo que ela realmente faz, ensino, pesquisa e extensão -, talvez ela não acredite seriamente em si e nem na importância daquilo que faz.

    Alunos violentadores, colegas complacentes e acadêmicos que fazem vistas grossas…

    A USP sofre de patologia institucional e seus “executivos” não são e não serão capazes de fazer análise institucional de maneira profunda. Nos últimos dois anos, isso se agravou. O que seus dirigentes fizeram, na maioria dos casos, foi isolar o “problema” e inverter a relação de causa e efeito para a salvaguarda da instituição.

  3. Uma imagem…

    A imagem dos servidores diz muito mais que as mil palavras dos doutores. Quer dizer que eles estavam dormindo todo esse tempo? Quero ver como vai ficar quando uma família ferida decidir processar a USP até às últimas consequências. 

  4. USP hoje..

    Professores com salários de 60 mil e funcionária ganhando 30 mil..mais uma especialidade da “jestão” tucana..

    Do Diário do Centro do Mundo..

     

    USP terá que cortar 1.972 salários para cumprir decisão do Supremo

    Postado em 16 de novembro de 2014 às 9:14 am    in

    U

    Uma decisão de outubro do STF (Supremo Tribunal Federal) obrigará a USP a reduzir o salário de 1.972 professores e funcionários que ganham mais que os R$ 20,7 mil mensais do governador de SP.

    Entre eles há casos como o de um professor aposentado que possui vencimento bruto mensal de R$ 60 mil e de uma funcionária do serviço de protocolo cujo salário está na casa dos R$ 30 mil.

    As informações sobre os servidores constam da folha de pagamento da universidade a que a Folha teve acesso após decisão judicial. A lista está no site folha.com/143181.

    Situações como a desses funcionários passam a ser regidas por novo entendimento do Supremo sobre teto salarial de servidores públicos.

      

    O STF determinou que devem ser incluídos no cálculo benefícios pessoais conquistados antes de 2003, quando o limite foi regulamentado por emenda à Constituição.

    Até a decisão de outubro, esses benefícios não eram considerados para o teto.

    Cinco ministros do Supremo confirmaram à Folha que a USP terá de cortar os salários para se adequar. Segundo a reitoria, 7% dos servidores têm salário bruto acima do teto e ainda não estão enquadrados na nova regra.

    A Folha entrou na Justiça para ter acesso à folha de pagamento porque a USP não divulgava os dados, como prevê a Lei de Acesso à Informação, de 2012 –ela fixa que órgãos do Estado divulguem os salários dos servidores.

    O reitor Marco Antonio Zago disse à reportagem que, a partir desta segunda (17), os salários passam a ser divulgados no portal da universidade. “Não é nossa política esconder informações. Não há vencimento de marajá.”

    Desde 2013, a USP corta parte dos ganhos acima do limite, com base no entendimento anterior do STF. Se a nova regra do teto já fosse aplicada, a economia seria de R$ 7 milhões ao mês. “Não iria salvar a USP”, diz Zago.

    A lista de salários revela distorção que, para o reitor, é mais preocupante: a elite dos técnicos-administrativos, dos quais se exige nível universitário, ganha em média R$ 22,1 mil, quase o mesmo que os R$ 23,2 mil dos docentes titulares (máximo da carreira).

    O avanço de gastos com funcionários pôs a USP numa crise: os salários consomem 106% do orçamento de R$ 5 bilhões. Diante do desestímulo ao professor, o reitor diz que pensaria duas vezes se tivesse de entrar na USP hoje.

    Saiba Mais: folha

     

  5. Fim do ano tá chegando

    E no início do ano que vem, novas alunas e novos alunos devem ingressar na USP, para a alegria dos vendedores de bebidas e de festinhas. E para maior alegria ainda dos (poucos, provavelmente) veteranos safados, doidos para se aproveitar de coleguinhas de primeiro ano.

    Pergunta-se:  A USP já dispõe de um plano qualquer para impedir festas regadas a álcool e drogas em suas dependências? A USP já decidiu identificar e expulsar os sacanas que cometeram os crimes denunciados?

     

  6. Dois comentários.

    1. A foto em questão é dos funcionários que trabalham nas cozinhas dos bandejões da USP. As primeiras iniciativas públicas depois do estouro das denúncias partiram dos funcionários da instituição.

    2. Diretor de faculdade pressionou deputados para suspender audiência que denunciou abusos; além de telefonemas do próprio diretor, José Otávio Costa Auler Junior, que temia pelo nome da faculdade na ‘lama’, houve manobras para esvaziar o quórum na Assembleia Legislativa. Ver em: http://www.redebrasilatual.com.br/cidadania/2014/11/diretor-da-faculdade-de-medicina-pressionou-deputados-para-suspender-audiencia-que-denunciou-estrupros-5245.html.

    Em resumo, o diretor da FMUSP faz uma coisa diante da imprensa e, pelas costas, faz outra.

  7. Demorou…

    Parece que a “porcada” está criando vergonha na cara.

    PS: “porcada” é só uma forma dos estudantes de outras escolas se referirem aos estudantes da Pinheiros (medicina USP), nada pejorativo 🙂

     

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