Pobreza no Brasil lembra Europa do Sec XIX

Reportagem do Le Monde fala da crise brasileira e compara miséria atual àquela enfrentada por França e Reino Unido já dois séculos 

 
Jornal GGN – Em reportagem especial, o jornal Le Monde fala da crise brasileira e do aprofundamento da pobreza no país, comparando a desigualdade social de hoje à mesma enfrentada por Reino Unido e a França no Século 19. O artigo, destaca a recente política cíclica (à favor da crise econômica) e à concentração de renda como responsáveis pela manutenção da miséria aqui, destacando que, desde a abolição da escravidão, a distribuição de riqueza não mudou no Brasil e que apenas nos períodos recentes (governos petistas) houve alguma melhora na relação de classes. Porém, a pequena conquista está em risco no novo governo, favorecendo projeções de aumento da miséria.

 
 
RFI 
 
Desigualdade no Brasil lembra Europa do século 19, diz Le Monde
 
O jornal Le Monde que chegou às bancas na tarde desta terça-feira (2) traz reportagem de página inteira sobre a crise brasileira. O texto explica que apesar dos esforços feitos nos últimos anos para combater a pobreza, diante da recessão, a luta contra a pobreza deixou de ser a prioridade do governo e a desigualdade social continua flagrante.
 
A reportagem é ilustrada com a história de uma moradora de Paraisópolis, em São Paulo, que vive em situação de extrema pobreza. “O cheiro de urina se mistura ao odor de fritura das cozinhas nas vizinhança, em meio ao barulho ininterrupto que gera a promiscuidade”, descreve a correspondente do Le Monde no Brasil, lembrando que esse cenário pode ser visto a poucos metros dos apartamentos “valendo milhões de reais, com piscina, varanda e sauna”, do bairro do Morumbi.
 
A jornalista explica que a comunidade de Paraisópolis é um exemplo “do contraste chocante e das desigualdades vertiginosas” existentes no país, confirmando as estatísticas que apontam que, no Brasil, a repartição das riquezas é equivalente à da França e do Reino Unido no século 19. “Como na época dos clássicos ‘Os Miseráveis’, de Victor Hugo, ou dos romances de Charles Dickens”, enfatiza a correspondente, em alusão a uma comparação feita recentemente pela revista Carta Capital. O texto continua sua análise lembrando que, segundo a ONG Oxfam, 62 bilionários possuiriam metade das riquezas do planeta, e que dois desses super-ricos são brasileiros: o empresário e ex-campeão de tênis Jorge Paulo Lemann e o banqueiro Joseph Safra.
 
Distribuição de riquezas não mudou com abolição da escravidão
 
A correspondente do Le Monde ouviu a opinião do pesquisador Marc Morgan Mila, que explica que uma das razões dessa desigualdade é um sistema de impostos, que dá ao Brasil ares de paraíso fiscal. “A renda dos lucros das empresas, paga a pessoas físicas, não é tributável; os impostos sobre o patrimônio são quase inexistentes; os sobre as heranças são muito fracos e o imposto de renda, pouco progressivo, com um limite de pagamento de 27,5%, contra 40% na França”, diz o especialista, que prepara uma tese sobre as desigualdades no Brasil. Além disso, ressalta o texto, a maior parte das receitas fiscais é fruto de impostos indiretos, vindos do consumo, o que faz com que ricos e pobres sejam tributados “de forma idêntica e desigual”.
 
Já André Calixtre, diretor de estudos do IPEA, lembra que desde a abolição da escravatura, em 1888, o Brasil não teve uma verdadeira reforma agrária. “Congelamos as desigualdades de riquezas, de gênero e de raça”, explica o pesquisador. “Os latifundiários, brancos, transformaram suas fortunas agrárias em patrimônio industrial, financeiro e imobiliário, enquanto os descendentes de escravos foram mantidos na pobreza”, completa Calixtre.
 
Luta contra a desigualdade perdeu força com a crise
 
O Brasil, que era a estrela dos países emergentes, vinha perseguindo, desde o início dos anos 2000, um modelo de desenvolvimento que beneficiava principalmente os mais modestos, analisa a reportagem. No entanto, “a recessão, a inflação de dois dígitos e o aumento de desemprego relançam o temor de um retrocesso”, diz Le Monde.
 
Diante da situação, a presidente Dilma Rousseff deixou de lado, desde de 2014, sua política social baseada no modelo implementado por Lula, bifurcando para uma estratégia de rigor. “Até os gastos sagrados do carnaval foram revistos para baixo”, assinala o jornal. “Essas medidas de austeridade podem se mostrar positivas se Brasília conseguir reformar um Estado pouco eficaz e que gasta demais, mas também pode ter um resultado negativo se os cortes no orçamento forem realizados de forma precipitada, afetando os programas sociais, a ponto de comprometer a ambição brasileira de fundar uma sociedade mais igualitária”, conclui a correspondente do Le Monde no Brasil. 
 
 
Redação

14 Comentários

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  1. Como é que pode de Agosto a

    Como é que pode de Agosto a Dezembro de 2016, o Brasil ter ido de país de primeiro mundo a esse ponto? Culpa dos golpistas!!!

    1. Não sei se entendi bem seu

      Não sei se entendi bem seu comentário, mas essa imagem  da menina em um ambiente de profunda miséria não existia no governo do PT?

    2. Não é assim

      Os problemas começaram no final de 2014, onde empresários e banqueiros começaram a boicotar o Governo Dilma, já no primeiro dia de eleita. Temer, e o golpe, começam a mandar desde maio, mesmo interino na época. É culpa sim dos golpistas.

  2. A falácia de  citar épocas

    A falácia de  citar épocas pobres é um desconhecimento brutal sobre a história.

    O mundo, sempre foi , é e será habidado por pesoas mais pobres—nada mudar[á isso.

     

    Sem escolas ou con escolas, o ser humano tem um viés pra viver na depend ência .Quer dos pais ou do governo.

    O que me espanta, é esse conceito tão antigo ainda servir de base pra discussões;

    Nesse sentido, o bolsa família mais atrapalhou do que ajudou.

    É sério.

    1. É… o ser humano evoluiu

      É… o ser humano evoluiu adaptado a depender do Estado, principalmente a partir da transição tecnológica de Oldowan pra Acheulean, foi quando o Estado aumentou sua participação no suprimento de ferramentas…

       

      Como que o GGN deixa um troglodita desses publicar algo desse calibre aqui? 

      O CARA QUER DISCUTIR A NATUREZA HUMANA COM BASE EM QUÊ? ASTROLOGIA?

    2. Sério? Você?

      Vai ler “Os Miseráveis” primeiro, depois a gente conversa.

       

      Não precisa ler inteiro não, alguns “highlights” serão suficientes.

  3. Pobreza
    Imagina que derrubaram a Dilma apesar de não continuar as politicas do Lula…imagine se vão querer o Lula de volta. Mas a França de que lado está?

  4. Com a vantagem que nos dias

    Com a vantagem que nos dias dias de hj a casa grande não tem que da de comer e dormir para a senzala! Ok, agora tem FGTS, até quando?

  5. Enquanto a quantidade de

    Enquanto a quantidade de energúmenos no Brasil for maioria, como esses dois comentaristas mais abaixo, nunca conseguiremos sair dessa situação, eles e a Rede Goebbels nunca deixarão. 

    1. Basta ler “Os Miseráveis”

      Victor Hugo, em “Os Miseráveis”, pintou o quadro exato da miséria e da pobreza – material e espiritual – que assola o Brasil nos dias de hoje. Eu que só li partes da obra saquei a referência do Le Monde na hora. Já o douto anarquista e o comedor de macarrão (obrigado, André!)… Bem, isso diz muito mais sobre o que eles são do que quaisquer comentários que já tenham feito, aqui e alhures.

  6. O artigo vai ao núcleo do que é o Brasil.

    Cultura de opressão, com uso de extrema violência se for preciso, herdada da escravidão.

    Ausência de justa distribuição de terras, desde sempre.

    Tributação fortemente regressiva. Só faltou acrescentar que os recursos arrecadados são preferencialmente distribuídos aos mais ricos, via juros da dívida pública.

  7. Sim, ricos e pobres sempre

    Sim, ricos e pobres sempre existiram e sempre vão existir. Mas é inconcebível, vivendo sob um sistema econômico tão produtivo como o capitalista, ainda existirem pessoas que não tem o mínimo do mínimo. Isto, para mim, revela a sordidez da psique humana.

    E se tem uma coisa que a Revolução dos Midiotas mostrou foi a verdadeira alma do brasileiro. Esqueçam os livros de antropologia. Somos muito piores do que é possível imaginar. Tanto que a  miséria da grande maioria dos brasileiros não nos constrange, indigna ou espanta. Na verdade fica claro que nunca quisemos resolver esse problema. É por isso que nunca passamos de uma “civlização” absolutamente medíocre.

  8. Artigo ingênuo

    O artigo é ingênuo, e até um pouco ignorante, para não dizer preconceituoso, quando a autora refere-se aos “gastos sagrados do carnaval” acreditando que tais gastos tenham algum peso no orçamento.

    Passando ao largo de comparações dramáticas, a verdade é uma só: sem dinheiro não se faz nada. Dilma não abandonou a política lulista de distribuição de renda porque quis. Tal política havia sido possível porque o governo de Lula ocorreu em um período favorável da economia mundial, com a China bombando e os preços das commodities nas alturas. Esse tempo acabou, e foi por isso mesmo que Lula nem cogitou concorrer à sucessão de Dilma em 2014: ele sabia muito bem que não teria condições de fazer o mesmo bonito. Lula nada tem de burro.

    De resto, se a visão do contraste entre a miséria de Paraisópolis e os apartamentões do Morumbi é obviamente repugnante, por outro lado não há nenhuma razão lógica para julgar que um é consequência do outro. Se os ricos do Morumbi fossem menos ricos, os pobres de Paraisópolis não seriam menos pobres. Quem acredita no contrário é presa de uma concepção simplória de riqueza, imaginada como uma coisa material, tangível e em quantidade fixa, como uma pizza em uma bandeja, onde quem corta um pedaço grande para si deixa um pedaço pequeno para os outros. Riqueza é uma coisa muito mais complexa do que uma pizza, e não se parte com uma faca.

    Também carece de sentido a comparação entre a carga tributária do Brasil e da França: deveria ter comparado a carga tributária do Brasil com a dos outros países do BRIC´s, isso sim. Um país de primeiro mundo pode ter alta carga tributária porque o governo que administra esta receita de impostos têm a competência reconhecida. Em um país como o Brasil, onde a competência e a honestidade do governo são aquelas que conhecemos, é crucial lutar para que a carga tributária seja a menor possível, de modo que a pouca riqueza gerada não seja apropriada por ladrões.

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