RS: Por que a paz não interessa ao bolsonarismo, muito menos solidariedade entre os brasileiros
por Flavio Lucio Vieira
Não faz muito, catástrofes sociais e econômicas provocadas por enchentes no território nacional, como a que acompanhamos ainda pleno desenrolar no Rio Grande do Sul, tinham o poder de interditar, mesmo que temporariamente, o debate político, para colocar em primeiro plano o socorro às vítimas. Independentemente de quem estava no governo.
Era quando o país mais se aproximava de uma unidade que, nesses casos, era forjada moralmente: não era aceitável falar em diferenças políticas enquanto tanta gente precisava de ajuda e solidariedade.
O Brasil mudou muito nos últimos anos.
Mesmo diante do ineditismo destrutivo e abrangente da enchente que assola praticamente todo o território do Rio Grande do Sul, provocando mortes e destruições também em proporções inéditas, a extrema-direita bolsonarista se recusa a baixar a guarda.
Sem mostrar um mínimo de constrangimento em dar sequência à beligerância dos embates políticos, que deixa o país em estado de tensão permanente, e, o que é ainda pior, em continuar fazendo uso da indústria de fake news que diariamente inundam as redes sociais e grupos de Whatsapp bolsonaristas. Você viu ou ouviu alguma declaração do ex-presidente Jair Bolsonaro que estimule ações de solidariedade aos gaúchos e gaúchas? Ou dos seus filhos políticos? Ou de “cristã” Michele Bolsonaro? Ou de qualquer parlamentar bolsonarista?
De um lado, a intenção é colocar em dúvida as ações dos governos e das Forças Armadas porque o bolsonarismo é visceralmente neoliberal — obviamente, a aversão ao Estado não se estende aos privilégios da casta política que enriqueceu, ou pretende enriquecer, muitos aventureiros, muitas nulidades que, sem o bolsonarismo, jamais almejariam qualquer lugar mais proeminente na política.
Porém, o que o bolsonarismo deseja evitar é a continuidade e a coesão do movimento de solidariedade nacional que se espalha pelo país, unindo- de norte a sul, o que pode ajudar a superar a fratura política provocada pela ascensão da extrema-direita, e que tem impedido até mesmo famílias de conviverem em paz, mesmo em meio às naturais diferenças. Nós somos hoje um povo que sequer dialoga porque não é possível dialogar com o ódio e a desinformação.
Quando essas diferenças políticas são colocadas de lado, reforçam-se os laços de brasilidade que pareciam irremediavelmente perdidos. É isso que parece incomodar o bolsonarismo. É bom salientarmos para que evitemos equívocos e deturpações: não se trata aqui defender uma unidade que anule as diferenças — no Brasil, elas são gritantes demais para serem despercebidas. O que aqui tentamos lembrar é a unidade mínima que ajudou a nos forjar como nação, cujo potencial ficou demonstrado, sobretudo entre as décadas de 1930 e 1980.
Ao longo desses 50 anos, o Brasil viveu uma guerra civil (1932) e golpes militares (1930, 1937, 1945, 1964), porém, havia um projeto, certamente autoritário, que ajudou a forjar a unidade brasileira e que é a razão para o verdadeiro revolucionamento da economia e da sociedade brasileiras que aconteceu durante essas décadas: mesmo mantendo as velhas estruturas, não apenas herdadas da colônia, mas aprofundadas e ampliadas após a Independência, depois de 1930, o Brasil foi deixando de ser um país agrário e exportador de commodities para se transformar numa sociedade urbana e industrial. Sem considerar a natureza excludente do desenvolvimento econômico brasileiro ao longo dessas décadas, ficaram demonstradas nossas capacidades como povo de mudar a face de um país num período tão curto de tempo.
Em qualquer tempo e lugar, a extrema-direita se afirma alimentando a divisão e estimulando o ódio. O nazismo prosperou na política alemã difundido ódio contra judeus e contra todos que se opunham a Hitler, comunistas e liberais. Foi uma luta sem tréguas do nazismo, que continuou até o desastre final.
No Brasil, o bolsonarismo não deseja paz, mesmo que seja por um instante. Nem quando a população de um estado cujo eleitorado o apóia amplamente sofre e precisa de apoio e solidariedade.
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A extrema direita representa o lado mais cruel da crise atual do sistema capitalista do ocidecadentee e que se espraia também, por paises por paises do sul global. No caso do Brasil, o movimento se manifesta no chamado bolsonarismo, ou seria boçalnarismo? Embora exista um contigente de pessoas que seguem o mito, ou seria the faker? o fazem por ignorar a sua folha corrida. Ainda assim, existe uma parcela razoalvemente grande que são pessoas moral e legalmente criminosas, sem nenhum sentimento de solidariedade, a não ser com seus parentes e amigos mais próximos. O resto que se exploda.